Eles conferem várias vezes a tarefa da escola. Tomam longos banhos. Perguntam sempre a mesma coisa, de forma repetida. Têm mania de contar objetos e desenvolvem aversão a sujeira. Não conseguem se livrar de pensamentos estranhos e obsessivos. Crianças e adolescentes com esses sintomas podem estar com graves distúrbios de ansiedade, como o TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo). Hoje, 1% das crianças e jovens brasileiros têm a doença.
O TOC é um transtorno psiquiátrico que muitas vezes tem início na infância e predominância obsessiva ou compulsiva. No primeiro caso é comum o surgimento de ideias e imagens involuntárias que invadem o pensamento e se tornam repetitivas. Muitas vezes os pensamentos são contrários à índole da pessoa, mas mesmo assim são incontroláveis.
Já o transtorno com predominância compulsiva é alusivo a rituais e comportamentos repetitivos, como mania de arrumação, fechar e abrir portas, entre outros. Quando a tarefa é finalizada, a sensação é de alívio. Muitos jovens e crianças sentem vergonha e omitem os sinais. É nessa hora que os pais devem estar atentos. "Quando eles falam sobre isso já há sofrimento. Às vezes os pais acham que é fase, ou que o filho faz para aparecer, mas não percebem a dimensão do problema. Não é questão de força de vontade ou desvio de caráter. A criança não consegue superar sozinha. Quanto mais cedo iniciar o tratamento, menor o risco do transtorno se tornar crônico e continuar na vida adulta", explica a psiquiatra do Ambulatório de Transtornos de Ansiedade na Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Rosa Magaly Moraes.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o TOC está entre as dez maiores causas de incapacitação das pessoas. Na infância, geralmente se desenvolve entre 6 e 17 anos. Em estágio avançado pode resultar em fobia social, ou dificuldade de conviver e se relacionar. É comum o rendimento escolar despencar e qualquer atividade rotineira se tornar estressante. "Sair de casa envolve muitas tarefas. Demoram para se arrumar. Logo não dão mais conta dos compromissos."
TRATAMENTO
Ao identificar alguns sintomas, o mais recomendado é não retardar a consulta com o especialista. O tratamento mais indicado é aliar uso de antidepressivos com a terapia cognitiva-comportamental. O Hospital das Clínicas, na Capital, está ampliando pesquisas sobre o tema. O objetivo é estudar qual é a melhor sequência a ser adotada e individualizar as experiências. "Queremos saber qual é o tipo de paciente que se adequa melhor a determinado remédio e entender qual método deve ser aplicado primeiro", explica.
De acordo com a psiquiatra, pesquisas recentes mostram que as duas formas de tratamento trazem respostas mais eficazes e seguras. Ao todo, 50 jovens e crianças serão observadas e tratadas por pelo menos de um ano e meio.
Incidência é mais comum em famílias rígidas e religiosas
Os sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo podem ter origem na própria família. Não há estudos conclusivos sobre o tema, mas, segundo especialistas, o rigor em conceitos religiosos e rigidez na conduta educacional podem resultar em excesso de culpa, comportamento introspectivo, timidez excessiva, medos e pensamentos pavorosos - como a iminência da morte dos pais ou entes queridos.
"Notamos que em famílias religiosas, com conceitos fechados, existe aumento na incidência de TOC. Essa família precisa ter suporte. Não adianta tratar a criança se os pais ou o próprio ambiente em que ela vive potencializam os sintomas. É conflitante", explica a professora de Psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC, Fernanda Piotto.
Nesses casos, é fundamental incluir familiares no tratamento terapêutico. A causa do transtorno, originalmente, ainda não é esclarecida. No entanto, há estudos que indicam a pré-disposição genética de parentes de primeiro grau como determinante para o surgimento do distúrbio. Já fatores externos como estresse ou traumas (assaltos, mortes, entre outros) podem funcionar como gatilho do problema. Outra pesquisa inédita do Instituto de Psiquiatria da USP e do Hospital das Clínicas foca a identificação das relações genéticas e a criação de estratégias de prevenção.
Não há tempo estipulado para concluir o tratamento. O mínimo recomendado é aplicar medicação e realizar terapia comportamental entre seis e nove meses, de acordo com a psiquiatra do Hospital das Clínicas, Rosa Magaly Moraes. Os pais não devem temer que o filho tome medicação antidepressiva. Segundo a psiquiatra, são remédios seguros e trazem retorno satisfatório que amortiza os sintomas.
Em Santo André, São Bernardo, Diadema e Ribeirão Pires os casos de crianças com TOC são encaminhados aos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) Infantil. São Bernardo atualmente trata 11 crianças e jovens com o transtorno. Em Ribeirão Pires e Diadema surgem, em média, cinco casos por mês na rede.
Em São Caetano os casos são atendidos na Usca (Unidade de Saúde da Criança e do Adolescente). As demais prefeituras não responderam. Quem precisar de ajuda deve procurar a rede de atenção básica da sua cidade e buscar encaminhamento para psiquiatria.
Disponível em: <http://abp.org.br/2011/
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