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segunda-feira, 11 de março de 2013

Rejeição dói, literalmente

Pesquisadores descobrem que questões emocionais têm efeitos tão físicos quanto tomar um soco

Foi de repente. Primeiro, um aperto no peito. Depois, dores de cabeça e o cansaço crônico. O sentimento se arrastou por semanas. Antes de dormir, era quase sempre pior. Faz mais de uma década, mas ainda lembro bem, pois marcou minha primeira experiência com um mal que seria inconfundível pelo resto da minha vida: o coração partido. Traições, rejeições e amores perdidos são fatos da vida, mas foi apenas nos últimos dez anos que começamos a descobrir as bases cerebrais desses sentimentos ruins. Os cientistas sabem agora que a dor da rejeição aciona os mesmos neurônios que uma queimadura ou um soco. Além de explicar por que algumas pessoas são mais resistentes que as outras, isso revela uma forte ligação entre vida social e saúde. Você pode mesmo morrer de solidão.
Nossa linguagem, no mundo todo, sempre emprestou termos físicos para descrever emoções ruins, como “ela partiu meu coração” ou “foi uma facada nas costas”. Pesquisas antigas já indicavam que as comparações não eram apenas metáforas. Estudos com animais na década de 1990, por exemplo, revelaram que além de aliviar a dor após um ferimento, a morfina também reduz a tristeza que filhotes de rato sentem quando são separados da mãe. Ainda assim, quando Naomi Eisenberger, Ph.D. em psicologia da Universidade da Califórnia (UCLA), começou a estudar os sentimentos de mágoa em seres humanos no começo da década de 2000, não sabia o que poderia encontrar. Ela estava intrigada com o modo como rejeições passadas continuam a nos afetar pelo resto da vida: todo mundo lembra da vez em que não foi escolhido no time de futebol ou se sentiu excluído de um grupo de amigos. “Estava curiosa. Por que isso nos afeta tanto?”, ela explica.
Para descobrir o que o cérebro faz quando vivenciamos a rejeição social, Eisenberger pediu que voluntários participassem de um jogo de computador simples criado por psicólogos, chamado Cyberball, no qual três jogadores passam uma bola entre si. Os voluntários achavam que estavam jogando com duas pessoas em outra sala, mas na verdade os outros dois jogadores eram controlados pelo computador (veja no quadro Medidor de Rejeição). Quando os jogadores computadorizados paravam de passar a bola para os voluntários, os participantes demonstravam reações fortes, se afundando no assento e fazendo gestos mal educados pra tela. Neste momento de rejeição, um aparelho de ressonância magnética funcional mostrava que havia um surto de atividade numa área cerebral chamada córtex cingulado anterior dorsal (dACC). A região é conhecida como parte da rede da dor no cérebro e determina o quanto um ferimento nos incomoda. A resposta pode variar com o contexto: bater a cabeça pode doer muito no escritório, mas em um jogo de futebol talvez você nem note.
O estudo, publicado na prestigiosa revista Science, mostrou que a resposta foi semelhante à da dor tradicional. Quanto mais você sofre com um ferimento comum, mais o dACC se ativa; e quanto mais os participantes informaram se sentir pior com a rejeição, maiores foram os índices de atividade nessa região. Outras pesquisas confirmaram a relação, revelando que rejeição social também provoca a ínsula anterior, outra parte da rede da dor que reage ao nosso sofrimento quando, por exemplo, cortamos um dedo ou quebramos um osso. Esses resultados sugerem que nossa angústia após um insulto é igual à resposta emocional após um ferimento, mas outros estudos foram além, mostrando respostas corporais tangíveis.
O Ph.D. em psicologia Ethan Kross, da Universidade de Michigan, resolveu deixar o Cyberball de lado para pesquisar uma forma mais séria de rejeição: os corações partidos. Ele recrutou 40 pessoas que haviam sofrido separações nos últimos 6 meses e pediu a cada um que olhasse uma foto de seu ex enquanto deitava em um aparelho de ressonância. Ele instruiu os participantes a pensarem nos detalhes da separação. Após um intervalo, os voluntários receberam um jato de calor doloroso no antebraço, permitindo que Kross comparasse a atividade cerebral associada com as duas situações.
Como esperado, o dACC e a ínsula anterior se acenderam em ambos os casos. O mais surpreendente é que os centros sensórios do cérebro, que refletem o desconforto físico que acompanha um ferimento, também apresentaram níveis significativos de atividade. O estudo, de 2011, foi a primeira evidência de que a sensação de ter o coração partido pode, literalmente, doer.  


Fonte: Revista Galileu Galilei

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