Por mais que o autor negue — e negue de um jeito tímido —, o personagem central do seu livro de estreia é muito parecido com quem o escreveu. Pat Peoples, que a partir desta sexta pode ser visto nos cinemas brasileiros via interpretação de Bradley Cooper — bem longe dos papéis de galã —, ficou oito meses numa instituição psiquiátrica. Atualmente, o ex-professor de história mora no porão da casa dos pais, na cidade onde cresceu, Philadelphia; é obrigado a fazer terapia para manter a cabeça no lugar; gasta exageradas 10 horas por dia se exercitando; e, à noite, lê livros sobre os quais a ex-mulher lecionava no colégio — visando reconquistá-la.
Matthew Quick, inventor de Pat, também é um ex-professor. Ele dava aulas de inglês num colégio de Nova Jersey até oito anos atrás. Daí, largou a profissão, pôs a casa à venda, viajou um bocado — conheceu a África, embrenhou-se na Amazônia —, retornou e trancou-se no porão da casa dos sogros com uma ideia fixa na cabeça: tornar-se escritor.
Muitos viram na mudança de Quick sinais de insanidade mental. Mas ele não cedeu. Preso voluntariamente no subterrâneo, escrevia por cerca de 10 horas diárias. Saiu da escuridão com um romance pronto em 2008, O lado bom da vida, logo bem resenhado pela crítica, posicionado nas alturas em listas de vendas e comprado para uma adaptação cinematográfica. Em entrevista, ele dá detalhes do seu método de criação, defende a escrita como um ato simultâneo de exposição e confinamento e elogia o filme de David O. Russell.
Confira trecho da entrevista
O personagem principal do livro guarda semelhanças com a época em que você começou a escrever o livro. Vê algo de autobiografia no romance?
Enfatizo que o livro é ficção e que nunca planejei escrever uma memória velada ou algo do tipo. Mas, em retrospectiva, quando me analiso, noto que Pat e eu compartilhamos algumas particularidades na época em que escrevi o livro. Eu havia abandonado uma vida muito boa, típica do sonho americano — largando uma posição segura de professor num incrível colégio de ensino médio e vendendo minha casa —, por uma chance de escrever de maneira integral, enquanto vivia com meus sogros. Dizer às pessoas que você vai escrever durante três anos num porão, sem receber pagamento, não é uma coisa fácil de se fazer. A maioria ficou com medo de que eu estivesse mentalmente desequilibrado — e muitas me disseram exatamente isso. Pat tem uma visão otimista do mundo. Ele pensa que, se ele conseguir se superar, trabalhar duro, e acreditar de todo coração, a vida vai mudar para melhor. As pessoas o punem por ter fé. As pessoas me puniram por ousar acreditar em algo que elas achavam impossível — principalmente me tornar um autor de ficção em tempo integral.
Como foi tentar criar uma história otimista sobre um personagem que se sente perdido, sem parecer positivo ou negativo demais em relação ao futuro dele?
Minha cabeça trabalha como a de Pat. Nunca fui diagnosticado como bipolar, mas conheço intimamente os altos e baixos da vida. Gosto de pessoas diferentes. Não sou uma pessoa que participa de tudo. Sou um deslocado. Quando dava aula, secretamente, gostava mais dos alunos que eram tachados de estranhos pelos colegas. Eles eram, de longe, os mais interessantes. Acho que muitas pessoas passam suas vidas tentando se misturar e, fazendo isso frequentemente, escondem as melhores partes de suas personalidades. Sempre que crio um personagem, tento iluminar o que faz dele diferente de todas as pessoas do mundo. Geralmente, é isso também o que faz dele um personagem incrível.
Obs.: A reportagem completa encontra-se na edição impressa do Jornal Correio Brasiliense
Fonte: Jornal Correio Brasiliense
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