Fragmento da Torá salvo das perseguições dos anos 1930 e réplica da boneca de Zofia Burowska,
menina que sobreviveu a dois campos de concentração
Curitiba entrou na lista das cidades do mundo que contam com uma instituição dedicada ao tema das perseguições aos judeus no século XX. Este mês o Museu do Holocausto será aberto à visitação e conta com uma exposição de longa duração que abrange um período que vai da década de 1920 até os dias de hoje. A mostra aborda desde a época pré-nazista na Europa até as consequências do Holocausto para a comunidade mundial, incluindo os fluxos migratórios para vários países, entre os quais o Brasil.
O acervo inclui documentos, objetos pessoais e simbólicos relacionados ao tema, graças às parcerias com instituições museológicas nacionais e internacionais, além de doações feitas pela comunidade judaica. Um dos exemplos é um fragmento da Torá, o livro sagrado do judaísmo, doado pelo Museu do Holocausto de Jerusalém, e um cartão de racionamento alimentar usado no campo de Buchenwald, na Alemanha.
Outro objeto curioso é uma réplica da boneca de Zofia Burowska, que viveu nos guetos de Wolbrum e Cracóvia, na Polônia. Depois de passar por vários campos de concentração, ela acabou libertada na Alemanha e recuperou a boneca, que havia sido guardada por amigos não judeus em Cracóvia. Durante a visita, as histórias contadas são tristes e há imagens duras, porém não faltam elementos curiosos como o violino exposto em uma das salas do museu. Ele pertenceu ao garoto Mordechai Schlein, que aos 12 anos encantou nazistas com o som do instrumento. Eles não sabiam, porém, que Mordechai, ou Motele como era chamado, roubava explosivos e guardava no estojo do violino. Foi convidado para divertir os oficiais durante semanas e, um dia, depois de tocar acabou explodindo o local com os nazistas dentro, em 1941. O garoto morreu dois anos depois em uma batalha. “São cenas difíceis de serem vistas. Mas foram atos cometidos por seres humanos. Então, a ideia é lutar contra a intolerância e fazer com que a gente consiga viver em um mundo melhor”, diz Miguel Krigsner, idealizador do museu. A família do pai do empresário, de origem polonesa, conseguiu escapar do nazismo. Miguel vive no Brasil desde 1961. Além de colocar à disposição do público material audiovisual, o museu abre espaço para a discussão e reflexão sobre o preconceito e a violência, tomando a questão judaica como exemplo e abordando também outros exemplos de genocídios ocorridos ao longo do século XX. A coordenação da instituição conseguiu reunir depoimentos de 14 judeus sobreviventes da Segunda Guerra Mundial, que mais tarde se estabeleceram em Curitiba. Entre elas está a polonesa Bunia Finkel, que passou 495 dias dentro de um buraco cavado em um celeiro. “Meu pai marcava cada dia com um risco”, conta. | ||
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