A discussão das chamadas " doenças inventadas", criadas pela chamada medicalização, chegou à Câmara dos Deputados, em Brasília.
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados discutiu sobretudo o uso excessivo de remédios por crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizado ou de comportamento na escola, que tem transformando o modo de ser de algumas crianças em doença.
A reunião marcou o início da campanha Não à Medicalização da Vida, lançada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) e pelo Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade.
Medicalização
De acordo com a conselheira do CFP, Marilene Proença, medicalização é todo tratamento de processos ou comportamentos sociais e culturais em crianças, adolescentes ou adultos com quadro de patologia psiquiátrica.
O debate realizado na Câmara dos Deputados concentrou-se nos tratamentos de distúrbios relacionados à educação - como dislexia, déficit de atenção e hiperatividade.
"Existe uma métrica social que considera sentimentos e comportamentos legítimos como sintomas patológicos. Muitas vezes, esses casos são tratados com os chamados tarja preta, que têm sérias sequelas", explicou Marilene.
Para a conselheira, há muito alarde em relação a drogas ilícitas, mas pouco em relação às drogas lícitas.
Em 2000, eram consumidas 70 mil caixas de medicamentos para o tratamento de distúrbios relacionados à aprendizagem. Em 2010, o número cresceu para 2 milhões, o que faz do Brasil o segundo maior consumidor desse tipo de remédio, apenas atrás dos Estados Unidos.
"Em vez de melhorarem a qualidade da escola, estão criando instâncias de diagnóstico para crianças que têm dificuldade de aprendizado. Não podemos passar às crianças responsabilidades políticas, sociais e culturais da sociedade em geral", disse a conselheira do CFP.
Amplificadores cognitivos
Segundo a professora Maria Aparecida Moisés, da Universidade de Campinas (Unicamp), substâncias que vêm sendo usadas como "amplificadores cognitivos" - como o metilfenidato (nome comercial: Ritalina) e o clonazepam (nome comercial: Rivotril) - não são drogas seguras.
"São psicotrópicos e tranquilizantes que podem provocar morte súbita e inexplicada até sete vezes mais do que em crianças e adolescentes que não os tomam", alertou Maria Aparecida.
Para ela, em vez de se discutir a vida e os valores da sociedade, há uma inversão que faz com que todos acreditem que têm transtornos a serem tratados.
"Precisamos adotar uma política educacional que assuma o princípio fundamental de que todos podem e têm o direito de aprender. Um professor é capaz de ensinar toda pessoa a quem se propuser.
"A medicina fala de impossibilidades. A escola fala de possibilidades. E a escola foi invadida por profissionais de outras áreas, como neuropsicólogos, fonoaudiólogos, psicólogos e psiquiatras. Isso não é escola, mas uma invasão do mercado de trabalho," disse a professora da Unicamp.
Fonte: Diário da Saúde
Disponível em:<http://www.diariodasaude.
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