Diagnósticos de instabilidade de humor,
depressão e mais uma série de outros transtornos relacionados à saúde mental têm
se multiplicado na população brasileira. Sem contar o número de pessoas que
ainda sofre por desconhecer que tem um problema. A Associação Brasileira de
Psiquiatria (ABP) estima haver cerca de 9% da população brasileira com algum
tipo de doença mental grave.
Entre crianças, esse índice se eleva para
12,6%. Só a depressão chega a afetar cerca de 10% dos brasileiros. A Organização
Mundial de Saúde (OMS) alerta para a existência de mais de 450 milhões de
pessoas com algum tipo de transtorno mental, neurológico ou comportamental ao
longo da vida. Dessas, 154 milhões de pessoas no mundo desenvolveram depressão e
cerca de 1% da população mundial tem esquizofrenia. A boa notícia é que, com o
diagnóstico e tratamento adequados, é possível assumir o controle sobre essas
doenças e ter mais qualidade de vida.
Evento
Em cima
disso, especialistas em saúde mental estarão reunidos amanhã, na Sociedade de
Medicina e Cirurgia de Rio Preto, durante o Simpósio de Insônia e Transtornos de
Ansiedade, com profissionais de diferentes partes do País, para discutir formas
de atuar no combate aos diferentes transtornos da saúde mental.
Em seu
mais recente livro, “Manual dos transtornos escolares”, o psiquiatra
rio-pretense Gustavo Teixeira, especialista em inclusão e educação especial de
crianças e adolescentes, atualmente sediado no Rio de Janeiro, explica que são
cerca de 30 os transtornos comportamentais principais a acometer crianças e
adolescentes no ambiente escolar. Cerca de 20% dos estudantes brasileiros sofrem
consequências diretas desta alteração.
Dentre os assuntos a serem
abordados no evento estarão as mais diferentes fobias, obsessão, insônia, entre
outras doenças mentais e emocionais, suas causas, diagnósticos, tratamentos e a
melhor forma de orientar a população para lidar com o problema de forma eficaz.
Serviço
Simpósio A insônia e transtornos de ansiedade,
amanhã, a partir das 8h, na Sociedade de Medicina e Cirurgia, de Rio Preto.
Informações pelo (17) 3227-7577
‘Transtorno é parte de nossa
qualidade de humanos’
O Diário entrevista o psiquiatra Altino Bessa
Marques, um dos coordenadores do Simpósio Simpósio de Insônia e Transtornos de
Ansiedade e médico do Hospital Bezerra de Menezes, de Rio Preto. Ele ajuda a
esclarecer algumas das principais dúvidas na área de saúde mental.
Diário da Região - Quais são os transtornos sociais mais comuns?
Altino Bessa Marques - Temos alguns transtornos relacionados com o
social, como o transtorno de personalidade antissocial e o transtorno de
ansiedade social. Do relacionamento em sociedade, e da falta de segurança
generalizada que alguns superiores impõem, pode surgir o transtorno de estresse
pós-traumático. Quanto ao transtorno de ansiedade social, também conhecido como
fobia social, é o medo que a pessoa tem de ser observada e se sente constrangida
por causa da observação, seja para se alimentar, escrever ou falar em público.
Diário - De que maneira alguns destes transtornos podem
interferir na rotina de uma pessoa?
Marques - De diversos modos,
principalmente em limitações. Cada portador pode ficar com seu potencial
prejudicado, sem conseguir realizá-lo. Além de todo sofrimento que a ansiedade
excessiva acarreta. Sem tratamento psicofarmacológico e psicoterápico, o
portador se força a enfrentar as situações sociais que habitualmente evita. E só
irá fazê-lo com grande dificuldade e aumento do risco de desenvolver, durante o
enfrentamento, sintomas físicos, uma verdadeira crise de pânico. Não se trata do
transtorno de pânico, que é imotivado, ocorrendo em indivíduos que podem ter
sociabilidade adequada.
Diário- Existem tratamentos que podem por
fim aos chamados transtornos psico-afetivos?
Marques - Na Medicina em
geral, temos doenças crônicas. Com a exceção das infecções, que podem também se
tornar crônicas ou matar agudamente, consegue-se curar a pessoa acometida, com
intervenções precoces e precisas. Como a fantasia de quem padece enfermidade
física é de que possa morrer, sente-se “curado”, por não ter morrido. Só que
continua a tomar medicamentos para se manter bem, para não aumentar o risco de
vir a falecer. Em psiquiatria, talvez o equivalente a não morrer seja ter
qualidade de vida. Mas os transtornos afetivos, ansiosos, psicóticos e
relacionados a substâncias são tão crônicos como os transtornos avaliados como
físicos. Chegará o dia em que a neurociência equiparará as moléstias mentais com
as orgânicas. Todos os transtornos psiquiátricos, hoje conhecidos como tal, vão
ter sua etiopatogenia cerebral bem determinada. Portanto, uma das possibilidades
para os profissionais de saúde mental é mostrar a quem padece de transtornos
psíquicos que esses tipos de sofrimento fazem parte de nossa qualidade de
humanos. No momento, 30% da população mundial, de acordo com dados
epidemiológicos, têm alguma modalidade de distúrbio ou doença psiquiátrica,
desde graus severos até leve. Outro dado estatístico, ainda mais assustador,
prevê que, ao longo da vida, 60% dos indivíduos vão ter algum transtorno
psiquiátrico. Enfim, a reposta a sua pergunta é: tem controle, a pessoa pode
levar uma vida normal, mas a grande maioria, se não todos que já tiveram
períodos de depressão, euforia, combinação dos dois (quadros mistos de depressão
e euforia), não deveria deixar os tratamentos psicoterápicos e farmacológicos
para não correr o risco de agravamento ou de recorrên-cia. Exige-se da
psiquiatria o que não se exige do restante da medicina, provavelmente pelo
preconceito contra esta modalidade de sofrimento, contra quem a sofre e contra
quem a trata.
Diário - Qual o impacto da doença mental na
sociedade moderna? É mais frequente que há alguns anos ou só se diagnostica
mais?
Marques - O emprego cada vez maior de substâncias lícitas
(álcool) e ilícitas tem trazido para mais cedo a incidência dos transtornos
mentais; é possível também que portadores dos genes que nem manifestariam a
doença ao longo da vida, ao usarem as substâncias, colocam o gene inativo para
funcionar, passando à condição de portador do transtorno.
Fonte: Diário Web
Disponível em:<http://www.diarioweb.com.br/novoportal/Noticias/Saude/133291,,Especialistas+discutem+transtornos+da+saude+mental.aspx>. Acesso em: 26 abr. 2013.
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