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segunda-feira, 27 de maio de 2013

E agora, será que sou normal?

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais amplia lista de doenças e cria polêmica

Desde o penúltimo final de semana, um novo rol de doenças mentais passou a existir sem que as pessoas que se encaixam nestas novas categorias sequer se imaginem como portadoras de transtornos psiquiátricos. Foi lançado o DSM-5, sigla para Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, que determina quais comportamentos humanos devem ou não ser considerados doenças e, por consequência, tratados. 
Em processo de elaboração há cinco anos pela Associação Americana de Psiquiatria, o manual, na sua quinta edição, tem causado polêmica ao determinar o que é normal ou anormal em sociedade. Entre as novas doenças estão o ato de guardar coisas que não usamos mais e das quais não conseguimos nos desfazer; cutucar e provocar feridas na pele; comer muito dentro de um período de duas horas; e não conseguir elaborar o luto pela perda de uma pessoa querida em menos de duas semanas. 
Diante disso, houve reações contrárias de quem menos se esperava, como do autor do penúltimo DSM, o psiquiatra Allen Frances, além do Instituto de Saúde Mental norte-americano, que afirmou que manterá independência em relação ao manual e que baseará seus protocolos e diretrizes em critérios que vão além daqueles usados pelo DSM – atualmente, o manual define um diagnóstico com base, primordialmente, no número e duração dos sintomas observados pelos médicos, algo considerado muito simplista pelos críticos dessa metodologia.
O DSM tem influência mundial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) se baseia no documento para elaborar sua Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, o CID, adotado pela maioria dos países, entre eles o Brasil. 
Cautela
Para o psiquiatra e diretor do Hospital Nossa Senhora da Luz em Curitiba, Dagoberto Requião, o manual é positivo ao nortear o trabalho do psiquiatra e permitir que comportamentos até então ignorados e causadores de sofrimento passem a ter atenção especializada. Porém, ele afirma que o manual nunca dará conta da diversidade de situações presenciadas em consultório.
“O manual é como um GPS. Ele te dá uma rota, mas pode haver outras. É o médico que decidirá, com base um uma boa entrevista com o paciente, qual é a melhor. O que precisamos ter em mente é que há várias correntes dentro da psiquiatria, e que o manual é reflexo de uma ou algumas, mas que sempre haverá discussão sobre qual é a mais correta”, diz.
Influência do DSM-5 é muito pequena, dizem médicos
Para o presidente da Asso­­ciação Brasileira de Psi­­quiatria, Antônio Geraldo da Silva, o DSM-5 não influenciará o trabalho dos psiquiatras brasileiros, uma vez que o Brasil segue as recomendações do CID-10, e este só adota diretrizes após ouvir profissionais do mundo inteiro, que têm a mesma voz no processo de elaboração do documento. 
“O manual não tem qualquer influência no dia a dia do psiquiatra, e posso garantir que muitos nunca leram e nunca lerão esse manual e continuarão a ser bons profissionais. Ninguém aprende psiquiatria usando o DSM-5 e ninguém faz um relatório médico citando o manual. Nós seguimos o CID-10”, explica.
O médico preferiu não comentar as novas categorias de doenças incluídas no manual, mas afirmou que elas não serão levadas em consideração se os profissionais entenderem que tais comportamentos não causam prejuízo às pessoas. “Isso não é algo que nos preocupa. O que nos interessa é: este comportamento está causando alguma perda na vida familiar, social ou profissional da pessoa? Se sim, vamos intervir e tratar. Se não, qual é o problema?” 
Contexto
De acordo com o psiquiatra do Hospital Nossa Senhora da Graças e supervisor da Residência Médica do Hospital Nossa Senhora da Luz Augusto Canto, o manual precisa ser contextualizado dentro da cultura americana. 
“Ele tem muita influência da cultura médica norte-americana, em que há muitos processos na Justiça con­­tra os profissionais. En­tão, numa tentativa de se proteger, o médico busca ter um embasamento teórico que o proteja, que justifique suas decisões, o que resulta numa categorização excessiva dos pacientes”, diz.
 
Fonte: Gazeta do Povo 
 

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