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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Clínica psicanalítica e medicação psiquiátrica


Cada geração de analistas é convocada a pensar sobre as questões típicas de sua época. Cada época tem suas particularidades sociais e culturais, indissociáveis das manifestações psicológicas dos indivíduos. Atualmente, é inegável a presença maciça do tema “medicação psiquiátrica” na vida das pessoas. Como o psicanalista, que também exerce a psiquiatria compreende a prescrição de psicotrópicos no seu trabalho clínico? Vamos conversar com o psicanalista e psiquiatra Gustavo Gil Alarcão*.
Luciana: O que te levou a elaborar um pensamento sobre a relação entre a clínica psicanalítica e a medicação psiquiátrica?

Gustavo: A realidade contemporânea e a necessidade de pensar a prática clínica de forma crítica, partindo da realidade que encontro no consultório, no hospital (Instituto de Psiquiatria) onde trabalho e nas conversas com colegas. O que significa pedir ajuda psíquica, seja para Psicanálise (ou outro campo correlacionado), seja para a medicação? Vivemos em uma época abarrotada de medicações, técnicas e testes psicológicos e gurus de comportamentos com manuais de ajuda e promessas de uma vida melhor, quase um tempo da banalização, no sentido que Hannah Arendt desenvolveu. Muitas pessoas tomam remédio atualmente, sem saber por que e para quê; quando muito se apoiam em noções superficiais de patologias e sintomas psiquiátricos. Acredito ser muito pertinente a distinção entre o que é medicar e o que é entorpecer e, sobretudo, qual o papel dos profissionais nesse âmbito. O debate atual é muito mais político e econômico do que necessariamente clínico. Acredito que há também
certa confusão no trato desse tema, medicação (ou psiquiatria) e psicanálise caminham por sentidos diferentes. E é aqui que o debate pode se tornar interessante, se pusermos a nos perguntar: o que pretende um psiquiatra? E também, o que pretende um psicanalista? E acima de tudo, o que pretendem as pessoas que procuram estas ajudas?

Luciana: O que pensa da afirmação da psicanalista francesa, Roudinesco, de que: “os psicotrópicos têm o efeito de normalizar comportamentos e eliminar os sintomas mais dolorosos do sofrimento psíquico, sem lhes buscar significação”?

Gustavo: As medicações como qualquer substância têm seus efeitos próprios, que muitas vezes são benéficos. O uso que cada um faz destes efeitos é que me parece importante, e aqui entra a busca por significado; significados do que se sente, do que se vive, do que se busca na vida. Se alguém usa medicação ou qualquer outra substância como forma de “fugir da vida” – em que pese a necessidade de algumas escapadas para todos – e adota esta prática como seu eixo condutor, penso estar se privando da própria vida. Nesse sentido, está tentando eliminar qualquer sentimento difícil, criando uma realidade fantasiosa de normalidade plena e ausência de problemas: está se entorpecendo e não tem muito interesse em buscar significados para si (ou está muito amedrontada para isso). Se alguém usa medicação ou outra substância de forma crítica, pensada e, sobretudo, responsável, em algumas situações na vida, não vejo problemas, ela pode estar favorecendo a sua própria busca de significados. Parece-me importante pensar a atuação dos profissionais nesse caso. As pessoas são livres para decidir que caminhos tomar na vida, como querem fazer uso dos remédios, mas penso que aos profissionais caberia o papel de questionar, ampliar a capacidade de pensar e não somente atestar a busca por este alívio imediato.

Luciana: Quando há vantagens no uso de psicofármacos durante o processo de análise e por quê?

Gustavo: As vantagens são muitas. Os remédios provocam efeitos e em algumas situações efeitos realmente necessários para aquele sujeito. Nem sempre estamos disponíveis para nós mesmos, nem sempre estamos em condições de mergulhar em nossa intimidade. Algumas destas travas podem ser facilitadas pelo uso de medicação. Gosto muito do verso de um poema de Viviane Mosé: “Muitas doenças que as pessoas têm são poemas presos”, e pensando assim, o remédio facilita o acesso àquilo que está “preso”. Os remédios podem destravar aquilo que está estagnado, como também conter aquilo que está desmedido, excessivo. São ferramentas, assim como os óculos que usamos para ler. Óculos sozinhos não fazem o menor sentido, óculos em pessoas que não têm vontade, não querem enxergar também não. A pessoa que busca uma análise está em uma empreitada pessoal para se conhecer e lidar consigo mesma e com o mundo sob outra perspectiva (ela quer se enxergar!), o sofrimento pode ser parte desse processo (parte da vida, diria). Intoxicar-se seja por sofrimento, seja por remédio é problemático.

Luciana: Quando há desvantagens e por quê?

Gustavo: As desvantagens são nítidas quando a medicação está sendo usada como um entorpecente ou como um anestésico mágico, ou seja, está sendo usada para distanciar a pessoa de si mesma e de sua realidade. As desvantagens não são só para a análise, mas para a própria pessoa, que mais cedo ou mais tarde “cairá na real”. Quando digo entorpecer estou me referindo aos efeitos de distanciamento da realidade, ilusão de satisfação plena, sensação de prazer e poder inigualáveis, ausência de qualquer sentimento doloroso, além de uma despreocupação com a realidade circundante. No campo da análise, é imprescindível a noção de angústia pessoal, de conflito e de vontade de se responsabilizar pela própria vida. Estas questões ficam prejudicadas com a expectativa de uma vida entorpecida.

Luciana: Como compreende a medicalização da sociedade contemporânea? É mesmo necessário receitar tanto antidepressivo para a população?

Gustavo: Certamente não! Mas, se aqueles que receitam não enxergam muito além de quadros sintomáticos, sem outros significados; se estes mesmos pensam que a vida se restringe a ser doente ou não, como esperar algo diferente? Durante os anos de formação em psiquiatria, não foram raras às vezes em que escutei (e os residentes de psiquiatria que hoje estão estudando conhecem bem esta situação) de colegas mais experientes: “não pergunte as razões, não pergunte os motivos, não tente compreender, estamos aqui para identificar sintomas”- posso ter sido azarado com estas experiências, o que não creio, já que continuo a observar esta mesma postura, para mim, no mínimo criticável. Se esta é a ideologia transmitida, se este é o repertório dos profissionais como esperar outro ato que não a prescrição?

Luciana: Por quê tantos antidepressivos tão específicos estão no mercado? Eles têm mesmo o efeito que pretendem ou há uma estratégia de marketing se sobrepondo ao problema da saúde?

Gustavo: As relações entre os campos de conhecimento e outros campos da vida são complexas. Não há como deixar de incluir aspectos políticos, econômicos, sociológicos e ideológicos nessas análises mais estruturais. O primeiro antidepressivo data de 1957 e de lá para cá muito se criou. A psiquiatria passou por uma enorme modificação conceitual ao longo desse tempo, deixando de adotar posturas conceituais e teóricas para utilizar manuais diagnósticos ateóricos. É um debate complexo. De certa forma foram relegados pensamentos, as questões psíquicas de forma mais complexa e, porque não, profunda. Estamos falando de dilemas cruciais da vida de uma pessoa. Além disso, o individual e suas nuances estavam sempre no centro da discussão, como se aprende em qualquer faculdade de medicina: “cada caso é um caso”, “tratar o doente e não a doença”. Com a possibilidade de se produzir medicações em escala industrial, a forma de pensar a psicopatologia também se modifica e as atuais tendências caminham nesse sentido: generalizar observações para atingir um maior número de pessoas. Será mesmo que vivemos uma epidemia de “doenças mentais”? Ou será que se criaram metodologias que autorizem estes pensamentos e práticas e com isto a prescrição cada vez maior de medicação? Ser psiquiatra não significa necessariamente ser prescritor de remédio, mas pesquise quantos são aqueles que dizem não a um pedido inadequado de um paciente. E mais, como fazem quando percebem que a questão não é medicar? O que dizem aos pacientes? Encaminham ou se prestam a dar conselhos moralistas e comportamentais, dizendo o que devem ou não fazer seus pacientes, sem fazê-los pensar por si próprios? Paira no senso comum a ideia de que psiquiatra dá remédio e psicólogo conversa. De certa forma, esta tendência foi se estabelecendo, mas acredito ser possível ampliar a discussão. O marketing só torna a questão mais difícil porque veste ideologias muito complicadas com belas roupas, se não estivermos dispostos a tirar estas roupas ficamos com as propagandas, que sim, são maciças e visam preponderantemente lucrar.

*Gustavo Gil Alarcão é psicanalista filiado ao Instituto de Psicanálise da SBPSP, psiquiatra do Serviço de Psicoterapia do IPq HCFMUSP, Membro do corpo diretivo da Sociedade Brasileira de Psicopatologia Fenômeno- Estrutural SBPFE

Fonte: ABP - Associação Brasileira de Psiquiatria
 
Disponível em: <http://www.abp.org.br/portal/imprensa/clipping-2>. Acesso em: 31 out. 2013  

Podemos viver sem estresse?


Estresse em excesso faz mal – parece que ninguém duvida. Mas seria possível – ou conveniente – viver sem ele? Seria possível considerar, por exemplo, que entre as causas do definhamento das pessoas mais idosas está a falta de novidades e de solicitações externas? A hipótese foi proposta pelo pesquisador Enrico Alleva, etólogo do Instituto Superior de Saúde, na Itália, onde estuda os mecanismos biológicos que estão na origem dos comportamentos animais.

“Há uma fase ontológica na vida da espécie e uma na do indivíduo em que se estabelece o nível de estresse que dele se espera, certo número de solicitações de que terá necessidade durante toda a vida. O sistema nervoso dos animais superiores é plástico e sujeito a modificações. Em alguns períodos do desenvolvimento há, porém, uma maior ou menor sensibilidade a essas mudanças. É estimulada então a produção de hormônios – por exemplo, a oxitocina ou o hormônio do crescimento – e são esses que marcam o cérebro e dão forma aos circuitos de reações aos estímulos que orientarão o comportamento do adulto.”

Todo indivíduo nasce com um “nível de estresse” esperado, e a sua falta é percebida de forma negativa. Um adolescente que cresceu em um ambiente estimulante, rico de acontecimentos e emoções, tenderá a procurar essa mesma vivacidade quando adulto. A vida social, em particular, está associada às relações com a mãe e com o grupo primário; o adulto carregará a “marca” dessas relações até a velhice.

“Essa é a razão pela qual o estresse é fator importante para a qualidade de vida dos idosos”, explica Alleva. “A pessoa que vive sob certo nível de estresse ligado à presença de outras pessoas na casa, a atividades profissionais ou a uma vida social intensa sofre uma espécie de involução quando fica sozinha e sem obrigações.”

O médico Hans Selye foi o primeiro a usar, em 1936, a palavra “estresse” para indicar a “síndrome produzida por vários fatores nocivos”, em trabalho publicado na revista Nature. Poucos anos antes, entre 1910 e 1920, Walter Cannon havia introduzido o termo em fisiologia, transportando-o do jargão da engenharia. Stress, em inglês, significa “esforço, tensão”, e era usado principalmente por engenheiros para indicar a capacidade de resistência de uma ponte. Essa imagem se adaptava bem ao significado de estresse como resposta a mudanças: passagem de um ponto a outro, como através de um caminho mais ou menos resistente.

Não é de espantar, portanto, que os ingleses já usassem o termo no século 14. Mas a origem da palavra começa muito antes, no latim. No jargão popular, ditrictia significava aperto, angústia ou aflição. Os franceses a transformaram em détresse (também usado como sinônimo de angústia) e os italianos receberam de volta o neologismo que tem suas raízes no verbo strizzare. Na linguagem comum é sinônimo de cansaço, fadiga, ansiedade e preocupação, significados que acabam por trocar a causa pelo efeito. Esse equívoco não é raro em medicina. O mesmo ocorreu, por exemplo, com o termo colesterol, entendido como algo nocivo e sintoma de doença, antes de ser reconhecido como um dos componentes indispensáveis das células e do metabolismo. O fato é que sem colesterol, assim como sem nenhum tipo de estresse, certamente nenhum de nós estaria aqui.


Fonte: Scientific American Mente Cérebro
 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

De Pinel à Reforma Psiquiátrica - as histórias e as conquistas da saúde mental

Por Paulo Carneiro 
Acadêmico de Jornalismo do CEULP/ULBRA 
                                     

O Coordenador Geral de Saúde Mental do Ministério da Saúde, RobertoTykanori (o segundo da esquerda para a direita), esteve em Palmas no última dia 18, participando do V Fórum Estadual do Judiciário para a Saúde, que este ano teve como tema “Saúde Mental e a Política de Álcool e outras Drogas”. Em sua palestra, Roberto Tykanori fez uma explanação sobre a história da saúde mental no mundo e os reflexos nos dias de hoje.
“Ficou pinel!”, esta expressão é muitas vezes ouvida e dita por todos nós. Algumas vezes, por mera brincadeira, outras vezes, é solta para expressar indignação. Mas, afinal, o que é “ficar pinel"? A expressão “está pinel” significa “está louco”, uma referência ao sobrenome do médico Philippe Pinel, considerado por muitos o pai da psiquiatria.
Quando se fala em saúde mental e direito devemos lembrar que estas duas questões são históricas. A psiquiatria, ou a medicina mental foi a primeira especialidade médica que surge no mundo ocidental, no começo do Séc. IXX, com Philippe Pinel.
Pinel foi deputado constituinte, na França. Em 1789, em plena Revolução Francesa, os deputados constituintes tiveram um papel revolucionário em que tinham que instituir uma nova república e, neste contexto, todas as pessoas que tinham sido encarceradas pelo antigo regime tinham que ser liberadas, com exceção dos loucos. Os constituintes não sabiam o que fazer com os loucos e este problema foi discutido por anos.
“Era uma ordem de racionalidade. Todos os que estavam nas bastilhas tinham sido vítimas do poder real e então deveriam ser soltos. Já os loucos eram um problema conceitual, ou seja, como manter as pessoas presas se elas tinham direito a liberdade, mas ao mesmo tempo não se tinha o que fazer com aquelas pessoas que representavam uma ameaça”, disse o Coordenador Geral de Saúde Mental do Ministério da Saúde,  RobertoTykanori.
Pinel cria a solução racional para esta situação. Ele afirmou que estas pessoas não estavam presas, elas estavam doentes. É ai é a primeira vez que se fala de doença mental de uma forma institucionalizada.
“É uma contradição, pois Pinel liberta os loucos dos seus grilhões, mas não abre a porta, deixa-os trancados. Os médicos são investidos de um poder civil de determinar a capacidade civil das pessoas os não. Ele é capaz de dizer quem é que esta em condições de ser cidadão ou não”, afirma Tykanori.

Mas o que tem de diferente da Lei 10.216/2011 da Lei de Pinel?
Quando Pinel institui a ideia de que uma pessoa quando é diagnosticada como doente mental não podia exercer sua cidadania, a finalidade da indicação da doença, conforme a historia da época, era pra garantir as pessoas presas.  Não que existia algum tratamento, na verdade não existia um tratamento especifico, mas se cria um álibi para deixar as pessoas presas.
O que a Lei 10.2016/2011 coloca é que as pessoas com transtornos mentais e isso envolvem álcool e drogas, em geral são cidadãos e a cidadania é garantida de todos, independente de estar doente ou não. 
“É uma mudança histórica na ótica de como a sociedade lida com a questão do transtorno mental. Passamos a pensar o cidadão como parte da sociedade, e não como um tormento”, afirma o coordenador do MS.
E o debate não para por ai. Em 2006 o Brasil assinou a Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, incluindo a deficiência mental, e a União, como signatário, internalizou a Convenção como Emenda Constitucional, ou seja, esses direitos passaram a ser garantidos constitucionalmente.
Esta ação tem consequências importantes, principalmente na área de saúde, porque a Organização Mundial de Saúde prima pela qualidade e pelos direitos, sendoa qualidade do serviço fundamentalmente ligada ao respeito aos direitos humanos.  A qualidade não se limita ao exercício técnico, mas ela se garante em dar efetiva qualidade se esta prestação de serviço respeita direitos humanos.

Fonte: (EN)Cena
 
Disponível em: <http://ulbra-to.br/encena/2013/10/26/De-Pinel-a-Reforma-Psiquiatrica-as-historias-e-as-conquistas-da-saude-mental>. Acesso em: 29 out. 2013 

Transtornos mentais são mais frequentes entre crianças e adolescentes

Por Odenice Rocha 
Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA 

A infância e a adolescência é um período de intensas atividades e transformações na vida mental da criança ou do adolescente, o que, por si só, leva a diversas manifestações de comportamento. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a prevalência mundial dos distúrbios do desenvolvimento e dos transtornos mentais e comportamentais na infância e adolescência é de 10% a 20%. Ainda assim, o diagnóstico dos transtornos mentais em crianças e adolescentes têm sido um grande desafio na prática clínica, dada a heterogeneidade dos quadros clínicos e as peculiaridades diagnósticas.
A saúde mental infantil afeta todas as áreas do desenvolvimento e impacta a saúde física e mental da família e no rendimento escolar, com suas óbvias consequências na vida adulta. São difíceis de mensurar os impactos causados pela angústia familiar, situações de conflito e desempenho social inadequado na infância, mas estudos retrospectivos sinalizam estes eventos como marcadores precoces de transtornos mentais no adulto.
De acordo com a OMS, aproximadamente 20% das crianças e adolescentes sofrem de algum transtorno mental, sendo o suicídio a terceira causa de morte entre os adolescentes. Outras manifestações inerentes à adolescência são as condutas antissociais, delinquência e uso de drogas que podem estar associados às manifestações de agressividade e distúrbio do comportamento na infância.
Rosane, como prefere ser chamada, pois não quer identificar-se tem um caso de suicídio na família, que aconteceu no ano de 2003. " Quando cheguei em casa no fim da tarde encontrei meu irmão morto na área de casa, pendurado com uma corda no pescoço, ele havia se suicidado, não conseguia acreditar no que via, ele tinha 14 anos, ficamos sem entender os motivos, algo muito triste que poderia ter sido evitado de alguma forma."
Um exemplo recente de transtorno mental na adolescência é do estudante Marcelo Pesseghini, de 13 anos, único investigado pela Polícia Civil como suspeito de matar a família e se suicidar em seguida, que levou aproximadamente dez minutos para executar seus pais, policiais militares, sua tia-avó e sua avó materna na madrugada do dia 5 de agosto de 2013. Para o presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB não restam dúvidas de que Marcelo matou os pais e se suicidou em seguida.
Apesar de  ainda não ter concluído o inquérito que apura a autoria e motivação dos homicídios seguidos de suicídio, Arles Gonçalves Júnior disse que a cada dia está mais convencido que Marcelo assassinou a família e se matou por sofrer transtornos psicológicos. Segundo o advogado, várias coisas podem ter influenciado esse comportamento. Uma das coisas que teria influenciado Marcelo a cometer os crimes foi o game "Assassins Creed". Colegas relataram que desde abril ele vinha dizendo que mataria os familiares e fugiria para um esconderijo. Algo bem parecido com o personagem do jogo de videogame.
É preciso observar, afirma a psicóloga Camila Alves, " Muitas das manifestações ditas normais da adolescência podem se confundir com doenças mentais ou comportamentos inadequados", por isso é preciso atenção, pode ou não ser problema mental.Temos de ter o cuidado inicialmente de avaliar bem o comportamento de um adolescente, antes de se garantir a existência ou não de um transtorno mental. Para tanto é necessário se conhecer um pouco acerca do que chamamos de "adolescência normal", que  é a fase da vida em que a pessoa se descobre como indivíduo separado dos pais. Isso gera um sentimento de curiosidade e euforia, porém também gera sentimentos de medo e inadequação. Um adolescente está descobrindo o que é ser adulto, mas não está plenamente pronto para exercer as atividades e assumir as responsabilidades de ser adulto. Assim sendo ele procura exemplos, de pessoas próximas ou não ídolos artísticos ou esportivos, entre outros para construir seu caráter e seu comportamento".
                
Dentre os transtornos mais comuns vistos na adolescência, destacam-se os seguintes:

Transtornos do Humor
É o grupo onde se incluem as doenças depressivas, de certo modo comuns na adolescência, acompanhadas das mais diversas manifestações. Podem apresentar humor deprimido (tristeza) acentuado ou irritabilidade, perda de interesse ou prazer em suas atividades, perda ou ganho de peso, insônia ou excesso de sono e abuso de substâncias psicoativas. O tratamento desses transtornos envolve o uso de fármacos (antidepressivos), associados a psicoterapia.

Transtornos Alimentares
Onde se incluem a Bulimia (ataques de "comer" compulsivo seguidos, muitas vezes, do ato de vomitar) e Anorexia (diminuição intensa da ingestão de alimentos). A pessoa demonstra um "pavor" de engordar, tomando atitudes exageradas ou não necessárias para emagrecer, mantendo peso muito abaixo do esperado para ela. O tratamento desses transtornos envolve uma equipe multidisciplinar (psiquiatra, nutricionista), fármacos antidepressivos e psicoterapia, necessitando em alguns casos de intervenções na família.

Transtornos do Uso de Substâncias Psicoativas
O uso de drogas, como é conhecido, é um tipo de alteração de comportamento bastante visto na adolescência. A dependência de drogas, que é o transtorno mais grave desse grupo, manifesta-se pelo uso da substância associado a uma necessidade intensa de ter a droga, ausência de prazer nas atividades sem a droga e busca incessante da droga, muitas vezes envolvendo-se em situações ilegais ou de risco para se conseguir a mesma (roubo e tráfico). O tratamento envolve psicoterapia, educação familiar e alguns fármacos, por vezes necessitando internação hospitalar.

Transtornos de Conduta
Caracterizam-se por comportamentos repetitivos de contrariedade a normas e padrões sociais, conduta agressiva e desafiadora. Constitui-se em atitudes graves, sendo mais do que rebeldia adolescente e travessuras infantis normais. Essas pessoas envolvem-se em situações de ilegalidade e violações do direito de outras pessoas. Aparecem roubos, destruição de patrimônio alheio, brigas, crueldade e desobediência intensa como algumas das manifestações. O tratamento envolve basicamente psicoterapia, podendo-se utilizar alguns fármacos no controle da impulsividade desses pacientes. São transtornos de difícil manejo, e muitas vezes necessitam de intervenções familiares e sociais.

Transtornos de Ansiedade
Os transtornos de ansiedade incluem desde a ansiedade de separação e a fobia escolar, condições que ocorrem quase que exclusivamente na infância, até o transtorno obsessivo compulsivo, transtorno de ansiedade generalizada, estresse pós-traumático, síndrome do pânico e fobias. Pessoas que vivem com um grau muito intenso de ansiedade podem chegar a ter prejuízos no seu funcionamento, por exemplo social, em decorrência dessa ansiedade. Além de causar importante sofrimento físico e psicológico, as conseqüências dos sintomas ansiosos costumam ser desmoralizantes e incapacitantes em mais de uma esfera, como por exemplo social, ocupacional, escolar e familiar. Os sintomas podem iniciar tanto na infância quanto na adolescência, e podem ser tanto primários, quanto secundários ou ocorrerem em comorbidade com outros sintomas psiquiátricos. O tratamento envolve basicamente psicoterapia, podendo-se recorrer a alguns fármacos como coadjuvantes.

Transtornos Psicóticos
Nessa fase da vida muitos transtornos psicóticos, por exemplo a esquizofrenia, iniciam suas manifestações. Esses transtornos são graves, muitas vezes necessitam internação hospitalar e são caracterizados por comportamentos e pensamentos muito bizarros e distorcidos frente a realidade. O tratamento baseia-se em tratamento medicamentoso com o uso de antipsicóticos e psicoterapia de apoio. São transtornos, em sua maioria, cronificantes, principalmente se não tratados.

Suicídio na Adolescência
Muitos transtornos da adolescência podem se manifestar com comportamento suicida. Tentativas ou ameaças de suicídio podem aparecer. Alguns comportamentos de exposição e risco (dirigir em alta velocidade ou embriagado, envolvimento em brigas ou em atividades de risco, entre outras) também podem ser sinais de comportamento suicida na adolescência, mesmo sem a manifestação explícita dessa intenção. O comportamento impulsivo do adolescente, acarreta um risco maior de tentativas de suicídio mesmo na ausência de sintomas depressivos ou uma clara ideação suicida, o que torna o adolescente muito mais vulnerável a este tipo de comportamento.

São muitas as possibilidades de transtornos mentais nessa fase da vida, mas todas as situações devem ser muito bem avaliadas antes de se fechar um diagnóstico, principalmente na adolescência. Além das dificuldades pessoais dos adolescentes e de sua intensa modificação corporal e mental, o que por si só já pode gerar comportamentos e sentimentos de inadequação, suas atitudes podem ainda refletir problemáticas familiares. Assim sendo, sem uma devida avaliação do adolescente é, no mínimo imprudente, caracterizá-lo como tendo uma doença mental específica.

Fonte: (EN)Cena
 
Disponível em: <http://ulbra-to.br/encena/2013/10/25/Transtornos-mentais-sao-mais-frequentes-entre-criancas-e-adolescentes>. Acesso em: 29 out. 2013 

Internações compulsórias e a judicialização da saúde

Por Paulo Carneiro 
Acadêmico de Jornalismo do CEULP/ULBRA

A eficácia da internação compulsória para usuários de drogas, principalmente o de crack, é um tema que vendo sendo amplamente discutido, mas algumas perguntas ficam no ar. Por que determinar a internação compulsória pelo simples fato de usar droga? Por que a privação de liberdade se não houve descumprimento da lei?.
A representante da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), Márcia Caldas afirmou que a lógica de punir o usuário, em vez de tratá-lo, é equivocada, e que as alas psiquiátricas dos presídios estão lotadas de pessoas que fizeram uso abusivo de drogas. “A política pública, como está sendo empregada hoje, conta com o apoio do clamor popular e simplesmente recolhe e segrega o usuário de droga, com a nítida postura de punir. E punir não é uma forma de resolver, pois primeiro a pessoa precisa querer ser tratada”, afirmou.
De acordo com o artigo 14 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, assinado pelo Brasil em 2006, “as pessoas com deficiência... gozem do direito à liberdade e à segurança...”. Este é um dos tópicos fundamentais porque no entendimento recente do Comitê de Acompanhamento da implementação dos direitos assegurados nesta convenção, não há nenhuma forma de tratamento forçado. Todo tratamento deve ser com consentimento e todo aquele que for forçado, será considerado uma violação.
“Isto muda o cenário de entendimento porque a internação compulsória passaria a ser uma violação constitucional, e assim o Brasil pode sofrer algumas ações das Cortes Internacionais, como já sofreu. O Brasil já foi condenado por violação dos direitos humanos, particularmente na área de psiquiatria, e a Corte Internacional esta vigilante quanto as medidas adotadas no país”, disse Roberto Tykanori, coordenador  geral de Saúde Mental do Ministério da Saúde.
No Tocantins, só na área de saúde mental a maioria das ações judiciais é voltada para a internação compulsória. Em 2013 foram registradas 175 demandas judiciais.
Para tentar avaliar e embasar o judiciário sobre as ações de saúde foi instituído em 2010 no Tocantins, o Comitê Executivo para Monitoramento das Ações da Saúde – CEMAS/TO em decorrência da crescente  demanda individualizada em busca da proteção jurisdicional dos cuidados com a saúde e reflexos em variados segmentos.
A finalidade do CEMAS/TO é enfatizar a solução extrajudicial das demandas voltadas à saúde pública no Tocantins, ou seja, em conjunto, todos nós, representantes do poder judiciário junto à Secretaria Estadual de Saúde, poderemos proporcionar maior agilidade na solução dessas questões, que atualmente são bem significativas nos atendimentos solicitados pelos assistidos na Defensoria Pública do Tocantins. Além disso, o Comitê dá a base necessária para analisar se o procedimento judicial está adequado ao caso, o que auxilia a subsidiar uma solicitação mais correta.
O Comitê é composto por representantes de vários órgãos envolvidos diretamente na problemática, dentre os quais podemos citar os magistrados do Judiciário Tocantinense e Justiça Federal, defensores públicos do Tocantins e da União, membros do Ministério Público do Tocantins e da União, gestores da Secretaria de Estado de Saúde e do Município, do Conselho Regional de Medicina, do Conselho Regional de Farmácia, da UNIMED, do Sindicato dos médicos, Advocacia Geral da União e Universidade Federal do Tocantins.

Mas até que ponto a internação compulsória ajuda no tratamento do paciente?
A judicialização da saúde de forma geral normalmente se dá em situações críticas e os operadores do direito se vêm pressionados a dar uma solução rápida. O fulano acredita que estas decisões, tomadas desta forma, acabam sendo direcionadas a indivíduos, e à medida que se vem construindo algo no ponto de vista individual, acaba desorganizando o sistema de saúde, cria desequilíbrio de recursos e ao final das contas acaba gerando uma certa injustiça. Para ele, se realmente há necessidade de se judicializar uma demanda de saúde, a ideia é que se pense do ponto de vista coletivo, ou seja, acionar os responsáveis do ponto de vista da estruturação da rede.
“O que todos nós temos que assimilar é que este processo é em longo prazo e que não há solução imediata. E a ideia de solução rápida é frustrado, gera revolta e a situação só piora em termos de rejeição e de desconfiança. Então precisamos ter muita paciência e não acreditar que em uma primeira abordagem vai resolver tudo. São processos que dependem de convencimento, de esta mente ser harmonizada, e as vezes isto demora”, afirma Tykanori.
Para o juiz de Direito e membro da Associação Juízes para a Democracia, João Batista Damasceno, a judicialização da política, das relações sociais ou da saúde é um processo pelo qual se busca por meio do Poder Judiciário a satisfação de um direito ou interesse não contemplado por quem deveria implementá-lo. “Por exemplo, ainda que o Judiciário esteja autorizando a internação compulsória de usuários de crack com fundamento em lei que autoriza tão somente a internação de pessoas acometidas de transtorno mental, não se está diante da busca do Judiciário para implementação de direitos, mas como salvaguarda para suas violações”, disse. Ele ainda complementa, “não se trata de medida em prol da saúde, mas de higienização em favor de interesses econômicos. Se o Judiciário continuar a atuar em conjunto com o Poder Executivo visando a violação dos direitos das pessoas, ao invés de garanti-los, isto poderá resultar em sério problema na sua relação com a sociedade”, finalizou.
 
Fonte: (EN)Cena
 
Disponível em: <http://ulbra-to.br/encena/2013/10/25/Internacoes-compulsorias-e-a-judicializacao-da-saude>. Acesso em: 29 out. 2013

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O Suicídio e suas complexidades

Por Jéssica Rodrigues Lima 
Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA

A palavra suicídio vem do latim “sui” = si mesmo e “caedes” = ação de matar. Foi utilizada pela primeira vez por Desfontaines, em 1737 e significa morte intencional auto-inflingida, isto é, quando a pessoa, por desejo de escapar de uma situação de sofrimento intenso, decide tirar sua própria vida.
              
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de três mil pessoas por dia cometem suicídio no mundo, o que significa que a cada 30 segundos uma pessoa se mata. Estima-se que para cada pessoa que consegue se suicidar, 20 ou mais tentam sem sucesso e que a maioria dos mais de 1,1 milhão de suicídios a cada ano poderia ser prevista e evitada.
O suicídio é atualmente uma das três principais causas de morte entre os jovens e adultos de 15 a 34 anos, embora a maioria dos casos aconteça entre pessoas de mais de 60 anos. Ainda conforme informações da OMS, a média de suicídios aumentou 60% nos últimos 50 anos, em particular nos países em desenvolvimento. Cada suicídio ou tentativa provoca uma devastação emocional entre parentes e amigos, causando um impacto que pode perdurar por muitos anos.
As tentativas do suicídio ou sua prática são decorrentes de vários fatores. O indivíduo pode fazê-lo numa tentativa de se livrar de uma situação de extrema aflição, para a qual acha que não há solução. Tal ato pode ainda ser cometido por alguém que está num estado psicótico, ou seja, fora da realidade; por achar que está sendo perseguido, sem alternativa de fuga; por se sentir deprimido, achando que a vida não vale a pena; por ter uma doença física incurável, o que o deixa sem esperança ou por ser portador de um transtorno de personalidade e em um momento de impulso ou para chamar atenção, atenta contra a própria vida.
O suicídio geralmente não pode ser previsto, mas existem alguns sinais indicadores de risco, como tentativa anterior ou fantasias de suicídio; disponibilidade de meios para o suicídio; ideias de suicídio abertamente faladas; preparação de um testamento; luto pela perda de alguém próximo; história de suicídio na família; pessimismo ou falta de esperança, entres outros indicadores. Pessoas que apresentem esses sinais devem ser observadas mais atentamente. No entanto, não é possível saber com exatidão que o indivíduo que apresenta tais sinais vai cometer suicídio, pois a ideia de morrer pode mudar em sua mente a qualquer momento.
Cabe a família, amigos e pessoas próximas observar os sinais que uma pessoa apresenta. Quando existe a preocupação a respeito de um risco iminente de suicídio, é necessário que o indivíduo seja encaminhado a uma avaliação psiquiátrica, em emergências de hospitais que trabalhem com psiquiatria, para que se possa avaliar adequadamente o risco e oferecer um tratamento para essa pessoa.
Se o risco for avaliado como muito grave, o tratamento poderá ser uma internação, ou tratamento ambulatorial (consultas regulares com psiquiatra), ocasião em que é feita uma avaliação das circunstâncias da vida da pessoa, se ela tem uma família que possa estar presente, observando-a e fornecendo-lhe suporte, e à qual, ela própria, apesar da vontade de se matar, possa comunicar isso e pedir ajuda antes de cometer o ato.
O suicídio através dos tempos e da cultura
A forma como a sociedade reage ao suicídio varia de acordo com a cultura e período histórico em questão. Na Roma antiga, a morte não significava muito, era mais importante o meio de morrer, como um ato digno e realizado no momento certo. Entre os primeiros cristãos, morrer significava libertar-se deste mundo de dores e sofrimentos, dos pecados. Assim, a morte era como tomar um caminho mais curto que conduzisse ao Paraíso.
A história mudou nos séculos V e VI, nos Concílios de Orleans, Braga e Toledo. Estes encontros deliberaram uma mudança de rumos, proibindo qualquer homenagem aos suicidas, e mesmo aqueles que só tentavam e não conseguiam êxito, eram excomungados. Assim, o suicídio tornou-se um crime e um hediondo pecado, e suas consequências poderiam agora se estender inclusive aos familiares, que enfrentavam preconceitos e perseguições. Somente no Renascimento, uma época mais romântica, o suicida foi resgatado e em torno dele instituiu-se uma aura de respeito e de certo fascínio.
Em algumas culturas, como a japonesa, esta atitude pode ser considerada uma forma digna de fugir de contextos que envolvem vergonha e culpa, como o harakiri, praticado antigamente entre os guerreiros samurais.
Ato de nobreza, libertação, busca por refúgio, crime ou pecado. O fato é que o suicídio está se tornando cada vez mais comum e está entre as principais causas de morte. Geralmente a sociedade responde a essa atitude com o silêncio. Talvez pela delicadeza do assunto, pelo espanto que pode causar ou pelas discussões complexas sobre a natureza dessa questão social, que em alguns lugares é considerada um problema de saúde pública. De fato, o assunto é tabu. No entanto, não podemos fechar os nossos olhos e nos calar diante dessa situação, como se o suicídio fosse algo distante da nossa realidade. Ele é real e a prevenção é o caminho.

Fonte: (EN)Cena

Disponível em: <http://ulbra-to.br/encena/2013/10/23/O-Suicidio-e-suas-complexidades>. Acesso em: 24 out. 2013

Doenças mentais e neurológicas atingem cerca de 700 milhões de pessoas em todo mundo

A revelação está no Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020

Por Jéssica Rodrigues Lima - Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA
             
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que as doenças mentais e neurológicas atingem aproximadamente 700 milhões de pessoas no mundo, representando um terço do total de casos de doenças não transmissíveis. Especialistas ressaltam que um terço dos que sofrem com problemas mentais e neurológicos não têm acompanhamento médico.
Esses dados estão revelados no Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020 e mostra que as doenças mentais representam 13% do total de todas as doenças do mundo. Especialistas se reuniram para discutir o assunto, em Genebra, na Suíça, durante a Assembleia Mundial da Saúde.
Conforme estimativas, aproximadamente 350 milhões de pessoas deverão sofrer de depressão e 90 milhões terão uma desordem pelo abuso ou dependência de substâncias. A OMS define depressão como um transtorno mental comum, caracterizado por tristeza, perda de interesse, ausência de prazer, oscilações entre sentimentos de culpa e baixa autoestima, além de distúrbios do sono ou do apetite. Também há a sensação de cansaço e falta de concentração.
Os especialistas ainda revelam que as doenças neurológicas deverão afetar 50 milhões de pessoas, entre elas a epilepsia — doença cerebral crônica que se caracteriza por convulsões recorrentes que podem levar à perda da consciência. Aproximadamente 35 milhões de pessoas deverão sofrer do Mal de Alzheimer, síndrome crônica ou progressiva que leva à perda das funções cognitivas, entre outros distúrbios.

Fonte: (EN)Cena


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Maior dose de ondansetrona é eficaz para tratar alcoolismo



A ondansetrona, substância comumente utilizada para evitar náusea em pessoas que estão sob quimioterapia, teve sua eficácia testada no tratamento de dependentes de álcool. Em estudo realizado no Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), o médico João Maria Corrêa Filho verificou sua ação em dose maior do que vem sendo utilizada e comprovou o retardamento do consumo de álcool, além da redução de sintomas de depressão e do desejo pelas bebidas alcoólicas. Ele também descobriu quais são os fatores que tornam o abandono do tratamento mais propício.

A ondansetrona atua como antagonista do receptor da serotonina, substância envolvida com a sensação de prazer promovida pela bebida alcoólica. Assim, “esse antagonismo faz com que o prazer que poderia sentir ao se ingerir a bebida diminua”, explica Corrêa Filho, que testou a dose de 16 miligramas (mg) por dia, usada atualmente apenas para tratamento de enjôo. Esta dosagem diária é maior do que a aplicada anteriormente – 4 microgramas a cada quilo do paciente (mcg/kg) – e surtiu efeito nos pesquisados em relação aos medicados com placebo. Os dependentes medicados com o fármaco demoraram mais a ingerir o primeiro gole de bebida alcoólica (54,7 versus 40,9 dias, em média, a partir do início do tratamento) e a ter o primeiro consumo intenso (58,4 versus 45,4 dias, em média).
Além disto, a pesquisa descobriu que a dose de 16 mg testada, além de diminuir o prazer na bebida, chegou a melhorar sintomas depressivos dos testados, bem como a reduzir o desejo de consumir álcool. A pesquisa foi feita de 2007 a 2010 com 102 alcoolistas, com idade entre 18 e 60 anos, que buscaram tratamento para a dependência no IPq. Metade deles recebeu placebo e a outra metade, as 16 mg da ondansetrona, divididas em duas doses diárias, por via oral. A medicação foi acompanhada de entrevistas sobre os sintomas depressivos e técnicas motivacionais, exames para avaliar o consumo ou não de álcool, conversas com a família e de encontros no grupo Alcoólicos Anônimos (AA).
Abandono do tratamento
O abandono do tratamento foi grande e chegou a 50% dos pesquisados, taxa equivalente à média de outros tipos procedimentos de reabilitação, de acordo com a literatura médica. O pesquisador, porém, não esperava este resultado, já que o ensaio clínico foi planejado para não perder pacientes ao longo do tratamento. Quando o dependente não ia aos encontros semanais, “a gente ligava para a família, chamava, buscava onde estava o paciente para ver se ele aparecia”, conta o médico.
Após a etapa do tratamento, os resultados foram comparados a outras pesquisas com metodologias iguais feitas no mesmo grupo de estudo, o Programa Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas, mas que usavam medicamentos diferentes, como o topiramato, o acamprosato e a naltrexona. O que se comprovou é que a porcentagem de pesquisados que concluíram o processo foi equivalente entre todas as substâncias. Corrêa Filho explica que “aparentemente, a maior adesão depende de questões pessoais e do tipo de tratamento que é ofertado, e não do efeito direto dos medicamentos avaliados”.
No estudo intitulado Eficácia da ondansetrona no tratamento de dependentes de álcool e orientado por Danilo Antonio Baltieri, foi elaborada uma tipologia dos perfis de pacientes mais propícios a concluir ou não o tratamento. Os resultados mostraram que os mais suscetíveis à desistência são aqueles mais novos, que começaram os problemas por consumir bebida alcoólica precocemente, têm maior histórico familiar de alcoolismo, menos sintomas depressivos e maior gravidade do alcoolismo. Já os fatores que individualmente aumentaram a chance da continuidade do tratamento foram a preferência pela cerveja, o tabagismo, a idade mais elevada e a assiduidade no grupo do AA.
Imagem: Marcos Santos / USP Imagens
 
Fonte: Agência USP de notícias
 
Disponível em: <http://www.usp.br/agen/?p=157205>. Acesso em: 23 out. 2013

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Transtornos mentais acometem ao longo da vida cerca de 20% da população

Por Odenice Rocha 
Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA

Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, transtornos mentais são a segunda causa dos atendimentos de urgência. Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) de 2006 realizada no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Marília, no interior de São Paulo, mostrou que 16% dos pacientes atendidos apresentaram transtornos mentais e do comportamento.
Os transtornos mentais acometem, em algum momento da vida, ao menos 20% da população mundial. No Brasil, os cuidados com a saúde mental no sistema público sofreram uma reforma que começou há quase 20 anos e que procura evitar as internações em hospitais psiquiátricos, criando mecanismos de diagnóstico e tratamento mais amplos, com equipes multidisciplinares. Um dos exemplos da mudança é a criação dos Centros de Atenção Psicossocial, os Caps, implantados no Brasil em 1986 e que hoje já somam 1.620 em todo o país.
Entre os transtornos mais comuns está a depressão, que nada mais é que um sentimento de tristeza. Caracteriza-se pela perda de prazer nas atividades diárias, apatia, alterações cognitivas, psicomotoras, alterações do sono, alterações do apetite, redução do interesse sexual, retraimento social, ideação suicida e prejuízo funcional significativo.
Segundo o médico do departamento de psiquiatria da Unifesp Adriano Resende Lima, aproximadamente 10% das mulheres e 6% dos homens vão ter um episódio depressivo ao longo da vida. "Hoje a depressão é o segundo maior problema de saúde pública no mundo, de acordo com dados da OMS [Organização Mundial da Saúde]. É importante a população saber que transtornos depressivos e ansiosos são comuns e causam grande impacto", explica o psiquiatra.
O Distúrbio de ansiedade generalizado está no ranking, que caracteriza-se por um estado de ansiedade excessiva persistente que não depende do contexto e é desproporcional aos fatos que ocorrem na maior parte dos dias por um período de pelo menos 6 meses. Essa preocupação excessiva interfere na vida de quem sofre da doença em diversas áreas, antecipam desastres e estão superpreocupadas com questões da vida, como saúde, dinheiro, morte, problemas de família, problemas sociais etc.
Já o distúrbio do pânico acontece por um intenso medo ou/e mal-estar com sintomas físicos e cognitivos que se iniciam de forma brusca e alcançam intensidade máxima em cerca de 5 minutos e causando medo de morrer persistente e recorrente, o que aumenta a chance de outros ataques. No Brasil, cerca de 1% da população tem um ataque de pânico por ano e 5% dos adultos relatam já terem tido pelo menos um ataque de pânico na vida.

Fonte: (EN)Cena

Tecnologia e saúde da mente

Confira alguns aplicativos para smartphones que podem ajudar nos cuidados do sono; da enxaqueca e até monitorar o humor de pessoas com depressão

Volte no tempo e tente imaginar-se há 15 anos: você tinha um celular? Possivelmente não. Hoje, quase 70% da população com mais de dez anos de idade tem o aparelho; de acordo com pesquisa do Ibope, 18% têm smartphones, “celulares inteligentes, que executam programas. Nos últimos meses surgiu um volume significativo de aplicativos voltados para o bem-estar psíquico. Mente e Cérebro fez uma seleção dos mais interessantes, que ajudam desde a cuidar melhor da qualidade do sono até prevenção de suicídio.
Sono

SleepBot 
Grátis
Inglês
Disponível para iPhone http://goo.gl/6wrvT e Android http://goo.gl/hqPzrd
Manter um diário de sono ajuda a entender as diferentes fases do cérebro adormecido – e tomar pequenas atitudes para descansar mais e melhor. O SleepBot monitora o sono, tanto pelo movimento (colocando o aparelho sob o travesseiro) quanto pelos sons: o smartphone grava os ruídos da noite, o que permite identificar sintomas de distúrbios do sono, como o ronco. O aplicativo analisa as horas e a profundidade do sono para despertar o usuário, dentro de um período pré-selecionado, de maneira mais suave.

Prevenção de suicídio

Operation Reach Out 
Grátis 
Inglês
Disponível para iPhone http://goo.gl/CcZpbZ e Android http://Android goo.gl/wyXxn5
Criado para melhorar o humor e a motivação de pessoas que pensam em tirar a própria a vida. O aplicativo traz vídeos motivacionais, que destacam que crises são temporárias e os problemas podem ser vistos de outra perspectiva. O programa oferece também instruções prevenção de suicídios, como identificar e guardar objetos potencialmente perigosos, e uma lista de contatos para ligar em caso de emergência.

Humor

Optimism
Grátis
Inglês
Disponível para iPhone http://goo.gl/5YYikI
Permite monitorar o humor de pessoas com depressão e vivendo situações de estresse. Dados como mudanças na rotina, sintomas, exercício físico e disposição, entre outros, são apresentados graficamente, compondo um quadro que relaciona motivos e reações emocionais. 

Enxaqueca

Diário Cefaleia
Grátis
Português
Disponível para iPhone http://goo.gl/1qG3MC
Uma das recomendações dos médicos que tratam de pacientes com enxaqueca é que eles façam um diário com as suas crises. Esse aplicativo permite incluir dados sobre dia, hora e intensidade da dor, assim como a região afetada e o fator desencadeante. Também cria relatórios via email para que o médico possa acompanhar o quadro.

Relaxamento

Yogic
Grátis
Inglês
Disponível para iPhone http://goo.gl/mVe8wo
A prática da respiração diafragmática (deep breathing, em inglês) é uma peça-chave na prática da meditação e influencia no humor e ansiedade. Com a ajuda do Yogic, é possível aprender diferentes técnicas e posições que beneficiam desde os principiantes até os praticantes avançados.

Referências de diagnóstico

DSM-IV 
US$ 69,99 
Inglês
Disponível para iPhone http://goo.gl/zumXal

CID-10 

Grátis 
Português
Disponível para iPhone http://goo.gl/KktRZ5
Graças aos apps DSM-IV e CID-10, estudantes e profissionais de saúde não precisarão mais carregar seus manuais ou memorizá-los de capa a capa. Os aplicativos possibilitam a consulta ao Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da American Psychiatric Association e à Classificação Internacional de Doenças, respectivamente, por meio de um sistema simples e rápido de busca.

Fonte: Scientific American Mente e Cérebro
 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Convite - Aula Inaugural do Curso de Atualização em Atenção Integral ao Consumo e Consumidores de Substancias Psicoativas (SPAS)



A Escola Estadual de Saúde Pública Professor Francisco Peixoto Magalhães Netto (EESP) tem a honra de convidar os candidatos selecionados para a aula inaugural do Curso de Atualização em Atenção Integral ao Consumo e Consumidores de Substâncias Psicoativas (SPAs), que será proferida peloProf°. Dr. Antônio Nery Filho, no dia 29/10/2013, às 9h, na sede da Escola de Formação Técnica em Saúde Professor Jorge Novis (EFTS) situada à Avenida Cardeal da Silva n° 1339, Federação. 

Na ocasião, a EESP disponibilizará vagas para a participação do público em geral (trabalhadores de outras Secretarias Estaduais e Municipais, estudantes de graduação, gestores e interessados no tema), considerando a capacidade física do espaço. 


Atenciosamente,
A Coordenação do Curso

 
Fonte: EESP
Disponível em: <http://www.saude.ba.gov.br/EESP/index.php?option=com_content&view=article&id=804&catid=13&Itemid=59> . Acesso em: 21 out. 2013 

Campanha quer por fim a uso de hienas para tratar doentes mentais na Somália


Enfermeiro fundador de 1º hospital psiquiátrico do país tenta erradicar práticas cruéis, como acorrentar pacientes
 
 
A Somália tem um dos maiores números de doentes mentais do mundo e com um sistema de saúde devastado por décadas de guerra, muitos pacientes não recebem qualquer tratamento. Muitos são acorrentados – em árvores ou em casa. Alguns são até trancados em jaulas com hienas. Mas um homem está tentando mudar este cenário.

Dr. Hab não é um psiquiatra. Seu nome real é Abdirahman Ali Awale, um enfermeiro que, após três meses de treinamento na Organização Mundial da Saúde (OMS), abraçou a missão de cuidar dos que sofrem de doenças mentais em seu país. Ele diz estar apto a tratar todos os tipos de distúrbios, desde depressão pós-parto à esquizofrenia.

Quem não quer fazer uma consulta com Dr. Hab pode fazer uma visita aos populares curandeiros que usam erva medicinais para tratar doenças mentais ou "sheiks" que ainda advocam curas tradicionais e normalmente barbáricas.

"Há uma crença na Somália de que hienas podem ver tudo, inclusive os espíritos malignos que as pessoas apontam como causadores das doenças mentais", disse.

"Em Mogadíscio, é possível encontrar hienas que foram trazidas de bosques e famílias estão dispostas a pagar US$ 560 (R$ 1,2 mil) para trancar um ente querido junto com o animal dentro de um quarto durante a noite".

Mordidas

O "tratamento" com hienas - que custa mais do que as famílias ganham em média por ano – é brutal. Ao cravar suas garras e morder o paciente, a hiena estaria forçando os maus espíritos a deixar o corpo. Pacientes, inclusive crianças, já morreram em ataques do animal carnívoro.

"Estamos tentando mostrar às pessoas que isso não faz sentido", disse Hab. "Doenças mentais são como qualquer outra e precisam de métodos científicos para serem curadas."

A campanha do enfermeiro foi desencadeada por um incidente em 2005, quando ele testemunhou um grupo de mulheres com distúrbios mentais sendo perseguidas por jovens na rua. "Depois disso eu decidi que teria de abrir o primeiro hospital psiquiátrico da Somália", relembrou.

O Hospital Público de Saúde Mental (Habeb) em Mogadíscio foi o primeiro dos seis centros que hoje Dr. Hab mantém toda a Somália, tendo atendido mais de 15 mil pacientes.

Ele enfrenta um grande desafio. A OMS estima que um em cada três somalis esteja ou tenha sido afetado por doenças mentais, bem acima da média global de um para dez. Em certas partes do país mais atingidas por décadas de conflito, este índice é ainda maior.

Dr.Hab diz que não dispõe de muitos recursos para tratar os pacientes, contando com doações de medicamentos por parte de ONGs e de farmácias particulares.

Acorrentados

Ele diz que é difícil fazer os pacientes entenderem que sofrem de problemas mentais. Problemas psicológicos são geralmente explicados como dores físicas – dores de cabeça, excesso de suor e dor no peito. Alguns conceitos nem existem na cultura somali. Depressão, por exemplo, se traduz como "os sentimentos de um camelo quando seu amigo morre".

Mas nada é mais indicativo sobre a falta de entendimento da população sobre doenças mentais do que a prática disseminada de acorrentar pacientes em árvores ou em quartos.

A ONG italiana GRT tem registros de pacientes que ficaram acorrentados até morrer. "Eu mesmo já salvei muitos pacientes que foram abandonados pela família e ficam acorrentados esperando a morte", diz Hab, que percorre áreas rurais em uma van em busca de pessoas acorrentadas para libertá-las e conduzi-las a um de seus centros.

A OMS financia a iniciativa "Livre das Correntes" em uma tentativa de erradicar a prática, começando pelos hospitais. Mas o próprio Hab admite já ter acorrentado os pacientes mais agressivos.

Hab mostra uma planilha com todos os itens de que necessita em seus centros – novos colchões, comida para os pacientes e diesel para sua van. Segundo ele, há também uma carência de enfermeiros e psiquiatras qualificadas. A luta diária para prover o tratamento adequado para seus pacientes e o sofrimento que ele testemunha está claramente afetando sua saúde.

"É um trabalho muito difícil físico e mentalmente", disse. "Eu era saudável quando comecei e agora sofro de diabetes".

"Eu já chorei na TV, já chorei em público, já chorei diante de presidentes", disse. "Até agora eu estou com vontade de chorar".
 
Fonte: Associação Brasileira de Psiquiatria - ABP
 
Disponível em: <http://www.abp.org.br/portal/imprensa/clipping-2>. Acesso em: 21 out. 2013