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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Buscas Sobre Saúde na Web Geram Fenômeno da ‘Cybercondria’

Desconhecimento sobre fontes de informação confiável na internet agrava ansiedade de quem faz buscas sobre sintomas e doenças

 José Ricardo Savassa, ao fundo, no consultório de seu médico: web aliada nas buscas sobre tratamento

Muitos brasileiros já descobriram que internet facilita a vida quando o assunto é saúde. Mas poucos sabem onde obter informações de fato confiáveis sobre o tema. No Brasil, 35% dos internautas procuram sites dedicados a assuntos de saúde, de acordo com a pesquisa de 2010 do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação. Outro estudo global, publicado em 2011 pelo Instituto Ipsos, em parceria com a London School of Economics, revela uma demanda ainda mais forte: 86% dos internautas brasileiros disseram buscar assuntos de saúde. Apenas um quarto deles, no entanto, certifica-se de que a fonte é confiável. O problema é que esta multidão anônima pode começar a sentir os efeitos de uma ansiedade que os médicos já diagnosticam com a expressão “cybercondria”, a mais nova versão da hipocondria, a mania de doença, que inclui riscos de automedicação e o autodiagnóstico.
 
Nos EUA, de acordo com relatório do Pew Research Institute, 66% das buscas na internet sobre saúde são, na verdade, de internautas que querem saber mais sobre doenças. As pesquisas sobre saúde na web inspiraram a criação de um site chamado Dr. Google, que, com nome e interface bem parecidos ao do mais famoso buscador mundial, oferece resultados sobre doenças, medicamentos, sintomas... E tudo sem o consentimento da empresa californiana. Procurada pela reportagem do GLOBO, a assessoria de imprensa da Google no Brasil informou que encaminhou o caso para o seu setor jurídico.

A cybercondria acontece, por exemplo, quando uma simples googlada sobre um sintoma faz a pessoa acreditar que sofre de uma doença grave. O cardiologista Cláudio Domênico já recebeu em seu consultório no Rio uma paciente que achava ter um tumor na cabeça, porque, depois de abrir um exame e tentar entender o que os termos técnicos significavam, ela se equivocou e digitou no buscador uma palavra errada. Foi o suficiente para acreditar que estava com câncer quando, na verdade, estava perfeitamente saudável.
O susto também tomou conta do operador de torno José Savassa, de 46 anos, que sofre de uma doença reumática e foi orientado pelo médico a se informar na web sobre o problema. Nas buscas, ele se deparou com fotos de pessoas com problemas sérios. E levou as dúvidas ao consultório:

— Foi uma longa consulta. Fiquei assustado com o que vi, mas serviu para que eu me cuidasse melhor.
Gerson Zafalon, do Conselho Federal de Medicina (CFM), alerta que a ansiedade causada por dados descontextualizados pode traumatizar:
— Não é incomum psiquiatras receberem pacientes com distúrbios de comportamento agravados por desinformações originadas na web.
A repercussão enorme que tópicos negativos ganham na internet também agrava a ansiedade dos usuários, na opinião da pesquisadora Wilma Madeira, da USP:— Se uma pinta parecer câncer para um usuário, há mais chances de ele encontrar resultados alarmantes, dizendo que pinta pode levar à morte, do que tranquilizadores, mostrando que aquele sinal não é grave.
Wilma diz que a cybercondria ocorre com quem já sofre de hipocondria:
— Eu não acho que a web amplia o número de hipocondríacos, mas facilita o acesso a quem tem esse distúrbio.
Para evitar sustos, Gerson Zafalon aconselha que as buscas sejam feitas após o diagnóstico, e direcionadas para informações sobre tratamentos e experiências. Diversificar fontes, debater dúvidas com os médicos e buscar sites de instituições como governos e universidades ajudam. Para Wilma, são meios de manter o que a web traz de melhor: conhecimento e autonomia.

Fonte: Jornal O GLOBO

Disponível em:<http://oglobo.globo.com/saude/buscas-sobre-saude-na-web-geram-fenomeno-da-cybercondria-3876357>. Acesso em: 03 fev. 2012.

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