Muitos ainda acreditam que atividades de precisão, como informática, e idosos não combinam, pois os mais velhos seriam confusos e propensos a se enganar. Resultados de pesquisas, porém, mostram que essa impressão pode ser preconceituosa: na prática, eles tendem a errar menos. É nisso que acredita o neurocientista Michael Falkenstein, do Instituto de Fisiologia do Trabalho da Universidade de Dortmund, na Alemanha. O pesquisador – que coordena estudos sobre as capacidades cognitivas de idosos e, em especial, de que maneira eles lidam com ambientes modernos de trabalho, em geral informatizados – percebeu que quando os voluntários de suas investigações cometem algum equívoco ao realizar tarefas simples no computador, seu cérebro emite uma “onda de erro” mais plana que a verificada em jovens.
Segundo Falkenstein, isso não significaria que a reação ao engano cometido é menor e sim que essas pessoas “ganham” alguns segundos antes de passar à próxima tarefa. Parece pouco, mas essa hesitação é o suficiente para detectar eventuais enganos e corrigi-los. O que, em princípio, parece uma desvantagem é bom, no final das contas: “Por essa razão, os mais velhos cometem apenas a metade dos erros dos mais jovens”, ressalta o pesquisador.
Essa lentidão produtiva revelou-se bastante nítida no cumprimento de uma tarefa proposta com o intuito deliberado de irritar os participantes. Eles deveriam clicar numa seta que apontava para determinada direção, tão logo ela aparecesse numa tela de computador. Pouco antes de sua aparição, porém, o programa esparramava diversas outras setas pelo monitor, apontando para todas as direções. Por causa dessa confusão, o tempo de reação dos jovens e dos idosos alongou-se consideravelmente e os mais novos cometeram maior número de erros.
No que diz respeito à compreensão e ao processamento da linguagem verbal, os mais velhos tampouco se saem pior. Nessa área, contudo, seu cérebro faz uso diverso dos próprios recursos. Foi o que descobriram neurologistas do Centro de Neurologia Cognitiva e da Doença de Alzheimer da Universidade Northwestern de Chicago, que testaram 50 pessoas com idade entre 23 e 78 anos. Deitados num tomógrafo de ressonância nuclear magnética, os voluntários foram solicitados a, partindo de duas listas, extrair pares de palavras aparentadas, semelhantes no significado ou na ortografia. Desta vez, os mais velhos se mostraram tão capazes quanto os jovens. E isso a despeito de regiões cerebrais tais como os lobos frontal e temporal esquerdo, e da menor atividade de determinados centros visuais responsáveis pelo reconhecimento e interpretação da linguagem. Em compensação, seu cérebro revelou atividade mais intensa em regiões responsáveis pela atenção, como o córtex cingulado posterior. “O cérebro não é, portanto, um órgão estático; de acordo com a idade ele desempenha as mesmas tarefas de forma diferente”, enfatiza o pesquisador Darten Gitelman, responsável pelo estudo.
Experimentos com animais comprovam a espantosa flexibilidade do cérebro. Células neurais em perfeito estado são capazes de assumir as funções de neurônios vizinhos, inutilizados em consequência de acidente ou derrame. Ademais, novas sinapses podem se formar. O cérebro, portanto, se mantém e se conserta sozinho, logrando assim preservar o próprio desempenho – ou mesmo incrementá-lo: quem aprende algo novo estimula sua rede neuronal a formar novas conexões e, ao fazê-lo, retarda o processo de envelhecimento.
Fonte: Revista Mente e Cérebro
Disponível em:<http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/a_chance_de_acertar.html>. Acesso em: 24 jan. 2012.
Fonte: Revista Mente e Cérebro
Disponível em:<http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/a_chance_de_acertar.html>. Acesso em: 24 jan. 2012.
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