Antes de entrar no palco, Raquel Firmino, de 45 anos, ajuda a maquiar e a vestir seus três companheiros de espetáculo – Lívia, Eric e Bárbara, seus filhos. Os três têm gangliosidose, uma doença neurodegenerativa rara, causada pela falta de uma enzima essencial para o funcionamento das células neurais. Raquel e seus filhos aprenderam a dançar na organização não governamental (ONG) Centro de Dança Integrado (Cedai), em Campinas, coordenada pela pedagoga e bailarina Keyla Ferrari, onde deficientes físicos e mentais encontram na música e nos movimentos a chance para trabalhar suas habilidades motoras e sua autoestima.
Há 15 anos, muito jovem, Keyla assistiu à apresentação de uma bailarina em cadeira de rodas durante uma viagem a Londres, quando dançava profissionalmente. "Aquela imagem ficou nos meus pensamentos. Pouco tempo depois, quando comecei a dar aulas, surgiu por acaso um aluno surdo”, conta. A ONG tem hoje 70 alunos, com vários tipos de deficiência. As turmas de balé, de percussão e de dança criativa (que desenvolve os movimentos de acordo com as possibilidades de cada aluno) são separadas por faixa etária, e não por deficiência, e parentes são incentivados a participar, como é o caso de Raquel Firmino. “A primeira vez que vi meus filhos felizes foi quando os levei para dançar”, diz ela, que recebeu cachê pelas apresentações do espetáculo Somos um, cuja coreografia reúne cadeirantes, pessoas com síndrome de Down e bailarinos profissionais. Várias empresas já financiaram as apresentações do grupo pelo país.
“No palco, a cadeira de rodas abandona o significado de instrumento associado à limitação para se locomover – ela torna--se elemento cênico, objeto em função da criatividade dos dançarinos”, analisa Keyla, também autora de dissertação de mestrado sobre a dança como meio de superar limites sociais e do corpo, na Universidade de Campinas (Unicamp). Para a professora, quando o deficiente se propõe a dançar há uma libertação dos comportamentos e atitudes do espaço cotidiano. São estabelecidas novas formas de estar e interagir com o outro. “No contexto artístico, a deficiência transmite expressividade de forma particular”, observa. As aulas e ensaios são gratuitos e acontecem na sede do Cedai em Campinas, na rua Benedito Gomes Ferreira, no 600, Parque Via Norte. Informações: (19) 8179-5639.
Fonte: Revista Mente e Cérebro
Disponivel em: <http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/bailarina_transforma_cadeira_de_rodas_em_elemento_cenico.html>. Acesso em: 27 set. 2011
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