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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Dissemelhança Entre os Gêneros: os transtornos psiquiátricos femininos possuem diversas características peculiares. Há diferenças epidemiológicas, etiológicas, de curso clínico e prognóstico, além de resposta terapêutica

Na atualidade, há uma crescente ênfase aos estudos gênero-específicos. A influência hormonal no humor e no comportamento do sexo feminino é relevante, não pela dosagem hormonal em si, mas pela vulnerabilidade de um subgrupo de mulheres às oscilações hormonais em períodos críticos do ciclo reprodutivo como o pré-menstrual, o pós-parto e a perimenopausa. Os riscos de transtornos psíquicos nesses períodos de "gangorras hormonais" são mais significativos, aumentado as chances de forma considerável. É o que a Psicologia denomina de "janela de vulnerabilidade". Nestes períodos, as mulheres estariam mais vulneráveis aos transtornos do humor, podendo haver exacerbação dos transtornos pré-existentes e também o surgimento de novas doenças nas pacientes com predisposição, o que costuma ocorrer principalmente no puerpério.
Neste dossiê da psique feminina, elaborado pelos profissionais do Pró- Mulher - Programa de Saúde Mental da Mulher, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - abordaremos temas importantes da saúde mental da mulher nestas fases e discorreremos a respeito das diferenças entre os gêneros.
Transtorno Depressivo
Mulheres apresentam risco aumentado para transtorno depressivo maior ao longo da vida reprodutiva em uma proporção de 1,7 a 2,7 em relação aos homens. Esta diferença ocorre principalmente nos períodos pré-menstrual, puerperal e na perimenopausa. A prevalência de episódio depressivo ao longo da vida seria de 21,3% nas mulheres e 12,7% nos homens, nas idades entre 15 e 54 anos. Existem algumas diferenças no que se refere à sintomatologia do transtorno depressivo: mulheres apresentam maior predisposição à depressão atípica e maior comorbidade com ansiedade e transtornos alimentares. Também apresentam maior número de queixas somáticas. Tentam o suicídio três vezes mais, mas os homens efetivam o ato em maior proporção. Fatores ambientais e estressores externos parecem exercer maior influência no humor das mulheres. Além disto, o episódio depressivo costuma aparecer em idade mais precoce nesta população. O gênero também influenciaria a resposta aosantidepressivos. Estudos demonstram que mulheres mais jovens ou abaixo dos 50 anos teriam melhor resposta a antidepressivos como os inibidores seletivos da recaptura da serotonina (ISRS). Os homens teriam melhor resposta aos antidepressivos tricíclicos (ADTs) e esta diferença não ocorreria na pós-menopausa, ou seja, após este período, homens e mulheres apresentariam respostas semelhantes em relação às classes dos antidepressivos.
Transtornos da Ansiedade

Mulheres possuem uma probabilidade duas vezes maior do que os homens para Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtorno do Pânico e Transtorno do Estresse Pós-traumático ao longo da vida. As mulheres apresentariam também uma probabilidade 1,5 maior do que os homens para Transtorno Obssessivo Compulsivo (TOC) e Fobia Social ao longo da vida. As características clínicas também são diferentes, sendo que as mulheres apresentam mais comorbidades psiquiátricas e relatam maior gravidade dos sintomas. Acredita- se que pode haver fatores genéticos envolvidos e um possível papel dos hormônios sexuais femininos. Um estudo com 609 pacientes que apresentavam critérios diagnósticos para Transtorno de Pânico ou ataques de pânico foi realizado para avaliar-se a diferença entre os gêneros com relação aos sintomas do pânico e concluiu que as mulheres teriam mais dificuldades respiratórias durante os ataques, náuseas e sensação de sufocação.
Assistência adequada

O estudo das especificidades da saúde mental da mulher deve fazer parte da formação e atualização de todos os profissionais de equipes que realizam assistência, pesquisa e ensino com foco nas pacientes que frequentam os serviços de Ginecologia, Obstetrícia e Psiquiatria.
O conhecimento dos possíveis impactos das mudanças hormonais em cada fase do ciclo reprodutivo feminino, mesmo com várias informações controversas e até inconclusivas, favorece a aplicação de tratamentos e condutas multidisciplinares que atendam às demandas e peculiaridades desses transtornos mentais.
A falta de conhecimento dos médicos não psiquiatras com o uso de psicofármacos durante a gestação, o receio de alguns psicólogos em encaminhar gestantes para tratamento psiquiátrico ou a omissão de assistência às mulheres no climatério, por entendimento equivocado de que se trata de uma fase na qual a depressão seria aceitável, são problemas rotineiros na desassistência especializada do gênero feminino.

Fonte: Revista Psique Ciência e Vida

Disponível em:<http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/77/dissemelhanca-entre-os-generos-os-transtornos-psiquiatricos-femininos-possuem-265003-1.asp>. Acesso em: 17 ago. 2012.

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