A psicopatia é um transtorno de personalidade complicado e muito mal compreendido. Marcado por traços como ousadia, coragem, crueldade, agressividade e impulsividade, muitas pessoas acham que psicopata equivale a serial killer.
Isso não é verdade. O que é verdade, no entanto, é que cerca de 1% a 3% da população geral é psicopata.
Isso significa que uma em cada trinta pessoas pode ser diagnosticada como psicopata, e cinco milhões delas podem existir só no Brasil. Cinco milhões de assassinos frios? Não. Muitos deles não só não demonstram comportamento violento, como nem sequer têm ficha criminal.
Porém, isso também não quer dizer que eles sejam uns amores. Uma pequena fração das pessoas possuem “indesejadas” características psicopatas, como a falta de empatia e remorso e manipulação.
Dado o estigma social que os psicopatas sofrem, é um mistério o porquê de tais características persistirem na sociedade.
Essas pessoas, que não cumprem as regras e não são cooperativas, causam um debate: será que beneficiam a sociedade ou nos incorrem custos?
Agora, um novo estudo publicado no periódico Proceedings of the Royal Society B sugere que traços psicopáticos podem ser vantajosos.
Evidências apontam que a psicopatia é um distúrbio de níveis diferentes, ao invés de ser um transtorno extremo, caracterizado por características fixas (como já dissemos acima, nem todos os psicopatas são criminosos, por exemplo. Algumas das pessoas diagnosticadas com psicopatia não são violentas).
A nova pesquisa sugere que, enquanto os psicopatas “extremos” quebram as normas sociais incondicionalmente, as pessoas com leves tendências psicopatas parecem “apenas” enganar as pessoas estrategicamente.
O estudo
O estudo envolveu estudantes de graduação com idade em torno de 19 anos. Os alunos foram divididos em pequenos grupos e orientados a conversar sobre um tema de sua escolha por 10 minutos.
Em seguida, eles foram separados e receberam um questionário para medir as suas tendências psicopatas. O questionário pedia-lhes para classificar sua concordância com algumas afirmações, tais como “fico frequentemente irritado em situações sociais”. Existem dois tipos de psicopatia, mas este estudo estava atrás de clássicos psicopatas “frios”.
Em seguida, os estudantes participaram de um jogo em que cada pessoa recebia uma soma de dinheiro que podia manter para si ou transferir para um parceiro (neste caso, seria duplicada). Por exemplo, as duas pessoas começavam com US$ 3; eles poderiam manter os US$ 3 ou dar US$ 6 para seu parceiro.
Se o jogo tem várias interações, é do interesse de ambas as pessoas colaborar e dar o dinheiro uma para outra, porque ambos vão receber US$ 6 em vez de US$ 3. Mas se é apenas um jogo individual, é do interesse de uma pessoa manter os US$ 3, já que pode não haver nenhuma consequência em não cooperar. A experiência envolveu um jogo individual, embora os participantes não tenham sido informados desse fato.
Os estudantes que pontuaram mais no questionário (o que significa que eram mais psicopatas) eram mais propensos a “trair” ou “enganar” seu parceiro e ficar com o dinheiro para si, se esse parceiro o interrompesse com mais frequência (um sinal de desrespeito).
Os alunos mais psicopatas também eram mais propensos a trair um parceiro com quem pareciam ter menos em comum, e, portanto, menos probabilidade de ver de novo.
Em outras palavras, aqueles com mais tendências psicopatas só cooperaram se havia alguma vantagem óbvia para eles.
Exploração = vantagem
“Este estudo acrescenta a outras pesquisas que mostram que certos traços de personalidade podem predizer a tendência para explorar outras pessoas”, disse Michael Ashton, da Universidade Brock, e Lee Kibeom, da Universidade de Calgary, ambas no Canadá.
“Características como sedução e convencimento – ao contrário de honestidade e humildade – envolvem uma disposição para tirar vantagem dos outros quando surge a oportunidade”, explicam.
Os resultados mostram que as pessoas que têm traços psicopáticos são flexíveis em sua capacidade de cooperar com os outros – e essa flexibilidade geralmente depende de um ganho próprio.
“Não explica a psicopatia de uma forma definitiva, mas poderia ser uma explicação para a persistência de traços psicopáticos”, disse o antropólogo Matthew Gervais, da Universidade da Califórnia de Los Angeles (EUA), um dos coautores do estudo.
Além da habilidade para manipular as pessoas à sua volta, outros estudos também já apontaram que características psicopáticas podem não ser tão indesejáveis assim.
Por exemplo, uma pesquisa da Universidade Emory (EUA) mostrou que presidentes com altos níveis de certos traços psicopáticos podem se sair melhor no seu trabalho. Isso porque, enquanto características da psicopatia podem ser ruins para a maioria, em certas situações, como para o comandante de um país em um momento de crise, podem ser úteis.
Por fim, especialistas também dizem que os psicopatas geralmente exibirem inteligência acima da média.
Fonte: Site Hyperscience
Disponível em: <http://hypescience.com/por-que-vale-a-pena-ser-um-pouco-psicopata/>. Acesso em: 07 mar. 2013.
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