O Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública, que agrega mais de 300
profissionais de cem entidades, lança hoje, Dia Mundial de Conscientização do
Autismo, um manifesto em defesa do tratamento psicanalítico para pessoas com o
transtorno.
O documento é uma reação da comunidade psicanalítica ao que esses
profissionais chamam de "tentativa de excluir a psicanálise" das políticas
públicas de atenção ao autista.
No fim do ano passado, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo lançou um
edital para o credenciamento de instituições para o tratamento de crianças
autistas. O edital excluía a psicanálise, considerando só terapias
cognitivo-comportamentais.
Após manifestação de entidades que representam os psicanalistas, o edital foi
retirado. A secretaria informou, em nota, que houve um erro no edital e que
outro será lançado em breve.
Para Estevão Vadasz, coordenador do Ambulatório do Autismo do Instituto de
Psiquiatria da USP, excluir a psicanálise não é um erro.
"Não há nenhuma evidência científica de que a psicanálise possa ter
influência terapêutica positiva na evolução das crianças autistas", diz o
psiquiatra.
A ONG Autismo e Realidade, que reúne informações sobre o tratamento do
transtorno, também não indica a psicanálise, segundo a psicóloga Joana
Portolese, coordenadora-executiva da ONG.
Para os psicanalistas, essas opiniões têm origem na falta de informação.
"Eles acham que nós apenas replicamos a análise em adultos nas crianças
autistas, que pedimos para eles contarem seus sonhos e fazerem livre
associação", diz Maria Cristina Kupfer, professora do Instituto de Psicologia da
USP.
A diretora científica da Sociedade Brasileira de Psicanálise, Vera Regina
Fonseca, explica que a psiquiatria e as terapias comportamentais são dirigidas à
eliminação dos sintomas, como o atraso na fala e no aprendizado.
"Nossa proposta vai na contramão disso e busca aumentar a capacidade de
estabelecer relações e compartilhar emoções."
Segundo Fonseca, o psicanalista tenta compreender e interpretar o estado
emocional da criança e ajudá-la a regulá-lo. "Isso se dá por uso de brinquedos e
jogos, do estabelecimento de parcerias e da interpretação das atividades da
criança."
Ela afirma, no entanto, que ainda são necessárias pesquisas científicas mais
abrangentes sobre o método.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1255770-manifesto-defende-psicanalise-como-opcao-para-autismo.shtml>. Acesso em: 02 abr. 2013.
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