Comandado por Ted Kaptchuk, o Programa em Estudos sobre Placebo e Encontro Terapêutico estuda as mudanças químicas do organismo durante o efeito placebo.
O primeiro teste clínico controlado sobre o efeito placebo foi feito em 1784, a pedido do Rei Luís XVI, da França. Intrigado, ele queria descobrir se os tratamentos médicos por magnetismo eram mesmo eficazes — não eram. De lá para cá, centenas de pesquisas tentam comparar os efeitos do placebo em relação a medicamentos novos. Mas os estudos param por aí. Sabe-se muito pouco, por exemplo, sobre o que acontece no organismo quando o efeito placebo está em ação — quais seriam, portanto, os efeitos químicos que levam a uma melhora no quadro médico. Foi em busca dessas respostas que Ted Kaptchuk, um dos principais especialistas no efeito placebo, ajudou a conceber, em julho de 2011, o Programa em Estudos sobre Placebo e Encontro Terapêutico (PiPS, sigla em inglês), vinculado ao Centro Médico Beth Israel, hospital escola da Universidade Harvard.
Kaptchuk começou sua carreira na medicina pelo avesso dos padrões convencionais de instituições como Harvard. Formado em medicinal chinesa em Macau, na China, ele praticou acupuntura por anos nos Estados Unidos — duas práticas não reconhecidas pela academia. A falta de um diploma tradicional poderia, portanto, ter lhe custado dissabores na vida acadêmica. Mas, sistemático e empenhado em desenvolver os melhores métodos de pesquisa, ele acabou conquistando o oposto: uma vaga em uma das mais respeitadas universidades de medicina do mundo. O contrato com Harvard surgiu para que ele participasse do grupo de estudos em medicina alternativa. Em seguida, veio a concepção do PiPS. "Harvard aceitou o risco, eles já conheciam meus trabalhos anteriores", diz Kaptchuk em entrevista ao site de VEJA.
Com o PiPS, a equipe do pesquisador está encarregada de estar à frente de uma linha pouco usual de estudos em placebo. Eles procuram respostas sobre o que acontece no corpo quando o efeito placebo entra em ação. Em outras palavras, o que eles querem é entender quais alterações químicas e neurológicas acontecem quando a pessoa passa pelo tratamento falso. "E, em seguida, traduzir essas pesquisas científicas para a prática clínica", diz. Para isso, Kaptchuk conta com uma equipe de oito pesquisadores fixos e outros pesquisadores afiliados a 10 instituições parceiras, todas envolvidas em projetos específicos.
Pesquisas — Além de ser um dos principais centro do mundo em pesquisa sobre placebo, o PiPS é ainda o único com caráter multidisciplinar. Ali, os estudos são feitos, em sua maioria, com a colaboração dos centros médicos de Harvard. Kaptchuk faz uso dos departamentos da universidade para encontrar sempre as melhores condições médicas que podem ser aplicadas em uma nova pesquisa, ou ainda qual o melhor modelo laboratorial a ser usado. Depois de encontrados seus parceiros, o pesquisador submete o estudo a avalições de diversos conselhos de ética (que ajudam a modelar os parâmetros dos estudos) e ao Instituto Nacional de Saúde, em busca de subsídio. "Se conseguimos financiamento do instituto, fazemos a pesquisa. Mas, às vezes, também tocamos o estudo mesmo sem o dinheiro", diz Kaptchuk.
De acordo com o pesquisador, o estudo sobre placebo apresenta uma dificuldade particular: ele não é realizado em quantidade suficiente pelos centros de pesquisa afora. Com pouca experiência na área, há também pouca referência e poucos padrões já pré-determinados que cada tipo de estudo deve seguir. Assim, tudo o que é feito acaba tendo um caráter inicial — e precisará ser replicado para ter valor prático. "Nosso trabalho é descobrir maneiras éticas de entender como o efeito placebo acontece", diz.
Brasil — Entre os pesquisadores do PiPS está o brasileiro Felipe Fregni, diretor do Departamento de Neuromodulação da Universidade Harvard. Há cerca de cinco anos trabalhando ao lado de Katpchuk, Fregni estuda os mecanismos neurais do efeito placebo. "Apesar de existir uma facilidade em se conseguir informação nos dias de hoje, o médico clínico ainda tem muito pouco acesso ao que é estudado no centro", diz, em entrevista ao site de VEJA.
De acordo com Fregni, muito do que é descoberto nas pesquisas feitas no PiPS ainda é subaproveitado pela medicina. "A medicina é muito tradicional. Ao mesmo tempo que isso é benéfico para evitar a propagação de tratamentos sem eficácia, esse tradicionalismo também emperra muitas descobertas importantes e de interesse clínico", diz.
Leia reportagem completa: http://veja.abril.com.br/
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