O Centro de Atenção Psicossocial no Tratamento de Usuários de Álcool e Outras Drogas (Caps-ad), vinculado à unidade de saúde mental de Volta Redonda, atualmente atende um número aproximado de 120 mulheres. Muitas chegaram a iniciar o tratamento grávidas ou tiveram filhos durante o período. Atualmente, das envolvidas no programa, três estão em período de gestação. Uma delas é usuária de crack.
Usuária de drogas desde os 15 anos, período em que já fez uso de cocaína, maconha, álcool e crack, uma atendida pelo Caps-ad, que preferiu não se identificar, desafia o destino a cada dia. Grávida de três meses da sua sexta gestação, aos 36 anos, ela já é mãe de quatro filhos.
- Na minha última gestação, há nove anos, eu perdi a criança em razão do uso abusivo da droga e porque tive tuberculose. Durante a gestação dos meus quatro filhos, continuei sendo usuária de drogas e álcool, mas graças a Deus eles nasceram saudáveis. Hoje com idades entre 9 e 18 anos, eles são a razão da minha luta. Vivo com eles e meu marido, que também sempre me apoia - desabafou.
Segundo ela, foi a partir da gestação do segundo filho que começou a frequentar o Caps-ad, mas em razão da dependência, não fazia o tratamento corretamente. Apesar disso, durante o período em que os outros filhos nasceram, teve o acompanhamento dos serviços assistenciais de saúde, mas ainda não levava a sério.
Somente quando o Conselho Tutelar tentou separá-la das crianças e quando foi presa, em razão de brigas com parentes e vizinhos, ela resolveu procurar ajuda.
- Eu me arrependo de tudo de ruim que causei e estou aprendendo a me valorizar mais. Estou me preocupando mais com a saúde do meu filho que vai nascer. Pretendo tocar a minha vida junto dos meus filhos e do meu marido e continuar o tratamento, que tem me ajudado muito a crescer como pessoa - afirmou, acrescentando que atualmente faz o pré-natal de alto risco na Policlínica da Mulher e participa dos programas e oficinas terapêuticas no Caps.
- Graças às terapias medicamentosas, estou conseguindo me manter limpa e me sentindo mais responsável e confiante na minha recuperação - disse.
Policlínica da Mulher acompanha a gestante até o nascimento
A médica ginecologista Juliana Monteiro Ramos Coelho, coordenadora do Programa da Mulher, afirma as três gestantes usuárias de drogas estão sendo assistidas pela Policlínica da Mulher. Nestes casos, elas são encaminhadas para o pré-natal de alto risco (PNAR), que atende diversos tipos de patologias além da dependência química. Durante a sua gestação, a paciente é acompanhada do pré-natal até o nascimento da criança. Já após o parto, ela continua fazendo o tratamento no Caps-ad.
- Após identificar que a gestante é usuária de drogas, ela é encaminhada para o psicólogo que verifica a necessidade ou não de ela ser atendida pelo Caps-ad. Também é criada toda uma assistência multidisciplinar tanto da policlínica como da própria rede, com psiquiatra, assistente social, enfermeiro e técnico. Já a parte obstétrica é feito pela policlínica - apontou.
Juliana afirmou que durante a gestação de uma usuária de drogas, ela corre diversos riscos que podem comprometer a sua saúde e a do bebê. Entre eles, uma overdose, acidente por causas externas, depressão e pré-eclampse ou eclampse. Para o bebê, a droga pode provocar sofrimento fetal, abatimento, parto prematuro, descolamento pré-materno de placenta. E após o parto, o bebê sofre de abstinência pela falta da droga - o mesmo ocorre com o alcoolismo. Depois de nascer, a criança é acompanhada pela rede da atenção básica do município.
Trabalho por um futuro melhor
O serviço do Caps-ad é responsável pelo tratamento de usuários que fazem uso abusivo de substâncias psicoativas como crack, álcool e outras drogas. No total, são cerca de 620 pessoas cadastradas. O atendimento também pode ser dado através das UBS (Unidade Básica de Saúde) e UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família). De acordo com psicóloga Lilian Carvalho Varela, coordenadora da área técnica de saúde mental, para casos de situações de desintoxicação aguda por álcool e outras drogas e síndrome de abstinência, o atendimento pode ser feito em hospitais.
O projeto terapêutico para o uso de droga é sempre individual. No caso das gestantes é feito uma articulação com o programa PNAR (pré-natal de alto risco), desenvolvido na Policlínica da Mulher. No caso do Caps-ad, é trabalhado o uso da droga e na Policlínica da Mulher a parte da gestação.
- Das três pacientes, duas já estavam em tratamento quando engravidaram e uma já foi encaminhada grávida, por meio do serviço de atenção básica após ser constatado o uso indevido da droga - informou Lilian.
De acordo com a assistente social Karla Elaine Alves, coordenadora do Caps-ad, os atendimentos tanto das pacientes gestantes ou não gestantes são feitos prioritariamente em grupos com oficinas terapêuticas, grupos de famílias e assembleias de usuários. No entanto, dependendo do usuário, ainda são realizados atendimentos individuais.
Com relação às grávidas, após o nascimento da criança, elas continuam sendo acompanhadas pelo programa de saúde mental, já o bebê é monitorado pela rede de atenção básica do município.
- Observa-se que durante o período gestacional, a maior parte das usuárias do programa diminui o consumo da droga em consideração a criança; apesar de o crack ser preocupante, das 120 mulheres cadastradas, 60% são usuárias de drogas ilícitas junto com o álcool, que ainda predomina - alertou.
Com relação ao tempo de permanência no tratamento, Karla diz que varia de acordo com cada projeto terapêutico individual. Muitas vezes a paciente permanece cadastrada por um período no caso de tratar-se de uma doença crônica.
A coordenadora ainda explica que a metodologia usada no Caps-ad é preconizada pelo Ministério da Saúde e consiste no acolhimento contínuo do usuário e na promoção de saúde e reinserção social independente da abstinência da droga. Além de eliminar também alguns agrados à saúde e sociais.
Fonte: Diário do Vale via Associação Brasileira de Psiquiatria
Disponível em:<http://abp.org.br/2011/ medicos/imprensa/clipping-2>. Acesso em: 04 set. 2012.
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