Os efeitos de uma noite maldormida vão muito além de mau humor e cansaço. A ciência já comprovou que horas insuficientes de sono estão relacionadas a ganho de peso, aumento de cortisol (hormônio associado ao estresse) na corrente sanguínea e queda da capacidade de armazenar recordações. Estudos recentes, aliás, revelam novos aspectos da estreita relação entre memória e sono. Um artigo publicado em Neuropsychopharmacology em outubro de 2012 apontou que dormir logo depois de passar por uma situação muito estressante pode piorar os sintomas de estresse pós-traumático (TEPT). Para simular um evento traumático, os pesquisadores expuseram roedores ao cheiro de um predador. Durante as seis horas seguintes, eles impediram metade dos ratos de dormir; os restantes formaram o grupo de controle. Os cientistas observaram que os animais que não dormiram mostraram menos sinais de estresse psicológico. Outro trabalho, publicado em Neuroscience Letters, aponta que a privação de sono pode também reduzir o impacto de lesão cerebral traumática (TBI, na sigla em inglês) – camundongos com TBI apresentaram menos sintomas de dano quando foram mantidos acordados por 24 horas depois do dano.
Reunidos, esses estudos sugerem que manter-se acordado por mais tempo depois de um evento traumático faz com que memórias desagradáveis se imprimam com menos nitidez no cérebro – ideia que vai ao encontro de descobertas que comprovam o papel do sono para fortalecer lembranças emocionais. Isso ocorre porque, quando dormimos, ocorre um “afrouxamento” natural das sinapses, as conexões entre os neurônios. Situações de estresse, porém, aumentam o nível de neurotransmissores no sangue, o que estimula sinapses. Isso, por sua vez, faz com que as recordações do trauma se imprimam na mente com maior nitidez. Segundo a neurocientista Gina Poe, da Universidade de Michigan, o afrouxamento das sinapses está associado à diminuição dos níveis do neurotransmissor noradrenalina. Em pesquisas com ratos, ela descobriu que as quantidades da substância geralmente caem durante o sono REM (Rapid Eye Movement, fase relacionada à consolidação de memórias) em roedores e também em humanos. No entanto, tanto animais como pessoas com TEPT costumam apresentar taxas altas da substância enquanto dormem. Dessa forma, fármacos que tenham como alvo a noradrenalina representam uma esperança para “curar sintomas de estresse pós-traumático enquanto o paciente dorme”, considera Gina.
Fonte: Revista Mente e Cérebro
Disponível em: <http://www2.uol.com.br/ vivermente/noticias/dormir_ lembrar_e_esquecer.html>. Acesso em: 14 maio 2013.
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