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segunda-feira, 9 de julho de 2012

De Costas Para o Mundo: crianças com autismo evitam contato visual, não brincam e demoram, ou nunca aprendem, a falar – identificar os sinais do transtorno nos primeiros anos de vida aumenta as chances de tratamento


Deitado na cama dos pais, o bebê Pedro parece indiferente às tentativas dos parentes de chamar sua atenção. Observa as almofadas e outros objetos do quarto e não fixa os olhos em nenhum dos rostos sorridentes ao seu redor. Aos poucos, as brincadeiras da mãe transformam-se em pedidos angustiados de atenção, mas ele continua aparentemente surdo aos apelos. A cena de poucos minutos é de um vídeo caseiro, parte do material de pesquisa do neuropsiquiatra Fillipo Muratori, da Universidade de Pisa. Ao analisarem o comportamento do menino, diagnosticado anos depois com autismo, e de outras crianças em gravações caseiras, Muratori e sua equipe mostraram que os sintomas do transtorno do desenvolvimento surgem desde cedo.
A estimativa é que uma em cada 88 crianças tem o transtorno do espectro autista (TEA), segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDCs, na sigla em inglês). O termo “espectro” significa que há vários graus do distúrbio, mas todos compreendem, em menor ou maior intensidade, os seguintes sintomas: profunda ausência de habilidades sociais, baixa capacidade de comunicação e comportamentos repetitivos, apatia, aparente surdez, ausência de expressões faciais de afeto. Independentemente da gravidade da manifestação, há problemas de interação social.

Humanos têm disposição inata para relacionamentos e comunicação: somos sensíveis às expressões faciais, reagimos a elas. Nas crianças autistas, no entanto, algo falha nesse contato inicial. Para a psicanálise, os sintomas podem se manifestar como um refúgio defensivo, desencadeado por experiências emocionais traumáticas. O psicanalista Alfredo Jerusalinsky, especialista em autismo, considera que o transtorno é uma interação entre causas neurobiológicas e experiências traumático-psicológicas nas relações primordiais entre mãe e bebê. Em outras palavras, a manifestação inicial de algum sintoma de origem orgânica afasta o bebê do ideal dos pais. Se desistem de estimular a criança, o quadro se agrava.
A boa notícia é que as chances de melhora dos sintomas são significativas quando o diagnóstico é feito até os primeiros dois anos de vida. Nesta fase, considerada por muitos especialistas em desenvolvimento infantil um divisor de águas, ocorre uma mudança considerável nas habilidades de intuição social e na aquisição de linguagem. Psicanalistas especializados em crianças e adolescentes têm estudado formas de estimular o autista de forma adequada. Estudos recentes têm mostrado que abordagens que utilizam o “manhês” – linguagem caracterizada por entonações de voz e ritmos específicos que adultos usam instintivamente ao se dirigir aos filhos pequenos – e expressões faciais exageradas podem ser eficazes para tentar inserir a criança no universo da expressão verbal.
Mesmo em casos em que os sintomas são mais intensos, possivelmente associados a causas neurobiológicas, o atendimento psicanalítico precoce e contínuo pode contribuir para o desenvolvimento psíquico – o profissional pode ajudar os pais a entender o transtorno, apontando caminhos para lidarem com as culpas, frustração das expectativas, angústias e dores. Enfim, mostrar-lhes a real possibilidade de se tornarem aliados no desenvolvimento da criança.
 
Fonte: Revista Mente e Cérebro
 

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