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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Longe do Consenso


A adição de novas doenças na nova edição do 'Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais', o DSM, coloca psiquiatras em lados opostos

Transtornos mentais: Novo DSM, que trará mudanças e novas doenças para a psiquiatria, passa longe de ser uma unanimidade 

Hoje, aos olhos de um psiquiatra, uma pessoa abalada emocionalmente devido à perda de ente querido não está necessariamente deprimida, mas sim respondendo de forma natural à situação. A partir do dia 18 de maio, porém, essa tristeza, em alguns casos, deixará de ser considerada normal. O luto que durar ao menos duas semanas passará a ser considerado como um dos sintomas de uma doença mental — no caso, o transtorno depressivo maior. E a solução para a sua nova condição será a administração de medicamentos. Passarão a ser considerados como mentalmente doentes também aqueles que comem compulsivamente pelo menos uma vez por semana.
Essas são algumas das importantes mudanças que estarão presentes na nova edição doManual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, sigla em inglês), documento produzido por membros da Associação Americana de Pediatra (APA) e seguido por médicos do mundo todo. Nele, estão listadas e descritas todas as categorias do que a APA considera como um distúrbio psiquiátrico. A primeira edição do DSM foi publicada há 60 anos, e a quinta, o DSM-5, será lançada no próximo fim de semana, durante o encontro anual da entidade.
Luto — É comum que as pessoas se refiram ao DSM como a "bíblia da psiquiatra", o que não a livra de virar alvo de duras críticas e opiniões contrárias. Um dos pontos mais controversos do novo DSM é justamente o fato de o luto passar a ser considerado como um dos sintomas da depressão. A edição vigente do manual, o DSM-IV, contém uma regra que exclui o luto dos critérios para diagnóstico da depressão caso ele dure menos do que dois meses. Ou seja, até agora, os sinais depressivos de um paciente não deveriam ser atribuídos à depressão caso ele tenha acabado de perder um ente querido. O que a nova edição fez foi remover essa regra, tornando possível que a tristeza que sentimos com a morte de um parente, por exemplo, contribua com um diagnóstico da doença caso dure ao menos duas semanas.
"É um erro terrível", afirma categoricamente Jerome Wakefield, psiquiatra e professor da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, em entrevista ao site de VEJA. "A mudança permite o diagnóstico de depressão em pessoas que apenas perderam um ente querido e que não apresentam sintomas severos dessa condição. Essas pessoas serão rotuladas com esse transtorno mesmo apresentando sentimentos normais de quem perde uma pessoa que amava."
A justificativa oficial para tal alteração é a de que ela vai ajudar a evitar que casos de depressão sejam ignorados, e que pessoas que realmente precisam de ajuda sejam privadas de um tratamento adequado. Foi o que explicou, em entrevista ao site de VEJA, David Kupfer, presidente da comissão que produziu o DSM-5. Para Wakefield, porém, não há evidências de que essa mudança evitaria que casos perdidos de depressão pudessem ser evitados. "Na verdade, as evidências que vêm surgindo vão contra essa decisão", disse. "Cada vez mais há um estreitamento do que é um sentimento aceitável e quando podemos ficar tristes. Não sei se eu quero que meus filhos e netos vivam em um mundo onde eles não podem experimentar sentimentos normais de luto quando eles perderem alguém com quem eles se importem muito, pois sentimentos como esse são um sinal de amor."
Transtorno bipolar — Outro aspecto bastante controverso do DSM-5 é a inclusão do "transtorno disruptivo de desregulação do humor", uma nova desordem que não consta em nenhum dos manuais anteriores. A nova doença pode ser diagnosticada em "crianças de até 18 anos que mostrem irritabilidade frequente e episódios de extremo descontrole comportamental", segundo descreveu a APA em um comunicado.
De acordo com a APA, esse novo diagnóstico foi criado como forma de resolver o problema diagnóstico em excesso de transtorno bipolar em crianças. Estima-se que entre os anos 1990 e 2000, a prevalência do problema em crianças tenha aumentado 40 vezes. No entanto, a maior parte das crianças diagnosticadas com transtorno bipolar nos últimos anos, embora apresentasse humor irregular, não tinha a doença. "A razão pela qual elas foram diagnosticadas como sendo bipolares é que não havia outro diagnóstico para essas crianças com um comportamento difícil. O DSM-5, então, criou essa condição para atender esses pacientes infantis", disse Michael First, psiquiatra da Universidade Columbia, em Nova York. Ele foi editor da quarta edição do DSM e trabalhou como consultor para o grupo que produziu o novo manual
  
Fonte: Revista VEJA
 
Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/longe-do-consenso. Acesso em: 13 maio 2013.

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