Passar anos no divã falando sobre a infância está saindo de moda. Cada vez mais psicólogos e pacientes adotam terapias rápidas e focadas em resultados, que não estão nem aí para as ideias do pai da psicanálise
O doutor Sigmund Freud deve estar se revirando no túmulo. Ele viveu o suficiente para ver sua proposta de cura pela fala e suas teorias sobre o inconsciente se popularizarem ainda na primeira metade do século 20. Talvez não imaginasse, porém, que tantas linhas diferentes de terapia surgiriam depois disso. E muito menos que, 100 anos depois, algumas delas pudessem até colocar em xeque a relevância da psicanálise dentro da psicologia, ciência que ajudou a fundar.
“Eu nunca vi a psicanálise resolver problema de ninguém. É diferente analisar um problema e resolvê-lo. Uma pessoa de temperamento incontrolável pode voltar à infância para entender por que é assim, mas isso não resolve a questão”, diz o terapeuta americano Barry Michels. Ao lado de Philip Stutz, ele escreveu um livro chamado O Método, que tornou-se um best-seller internacional defendendo o uso de ferramentas para resolver problemas de modo prático e rápido. Os seguidores de Freud devem ter procurado um divã, ao ver a dupla de terapeutas conquistar astros de Hollywood. Na TV e na imprensa, famosos não param de falar sobre como a dupla os ajudou a superar crises de criatividade e coragem.
O sucesso, no entanto, reflete uma tendência mais ampla de interesse pelas chamadas terapias comportamentais e cognitivas (ou TCCs) das quais ambos são adeptos. No meio científico, por exemplo, a popularidade delas tem crescido. Uma busca por estudos com os termos “terapia cognitiva” e “psicanálise” no PubMed, principal base online de artigos científicos, mostra que em toda a década de 1990 foram publicadas 200 a 300 pesquisas sobre cada linha, por ano. Na última década, porém, a média anual de estudos sobre TCCs triplicou para cerca de 1.000, enquanto o interesse pela psicanálise se manteve estável, na casa dos 200.
A pegada objetiva e rápida que essa linha oferece também combina com a demanda dos pacientes. Não existem dados nacionais sobre o assunto, mas um relatório da Consumer Reports, publicação americana sobre padrões de consumo nos EUA, mostrou que o número médio de sessões frequentadas por pacientes caiu de mais de 20, em 1994, para 10, em 2004. Uma indicação clara de que os pacientes têm cada vez menos tempo (ou dinheiro) para os longos processos terapêuticos da psicanálise, em que o analisado é incentivado a descobrir sozinho suas fontes de angústia e as respectivas saídas.
O próprio Stutz, psicanalista de formação, já aplicou terapias de longas, mas passou por uma crise. “Usava um método que não era direcionado às necessidades do paciente, que ficava muito livre no processo. Mas, se ele teria de encontrar sozinho suas próprias soluções, por que viria à terapia?”
Outro algoz da psicanálise é Jonathan Alpert, queridinho dos executivos de Wall Street, que andam precisando de muita terapia desde 2008, quando as bolsas de valores entraram em crise. Em abril, ele publicou um artigo no New York Times sugerindo o fim dos processos psicoterapêuticos longos e de sessões sem resultados mensuráveis. Foi o início de uma briga, que acabou em uma enxurrada de protestos — e em mais clientes para Alpert. “Muita gente me atacou, mas defendo que as pessoas devem ter objetivos definidos na primeira sessão de terapia, para poder monitorá-los ao longo do processo”, diz o terapeuta comportamental.
No artigo polêmico, o terapeuta cita um estudo publicado em 2010 no American Journal of Psychiatry, que mostra que 42% das pessoas frequentam somente de 3 a 10 sessões de terapia, e pouco mais de 10% fazem mais de 20 sessões. Seu ponto: terapias que dependem de muitas sessões para mostrar resultado são inúteis para a maioria. Alpert diz que 3 ou 4 sessões já são suficientes para produzir algum benefício ao paciente, segundo sua experiência.
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Fonte: Revista Galileu Galilei
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