Houve um tempo em que ser bom era valor. Vivíamos em um mundo diferente. Um mundo de reputações, de honras, de palavra. Não era necessário registrar o que dizíamos, porque a escrita não tinha mais valor do que a palavra.
Nesse mundo havia também a justiça que, ao lado da bondade, resumia os adjetivos máximos com que um homem poderia ser definido.
Esse mundo se faz distante. E embora a bondade felizmente sobreviva, a valorização dessa característica por parte da sociedade parece ter ficado para trás.
Derivada da virtude da humanidade, a bondade é uma das 24 chamadas forças pessoais, ou seja, uma das qualidades humanas que, quando característica de um indivíduo, corresponderia àquilo que de melhor ele teria a oferecer ao mundo.
Motivo de honra, diriam os antigos. De constrangimento, dizem hoje aqueles que a possuem. Em que momento começamos a desvalorizar a bondade? Em meu consultório costumo submeter meus clientes a um inventário para identificação de suas forças pessoais. Isso porque tenho plena convicção de que tais forças se configuram nos únicos recursos de que dispomos para o enfrentamento e resolução dos problemas com os quais nos deparamos na vida. Quando, dentre suas forças, o cliente escuta possuir a liderança, por exemplo, vejo nele se abrir um largo sorriso de orgulho. Contudo, em praticamente todas as vezes que anunciei a bondade como uma força, o que vi foram expressões confusas, olhares constrangidos, decepcionados e descrentes que, não raro, acompanhavam perguntas do tipo: "E o que eu faço com isso?". "Muda o mundo" - seria a melhor resposta que eu poderia dar, caso o cliente fosse capaz de reconhecer a bondade como força.
Mas o problema vai além disso. Na sociedade que construímos, a bondade é uma fraqueza. Uma característica incompatível com o estúpido conceito de sucesso que tão obstinadamente perseguimos. Um conceito de sucesso sobre o qual tenho muitos questionamentos, porém que, desta vez, prefiro abordar assim, em todo o equívoco da cultura popular.
SER BOM JÁ FOI UM VALOR. MOTIVO DE HONRA, DIRIAM OS ANTIGOS. DE CONSTRANGIMENTO, DIZEM HOJE AQUELES QUE A POSSUEM. EM QUE MOMENTO COMEÇAMOS A DESVALORIZAR A BONDADE?
Somos ensinados a acreditar que pessoas boas não ficam ricas. Que bondade e lucratividade são excludentes. Que é mais fácil "um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico adentrar o reino dos céus", e por aí vai. Daí a conclusão de que a bondade jamais poderia ser um recurso para a conquista desse sucesso que é visto, antes de tudo, como sucesso financeiro.
Além disso há também o equívoco de acreditarem na possibilidade de uma bondade em excesso. "O problema é que eu sou muito bonzinho." Na minha prática clínica, escutei essa frase um sem número de vezes. E em todas elas respondi: "Seu problema é a falta de assertividade e não o excesso de bondade".
Sempre disse que neste mundo os bons são a maioria. Não seria absurdo acreditarmos ser essa uma "fraqueza" da nossa sociedade?
Fonte: Revista Psique
Disponível em: <http://portalcienciaevida.
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