O Dia Internacional das Doenças Raras foi celebrado nessa quinta-feira
(28/2). A data, que tem como objetivo conscientizar a população sobre a
ocorrência de doenças que não costumam aparecer na população com frequência, foi
celebrada pela Sociedade Brasileira de Patologia com discussão sobre a atual
situação dos pacientes que sofrem com as doenças consideradas raras.
De acordo com Lorene Pinto, diretora da Faculdade de Medicina da Universidade
da Universidade Federal da Bahia (UFBA), as doenças consideradas raras não são
prioridade no ensino da universidade, mas destaca que existem grupos de
pesquisas no Hospital das Clínicas sobre enfermidades consideradas raras ou
negligenciadas.
“Embora não seja o foco de ensino, as pesquisas desenvolvidas na Ufba têm
buscado soluções, terapias ou a reabilitação de pacientes com doenças
consideradas raras. Isso é um compromisso geral da medicina”, explicou a
médica.
Ainda segundo a diretora, além do Hospital das Clínicas, pertencente a UFBA,
existem outras unidades de referência no Estado que desenvolvem pesquisas nos
assuntos na capital. “No nosso caso (UFBA) temos um grupo de imunologia que
estuda vários aspectos em doenças raras. A Lupo, por exemplo, já foi considerada
rara e atualmente já não é mais. Muitos pacientes na maioria mulheres fazem
tratamento na unidade. Em Salvador, hoje temos grupos de pesquisas em grandes
hospitais de ensino. O Roberto Santos, por exemplo, é referência na área de
endocrinologia reumatologia assim como o Santa Isabel”, disse.
Aproveitando a oportunidade, a CBP traz à tona duas doenças consideradas
raras como Whipple e a Cirrose Biliar Primária (CBP).Com maior prevalência em
homens a partir dos 50 anos, os portadores da doença de Whipple são
frequentemente confundidos com os do vírus da AIDS, em decorrência dos sintomas
apresentados. Febre, diarréia, perda de peso, dor abdominal, o escurecimento da
pele e o aumento dos linfomodos, que deixam os gânglios até palpáveis, são
alguns dos sintomas da doença.
“Não há uma característica típica, os sintomas são inexpressivos e até muitas
vezes semelhantes à AIDS, pela perda acentuada de peso”, conta o patologista
Ricardo Artigiani Neto, Diretor de Comunicação Social da SBP.
A doença de Whipple é infecciosa, transmitida por bactéria e acomete pessoas
que são suscetíveis ao microorganismo, que se instala na parede intestinal. “A
ciência ainda não explica como é de fato contraída a bactéria. O que se tem
certeza é do comprometimento intestinal causado”, afirma Artigiani.
A doença é diagnosticada por biópsia dos linfomodos ou da parede intestinal
do intestino delgado. “É o patologista que realiza esse diagnóstico, que não
costuma ser fácil, pois tem que achar os bacilos com coloração especial na
biópsia”, completa o diretor de comunicação social.
Características e sintomas
Por ser rara, ainda não há certeza sobre o período exato em que a pessoa fica
com a bactéria no organismo. A partir do momento em que acontece a manifestação
clínica, como a diarreia, o indivíduo terá o avanço da debilitação, com perda de
peso de forma rápida, além de infecções secundárias.
O tratamento é realizado por antibióticos e costuma ser eficaz. “O grande
problema é que essa doença é recidiva, ou seja, volta a acontecer sempre após
algum tempo. Uma vez diagnosticado, o paciente deve voltar a fazer novas
biópsias a cada seis meses”, finaliza Artigiani.
Já a Cirrose Biliar Primária (CBP) é uma doença autoimune e também de causa
desconhecida, que afeta os pequenos ductos biliares dentro do fígado. A
frequência varia de 22 a 240 casos por milhão de habitantes. É dez vezes mais
comum em mulheres do que em homens e muito rara abaixo dos 30 anos de idade.
Em relação aos sintomas, o patologista e membro da SBP, Evandro Sobroza de
Mello, afirma: “Atualmente há muitos casos diagnosticados em fase assintomática,
usualmente por uma combinação de exames laboratoriais e os achados na biópsia do
fígado. Apenas parte destes pacientes desenvolve sintomas clínicos, enquanto
outra parte permanece assintomática indefinidamente. Porém, os sintomas mais
característicos são intenso prurido, mais conhecido como coceira, e letargia - a
perda temporária e completa da sensibilidade e do movimento por causa
fisiológica. Apenas muito tardiamente na evolução da doença há descompensação de
função hepática decorrente da cirrose”.
O tratamento é realizado pelo uso de um medicamento chamado ácido
ursodeoxicólico, que pode levar à melhora do quadro clínico e laboratorial. “O
efeito benéfico em longo prazo ainda não está bem estabelecido e pode não
impedir a evolução da doença em todos os casos. Em situações avançadas, pode ser
necessário o transplante de fígado”, completa Mello.
O Dia Internacional das Doenças Raras é comemorado em mais de 24 países e tem
coordenação da Eurodis (Europe Rare Diseases), que realiza campanha
anual.
Fonte: Jornal Tribuna da Bahia
Disponível em: <http://www.tribunadabahia.com.br/2013/03/01/medicos-baianos-discutem-doencas-raras>. Acesso em: 01 mar. 2013.
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