No intervalo de poucos meses, cinco pessoas de distintas formações, profissões e histórias de vida, que não se conheciam, dispararam, em meio às suas respectivas crises existenciais, uma mesma pergunta para mim: você acha que estou ficando louco?
Como psicanalista percebo claramente uma espécie de epidemia desse temor, que se não pode ser categorizado – pelo menos não nesses casos específicos, como uma lissofobia (medo de enlouquecer) – é, sem dúvida, um dos mais poderosos sintomas das contemporâneas psicopatologias do início de milênio.
Dada a subjetividade do que o conceito de “loucura” provoca, me permito utilizar a nosologia da Psicanálise, que divide os seres humanos em neuróticos e psicóticos. Nessa abordagem, o “louco” seria aquele indivíduo portador de lesão nos tecidos cerebrais que dariam origem às psicoses, como esquizofrenia ou paranoia. A ciência ainda não pode apontar com precisão como se dá a gênese dessas doenças, porém sabese hoje que é uma liberação exagerada da dopamina pelo cérebro que dá o start às crises agudas.
Ainda segundo a Psicanálise, as neuroses, entre elas a lissofobia, seriam a proteção contra a perda do controle total, o que funcionaria como um fusível que evitaria que o sistema elétrico de uma casa (no caso nosso cérebro) entrasse em colapso.
Essa sensação de estar ficando louco é na verdade a liberação exagerada de um hormônio chamado cortisol, responsável por nos deixar alertas contra algo que põe nossa integridade em risco. Junte-se a isto a incapacidade do cérebro de dar um significado ao evento, ao constatar a falta de um objeto real a ser temido. A este desconforto causado pelo estranho evento psíquico chamamos de crise de ansiedade ou crise de angústia.
Na visão da Psicanálise, ainda que inconscientemente afetos se acumulem e sejam os responsáveis pelo aparecimento da ansiedade, nosso computador, que fica entre as nossas orelhas, não teria como acessar essa parte do hD, restando à pessoa viver o processo sem conseguir dar uma explicação, ou um sentido ao fenômeno. Isso explica as pavorosas angústias provenientes de crises de ansiedade, inclusive a falsa sensação de estar “pirando”.
No seu livro Autobiografia de um espantalho, o psiquiatra francês Boris Cyrulnik cita que uma das mais cruéis torturas utilizadas pelo regime comunista da ex-união soviética contra os intelectuais na década de 30 eram os trabalhos forçados, que incluíam atividades como ficar enchendo e esvaziando um fosso de água durante meses sem um real objetivo. Isso seria sufi- ciente para causar colapsos psíquicos capazes de alimentar com farta satisfação o sadismo dos agentes da NKVD, polícia secreta de stalin.
Como psicanalista percebo claramente uma espécie de epidemia desse temor, que se não pode ser categorizado – pelo menos não nesses casos específicos, como uma lissofobia (medo de enlouquecer) – é, sem dúvida, um dos mais poderosos sintomas das contemporâneas psicopatologias do início de milênio.
Dada a subjetividade do que o conceito de “loucura” provoca, me permito utilizar a nosologia da Psicanálise, que divide os seres humanos em neuróticos e psicóticos. Nessa abordagem, o “louco” seria aquele indivíduo portador de lesão nos tecidos cerebrais que dariam origem às psicoses, como esquizofrenia ou paranoia. A ciência ainda não pode apontar com precisão como se dá a gênese dessas doenças, porém sabese hoje que é uma liberação exagerada da dopamina pelo cérebro que dá o start às crises agudas.
Ainda segundo a Psicanálise, as neuroses, entre elas a lissofobia, seriam a proteção contra a perda do controle total, o que funcionaria como um fusível que evitaria que o sistema elétrico de uma casa (no caso nosso cérebro) entrasse em colapso.
Essa sensação de estar ficando louco é na verdade a liberação exagerada de um hormônio chamado cortisol, responsável por nos deixar alertas contra algo que põe nossa integridade em risco. Junte-se a isto a incapacidade do cérebro de dar um significado ao evento, ao constatar a falta de um objeto real a ser temido. A este desconforto causado pelo estranho evento psíquico chamamos de crise de ansiedade ou crise de angústia.
Na visão da Psicanálise, ainda que inconscientemente afetos se acumulem e sejam os responsáveis pelo aparecimento da ansiedade, nosso computador, que fica entre as nossas orelhas, não teria como acessar essa parte do hD, restando à pessoa viver o processo sem conseguir dar uma explicação, ou um sentido ao fenômeno. Isso explica as pavorosas angústias provenientes de crises de ansiedade, inclusive a falsa sensação de estar “pirando”.
No seu livro Autobiografia de um espantalho, o psiquiatra francês Boris Cyrulnik cita que uma das mais cruéis torturas utilizadas pelo regime comunista da ex-união soviética contra os intelectuais na década de 30 eram os trabalhos forçados, que incluíam atividades como ficar enchendo e esvaziando um fosso de água durante meses sem um real objetivo. Isso seria sufi- ciente para causar colapsos psíquicos capazes de alimentar com farta satisfação o sadismo dos agentes da NKVD, polícia secreta de stalin.
Devido à arquitetura do nosso cérebro capaz de criar mais perguntas que respostas, a falta de sentido é de longe o maior gerador de ansiedade que um ser humano pode vivenciar, seja na busca de um macro ou de um microsignificado, isto é, desde atribuir uma lógica a um sintoma até buscar um sentido para a própria existência.
O processo é reforçado ainda por uma sociedade que valoriza exageradamente a busca e geração do maior número de estímulos em forma de informações. É natural, assim, que nos deparemos com inúmeras situações onde precisamos fazer escolhas no menor tempo possível, e que, em não raras vezes, mal temos tempo de significar ou dar a elas um real sentido. importante frisar que toda escolha, por mais insignificante que possa parecer, causa estresse.
Não são poucos filósofos e profissionais psi que atribuem a descoberta de um sentido existencial à profilaxia para as angústias humanas. Pensadores como Heidegger e sua visão ontológica do existir, viktor frankl e sua Logoterapia, Winnicott, Gabriel honoré marcel e tantos outros ressaltaram a força determinante que o sentido exerce na existência humana.
Modernos psicofármacos têm se mostrado ef icientes em conter os sintomas, que tendem a ser retroalimentados pela própria ansiedade com que os pensamentos tentam dar, sem sucesso, um sentido a essas crises. isto é, quanto mais eu tento desvendar como funciona o processo da ansiedade, mais eu não encontro respostas, o que, por sua vez, alimenta cada vez mais o desconforto.
Gosto das palavras de Nichan Dichtchekenian, um dos mais brilhantes terapeutas existenciais do Brasil, que ao tratar do tema já agrega à angústia um porquê: “o pânico causado pela ansiedade nada mais é do que o prenúncio de uma transformação. É o anúncio de uma nova possibilidade de ser, no sentido em que efetivamente essa nova possibilidade anuncia um risco real que é o de eu abandonar a familiaridade em relação a quem eu já sou”.
Se o fenômeno em si, da sensação de enlouquecer diante de uma ansiedade sem explicação, está acobertando um mal-estar experimentado diante de um vazio existencial, é importante que ao atentarmos para a palavra “vAZio” lembremos que qualquer ausência de conteúdo pressupõe espaço livre para ser preenchido com algo. Com o quê? Talvez esteja aí um dos sentidos da existência: descobrir o que pode preencher esse vazio…
O processo é reforçado ainda por uma sociedade que valoriza exageradamente a busca e geração do maior número de estímulos em forma de informações. É natural, assim, que nos deparemos com inúmeras situações onde precisamos fazer escolhas no menor tempo possível, e que, em não raras vezes, mal temos tempo de significar ou dar a elas um real sentido. importante frisar que toda escolha, por mais insignificante que possa parecer, causa estresse.
Não são poucos filósofos e profissionais psi que atribuem a descoberta de um sentido existencial à profilaxia para as angústias humanas. Pensadores como Heidegger e sua visão ontológica do existir, viktor frankl e sua Logoterapia, Winnicott, Gabriel honoré marcel e tantos outros ressaltaram a força determinante que o sentido exerce na existência humana.
Modernos psicofármacos têm se mostrado ef icientes em conter os sintomas, que tendem a ser retroalimentados pela própria ansiedade com que os pensamentos tentam dar, sem sucesso, um sentido a essas crises. isto é, quanto mais eu tento desvendar como funciona o processo da ansiedade, mais eu não encontro respostas, o que, por sua vez, alimenta cada vez mais o desconforto.
Gosto das palavras de Nichan Dichtchekenian, um dos mais brilhantes terapeutas existenciais do Brasil, que ao tratar do tema já agrega à angústia um porquê: “o pânico causado pela ansiedade nada mais é do que o prenúncio de uma transformação. É o anúncio de uma nova possibilidade de ser, no sentido em que efetivamente essa nova possibilidade anuncia um risco real que é o de eu abandonar a familiaridade em relação a quem eu já sou”.
Se o fenômeno em si, da sensação de enlouquecer diante de uma ansiedade sem explicação, está acobertando um mal-estar experimentado diante de um vazio existencial, é importante que ao atentarmos para a palavra “vAZio” lembremos que qualquer ausência de conteúdo pressupõe espaço livre para ser preenchido com algo. Com o quê? Talvez esteja aí um dos sentidos da existência: descobrir o que pode preencher esse vazio…
Fonte: Revista Psique Ciência e Vida
Disponível em:<http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/72/voce-esta-ficando-louco-a-incapacidade-de-dar-sentido-243283-1.asp>. Acesso em: 01 jan. 2012.
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