Não é preciso ser idoso e nem mesmo ter muita idade para desenvolver a confusão mental, um tipo de ataque neurológico geralmente acompanhado de alucinações, agitação e desorientação, capaz de exacerbar doenças, aumentar custos médicos e até mesmo provocar a morte.
Especialistas afirmam que a confusão mental poderia ser prevenida até 40 por cento das vezes se médicos, enfermeiros e familiares conhecessem as causas e fizessem pequenas e significativas mudanças na forma como os pacientes são tratados. O rápido reconhecimento dos sintomas e o tratamento correto podem diminuir a duração do episódio, aliviar o sofrimento e reduzir os custos.
Ao menos 1 em cada 5 pacientes hospitalares com mais de 65 anos de idade vivenciam complicações causadas pela confusão mental, algumas das quais – como a piora em um quadro de demência – talvez nunca sejam completamente curadas.
Ainda assim, a confusão mental é diagnosticada e tratada da forma errada.
A Dra. Bree Johnston, geriatra da Universidade da Califórnia, em São Francisco, fala sobre o caso de uma mulher de 70 anos com histórico de transtorno bipolar, que se tornou cada vez mais deprimida, agitada e pouco cooperativa. Ela foi levada à emergência, onde o psiquiatra de plantão prescreveu clonazepam, um sedativo feito a partir de benzodiazepina que só piorou as coisas. Ela ficou incontrolável, perdendo e recuperando a consciência.
Quando a mulher foi hospitalizada, os médicos descobriram que a real causa da confusão mental era um pequeno ataque cardíaco. O tratamento correto ajudou a reverter sua condição mental.
Muitas causas e consequências
As condições que podem dar início à confusão mental incluem infecções no trato urinário, disfunções na tiroide e nos rins, eventos coronários e AVCs, desnutrição e desequilíbrio em eletrólitos como sódio e potássio. Qualquer pessoa com pequenos problemas cognitivos ou demência tem maiores riscos de apresentar a confusão mental e disfunções cognitivas podem piorar abruptamente após um ataque.
Determinados medicamentos, como as benzodiazepinas, podem causar ou contribuir para o aparecimento de confusões extremas. Outros medicamentos como anti-histamínicos, relaxantes musculares, analgésicos e até mesmo antibióticos podem estar ligados à confusão mental.
O simples fato de ser hospitalizado pode levar à confusão mental, conforme relatou Susan Seligar no ano passado no blog do New York Times, The New Old Age. Depois de uma cirurgia na bacia, sua mãe, de 85 anos, ficou desorientada e reclamou da falta de confortos no quarto do "hotel". Logo em seguida ela estava arrastando os lençóis e dizendo sem parar: "Precisamos limpar essa bagunça!" Ela precisou ser contida.
Uma leitora me contou que sofreu terríveis alucinações após passar por uma cirurgia no joelho depois de completar 80 anos, que tinha medo de todo mundo e não conseguia reconhecer a realidade quanto acordava.
"Nos pesadelos", escreveu, "via enfermeiras cravando suas grandes unhas em minha pele, porque me acusavam de tentar seduzir o médico. Às vezes, sonhava que elas me abandonavam no meio do mato, me sentava e começava a chorar". Cinco anos depois, afirmou, "ainda não saí da floresta".
Cerca de um terço dos pacientes com mais de 70 anos experimentam a confusão mental durante períodos de hospitalização. Os índices são mais altos entre as pessoas que são submetidas a cirurgias ou a tratamentos na UTI, onde tudo é estranho, não há diferença entre noite e dia, o sono é interrompido com frequência e há sons, equipamentos e procedimentos assustadores por todos os lados.
Uma paciente da UTI do Hospital Johns Hopkins, em Maryland, contou que tentava levar um cristal para os alienígenas "do bem" que via em sua mente, mas era impedida por um robô. Ela afirmou que a experiência foi um "pesadelo aterrorizante pelo qual ninguém deveria passar".
A Dra. Ondria C. Gleason, psiquiatra da Faculdade de Medicina da Universidade de Oaklahoma, descreveu a confusão mental como "qualquer mudança repentina no estado mental de uma pessoa ao longo de poucas horas ou dias, tais como confusão, alucinações, desorientação e mudanças de personalidade, como agitação e irritabilidade.
Existem três tipos: hiperativos, como os descritos pelos pacientes acima; hipoativos, que são frequentemente ignorados porque, como a depressão, caracterizam-se pela apatia e a preguiça; e um estado misto, com períodos de hiper e hipoatividade.
A confusão mental não acontece apenas na imaginação da pessoa afetada. A Dra. Tamara G. Fong, neurologista do Hebrew Senior Life in Boston, e seus colegas descrevem quais mudanças biológicas no cérebro delirante que poderiam ser responsáveis pelos sintomas: desequilíbrio nos neurotransmissores e aumento de substâncias inflamatórias que interrompem a comunicação entre os nervos; distúrbio metabólico ou falta de oxigênio que causa danos ao cérebro; e altos níveis de cortisol liberados durante aumentos no nível de stress, levando a uma forma de psicose.
Prevenção e tratamento
"Costumamos pensar que a confusão mental é inevitável, que é praticamente normal", afirmou o Dr. Dale Needham, especialista em terapia intensiva no Johns Hopkins. "Agora sabemos que existem fatores que podem diminuir o risco."
O primeiro é usar pouca ou nenhuma sedação. Ainda que pareça lógico sedar um paciente agitado, afirmou, isso pode piorar e até mesmo aumentar a duração da confusão mental.
É melhor que os pacientes se mantenham acordados e ligados com a realidade", afirmou. "Podemos falar com o paciente, perguntar se precisa de alguma coisa, se sente dor, se quer assistir TV ou ouvir música."
Os especialistas em tratamento intensivo do Hospital Johns Hopkins também descobriram que os pacientes apresentam melhores resultados caso as terapias físicas e ocupacionais sejam realizadas desde o princípio.
"A terapia parece ajudar a manter a mente e o corpo alertas", afirmou Needham.
Ela também parece deixar o pacientes cientes da hora do dia, do dia da semana, de onde estão e por que. Isso pode ser feito tanto pela equipe do hospital quanto por membros da família e amigos, que são encorajados a passar o máximo de tempo possível com os pacientes e ajudá-los a manterem o contato com a realidade.
Sabendo que o sono interrompido aumenta o risco de confusão mental, a equipe da UTI do Johns Hopkins realiza o mínimo possível de interrupções durante o sono.
"As luzes são desligadas, as cortinas fechadas e os anúncios em voz alta interrompidos durante a noite para criar uma UTI que ajude os pacientes a dormirem", afirmou Needham.
Utilizando um teste para confusão desenvolvido no Centro Médico da Universidade Vanderbilt, do Tennessee, os pacientes da UTI do Hospital Johns Hopkins têm os níveis de confusão mental medidos duas vezes ao dia para garantir que o problema não passe despercebido.
Fong afirmou que isso também ajudou a evitar que pacientes fossem contidos, o que pode aumentar seu medo, além de garantir que sejam alimentados e hidratados corretamente, além de terem os sentidos estimulados. Os pacientes recebem óculos e aparelhos auditivos, caso necessário.
Gleason afirmou que os membros da família do paciente também podem levar objetos familiares para o quarto do paciente, ajudando-os a acalmá-los, caso fiquem agitados.
Fonte: R7 via Associação Brasileira de Psiquiatria
Disponível em:<http://www.abp.org.br/ portal/imprensa/clipping-2>. Acesso em: 17 out. 2012.
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