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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Otelo e a Doença da Suspeita:

há mais de 400 anos o personagem – marcado pelo ego frágil, controle emocional falho e visão distorcida da realidade – causa fascínio, a ponto de ter motivado a criação de um conceito psiquiátrico: o ciúme patológico

Os textos de William Shakespeare são caracterizados por descrições minuciosas das paixões humanas e da loucura que muitas vezes as acompanha. O dramaturgo inglês apreciava personagens extremados, representações de violência e cenas de morte. A insanidade desenvolvida por Otelo marcou a subjetividade ocidental, por sua precisão e universalidade. É por esse motivo que análises do texto continuam a surgir e a se contradizer reciprocamente e as representações da peça nunca cessaram, desde sua primeira montagem, em 1604. E muitos estudos e artigos privilegiam os aspectos psíquicos do protagonista. Aparentemente, Shakespeare estava bem informado sobre a então emergente ciência do alienismo, em uma época na qual imperavam as superstições e conhecimentos sobre demonologia. Isso o levou a desenvolver em sua obra uma abordagem moderna da loucura, entendida essencialmente como a incapacidade de perceber e interpretar as próprias emoções (ou paixões). Por isso não surpreende que psiquiatras tenham utilizado um de seus personagens mais famosos para designar um distúrbio comportamental: a síndrome de Otelo.

A trama é simples. Um prestigiado general de pele morena (Otelo, o mouro) casa-se em segredo com a bela Desdêmona, filha de um nobre veneziano. Iago, amigo e subordinado do protagonista – e um dos mais famosos “malvados” da história do teatro –, faz de tudo para arruinar esse casamento e prejudicar seu superior hierárquico. Para atingir esse objetivo, instiga o ciúme, fazendo Otelo acreditar que a mulher o trai com Cássio, um jovem tenente. O plano funciona tão bem que Otelo acaba matando a mulher e suicidando-se em seguida. Para quem assiste às malvadezas de Iago, suas mentiras e audácia são de tirar o fôlego. Mas o conjunto dos personagens é constantemente traído por uma retórica excessiva: ele finge expor coisas que preferia esconder, mas que revela por se sentir obrigado pela amizade e fidelidade que o ligam a seus interlocutores. O mecanismo constitui a parte essencial do desenvolvimento do texto, até o desfecho trágico.

Fonte: Revista Mente e Cérebro

Disponível em: http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/otelo_e_a_doenca.html . Acesso em 13 jun. 2011

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