Durante oito anos, o psicólogo social Fernando Braga da Costa, da Universidade de São Paulo (USP), vestiu um uniforme e, com a vassoura em punho, passou a participar do trabalho da equipe de limpeza do Instituto de Psicologia da mesma instituição. A experiência resultou na dissertação Garis – Um estudo de psicologia sobre invisibilidade pública, na qual defende que, com frequência, a maioria das pessoas percebe o outro de acordo com o status social de seu trabalho.
O psicólogo optou por vestir-se de varredor de rua para vivenciar a situação psicológica desse grupo de trabalhadores. Ele notou que, de fato, essas pessoas foram tratadas como “invisíveis” por alunos, professores e outros profissionais que circularam pela universidade durante a pesquisa. “Conhecia muitas das pessoas, porém, todas passavam sem me olhar. Em determinado momento, um professor se aproximou e interrompi a varrição para cumprimentá-lo, debruçando-me sobre a vassoura. Ele não me notou. Chegou a esbarrar no meu ombro e nem sequer parou para pedir desculpas”, conta o pesquisador, ressaltando que, em outra ocasião, sem o uniforme, encontrou acidentalmente esse colega e foi notado por ele.
Segundo Costa, a invisibilidade social repercute na autoestima desses profissionais. A percepção de que são marginalizados restringe sua convivência no ambiente de trabalho aos companheiros de função. É comum que evitem o contato visual para se proteger da violência social. Outro dado levantado, nos sindicatos, é que é muito raro um gari mudar de profissão, o que sugere a exclusão associada à divisão social do trabalho.
Fonte: Revista Mente e Cérebro
Disponível em: <http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/o_trabalhador_invisivel.html>. Acesso em: 29 ago. 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.