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segunda-feira, 25 de maio de 2015

Neurotecnologia: A tecnologia que quer invadir seu cérebro

                     Neurotecnologia: A Era da Tecnologia Invasiva
Alguns pesquisadores alertam que, na ânsia para transformar as neurociências em neurotecnologias, muita coisa é "balela".
Neurotecnologia
Você já deve conhecê-los pela expressão "aparelhos controlados pelo pensamento".
Mas não são apenas computadores ou cadeiras de rodas: há também a promessa de dispositivos para analisar o que você realmente pensa sobre um produto, aparelhos que prometem mudar o seu humor em minutos e, claro, videogames controlados por ondas cerebrais.
E estas são apenas algumas das promessas da chamada neurotecnologia - uma área que vem apresentando uma onda de pedidos de patentes de tecnologias ligadas à "leitura da mente".
Entre 2000 e 2009, foram menos de 400 pedidos de patentes na área de neurotecnologia nos Estados Unidos, segundo a rede que reúne pesquisadores de estudos neurológicos SharpBrains. Esse número dobrou para 800 em 2010 e, em 2014, subiu para 1,6 mil.
Apesar de muitos pedidos estarem relacionados a área médica, como dispositivos para lidar com lesões cerebrais, a maioria deles tem pouco ou nada a ver com assuntos ligados à saúde.
E, pior do que isso, há muitas promessas que não funcionam - ao menos por enquanto.
Tecnologia invasiva
"Estamos presenciando um florescer da chamada era da tecnologia invasiva", disse o executivo-chefe da SharpBrains, Alvaro Fernandez. "A neurotecnologia vai bem além da Medicina, com empresas que não são da área da saúde desenvolvendo tecnologias para facilitar nosso trabalho e nossa vida."
Nessa área de neurotecnologia, o instituto de pesquisa Nielsen têm a maior número de patentes: 100. Em seguida vem a Microsoft, com 89 patentes para softwares que podem acessar estados mentais.
Um dos setores que mais cresce é o explorado por empresas como a Thync, uma empresa emergente que está desenvolvendo um aparelho que se conecta com sensores cerebrais para alterar o humor da pessoa.
Também vem havendo um crescimento na área de videogames controlados por ondas cerebrais, caso de uma parceria entre uma empresa que faz aparelhos de eletroencefalograma e o IEEE (Institute of Electrical and Eletronics Engineers).
Marketing cerebral
Também há empresas que exploram o que vem sendo chamado deneuromarketing, ou seja, usam eletrodos para monitorar atividades cerebrais para, assim, tentar decifrar o que alguém está pensando sobre determinado produto ou propaganda.
"Por conta da alta disponibilidade e do baixo custo de equipamentos de eletroencefalograma atualmente, essas empresas se escoram em técnicas de análise cerebral que vendem como sofisticadas, que conseguiriam medir dados como o interesse de uma pessoa em determinado tema ou produto, baseado nos sinais registrados no eletro," diz o pesquisador Matt Wall, do Hospital Hammersmith, na Inglaterra.
"Mas qualquer pesquisador dessa área sabe que isso é pura balela. Essas empresas acabam fazendo sucesso ao produzirem impressionantes gráficos com dados científicos e a mostrarem resultados que parecem convincentes o suficiente para que os marqueteiros comecem a vender algum produto."
Fonte: Diário da Saúde

quarta-feira, 20 de maio de 2015

A função transformadora do ódio

Afeto nos convida à separação e ao ajuste de contas – mas que não se confunda com a utilização da justiça como pretexto para praticar a vingança

O antigo filósofo estoico chamado Sêneca dizia que a cólera é o afeto dos impotentes, ou seja, daqueles que acham que têm mais poder do que de fato têm. É assim que nós representamos os tiranos e seus tiranetes, sempre impacientes, insatisfeitos e coléricos. Mas isso não quer dizer que o ódio é um afeto do qual deveríamos nos ver livres. Ademais a cólera assim como a indignação e o respeito são sentimentos que modulam nosso ódio, substituindo sua orientação destrutiva por ideais simbólicos de regulação social. Quando vejo o ódio ser elevado à condição de um sentimento social intolerável, nessa cultura da animosidade e do desentendimento generalizado, que tomou conta do Brasil, penso que há certa injustiça sendo cometida contra este afeto.

O ódio é um afeto muito importante. Diariamente encontramos pacientes que se queixam de injustiças cometidas contra si, de maus-tratos ou de desprezos sofridos. Frequentemente percebemos um personagem ausente: a raiva. Pensemos naquele marido violento, que chega em casa, chuta o cachorro e resmunga com os filhos, mas cuja esposa só consegue dizer “não é culpa dele, é da bebida” ou “no fundo ele é uma pessoa boa”. Ambos sofrem de uma patologia do ódio: ele do excesso, ela da falta. Nenhum afeto deve ser considerado um vilão do ponto de vista clínico, nem mesmo o ciúmes, ou a inveja, mas a impossibilidade de experimentá-lo ou, ao contrário, a sua perseverança, deslocamento e intensificação, sim. E cada afeto possui uma espécie de matriz funcional, um clichê experiencial, segundo a expressão de Freud, que explica a sua gênese e determina a sua série histórica. Ou seja, os afetos não têm uma memória, por isso se diz que não existem afetos inconscientes, mas eles têm um traçado, uma recorrência que une suas diferentes situações de incidência. É por isso que cada experiência de amor recapitula todas as anteriores, e cada experiência de perda nos chama para todas as perdas anteriores. Lacan dizia que todos os sentimentos são mentirosos, com exceção da angústia, porque eles nos levam a criar contextos semelhantes para acontecimentos diferentes.
O ódio é um afeto fundamental para os processos de separação. Sem ele, o sofrimento pode ser infinito, e mesmo assim nenhuma transformação é ensejada. Sem uma pitada de ódio nenhum luto termina. Sem um grama de ódio muitos casais se tornam apenas irmãos e bons amigos.  Mas uma pitada ou uma grama, não é uma libra nem uma tonelada. Neste caso o ódio não está a serviço da separação e de um processo transformativo, mas da manutenção de uma unidade, ainda mais poderosa, ainda mais odiosa. Ódio que não se vive sozinho, mas que covardemente cria grupos imaginários contra inimigos imaginários, é tipicamente dirigido ao poder que se tem a mais ou a menos que o outro (inferioridade ou superioridade). É assim que ele deixa de estar a serviço da circulação e da distribuição do ter e do não ter e passa a se concentrar sobre o que o outro é, ou o sobre o que não suportamos ser. É este ódio ao ser que aparece na homofobia e na formação de grupos cujo unidade depende apenas do ódio dirigido a um grupo oposto. Ele não quer redefinir o contrato, nem fazê-lo valer, mas tudo o que ele quer é transformar uma libra de carne em um infinito de ódio, para que tudo continue como antes, no quartel de Abrantes.

Este artigo foi originalmente publicado na edição de maio de Mente e Cérebro 2015, que pode ser adquirida na Loja Segmentohttp://bit.ly/1DKrwmD 

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

O que é o Transtorno da Aversão Sexual?


Após uma tentativa de suicídio, William, com pouco mais de 40 anos, recebeu indicação médica para fazer terapia. Ele nunca havia tido qualquer tipo de contato sexual.


Após uma tentativa de suicídio, William, com pouco mais de 40 anos, recebeu indicação médica para fazer terapia. Ele nunca havia tido qualquer tipo de contato sexual.

Semanas após o início do tratamento, o paciente obteve um diagnóstico. Ele tinha o chamado "Transtorno de Aversão Sexual", caracterizado por rejeição extrema e persistente a todo tipo de contato genital com outra pessoa.

"A mera ideia de um ato sexual gera asco, repulsa e ansiedade na pessoa. Ela se sente ameaçada e passa a sentir um medo muito intenso, por isso faz o possível para evitar todo tipo de contato", disse à BBC o psiquiatra Martin Baggaley, diretor do Centro de Saúde Mental do hospital South London and Maudsley, em Londres, Reino Unido.

O transtorno é descrito no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, em tradução livre), conhecido como a "bíblia da psiquiatria", e na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial de Saúde (OMS).

As duas publicações são referência no mundo da saúde para o diagnóstico de doenças.

"O critério para fechar diagnóstico é: não ter desejo incomoda? Sabemos que existem abstêmios, chamados assexuados. Não sofrem, não se preocupam. A libido provavelmente está depositada em outra área, na carreira, num projeto de vida, numa obra social. Então, se não incomoda, não vamos categorizar como uma doença", disse à BBC Brasil Carmita Abdo, psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

"Mas se a pessoa tem aversão, muito provavelmente vai se incomodar, porque o sexo está em toda a parte", disse Abdo.

De onde vem?
Este parece ser o caso do paciente William. Durante as sessões de terapia, ele revelou que sua mãe era alcoólatra e promíscua.

Ela flertava frequentemente com os amigos do filho e tinha sido infiel ao marido (o pai de William) várias vezes. Quando William tinha 12 anos, seu pai cometeu suicídio. Em algumas ocasiões, contou o paciente, a mãe tinha tentado seduzi-lo.

O caso de William foi um entre 144 incluídos em um relatório feito pelo especialista americano Patrick Carnes, autor de vários livros sobre transtornos sexuais.

O trabalho identificou, entre pacientes diagnosticados com o Transtorno da Aversão Sexual, alguns pontos em comum. Por exemplo, eles tinham históricos de depressão, além de terem sofrido tipos específicos de abuso.

A aversão estaria relacionada a "experiências traumáticas na infância, famílias desestruturadas, agressões na vida adulta, exposição a sistemas educacionais e morais restritivos e com visão negativa da sexualidade, o que gera medo e repulsa na pessoa", disse à BBC Modesto Rey, ginecologista da Sociedad Española de Contracepción.

Além do Sexo
Os efeitos desse transtorno não se limitam ao plano sexual, explicam os especialistas.

"É um problema para os que sofrem (do transtorno) porque podem querer estabelecer relações sentimentais duradouras com outras pessoas, mas não conseguem", disse John Dean, ex-presidente da International Society for Sexual Medicine (Sociedade Internacional de Medicina Sexual, ISSM na sigla em inglês).

Em alguns pacientes, ele pode dificultar até interações sociais mais básicas. Como no caso da paciente "G", que decidiu, aos 39 anos, procurar terapia no Center for Healthy Sex (Centro para o Sexo Saudável), em Los Angeles, Estados Unidos. Ela nunca havia tido relações sexuais.

A fobia sexual que desenvolveu fez com que se isolasse de tal maneira que ela passou a evitar eventos sociais e situações em que homens pudessem estar presentes. Não se preocupava com sua aparência física, não tomava banho e usava roupas velhas e gastas.

"G" havia sofrido abuso sexual na infância.

Estatísticas e Tratamento
Há poucos estudos científicos sobre esse transtorno, o que dificulta a identificação de um perfil do paciente que tem o problema, segundo especialistas. É provável que o número de pessoas afetadas seja maior do que se pensa, disse o psiquiatra Baggaley. "As pessoas sentem muita vergonha (de falar sobre) esse assunto", explicou ele.

A professora da USP Carmita Abdo disse que, uma vez feito o diagnóstico, o tratamento é feito à base de terapia sexual e, quando necessário, medicação.

"A linha de terapia sexual é breve, de base cognitivo-comportamental, geralmente", disse. "Quanto à medicação, depende da necessidade de cada paciente. Poderiam ser indicados ansiolíticos ou medicamentos que favoreçam o interesse sexual, ou ambos."

O ginecologista Modesto Rey, que também indica terapias de base comportamental, explicou o princípio por trás da terapia:

"Aborda-se o tema e as situações que provocam medo de forma progressiva e, inicialmente, periférica."

Também podem ser usadas terapias cognitivas, ele disse, "para que a pessoa reinterprete a realidade que gera a ansiedade".

Outros especialistas sugerem que a solução para o problema envolva tratamentos psicológicos de longo prazo, que levem o paciente a entender as causas do transtorno para depois definir objetivos futuros.


Fonte: Associação Brasileira de Psiquiatria
Disponível em: http://www.abp.org.br/portal/imprensa/clipping-2/. Acesso em: 20 mai. 2015

Homens de vermelho passam imagem de agressividade a outros homens

Homens que usam roupa vermelha transmitem a outros homens - mas não às mulheres - uma imagem de dominância e agressividade, segundo um estudo da Universidade de Durham, na Inglaterra.
A pesquisa, publicada na revista científica Biology Letters, analisou os efeitos que a cor da roupa tem sobre a percepção da personalidade de uma pessoa.
"Raivoso" e "assustador"
Cem voluntários, 50 homens e 50 mulheres, foram convidados a opinar sobre fotos de homens usando camisetas cinzas, azuis e vermelhas. As fotos eram as mesmas, apenas a cor da blusa era alterada digitalmente.
Após ver as imagens, os participantes tinham de classificar o estado emocional do homem de cada foto.
Na imagem em que as roupas eram vermelhas, os termos mais evocados tanto por homens quanto por mulheres foram "raivoso" e "assustador". Já na hora de qualificar o estado emocional dos homens de azul ou cinza, os termos usados pelos voluntários foram "feliz" ou "neutro".
Agressividade
No quesito agressividade, não houve houve diferença de percepção entre o homem que usava azul e cinza - nem entre homens, nem entre mulheres.
Porém, na hora de classificar o grau de dominação que o modelo da foto passava, os homens achavam que os que usavam vermelho eram mais agressivos que os vestiam azul ou cinza.
Para as mulheres que olhavam as fotos, contudo, a cor da camiseta não fez diferença.
Percepção moldada socialmente
A antropóloga Diana Wiedemann, corresponsável pelo estudo, disse que as diferenças entre os participantes masculinos e femininos podem ser um exemplo de como as percepções são moldadas socialmente.
"A cultura pode refletir, reforçar ou modificar um viés inato ou pode acabar criando uma parcialidade", disse a pesquisadora.
Um estudo anterior, também realizado por cientistas da Universidade de Durham, já havia detectado que usar vermelho pode elevar a agressividade e a competitividade nos esportes, possivelmente ao ponto de aumentar as chances de vitória de um indivíduo ou equipe.
"Nossa pesquisa sugere uma clara associação entre a cor vermelha e a percepção de raiva, algo possivelmente relacionado ao fato de a pessoa ficar vermelha ao se irritar", disseram os pesquisadores.
A próxima fase do estudo vai testar a percepção transmitida por uma mulher usando vermelho.
Fonte: Diário da Saúde

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Um substituto para o culpado

Retaliação contra alguém considerado semelhante ao agressor traz a sensação de justiça

Um enredo comum no cinema e na literatura: herói que sofreu uma injustiça consegue a punição do inimigo – com a torcida do espectador. Na vida real, porém, a reparação nem sempre é tão simples. Pessoas prejudicadas em geral não sabem quem lhes causou dano – ou não podem ter acesso ao agressor. Diante disso, surge um fenômeno que os cientistas chamam de vingança deslocada: nesse caso, o indivíduo que se sente lesado pune alguém que ele considera pertencente a um mesmo grupo que o agressor original.
Pesquisadores da Universidade Philipp de Marburgo, na Alemanha, investigaram aentitatividade, um conceito que se refere à percepção do grupo como um todo, e não como um aglomerado de gente. Exemplo: uma multidão aleatória no ponto de ônibus apresenta pouco dessa característica. Já pessoas unidas por uma causa comum que se esforçam para atingir os mesmos objetivos são muito entitativas.
Os autores da pesquisa realizaram uma série de experimentos nos quais compararam a vingança deslocada contra pessoas com baixa e alta entitatividade. Em um deles, os voluntários, universitários no início da vida adulta, deveriam recordar-se de um momento em que acreditavam ter sido injustiçados e, então, imaginar como se sentiriam se tivessem a chance de punir seus agressores. Outro experimento avaliou como vítimas reais se sentiriam ao deslocar sua vingança para pessoas inocentes. Para simularem essa situação, os pesquisadores informaram (falsamente) os participantes de que seus parceiros num teste de quebra-cabeça decidiram não compartilhar o prêmio. Antes de iniciarem a atividade, os estudantes haviam assistido a um vídeo em que seu par (mais tarde seu rival) tinha conversado com outros dois voluntários que estavam vestidos de forma semelhante ao parceiro traidor. Os participantes do experimento que se sentiram lesados poderiam optar por não reagir ou pedir justiça, determinando que, como punição, os membros do mesmo grupo do infrator fossem obrigados a assistir a imagens desagradáveis.
Em todas as experiências, os que se vingaram relataram mais sentimentos de satisfação e justiça contra o grupo que identificavam como o da pessoa que os havia prejudicado. “Esse trabalho ilustra, por exemplo, como a vingança deslocada pode alimentar guerras de gangues étnicas”, diz o psicólogo Arne Sjöström, coautor do estudo. O artigo sugere também como os ciclos de retaliação podem ser interrompidos. “Uma estratégia interessante seria incentivar as pessoas a transitar por vários grupos e, dessa forma, ampliar perspectivas”, acredita Sjöström.

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

Visão do que nos faz felizes mudou em 80 anos

A nossa visão do que nos faz felizes mudou significativamente desde 1938.
Esta é a conclusão de psicólogos que refizeram um famoso estudo sobre a felicidade realizado na Grã-Bretanha naquele ano.
Em 1938, pesquisadores colocaram um anúncio em um jornal pedindo aos leitores para responder à pergunta "O que é felicidade?".
Um total de 226 pessoas enviaram cartas de resposta, sendo então convidadas para ajudar a compilar um índice de felicidade que listasse, por ordem de importância, os 10 fatores que mais as tornariam felizes.
Agora, Sandie McHugh e Jerome Carson (Universidade de Bolton) repetiram o questionário usando o mesmo jornal e a mesma técnica. Então, foi uma questão de comparar as respostas de agora com as respostas de 1938.
Felicidade no passado e no presente
Em 1938, a segurança, o conhecimento e a religião foram vistos pelos participantes como sendo os três aspectos mais importantes da felicidade.
Agora, a segurança continua entre os três primeiros colocados, com o bom humor e o lazer em primeiro e segundo lugares.
A religião, por sua vez, que era vista como o terceiro fator mais importante para a felicidade em 1938, caiu para décimo lugar - o último lugar, já que os participantes contavam com as mesmas 10 opções da pesquisa original.
Outra diferença marcante é que, em 1938, a maioria das pessoas afirmou que era mais feliz quando estava na cidade, mas agora 63% afirma que seria mais feliz longe da cidade.
Quando se trata da sorte, em 1938 e agora, 40% das pessoas acreditam que ela é importante para a felicidade.
Na atualidade, 77% responderam "Não" à pergunta "Você acha que suafelicidade está diretamente ligada a bens materiais e riqueza?".
Fonte: Diário da Saúde

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Como a sua profissão afeta o seu cérebro

                                cerebro_mecanismos
O seu trabalho influencia aspectos da sua vida que vão muito além daquelas oito horas que você passa na firma – pode afetar sua saúde, sua vida familiar e até determinar o tipo de pessoas com quem você anda e o tipo de lugar que frequenta. Mas um estudo publicado nesta quarta-feira (29) na Neurologyjornal médico da Academia Americana de Neurologia, indica que ele faz ainda mais: pode determinar como o seu cérebro vai envelhecer.
Os pesquisadores acompanharam 1.054 pessoas com mais de 75 anos por oito anos. Eles passavam, a cada 18 meses, mais ou menos, por um teste clínico chamado “Mini-Mental State Examination” (MMSE), que media sua memória e habilidades de raciocínio.
Os participantes também tiveram que contar sua história profissional e categorizar as tarefas que desempenhavam no trabalho em três grupos: executivo (inclui programar trabalhos e atividades, desenvolver estratégias e resolver conflitos), verbal (envolve avaliar e interpretar informações) e fluido (inclui aquelas tarefas que exigem atenção seletiva e análise de dados).
A conclusão foi que profissionais cujos empregos exigem mais atividades verbais, desenvolvimento de estratégias, resolução de conflitos e atividades gerenciais podem apresentar melhor proteção contra o declínio da memória e do raciocínio decorrente da velhice.
“Nosso estudo é importante porque sugere que o tipo de trabalho que você faz toda a sua carreira pode ter um significado ainda maior em sua saúde cerebral do que a educação que você teve”, afirmou ao Medical Xpress a autora, Francisca S., da Universidade de Leipzig, na Alemanha. “A educação é um fator bem conhecido que influencia o risco de demência”, completa.
Nos testes de memória e raciocínio, aqueles cujas carreiras tinham o nível mais alto dos três tipos de tarefas marcaram dois pontos a mais em relação às pessoas com nível mais baixo. É importante notar que, nos testes MMSE, uma pequena diferença em pontos faz muita diferença na prática. Eles também tiveram a taxa mais lenta de declínio cognitivo: durante os oito anos em que foram acompanhados, sua taxa de declínio foi a metade da taxa dos outros participantes. As tarefas que mais pesaram para essa diferença foram as executivas e verbais.
Isso quer dizer que ter um trabalho desafiador pode significar um futuro saudável para o seu cérebro. Nas palavras da autora do estudo: “Esses desafios podem ser um elemento positivo, se ajudarem a construir a reserva mental de uma pessoa no longo prazo.”
Fonte: Super Interessante

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Aprendendo a pensar

Pesquisadores constatam que desde cedo crianças comparam características e se lembram do que viram e ouviram

                                                
Ainda que os bebês quase não falem antes de 1 ano, estudos mostram que eles já pensam, têm capacidade de memorização e conseguem fazer comparações que os ajudam a organizar suas experiências – preparando-se para acumular outras. Com isso, organizam o ambiente em que vivem. “A quantidade de novas impressões adquiridas pelo recém-nascido é incontável e surge o tempo todo, ameaçando sobrecarregar seu cérebro – daí a urgência dessa organização”, explica Sabina Pauen, professora de psicologia do desenvolvimento da Universidade de Heidelberg, na Alemanha. “Para dar certa ordem a esse volume de informações, o bebê separa tudo em categorias, como se as distribuísse em gavetas em seu intelecto”, explica. Assim, a criança não precisa reaprender todas as características daquilo que surge em sua vida, mas pode transferir sua experiência com determinado objeto para outros ainda desconhecidos. Ao ver um caminhão, por exemplo, ela o aproxima mentalmente de um ônibus. Também é comum que no momento em que os pequenos criam a categoria “cadeira”, passem a reconhecer imediatamente o mesmo objeto como um “lugar para sentar”, ainda que com cor e forma diferentes e a peça esteja em uma casa desconhecida.

Como a categorização ocorre na fase em que os pequenos desenvolvem a capacidade óptica de forma plena, a hipótese mais provável é que se orientem, em especial, pela aparência do que veem. Nesse caso, provavelmente conseguem agrupar primeiro o que tem aparência similar e, ao mesmo tempo, é bastante diverso de outros objetos – ou seja, classes como gatos, cachorros, cadeiras ou mesas, identificadas de forma básica. Em contraposição, categorias globais como animais, móveis ou veículos motores seriam mais complicadas de organizar, pois incluem objetos de aparência muito variada.

“Nossas experiências, porém, chegaram ao resultado oposto: categorias globais são diferenciadas antes de básicas”, afirma Sabina. Segundo ela, não é apenas a semelhança externa que determina a divisão em categorias, pois crianças de 11 meses conseguem distinguir tanto os modelos de animais e móveis aparentemente muito semelhantes como aqueles que apresentam todas as diferenças naturais entre as duas classes de objetos. “Bebês com mais idade, portanto, constroem novas categorias não apenas por meio de uma abstração visual, já que, do contrário, teriam categorizado melhor os modelos mais fáceis de diferenciar”, afirma. Algo, porém, intrigava a pesquisadora: afinal, o que guia a categorização? Os conhecimentos e as experiências prévias teriam algum papel aqui? Nesse caso, animais apresentados aos pequenos voluntários em fases iniciais dos testes deveriam fazê-los se lembrar de bichos de verdade. A favor de tal suposição existe o fato de que as crianças que crescem em companhia de um gato ou de um cachorro são capazes de distinguir esses animais aos 9 meses, enquanto aquelas sem essa experiência não conseguem executar tal tarefa nem mesmo aos 11. Independentemente do que orienta o bebê para a categorização, é necessário que ele consiga imaginar as coisas de alguma forma, o que os psicólogos denominam “formação de representação mais estáveis” (uma ideia persistente e com consistência a respeito de algo).

Quem convive com crianças pequenas percebe, a todo momento, que muito antes de dominar as palavras e construir frases elas já se recordam concretamente de objetos e pessoas e estruturam tal lembrança em pensamento. Por volta do 7o mês, por exemplo, surge o medo de gente desconhecida: muitos já não vão para o colo daqueles que não conhecem, como faziam antes, preferindo claramente os mais próximos. Isso significa que já conseguem diferenciar os conhecidos dos estranhos e já reconhecem a mãe até em fotos, identificam as pessoas pela aparência e recorrem a experiências para interpretar o que veem.

Isso, porém, não explica como constroem categorias globais. O que faz com que bebês sejam capazes de distinguir seres vivos de coisas inanimadas? Aqui a teoria da evolução nos dá uma dica. Animais e humanos podem significar perigo ou solicitude à criança indefesa. Por isso, é aconselhável observar seres vivos com mais atenção que objetos – e para tanto é necessário primeiro saber diferenciá-los. Nesse caso, provavelmente, são ativados comportamentos de percepção natos. Por isso, recém-nascidos se interessam especialmente por rostos e preferem observá-los a outras coisas com padrões de complexidade semelhante. Esse interesse próprio dos bebês por movimentos em seu campo de visão os ajuda a perceber logo a diferença entre seres vivos e coisas. Dessa maneira, já nos primeiros meses de vida eles aprendem que nem tudo consegue se movimentar sozinho.

CHUTAR O MÓBILE

Vários estudos têm demonstrado que a capacidade de aprendizagem já se inicia no período fetal. A memória, uma das funções cognitivas fundamentais, desenvolve-se, desde antes do nascimento, de forma quantitativa e qualitativa, paralelamente à maturação cerebral. Segundo a psicóloga Flavia Heloísa dos Santos, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Assis, o recém-nascido é predisposto a registrar e recordar importantes sinais biológicos, como as expressões faciais e a fala.

Recém-nascidos expostos à mãe por apenas algumas horas olham mais profundamente para a face dela que para a de estranhos. A autora cita uma série de pesquisas feitas com bebês nas quais foi usado o paradigma de resposta do chute de um móbile em movimento, o que demonstra que os sistemas de explícito e implícito da memória de longo prazo se desenvolvem no mesmo espaço de tempo – e não sequencialmente. A memória explícita, de caráter consciente e intencional, armazena fatos, nomes e eventos; já a implícita relaciona-se aos hábitos e habilidades adquiridos.

O tempo médio de retenção, quando a informação é repetida várias vezes (como no caso do movimento do móbile), expande-se com a idade. “Aos 2 meses dura cerca de 2 dias, aos 9 aumenta abrupta e progressivamente; e com 1 ano e meio alcança 13 semanas”, afirma a neuropsicóloga clínica Mônica Carolina Miranda, doutora em ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil da instituição. Ela lembra que a retenção mnêmica de eventos também mostra padrão específico. Por exemplo: aos 3 meses, o bebê já guarda informações sobre lugares onde ocorreram determinados acontecimentos; aos 6, incorpora algumas informações de ordem temporal dos fatos. “As experiências de vida no período neonatal, como as sensações relacionadas à fome, ativam vias neurais específicas com a respectiva associação límbica, modulando o humor e a emoção”, ressalta. São esses padrões rudimentares de atividade neural que fornecerão a base do desenvolvimento psicológico da criança, permitindo entender de que forma os bebês acumulam experiências iniciais e como isso afetará seu comportamento mais tarde.

Outro processo cognitivo, de extrema importância, é o desenvolvimento da atenção. O neuropsicólogo Alexander R. Luria (1902-1977), especialista em psicologia do desenvolvimento, enfatizou que a atenção, principalmente a voluntária, não é de origem biológica – mas um ato social. A concentração da criança nos primeiros meses de vida é mais elementar e involuntária, já que atraída pelos estímulos que lhe são biologicamente significativos. No final do primeiro ano de vida, quando a mãe, ou outro adulto próximo, nomeia um objeto e o aponta, a atenção do bebê é atraída para ele – e isso se dá por meio da comunicação social, palavras ou gestos, estágio fundamental do desenvolvimento infantil, base do comportamento direcional, organizado.

“Podemos pensar que o desenvolvimento cognitivo não é contínuo e homogêneo, depende da interação entre os múltiplos fatores de crescimento das áreas cerebrais, do grau de mielinização da evolução pré-natal e das possibilidades que o cérebro imaturo tem de reorganizar padrões de respostas e conexões por meio de novas experiências”, diz a neuropsicóloga Maria Elisa Prado. Há ainda as influências ambientais. Como centro do pensamento, das emoções, dos planos de ação e da autorregulação da mente e do corpo, o cérebro passa por um longo processo de crescimento – que de fato dura a vida inteira. Esse desenvolvimento é mais intenso nos primeiros anos e bastante acelerado no decorrer da infância até a fase da adolescência e do início da vida adulta. Isso quer dizer que as experiências precoces têm impacto profundo sobre o potencial subsequente de cada pessoa.

BARREIRAS DOS SÍMBOLOS

Outro passo importante no desenvolvimento mental infantil é passar a pensar simbolicamente – algo que envolve, além da memória, habilidades de raciocínio e observação. Dada a complexidade desse processo, as crianças pequenas tendem a “misturar” objetos reais e seus símbolos logo que percebem que uma coisa pode representar outra. “A capacidade de criar e operar uma grande variedade de representações é o que mais distingue os humanos de outras criaturas. Essa habilidade nos permite transmitir informações de uma geração a outra, o que torna possível a cultura e a aquisição de repertório sobre certos assuntos sem ter a experiência direta”, afirma a psicóloga Judy S. DeLoache, doutora em desenvolvimento infantil, professora das universidades de Virgínia e Illinois. “Temos conhecimento dos dinossauros apesar de jamais termos visto um de verdade; por causa desse papel fundamental da simbolização, talvez nenhum aspecto do desenvolvimento humano seja mais importante do que a compreensão dos símbolos”, diz.

O primeiro tipo de objeto simbólico que os bebês dominam é a figura, embora ela os intrigue. O problema deriva da dualidade inerente a todos os objetos simbólicos: eles são reais e, ao mesmo tempo, representações de outra coisa. Judy alerta para o fato de que numa sociedade como a nossa, tão rica em imagens, a maioria das crianças tem acesso diário a fotos e ilustrações. Dessas interações, aprendem de que modo as figuras diferem dos objetos e passam a reconhecer esse material como fontes de contemplação – e não de interação. Mas são necessários vários anos para serem completamente compreendidas. O pesquisador John H. Flavell, da Universidade Stanford, descobriu, por exemplo, que até os 4 anos muitas crianças pensam que virar de cabeça para baixo uma figura de tigela com pipoca faz a pipoca cair do recipiente.

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

Disponível em: http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/aprendendo_a_pensar.html. Acesso em: 8 mai. 2015

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Raiva do jeito certo faz bem

O segredo parece estar na clareza de quando, onde, como e por que dar vazão a essa emoção – sem que ela nos controle
              
lguns autores argumentam que a raiva tem seu lado positivo, desde que seja usada de maneira adequada.“Qualquer um pode irritar-se, isso é fácil; difícil é zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, no momento certo, com o propósito certo”, escreveu Aristóteles, há mais de 2 mil anos, em sua obra clássica A arte da retórica. Ter essa medida, entretanto, não é fácil. Justamente por isso tendemos a associar a ira ou mesmo a irritação à destrutividade – o que é bastante compreensível, já que essa emoção realmente pode destruir relacionamentos e carreiras profissionais. O segredo para reverter esse quadro pouco promissor parece estar na clareza a respeito de quando, onde, como e por que dar vazão a essa emoção – sem que ela nos controle.
Um estudo particularmente interessante sobre a raiva veio na esteira dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos. A psicóloga Jennifer Lerner, atualmente na Universidade Harvard, reuniu informações sobre as emoções e atitudes de aproximadamente mil americanos adultos e adolescentes apenas nove dias após os atentados e continuou o acompanhamento nos anos subsequentes. Ela descobriu que as pessoas que se sentiram irritadas com o terrorismo foram mais otimistas sobre o futuro do que aqueles que simplesmente tinham medo de novos ataques. Os homens do estudo se mostravam mais irritados que as mulheres e eram geralmente mais otimistas. Em um estudo de laboratório, publicado no periódico científico Biological Psychiatry, Jennifer Lerner descobriu que aqueles que sentem raiva em vez de medo numa situação estressante têm resposta biológica menos intensa, com menor variação da pressão arterial e dos níveis de hormônios do estresse. Isso mostra que, quando você está em uma situação enlouquecedora e sua raiva é contextualizada, a emoção não é necessariamente ruim – desde que fique restrita àquela situação.
“Por sua natureza, a raiva tende a ser uma emoção bastante energizante e, desde que bem encaminhada, pode ajudar a promover mudanças na vida pessoal e social”, diz o psicólogo Brett Ford, na Universidade da Califórnia em Berkeley. Por exemplo: sentir raiva da própria preguiça ou impulsividade, que constantemente trazem problemas à própria pessoa, pode alavancar a mudança desses comportamentos. Nesse caso, a raiva tem o importante papel de criar uma separação psíquica entre o eu e aquilo que incomoda – no caso, a preguiça ou impulsividade. Essas características não “são” a pessoa e, dessa maneira, podem ser arrefecidas, transformadas. É como se a ira estivesse direcionada para curar em vez de ferir. Mas é importante respeitar o “prazo de validade” da raiva. Remoer a irritação (ainda que seja consigo mesmo, com atitudes depreciativas e autopunitivas), sem se direcionar para alterar aquilo que incomoda, costuma ser meramente autodestrutivo.
A raiva pode ser de vital importância também para mobilizar apoio para um movimento social. A psicóloga Nicole Tausch, professora da Escola de Neurociência e Psicologia da Universidade de St. Andrews, no Reino Unido, afirma que em contextos políticos, principalmente quando as pessoas se engajam em manifestações pacíficas na esperança de convencer o adversário a corrigir injustiças sociais, a raiva pode sinalizar que os participantes se sentem ligados e representados pelo sistema político. “Expressões de raiva durante os protestos podem ser vistas não como ameaças ao sistema, mas como sinais de uma democracia saudável”, afirma.
Um estudo recente conduzido pelo psicólogo Andrew Livingstone, da Universidade de Stirling, no Reino Unido, enfatiza a ideia de que, em caso de ameaça, a raiva pode ter efeito protetor, fazendo com que as pessoas se mobilizem para se proteger não só a si mesmas, mas também umas às outras. Para chegar a essa conclusão, sua equipe trabalhou com dois grupos de pessoas: no primeiro deles, os participantes tinham em comum a procedência do sul do País de Gales; no segundo, a formação era aleatória. Nos dois casos, foram medidas as reações emocionais desencadeadas nos participantes ao se dizer que o governo retiraria o apoio oferecido a moradores do sul do País de Gales. Irritadas, as pessoas passaram a se articular buscando formas de reverter esse quadro.
Gláucia Leal é jornalista, psicóloga, psicanalista e editora-chefe de Mente e Cérebro

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

Quando o álcool modifica o cérebro

Desvendar a dinâmica neurobiológica pode ser muito útil na luta contra os problemas graves relacionados à bebida
                          
Compreender como o álcool altera a química do cérebro oferece aos pesquisadores e aos próprios pacientes possibilidades mais eficientes de controlar a dependência. Pessoas que já tiveram problemas graves com a bebida e se mantêm sóbrias são, em geral, aquelas que aprenderam a conhecer a si mesmas, as próprias reações e as formas de lidar com as dificuldades. Nesse processo, levam vantagem aqueles que encaram um grande inimigo, capaz de fragilizar os melhores propósitos: o condicionamento do cérebro. Diante de situações em que estímulos (um local, por exemplo) ou emoções (como a frustração) remetem a circunstâncias anteriores em que a pessoa recorreu ao álcool, fica difícil resistir caso não esteja preparada para enfrentar o desafio. Nesse sentido, a compreensão do que acontece no próprio cérebro nos momentos críticos favorece o autocontrole. Duas situações mencionadas a seguir são bastante ilustrativas.
H., de 36 anos, não havia ingerido uma gota de bebida durante semanas graças a um programa de abstinência, mas uma simples caminhada noturna na qual passasse em frente a determinado bar apagava quase por completo sua vontade de permanecer sóbrio. Durante o dia ele não sentia o desejo de beber, mas, ao passar pelo estabelecimento à noite – via a luz aconchegante através das janelas e ouvia o tinir dos copos –, H. sentia uma forte tentação de entrar e pedir uma cerveja. Pesquisadores de dependências chamam esse fenômeno de “desejo condicionado”. Se uma pessoa sempre consumiu álcool numa mesma situação, um estímulo familiar tornará a sensação de necessidade da substância quase irresistível. Então, mesmo depois de anos de abstinência, consumir um único drinque pode desencadear um desejo poderoso de beber mais e mais.
A história de outro paciente, K., de 29 anos, ilustra outra tentação comum. O rapaz havia abandonado o álcool e estava indo bem, mesmo depois de ter sido demitido do trabalho e começado a receber o seguro-desemprego. Mas, numa visita ao local onde tratava dos assuntos relacionados ao desemprego, no centro da cidade, um funcionário se recusou a aprovar seu benefício por causa de um detalhe burocrático. Enquanto estava parado na plataforma do metrô esperando o trem para casa, ele de repente começou a transpirar e tremer e lembrou-se de que muitas vezes tomara algumas doses em situações de tensão. E, nesse momento, seu cérebro – moldado pela experiência – esperava o efeito calmante do álcool. Quando a droga não veio, K. começou a sofrer aquilo que os especialistas chamam de “crise de abstinência condicionada”.
A crise de abstinência e o desejo condicionados são produzidos no cérebro por mecanismos diversos – e nos últimos anos os neurocientistas têm investigado a fundo os dois fenômenos. Saber como o consumo rotineiro de álcool transforma os circuitos do cérebro de forma a levar à dependência ajuda no desenvolvimento de medicações e técnicas psicoterápicas mais eficientes para o tratamento do alcoolismo.
ANDREAS HEINZ é neurocientista, diretor da Clínica de Psiquiatria e Psicoterapia da Universidade Charité, em Berlim.

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Paracetamol inibe a dor, mas também as emoções, diz pesquisa

Segundo o jornal The New York Times, a pesquisa foi feita com 85 pessoas que tomaram 1.100 miligramas do remédio ou de um placebo

                                
Um estudo feito recentemente mostrou que o paracetamol (Tylenol), remédio muito usado contra a dor, também pode deixar as pessoas as pessoas mais insensíveis a emoções, sejam elas positivas ou negativas. O estudo foi publicado no periódico Psychological Science. 
Segundo o jornal The New York Times, a pesquisa foi feita com 85 pessoas que tomaram 1.100 miligramas do remédio ou de um placebo. Horas depois, os pesquisadores apresentaram a eles 40 imagens em ordens aleatórias. As imagens podia ser agradáveis (crianças com gatinhos), neutras (rolo de macarrão sobre uma mesa) ou desagradáveis (vaso sanitário com excrementos).
Os participantes que tomaram Tylenol estavam 20 por cento menos propensos a classificar as imagens como sendo muito desagradáveis e dez por cento menos propensos a classificá-las como bastante agradáveis, comparando com os participantes que tomaram placebo.
Pesquisas anteriores sugeriram que o paracetamol reduz a dor atuando na ínsula, a parte do cérebro que influencia, entre outros, as emoções sociais.
"Não queremos dar conselhos sobre o uso do paracetamol. Essas diferenças são modestas e foram obtidas em um ambiente muito controlado. Recomendamos seguir o conselho de seu médico para o controle da dor com o Tylenol", explica o doutorando de Psicologia da Universidade Estadual de Ohio Geoffrey R.O. Durso.
Fonte: Correio da Bahia
Disponível: http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/paracetamol-inibe-a-dor-mas-tambem-as-emocoes-diz-pesquisa/?cHash=5430a84f35198acf6ac4cba9fe6474be

Trauma pode deixar heranças biológicas

Filhos de sobreviventes do holocausto apresentam alteração nos níveis de hormônios do estresse



É possível que uma grande tragédia cause impactos tão profundos em uma pessoa a ponto de a “memória biológica” do trauma ser transmitida para seus descendentes? Um grupo de pesquisa da Escola Icahn de Medicina Monte Sinai considera que sim. A equipe liderada pela psicóloga Rachel Yehuda estuda epigenética – a influência de fatores ambientais sobre a expressão dos genes –, concentrando-se no efeito intergeracional de experiências traumáticas em famílias de sobreviventes de tragédias em massa, como o Holocausto. Uma das descobertas é que filhos de judeus que escaparam do genocídio têm níveis alterados de hormônios do estresse em seu organismo.

Em um estudo prévio, o grupo de Yehuda mostrou que sobreviventes de campos de concentração apresentam, em comparação a adultos semitas da mesma idade que não tiveram essa vivência, níveis mais baixos de cortisol, um hormônio que ajuda o corpo a voltar ao normal após o trauma. Aqueles que sofreram de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) têm quantidades ainda mais baixas. 

Não está claro por que essas pessoas produzem menos cortisol, mas a equipe descobriu recentemente que os sobreviventes têm também níveis comparativamente mais baixos de uma enzima que decompõe o hormônio. A adaptação faz sentido: a redução da atividade enzimática garante mais cortisol livre no corpo, o que permite a fígado e rins aumentar reservas de glicose e combustíveis metabólicos – uma ótima resposta à fome prolongada e outras ameaças. Quanto mais jovens os sobreviventes eram durante a Segunda Guerra Mundial, menor era a quantidade da enzima apresentada na idade adulta. Os resultados fortalecem outros estudos epigenéticos com seres humanos que mostram que os efeitos de muitos anos e, em alguns casos, por gerações (veja quadro na pág. seguinte).


No estudo mais recente, com descendentes diretos de sobreviventes do Holocausto, o grupo de pesquisa da Monte Sinai observou que, como seus pais, muitos apresentavam baixas quantidades de cortisol, principalmente os que tinham mães com sintomas de TEPT. No entanto, ao contrário dos genitores, mostravam níveis médios mais elevados da substância que decompõe o hormônio. 


A autora e seus colegas acreditam que essa adaptação ocorre no estágio intrauterino, pois, em geral, a enzima está presente na placenta em níveis elevados para proteger o feto da circulação de cortisol na mãe. Se as sobreviventes grávidas tinham baixa quantidade da enzima nesse órgão, mais hormônio poderia chegar ao embrião, que, em seguida, desenvolveria níveis elevados da enzima para se proteger.

A autora do estudo afirma que as alterações epigenéticas podem servir para preparar biologicamente a prole para um ambiente semelhante ao dos pais. Nesse caso, porém, as necessidades do feto parecem ter superado esse objetivo. Com baixos níveis de cortisol e quantidades elevadas da enzima que o decompõe, muitos descendentes de sobreviventes do Holocausto não seriam bem adaptados para a privação de comida. De fato, esse perfil do hormônio do estresse poderia deixá-los mais suscetíveis ao TEPT (destacado em amarelo no quadro). Estudos anteriores sugerem que filhos de vítimas da perseguição aos judeus são mais vulneráveis aos efeitos do estresse e mais propensos a apresentar sintomas de transtorno de ansiedade. Podem apresentar também maior risco de desenvolver síndromes metabólicas relacionadas com a idade, como obesidade, hipertensão e resistência à insulina, particularmente em lugares onde há fartura. 

No entanto, os resultados desse estudo sobre epigenética e sistema de resposta ao estresse são preliminares. Ainda é muito cedo para determinar com certeza se as alterações moleculares de fato indicam riscos ou benefícios. “Os dados ainda não se encaixam completamente, estamos no início da pesquisa”, diz Yehuda.

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

Anvisa simplifica importação de canabidiol

Canabidiol
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) definiu novos critérios para simplificar a importação de produtos à base decanabidiol, um dos derivados da maconha, em casos de tratamentos de saúde.
Com a nova norma, a agência passará a adotar uma lista de produtos para os quais a importação será facilitada. Até agora, cinco deles, que representam cerca de 95% das importações já realizadas, fazem parte da lista.
Para esses produtos, não será mais necessária análise da área técnica da Anvisa. Com a decisão, os pedidos apresentados seguirão direto para autorização de importação da agência, o que deve reduzir os prazos para liberação. Para isso, os pacientes deverão estar cadastrados no órgão e renovar o registro anualmente.
Intermediário de importação
A Anvisa também definiu a possibilidade de indicação do intermediário que efetivamente importará o produto, como hospitais, prefeituras ou planos de saúde. Segundo o órgão, a possibilidade de intermediação poderá reduzir os custos para os pacientes.
A quantidade total de canabidiol prevista na receita médica poderá ser importada em etapas, de acordo com a conveniência dos responsáveis pela importação.
Extraído da cannabis sativa (maconha), o canabidiol, também conhecido como CBD, vem sendo usado no combate de convulsões provocadas por diversas enfermidades, entre elas a epilepsia. Em janeiro, a agência reguladora aprovou a reclassificação do canabidiol como medicamento de uso controlado e não mais como substância proibida.
Apesar da liberação, o processo para importar produtos com a substância ainda exige autorização excepcional. A Anvisa já recebeu 696 pedidos de autorização para importação de produtos à base de canabidiol, dos quais 621 já foram autorizados.
Fonte: Diário da Saúde

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Felicidade pode ser transmitida pelo suor

                                   Felicidade pode ser demonstrada e transmitida pelo suor


Sinais químicos da felicidade

Os seres humanos podem comunicar emoções positivas como a felicidade através do cheiro do suor.
Quem garante é Gün Semin, da Universidade de Utrecht (Holanda).
Segundo ele, quando experimentamos a felicidade nós produzimos compostos químicos - quimiossinais - detectáveis por outras pessoas que sintam o cheiro do nosso suor.
Embora estudos anteriores já tivessem mostrado que as emoções negativas relacionadas ao medo e ao nojo são comunicadas por meio de regularidades detectáveis na composição química do suor, as emoções positivas têm sido menos estudadas nesse aspecto.

Contágio da felicidade

"Nosso estudo mostra que a exposição ao suor produzido sob felicidade induz um simulacro da felicidade em receptores, e induz um contágio do estado emocional," explica Semin.
"Isto sugere que alguém que está feliz irá infundir a felicidade em outros ao seu redor. De certa forma, o suor da felicidade é como sorrir - é contagiante," acrescentou.
Os experimentos analisaram se o suor coletado de pessoas em um estado feliz iria influenciar o comportamento, a percepção e o estado emocional das pessoas expostas a esse suor, sem contato direto com as pessoas de quem o suor foi coletado.
Isto permitiu o benefício adicional de destacar a diferença entre avaliações de emoções que se baseiam nas palavras e na visualização da pessoa que se mostra feliz.

Contágio emocional

Segundo os pesquisadores, o contágio da felicidade por meio de quimiossinais pode explicar porque algumas medições indicam contágio emocional, enquanto outras não.
De acordo com eles, algumas emoções podem ser transmitidas de forma mais intensa por meio dos sinais químicos, enquanto outras requerem outras condições.

Fonte: Diário da Saúde

Disponível em: http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=felicidade-demonstrada-transmitida-pelo-suor&id=10526
. Acesso em: 24 abr. 2015 

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Quando o trabalho faz adoecer

O estresse pode causar desequilíbrio do sistema imunológico e distúrbios psicológicos

             
Dados da International Stress Management Association – Isma-Brasil revelam que mais de metade dos brasileiros economicamente ativos sofre com a sobrecarga profissional e com os excessos que a cercam. No dia a dia é necessário cumprir prazos restritos e demandas cada vez mais complexas, acompanhar mudanças tecnológicas, enfrentar avaliações de rendimento e ainda manter um relacionamento razoável com clientes, chefes e colegas. Isso sem falar da preocupação em se manter empregado. Adoecemos porque o estresse constante é interpretado pelo organismo como uma situação de perigo que pode desencadear desequilíbrios do sistema imunológico e distúrbios psicológicos.

Essa reação orgânica é compreensível se pensarmos que o sistema cerebral de resposta ao estresse é ativado em ocasiões que representem ameaças – e as adversidades muitas vezes são interpretadas como riscos. Se o equilíbrio interno, chamado de homeostase, é ameaçado, várias respostas imunológicas e comportamentais são acionadas para neutralizar forças perturbadoras e restabelecer o bem-estar. As reações adaptativas, porém, podem se transformar em fatores estressantes, causando alterações fisiológicas e psíquicas em situações de ameaça ou que exijam melhor desempenho.

O cérebro e o sistema imunológico enviam sinais um ao outro continuamente, em geral pelos mesmos “caminhos”, o que pode explicar como o estado mental influencia a saúde. Se ao longo da evolução humana o homem primitivo precisava se haver com as feras para sobreviver, hoje grande parte dos embates ocorre mesmo é nos meios profissionais – as “feras” que enfrentamos ou das quais nos escondemos estão em nosso cotidiano. E, nesse sentido, o estresse pode ser benéfico: nos ajuda a ficar em estado de alerta para entrar na “briga”. Ocasionalmente, funciona como energia motivadora, que nos permite lidar com as adversidades. Sem ele, aliás, não haveria possibilidade de reação aos estímulos, ficaríamos apáticos.

Mas se a situação de tensão é constante, o organismo sofre com o excesso – e surgem as doenças. Há casos extremos em que o estresse prolongado é capaz até mesmo de levar à morte. E hoje se sabe que o estresse não influencia apenas os indivíduos – também tem consequências culturais, sociais e econômicas. De forma geral, acredita-se que o prejuízo anual decorrente de faltas ao trabalho, baixa produtividade, acidentes e doenças causados pelo problema ultrapasse US$ 300 bilhões nos Estados Unidos e US$ 265 bilhões na Europa. “No Brasil estimamos que poderia haver uma economia de até 34% se fossem diminuídos os índices de estresse ocupacional”, acredita a psicóloga Ana Maria Rossi, especialista no estudo do estresse e presidente da Isma-Brasil. E ela aconselha: “Tirar férias apenas a cada 11 meses, por exemplo, costuma ser prejudicial; nesse intervalo o nível de estresse acumulado atinge patamares muito altos. Segundo a especialista, períodos menores de descanso, divididos ao longo do ano, podem ser mais benéficos à saúde.

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

Disponível em: http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/quando_o_trabalho_faz_adoecer.html. Acesso em: 22 abr. 2015

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O cérebro solitário

A solidão não é, apenas, a ausência de companhia; é uma percepção de isolamento que tem enormes implicações para a saúde, levando A depressão, dependência química ou transtornos alimentares

             

A percepção de que estamos conectados aos outros é algo vital para um ser humano, uma vez que, em nosso passado evolutivo, estar segregado do grupo significava menos acesso a fontes de alimento e a chances de acasalamento, e ainda levava a uma grande vulnerabilidade aos predadores. Estudos de antropólogos com sociedades caçador- -coletoras de pigmeus na África, por exemplo, demonstraram que os membros que são expulsos da comunidade passam a vagar solitariamente e têm grande probabilidade de morrer. Ou seja, ser solitário, no passado evolutivo de nossa pré-história, era uma condenação à morte e a não deixar descendentes.
Hoje, não temos mais os terríveis predadores do período Paleolítico superior, mas, de qualquer forma, a solidão torna muito improvável que se ache um parceiro. Para nosso cérebro que evoluiu na pré-história, a solidão é algo a ser evitado. A fome indica falta de nutrientes vitais, a dor física sugere alguma lesão nos tecidos, e, por essa razão, sentimos um conjunto de sensações desagradáveis que nos impulsiona a buscar algo para comer ou retirar a parte do corpo da situação que machuca. De modo semelhante, a solidão produz ansiedade e dor emocional que nos pressiona para buscar conexão com o grupo, algo essencial para nós humanos. Não é à toa que os biólogos colocam a espécie humana na categoria de ultrassociais, pois temos sociedades complexas onde dezenas de indivíduos cooperam em empreendimentos coletivos, assim como abelhas, formigas e cupins.
Mas o que acontece no cérebro solitário? Em nosso cérebro, existe uma região chamada Área Tegmentar Ventral, ou VT A, como é denominada em inglês, que está conectada com o núcleo accumbens, uma espécie de centro de prazer. Quando a VT A libera dopamina no núcleo accumbens, temos a sensação de prazer. Estudos recentes mostram que a VT A monitora a satisfação de necessidades vitais, como alimentação, acasalamento e laços sociais. Esse monitoramento é baseado em pistas fisiológicas do corpo e do cérebro. Por exemplo, liberamos bastante dopamina com sexo e orgasmo, mesmo usando camisinha. Isso acontece porque os sinais hormonais que são acionados fazem o cérebro interpretar que estamos aumentando a chance de deixar descendentes. Nesse caso, é uma sorte que nosso cérebro possa se enganar, mas, no caso da solidão, o engano do cérebro pode levar a inúmeras consequências negativas. A percepção de solidão aciona a ancestral reação de lutar ou fugir, pois é interpretada pelo cérebro como uma forte ameaça à sobrevivência e à reprodução.

Algumas pessoas são mais resistentes e não percebem o isolamento de forma estressante, possivelmente porque são descendentes de linhagens humanas de exploradores

Existe uma ampla gama de diversidade de reações individualizadas na percepção de solidão. Algumas pessoas são mais resistentes e não percebem o isolamento de forma estressante, possivelmente porque são descendentes de linhagens humanas de exploradores. Os exploradores, personalidades com intensa busca de novidades e pouco medo do desconhecido, foram figuras importantes nos grupos sociais do passado.
Numerosos estudos têm mostrado que a solidão é responsável por um leque de problemas de saúde, contribuindo para a doença de Alzheimer, transtornos do sono, aumenta o risco de demência e morte prematura, e é uma das principais causas de depressão. Um estudo revelou que a solidão causa uma expressão exagerada nos genes em células cardíacas, e estas produzem uma reação inflamatória que lesiona o tecido do coração. Quando falamos que a solidão pode partir o coração, não é apenas uma metáfora.
Neurocientistas descobriram que a percepção de exclusão usa a mesma rede da dor física no cérebro. Ou seja, a solidão dói, literalmente. O importante neurotransmissor serotonina é reduzido quando a pessoa sente solidão, dificultando o controle de pensamentos, emoções e impulsos. Isso diminui as funções executivas e aumenta a dificuldade de inibir impulsos de prazer imediato, como comer em excesso, beber ou usar drogas. Segundo John Cacioppo, neurocientista da Universidade de Chicago, a solidão encoraja o consumo de mais gordura e açúcar na dieta, alcoolismo, sedentarismo e uso de drogas. Isso faz sentido se pensarmos que a solidão dói e que as pessoas tendem a fazer coisas que aliviam essa dor, como lançar mão de estratégias mais imediatistas para se sentir melhor. Para um cérebro imediatista que precisa desesperadamente de dopamina, a decisão de comer mais uma fatia de torta pode acabar se tornando a mais atrativa naquele momento. Portanto, a solidão pode impulsionar uma espiral descendente de comportamentos que aliviam a dor do isolamento no primeiro momento, mas que, em um segundo estágio, aumentam, mais ainda, a solidão.
É comum que as pessoas que sentem solidão não tenham falta de atratividade ou de habilidades sociais, pois é a percepção de isolamento e os pensamentos e crenças, muitas vezes distorcidos, que realmente geram a sensação de estar desconectado. Nosso cérebro social faz comparações e pode interpretar que se está isolado e em uma posição inferior na hierarquia social, mesmo que, de fato, a pessoa esteja muito bem posicionada. Uma olhada no Facebook e alguns pensamentos distorcidos e chega-se à conclusão de que se está de fora, enquanto as pessoas estão integradas, postando fotos perfeitas, com vidas sociais intensas. O cérebro emocional e social não faz distinções finas e incorpora a percepção de isolamento, sem considerar que estamos vendo uma montagem de melhores momentos. Paradoxalmente, uma rede social pode contribuir para a solidão, ao induzir uma percepção exagerada da socialização dos outros e um sentimento de estar à parte da festa da vida.

Para saber mais:
Cacioppo, J. T.; S. Cacioppo. Social Relationships and Health: the Toxic Effects of Perceived Social Isolation. Soc Personal Psychol Compass, v. 8, n. 2, p. 58-72, 2014.

                         
Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências revolucionaram o modelo do processamento mental (Artmed, 2011)

Fonte: Revista Psique