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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Péssimas condições de trabalho podem levar ao uso de drogas e suicídios

Por Odenice Rocha 
Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA

Rotinas exaustivas, assédio moral, salários baixos e más condições de alimentação e moradia são algumas das características básicas em complexos industriais enormes que se espalham pela China e em alguns outros países.
Segundo Heliete Maria Castilho Karam, doutora em psicologia clínica pela Universidade de Paris, os altos índices de suicídio e as dependências químicas, no mundo todo, estão ligados ao ambiente de trabalho ruim.

“Algumas pessoas recorrem ao álcool para silenciar esse barulho interno e anestesiar a consciência. Já o suicídio também começa a preocupar o Brasil, mas infelizmente aqui não é tão estudado como lá fora”, afirma.
Segundo ela, em 2010 ocorreram 10.334 suicídios na França, 68% deles relacionados ao trabalho. Já os países asiáticos estão em primeiro lugar em índices de suicídio entre pessoas de 14 a 34 anos, que trabalham de 6h às 21h.
“Quando o trabalho não vai bem, não adianta forçar o trabalhador, exigindo mais assiduidade, mais presença, mais concentração, mais treinamento, menos erros, mais resultados, mais produtividade, melhor cumprimento de metas e prazos ou ainda mais e melhor assiduidade pessoal com sua saúde, muitas vezes responsabilizando e até culpando-o pelos descuidos do seu corpo ou comportamento”, disse Heliete Maria Castilho.
O jornal chinês Souther Weekly denunciou que os freqüentes suicídios ocorridos entre funcionários da Foxconn, produtora de iPods, iPhones e iPads, foram causados por excesso de trabalho e maus-tratos. O jornal enviou o repórter Liu Zhi Yi, de 20 anos, para trabalhar disfarçado na fábrica da Foxconn, na unidade de Senzhen, na China.
Por 28 dias o repórter vivenciou as péssimas condições de trabalho dos 400 mil empregados da empresa em Senzhen. Segundo o repórter, os funcionários vivem uma espécie de “escravidão contratada”. A empresa funciona 24 horas por dia. “Eles trabalham o dia todo, parando apenas para comer rapidamente ou dormir”. Liu concluiu que, para muitos empregados, a única saída possível para esse ciclo desumano é pôr fim à própria vida.
Conforme Liu Zhi, os empregados passam oito horas de pé e não podem se sentar para descansar e os salários mensais estão na faixa de 900 Yuan, cerca de R$ 235. O repórter disfarçado teve que assinar um documento especial: um acordo de horas extras que diz que a empresa não seria responsável pelas suas longas horas de trabalho. Segundo Liu, esse acordo “voluntário” anula as leis estatais chinesas.
Uma das “providências” tomadas pela empresa foi forçar os novos empregados assinarem um compromisso de que não vão se suicidar. Outra foi instalar mais de dois quilômetros de redes junto às janelas dos alojamentos, a uns dez metros do solo, para que os desesperados que saltam delas não cheguem ao chão.
Psicólogos e dirigentes sindicais de outros países europeus também alertam sobre um aumento do estresse nos ambientes de trabalho. “Os suicídios devido a condições de trabalho precárias e estressantes não são um fenômeno exclusivamente francês. Pelo menos 27% dos trabalhadores da União Européia (UE) consideram que sua saúde e segurança estão em risco devido ao trabalho”, declarou Laurent Vogel, que investiga a saúde trabalhista no Instituto Europeu de Sindicatos, sediado em Bruxelas.
“Em toda a Europa ocorrem suicídios nos locais de trabalho, mas estes não aparecem nas estatísticas trabalhistas”, acrescentou. Segundo Vogel, “admitir o suicídio no trabalho é tabu, porque questiona a constante busca de maior produtividade e eficiência”

 Fonte: (EN)Cena
 
Disponível em: <http://ulbra-to.br/encena/2013/11/13/Pessimas-condicoes-de-trabalho-podem-levar-ao-uso-de-drogas-e-suicidios>. Acesso em: 18 nov. 2013

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