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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Preservação é Conhecimento: em seminário paralelo à Rio+20, pesquisadores afirmam que educação deve estar na base de qualquer ação para se compreender o patrimônio histórico. Descobertas no cais do Valongo são exemplos vivos desta relação


Educação é conhecimento. Com as obras que vêm sendo realizadas no porto do Rio de Janeiro para as Olimpíadas de 2016, muitos achados arqueológicos foram desenterrados, trazendo à tona a memória do local que pode ser considerado berço da cidade. O mais importante sítio, o cais do Valongo, devolve à capital fluminense e ao Brasil o principal porto de entrada de escravos no país no século XIX. Agora, o local vai ficar exposto à sociedade, que precisa estudar para entender que as pedras não são apenas um enorme buraco no Centro da da capital fluminense.
Quem defende a educação como fundamental para que os brasileiros compreendam a importância do cais é Rosana Najjar, diretora do Centro Nacional de Arqueologia do Iphan. No seminário Novas Perspectivas para a Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural, realizado na segunda passada (18), no Rio, como atividade paralela à Rio+20, a pesquisadora afirmou que os cientistas precisam dar à sociedade o retorno pelas descobertas que fazem. E expor o cais do Valongo é uma oportunidade para isso.
“Deve-se ter uma visão interdisciplinar, educação”, afirmou Najjar. “O cais do Valongo é um buracão de absoluta importância. Mas se você não traduzir, ninguém vai entender o que é. A coleção tem que estar próxima do público, com fotos exposições”, continuou. “Você precisa aprender a pensar o passado. Isso se faz com educação. Voltar no tempo através de caquinhos é muito difícil. Essa lição precisa começar na escola”, disse.
 
Riqueza ímpar
“O cais do Valongo é de uma riqueza absolutamente ímpar”, defendeu Najjar. “Acho que a arqueologia cumpriu seu papel heroicamente. Houve um trabalho conjunto com o empreendimento (a iniciativa público-privada pela revitalização do porto), e a arqueologia foi bem aceita por eles”. Segundo ela, o estado se tornou um foco de descobertas arqueológicas por causa das obras que modificam a cidade para receber os grandes eventos. As três principais áreas de pesquisa e preservação, hoje, são a própria Zona Portuária, o traçado do arco metropolitano (obra viária que circunda a mancha urbana da capital) e o Complexo Petroquímico do Rio. Najjar afirma que é um desafio encontrar o equilíbrio entre a preservação do patrimônio e o desenvolvimento econômico, ao qual ela se declara favorável.
Dessa forma, a preservação do cais aparece como novo desafio do Iphan: a exposição do patrimônio às intempéries do cotidiano desencadeia um processo de deterioração que não acontecia quando ele estava enterrado. Todo cuidado é pouco. E a atenção do Instituto com a cidade agora redobra, já que as obras estão revelando muitos resquícios do passado. “Quanto mais se mexe, mais temos grandes achados. No caso do Valongo, nós decidimos parar ali, porque ele é muito importante. Mas se escavássemos mais, encontraríamos outras coisas, certamente”. A pesquisadora destacou também as descobertas em outras obras do entorno da Praça Mauá, como a pedra fundamental das Docas D. Pedro II, canhões, balas e âncoras, que serão expostos ao público.
A antropóloga Lygia Segalla, professora da UFF, também participou da mesa sediada no Galpão da Cidadania, na tarde do dia 18. Ela falou sobre a importância de se preservar a cultura hoje para que ela não se perca no futuro, dando o exemplo das intolerâncias raciais e religiosas nas escolas. “Elas precisam ser refletidas e combatidas. Ainda há professores que impedem o ensino de religiões africanas em seus colégios e pais que não querem seus filhos em contato com aquela ‘cultura inferior’, aquelas ‘malignidades’”, protestou.
Outro participante do debate, Carlos Fernando de Moura Delfim, chefe do setor de Jardins Históricos do Iphan, concordou com suas colegas e afirmou que a educação deve estar na base de qualquer ação para que a importância histórica dos patrimônios seja compreendida. “Quando fizemos um projeto para proteger o rio São Francisco, não foi só uma questão ambiental, mas cultural”, contou.
Quando a sociedade não reconhece a importância de seu patrimônio cultural ele está mais suscetível à degradação. Patrimônio conservado é patrimônio vivo, adaptado aos usos e ao ritmo de vida da população que o cerca.
 
Fonte: Revista de Biblioteca de História Nacional 
 
Diponível em:<http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/educar-para-entender>. Acesso em: 27 jul. 2012.

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