A Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Nova Friburgo, por meio da Coordenação de Saúde Mental, realizará no próximo dia 22 de setembro (sábado), na Escola Municipal Hermínia da Silva Condack, em Campo do Coelho, das 11 às 16 horas, um evento para marcar o início do atendimento psicológico e psiquiátrico às crianças e aos adolescentes do distrito vítimas da tragédia climática de janeiro de 2011. Aos participantes do evento também será realizada uma Oficina sobre Resiliência. O tratamento psicológico para as crianças e jovens vítimas das chuvas é totalmente gratuito, e era realizado pelo município somente em Olaria, no Posto de Saúde Tunney Kassuga.
Conforme explicou a coordenadora de Saúde Mental da Fundação Municipal de Saúde, a psicóloga Elaine Gomes, foi observado que alguns pacientes atendidos em Olaria estavam com dificuldades, principalmente financeiras, para irem ao Posto de Saúde, por morarem distante. Assim, a solução encontrada pela Fundação Municipal de Saúde foi a de ampliar o atendimento ao Campo do Coelho, esta uma das áreas mais afetadas pelas fortes chuvas do verão de 2011 que deixaram um rastro de lama e sofrimento.
No dia do evento, no distrito de Campo do Coelho, haverá atendimento individual às crianças, aos jovens e aos familiares por uma equipe de cinco psicólogos e três psiquiatras da Associação Brasileira de Psiquiatria, que virão do Rio de Janeiro especialmente para fazer os atendimentos e são coordenados pelo médico Ricardo Krause. Alem disso, estão previstas atividades recreativas para o público poder se distrair enquanto aguarda a consulta e a Oficina de Resiliência.
“Também vamos ter a participação de artistas da TV Globo e artistas locais, como a Trupe da Alegria. O nosso objetivo é atrair o maior número possível de jovens e crianças que precisem desse tipo de apoio”, destacou Elaine Gomes, que disse ainda que após o evento os atendimentos prosseguirão sempre uma vez por mês, aos sábados, assim como já é feito no Posto de Saúde Tunney Kassuga, em Olaria.
A Oficina de Resiliência, que será realizada durante o evento, vai ajudar a comunidade a trabalhar a capacidade de enfrentamento aos obstáculos, no caso de uma emergência, sem a reprodução do pânico. Também vai auxiliar aos participantes a lidarem com situações do cotidiano que se tornaram muito difíceis, como uma mudança no tempo, em que os moradores de áreas de risco precisam saber lidar. Conforme explicou Eliane Gomes, a aproximação do Verão, que geralmente vem acompanhado por muitas chuvas, ainda deixa a população preocupada. “Por isso a importância da Oficina, para as pessoas estarem preparadas, principalmente emocionalmente, para procederem de forma segura, caso estejam em uma situação de emergência”, afirmou Elaine Gomes.
Toda a ação faz parte do Programa de Saúde Mental do Município, e é fruto de uma parceria firmada entre o município e a Associação Brasileira de Psiquiatria, e conta ainda com o apoio da Secretaria municipal de Educação, que forneceu o espaço da escola e todo o material a ser usado no dia do evento.
Segundo o programa, a ideia é partir para o atendimento em outros bairros. E, apesar de a parceria com a Associação terminar em 2014, os atendimentos prosseguirão nos postos de saúde do município, que já atendem vítimas adultas das chuvas do início do ano passado.
As pessoas interessadas não necessitam de encaminhamento para serem atendidas, mas é importante frisar que a demanda de atendimento é específica para os casos de descompensação decorrentes da tragédia, isso em crianças e jovens. A medicação prescrita é a que existe no rol de medicações fornecido pelo município, não criando, assim, um entrave para a manutenção do tratamento.
Paciência e Tratamento Médico: fortes aliados para a superação de traumas
Para a costureira Josiane Marques, o tratamento psicológico e psiquiátrico que o seu filho Matheus, de oito anos, vem fazendo está surtindo efeitos positivos para o garoto e para a rotina da família, que perdeu oito parentes no Alto do Floresta, depois da enxurrada de janeiro de 2011. O trauma provocado pela tragédia deixou marcas no garoto, estas que estão sendo superadas aos poucos com o auxílio da terapia e do tratamento médico, que é realizado há três meses no Posto Tunney Kassunga, em Olaria. “Matheus chegou a dormir 12 dias seguidos, e desmaiava frequentemente. Além disso, o medo o deixava paralisado, sem ação. Depois que ele começou o tratamento, há três meses, melhorou muito. Matheus voltou à escola—ele não conseguia ir desde a tragédia”, descreveu a costureira.
Apesar de a rotina estar quase normal, Josiane ainda prossegue sem trabalhar porque acompanha de perto o tratamento do filho. “Ainda preciso estar com ele; quando ameaça chover ou faz tempo ruim ele corre e se esconde. Eu preciso ficar junto dele. Aos poucos ele está voltando ao que era, mas é preciso paciência e o tratamento para ele ficar bom”, diz a mãe.
Síndrome do Pânico pode surgir muito tempo depois do evento traumático
Após a catástrofe do ano passado, a procura por atendimento psicológico e psiquiátrico para crianças e jovens não foi grande, mas cresceu progressivamente, pois a síndrome do pânico e o TEPT (transtorno de estresse pós-traumático) podem ocorrer meses ou anos depois do evento. Além disso, a proximidade do verão faz com que a possibilidade de novas chuvas aumentem a atenção para um novo evento climático, ocasionando, assim, aumento na sensação de insegurança e de ansiedade.
Nos casos de síndrome de ansiedade generalizada, o paciente apresenta um grupo de sintomas psicossomáticos que incluem flutuação no humor (irritabilidade), dificuldades na concentração da atenção e no ritmo do sono, sensação de ansiedade e angústia, distúrbios no apetite, hiperatividade e aumento da sensação de alerta.
Já a síndrome do pânico inclui a sensação de insegurança e a diminuição da capacidade de realizar tarefas antes cotidianas. A pessoa tem a sensação física de taquicardia, aumento da sudorese, sensação de formigamento nos membros, vertigem, náusea e a sensação de que vai perder o controle e que pode até mesmo morrer. Geralmente procuram o centro de urgência com a queixa de estar passando muito mal e com a sensação de morte iminente. Atualmente, esses pacientes contam com medicações que tratam especificamente estes sintomas, mas a terapia é fundamental para que as causas emocionais do distúrbio sejam encontradas e a pessoa possa novamente se sentir segura.
Disponível em: http://www.abp.org.br/portal/
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