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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Rede de Pesquisadores Vai Trabalhar na Prevenção de Doenças Mentais em Crianças e Adolescentes: especialistas pretendem combater causas que levam à depressão, esquizofrenia e surtos psicóticos em crianças e adolescentes por meio de centros de convivência e institutos de pesquisa


Esquizofrenia: rede vai atuar na prevenção
Um grupo de pesquisadores brasileiros pretende criar uma rede multidisciplinar para prevenir doenças mentais, como surtos psicóticos,
depressão e esquizofrenia, em jovens e crianças. O trabalho é liderado pelo médico Jair de Jesus Mari, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e foi apresentado na 64ª reunião da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em São Luís. O evento ocorre até sexta-feira no campus da UFMA (Universidade Federal de Maranhão).
A ideia é criar uma rede de colaboração entre pesquisadores de várias áreas, como psicologia, sociologia e psiquiatria, por meio de centros de convivência para jovens e institutos de pesquisa em três regiões: os bairros de Butantã e Vila Maria, na cidade de São Paulo, e um bairro na cidade de Ribeirão Preto, no interior paulista. Inicialmente, quase um milhão de pessoas seriam supervisionadas pela rede. Nesses centros, os pesquisadores poderão avaliar os hábitos escolares, familiares e pessoais dos jovens e identificar quais deles têm mais chances de desenvolver doenças mentais com base em critérios estritamente científicos.
O projeto, chamado Y-mind, concorre aos fundos do CEPID (Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão), gerenciado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). O resultado deve sair em um mês. Se o grupo for escolhido, poderá receber até 44 milhões de reais em 11 anos. A rede seguirá um exemplo pioneiro e bem sucedido na Austrália, onde espaços de convivência para jovens foram criados para que uma equipe multidisciplinar pudesse avaliar o risco de cada um dos indivíduos desenvolver doenças mentais, levando-se em conta os hábitos familiares, escolares e pessoais. 
Estímulos externos - Segundo Jesus Mari, que é professor honorário da King's College, em Londres, crianças e adolescentes representam um grupo de risco para desenvolver doenças mentais. Isso ocorre porque nessa fase o organismo ainda está em formação e alguns estímulos externos -- como bullying, violência doméstica e o contato precoce com drogas -- podem provocar mudanças na fisiologia desses indivíduos. "Percebemos que situações de conflito e a exposição precoce às drogas podem provocar o desenvolvimento de doenças mentais, como esquizofrenia, surtos psicóticos e depressão", disse o médico. Pouco se faz para prevenir essas patologias, diz Jesus Mari. 
Estudos mostram que quanto mais cedo os médicos atuam na vida do jovem que apresenta problemas na saúde mental, maiores são as chances de prevenir os transtornos mentais. O problema é que eles normalmente são negligenciadas, de acordo com Jesus Mari. "Ninguém quer admitir que o filho desenvolveu depressão ou passa por um surto psicótico", diz o especialista. Essa é uma das dificuldades que a nova rede pretende superar. "Dentro dos centros, uma equipe multidisciplinar vai acompanhar os jovens e poderá intervir nos casos onde o indivíduo tem mais propensão a desenvolver certa doença." Essa intervenção pode vir na forma de orientação aos pais e estímulos para mudanças de hábito nos casos de maior propensão.
Essa 'maior propensão' quer dizer que o organismo do indivíduo pode ter a configuração genética mais desfavorável à saúde mental. No caso da maconha, por exemplo, um estudo realizado na Nova Zelândia durante 26 anos e publicado em 2005 mostrou que jovens de 12 a 25 anos que possuem predisposição genética têm 10 vezes mais chances de ter surtos psicóticos ao consumirem a droga. "É quase a mesma relação do tabaco com o câncer de pulmão", disse Jesus Mari. O mesmo estudo mostrou que uma relação semelhante pode ser estabelecida para a depressão, mas com base em outros fatores, como violência doméstica.
Ampliação - A rede de colaboração de especialistas já funciona de maneira embrionária. A Unifesp, junto com a SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), gerencia um hospital municipal na Vila Maria, em São Paulo, onde são acompanhados jovens com risco de desenvolver doenças mentais. Agora, Jesus Mari quer ampliar a rede para expandir o trabalho para diversas regiões. O projeto possui quatro INCTs (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia), um programa financiado pelo governo federal. 
Agora, o objetivo é conseguir o financiamento de até 44 milhões da Fapesp. De acordo com Jesus Mari, o trabalho tem apoio do ministro da Saúde, Alexandre Padilha e da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. "Nossa esperança é que a rede possa colaborar com as políticas públicas na área de saúde", disse o especialista. Jesus Mari também disse que recebeu um convite da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, para implantar a rede lá. "O projeto é pioneiro mesmo em outras partes do mundo", disse. "Estamos otimistas que ele poderá crescer aqui."


Fonte: Revista Mente e Cérebro

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