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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Transtornos mentais são mais frequentes entre crianças e adolescentes

Por Odenice Rocha 
Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA 

A infância e a adolescência é um período de intensas atividades e transformações na vida mental da criança ou do adolescente, o que, por si só, leva a diversas manifestações de comportamento. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a prevalência mundial dos distúrbios do desenvolvimento e dos transtornos mentais e comportamentais na infância e adolescência é de 10% a 20%. Ainda assim, o diagnóstico dos transtornos mentais em crianças e adolescentes têm sido um grande desafio na prática clínica, dada a heterogeneidade dos quadros clínicos e as peculiaridades diagnósticas.
A saúde mental infantil afeta todas as áreas do desenvolvimento e impacta a saúde física e mental da família e no rendimento escolar, com suas óbvias consequências na vida adulta. São difíceis de mensurar os impactos causados pela angústia familiar, situações de conflito e desempenho social inadequado na infância, mas estudos retrospectivos sinalizam estes eventos como marcadores precoces de transtornos mentais no adulto.
De acordo com a OMS, aproximadamente 20% das crianças e adolescentes sofrem de algum transtorno mental, sendo o suicídio a terceira causa de morte entre os adolescentes. Outras manifestações inerentes à adolescência são as condutas antissociais, delinquência e uso de drogas que podem estar associados às manifestações de agressividade e distúrbio do comportamento na infância.
Rosane, como prefere ser chamada, pois não quer identificar-se tem um caso de suicídio na família, que aconteceu no ano de 2003. " Quando cheguei em casa no fim da tarde encontrei meu irmão morto na área de casa, pendurado com uma corda no pescoço, ele havia se suicidado, não conseguia acreditar no que via, ele tinha 14 anos, ficamos sem entender os motivos, algo muito triste que poderia ter sido evitado de alguma forma."
Um exemplo recente de transtorno mental na adolescência é do estudante Marcelo Pesseghini, de 13 anos, único investigado pela Polícia Civil como suspeito de matar a família e se suicidar em seguida, que levou aproximadamente dez minutos para executar seus pais, policiais militares, sua tia-avó e sua avó materna na madrugada do dia 5 de agosto de 2013. Para o presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB não restam dúvidas de que Marcelo matou os pais e se suicidou em seguida.
Apesar de  ainda não ter concluído o inquérito que apura a autoria e motivação dos homicídios seguidos de suicídio, Arles Gonçalves Júnior disse que a cada dia está mais convencido que Marcelo assassinou a família e se matou por sofrer transtornos psicológicos. Segundo o advogado, várias coisas podem ter influenciado esse comportamento. Uma das coisas que teria influenciado Marcelo a cometer os crimes foi o game "Assassins Creed". Colegas relataram que desde abril ele vinha dizendo que mataria os familiares e fugiria para um esconderijo. Algo bem parecido com o personagem do jogo de videogame.
É preciso observar, afirma a psicóloga Camila Alves, " Muitas das manifestações ditas normais da adolescência podem se confundir com doenças mentais ou comportamentos inadequados", por isso é preciso atenção, pode ou não ser problema mental.Temos de ter o cuidado inicialmente de avaliar bem o comportamento de um adolescente, antes de se garantir a existência ou não de um transtorno mental. Para tanto é necessário se conhecer um pouco acerca do que chamamos de "adolescência normal", que  é a fase da vida em que a pessoa se descobre como indivíduo separado dos pais. Isso gera um sentimento de curiosidade e euforia, porém também gera sentimentos de medo e inadequação. Um adolescente está descobrindo o que é ser adulto, mas não está plenamente pronto para exercer as atividades e assumir as responsabilidades de ser adulto. Assim sendo ele procura exemplos, de pessoas próximas ou não ídolos artísticos ou esportivos, entre outros para construir seu caráter e seu comportamento".
                
Dentre os transtornos mais comuns vistos na adolescência, destacam-se os seguintes:

Transtornos do Humor
É o grupo onde se incluem as doenças depressivas, de certo modo comuns na adolescência, acompanhadas das mais diversas manifestações. Podem apresentar humor deprimido (tristeza) acentuado ou irritabilidade, perda de interesse ou prazer em suas atividades, perda ou ganho de peso, insônia ou excesso de sono e abuso de substâncias psicoativas. O tratamento desses transtornos envolve o uso de fármacos (antidepressivos), associados a psicoterapia.

Transtornos Alimentares
Onde se incluem a Bulimia (ataques de "comer" compulsivo seguidos, muitas vezes, do ato de vomitar) e Anorexia (diminuição intensa da ingestão de alimentos). A pessoa demonstra um "pavor" de engordar, tomando atitudes exageradas ou não necessárias para emagrecer, mantendo peso muito abaixo do esperado para ela. O tratamento desses transtornos envolve uma equipe multidisciplinar (psiquiatra, nutricionista), fármacos antidepressivos e psicoterapia, necessitando em alguns casos de intervenções na família.

Transtornos do Uso de Substâncias Psicoativas
O uso de drogas, como é conhecido, é um tipo de alteração de comportamento bastante visto na adolescência. A dependência de drogas, que é o transtorno mais grave desse grupo, manifesta-se pelo uso da substância associado a uma necessidade intensa de ter a droga, ausência de prazer nas atividades sem a droga e busca incessante da droga, muitas vezes envolvendo-se em situações ilegais ou de risco para se conseguir a mesma (roubo e tráfico). O tratamento envolve psicoterapia, educação familiar e alguns fármacos, por vezes necessitando internação hospitalar.

Transtornos de Conduta
Caracterizam-se por comportamentos repetitivos de contrariedade a normas e padrões sociais, conduta agressiva e desafiadora. Constitui-se em atitudes graves, sendo mais do que rebeldia adolescente e travessuras infantis normais. Essas pessoas envolvem-se em situações de ilegalidade e violações do direito de outras pessoas. Aparecem roubos, destruição de patrimônio alheio, brigas, crueldade e desobediência intensa como algumas das manifestações. O tratamento envolve basicamente psicoterapia, podendo-se utilizar alguns fármacos no controle da impulsividade desses pacientes. São transtornos de difícil manejo, e muitas vezes necessitam de intervenções familiares e sociais.

Transtornos de Ansiedade
Os transtornos de ansiedade incluem desde a ansiedade de separação e a fobia escolar, condições que ocorrem quase que exclusivamente na infância, até o transtorno obsessivo compulsivo, transtorno de ansiedade generalizada, estresse pós-traumático, síndrome do pânico e fobias. Pessoas que vivem com um grau muito intenso de ansiedade podem chegar a ter prejuízos no seu funcionamento, por exemplo social, em decorrência dessa ansiedade. Além de causar importante sofrimento físico e psicológico, as conseqüências dos sintomas ansiosos costumam ser desmoralizantes e incapacitantes em mais de uma esfera, como por exemplo social, ocupacional, escolar e familiar. Os sintomas podem iniciar tanto na infância quanto na adolescência, e podem ser tanto primários, quanto secundários ou ocorrerem em comorbidade com outros sintomas psiquiátricos. O tratamento envolve basicamente psicoterapia, podendo-se recorrer a alguns fármacos como coadjuvantes.

Transtornos Psicóticos
Nessa fase da vida muitos transtornos psicóticos, por exemplo a esquizofrenia, iniciam suas manifestações. Esses transtornos são graves, muitas vezes necessitam internação hospitalar e são caracterizados por comportamentos e pensamentos muito bizarros e distorcidos frente a realidade. O tratamento baseia-se em tratamento medicamentoso com o uso de antipsicóticos e psicoterapia de apoio. São transtornos, em sua maioria, cronificantes, principalmente se não tratados.

Suicídio na Adolescência
Muitos transtornos da adolescência podem se manifestar com comportamento suicida. Tentativas ou ameaças de suicídio podem aparecer. Alguns comportamentos de exposição e risco (dirigir em alta velocidade ou embriagado, envolvimento em brigas ou em atividades de risco, entre outras) também podem ser sinais de comportamento suicida na adolescência, mesmo sem a manifestação explícita dessa intenção. O comportamento impulsivo do adolescente, acarreta um risco maior de tentativas de suicídio mesmo na ausência de sintomas depressivos ou uma clara ideação suicida, o que torna o adolescente muito mais vulnerável a este tipo de comportamento.

São muitas as possibilidades de transtornos mentais nessa fase da vida, mas todas as situações devem ser muito bem avaliadas antes de se fechar um diagnóstico, principalmente na adolescência. Além das dificuldades pessoais dos adolescentes e de sua intensa modificação corporal e mental, o que por si só já pode gerar comportamentos e sentimentos de inadequação, suas atitudes podem ainda refletir problemáticas familiares. Assim sendo, sem uma devida avaliação do adolescente é, no mínimo imprudente, caracterizá-lo como tendo uma doença mental específica.

Fonte: (EN)Cena
 
Disponível em: <http://ulbra-to.br/encena/2013/10/25/Transtornos-mentais-sao-mais-frequentes-entre-criancas-e-adolescentes>. Acesso em: 29 out. 2013 

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