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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Compulsão Por Compra é Doença: transtorno tem levado paraibanos a consultórios; Procon atende um caso por dia de superendividamento


Ciclos de ansiedade antes da compra, prazer durante o pagamento e arrependimento logo em seguida: esse é o perfil dos compradores compulsivos, que já começam a aparecer com importância significativa nos consultórios médicos paraibanos. Não conseguindo se render aos impulsos, essas pessoas transformam o que seria um ato corriqueiro em um verdadeiro descontrole. Sem tratamento, o problema é capaz de causar, além de dívidas cada vez maiores, depressão e isolamento social.

De acordo com o primeiro-secretário da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Luiz Carlos Ilafon Coronel, o transtorno atinge majoritariamente mulheres entre 25 e 60 anos, mas a faixa etária atingida tem se ‘rejuvenescido’ bastante. “Esse problema cresceu muita na modernidade. Somos uma sociedade do consumo. Deixamos de ser cidadãos para
nos transformarmos em consumidores. Interessante que mesmo as crianças deixaram de ser crianças também. Agora já existe todo um marketing dirigido à exploração da infância e da adolescência como mercado consumidor”, destaca, enfatizando ainda que o mercado, além de atender às demandas por cultura e lazer, também criou novas necessidades. “É só olhar para os eletrônicos. Quem diria que não viveríamos sem eles? É a marca dos tempos”, revela.

O Procon de João Pessoa, por exemplo, atende pelo menos uma pessoa por dia com problemas de superendividamento, sendo a grande maioria por mau uso dos cartões de crédito, isto é, pelas compras excessivas, que superam o orçamento familiar. “Quando eles chegam aqui, já é como o último suspiro. Vêm mesmo tentar fazer um conciliamento com os concedentes dos cartões. Há uns dois anos, atendi um senhor que, por causa desse mau uso, já tinha uma dívida que era em mais de R$ 14 mil superior ao que ele ganhava, que era cerca de R$ 5 mil. Ele veio bem desesperado, mas, felizmente, conseguimos resolver o caso”, explica um dos advogados do órgão, Djalma Pereira de Farias Júnior.

Subnotificação

Embora o assunto seja mais comum do que muitos imaginam, ainda não há pesquisas locais ou nacionais sobre compradores compulsivos. A referência mais importante sobre o tema é feita apenas através de uma pesquisa por amostragem americana, realizada em 2006, que apontou que 5% da população apresentavam o distúrbio. Se pudéssemos adaptar o
percentual para a realidade da Paraíba, chegaríamos a mais de 188 mil paraibanos sofrendo com o transtorno. Uma delas é a sobrinha da funcionária pública Joana Maria, que assim será identificada para preservar a identidade de ambas.

“Ela começou a sair comprando tudo que queria. Não interessava. Era roupa, sapato e coisas caras, como uma televisão, celulares e um notebook. Ela chegou ao ponto de não pagar o aluguel por nove meses. Como a família conhecia o dono do apartamento, perguntou se estava tudo bem. Foi quando ele contou a situação. O pior é que ela alterna essas compras com muita depressão. Fica muitos dias trancada no quarto, sem nem ver a luz do sol”, lamenta.

Um trauma de infância pode levar uma pessoa a desenvolver a compulsão por compras. A garantia é do psiquiatra clínico Edvaldo Brilhante da Silva Filho. Ele ressalta que, embora o transtorno também tenha fundo de origem genética, como no caso do Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) e da Compra Compulsiva (antes chamada de oneomania), as experiências mal resolvidas no passado levam o indivíduo a, consciente ou inconscientemente, não querer vivenciar os mesmos fracassos do passado.

“Tenho um parente próximo que tem mania de estocar comida. Na infância, ele passou fome e morava num bairro pobre. Psicologicamente, isso o afetou muito. Ele não quer passar fome de novo, por isso seu consumismo tem, por trás, um
problema psicológico. Por outro lado, principalmente mulheres, por não terem tido determinadas coisas no passado, como bonecas, roupas ou, até mesmo, uma festa de 15 anos como sonhado, desenvolvem o problema. Só que o prazer hoje é efêmero. Eles não conseguem curtir o objeto comprado”, explica o psiquiatra.

Apesar disso, enfatiza Brilhante, os compulsivos por compras não são doentes mentais. “Você não vai encontrar uma pessoa que mora na periferia da cidade consumindo produtos da loja mais cara de um shopping, por exemplo. Elas têm juízo sim, mas estão temporariamente perturbadas no tocante ao prazer”, pontua.

Fonte: Jornal Correio da Paraíba via Associação Brasiliera de Psiquiatria

Disponível em: <http://abp.org.br/2011/medicos/imprensa/clipping-2>. Acesso em: 01 ago. 2012.

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