A denúncia do pretenso aspecto fixo e binário de categorias como feminino e masculino, contido nas explicações biológicas para as diferenças cognitivas entre os sexos, tem no conceito de gênero parte do reconhecimento do caráter social e historicamente construído das desigualdades fundamentadas sobre as diferenças físicas e biológicas.
Nos dicionários brasileiros, o termo gênero é definido como uma forma de classificação e como o modo de expressão, real ou imaginário, dos seres. A partir da década de 80, o conceito de gênero foi incorporado pela sociologia como referência à organização social da relação entre os sexos. A elaboração desse conceito ainda recebe forte influência de áreas como lingüística, psicanálise, psicologia, história e antropologia, responsáveis por demonstrar a variabilidade cultural dos comportamentos, aquisições e habilidades considerados femininos e masculinos. Isso significa que masculinidades e feminilidades plurais são configuradas fundamentalmente pela cultura.
Na década de 90, os estudos da historiadora americana Joan Scott influíram significativamente nos estudos brasileiros de gênero, nas reflexões críticas sobre educação, bem como no saber produzido acerca das diferenças sexuais e dos vários sentidos que esse conhecimento adquire nos distintos espaços de socialização, entre os quais as instituições responsáveis pela educação.
A adoção da perspectiva de gênero, seja em estudos acadêmicos, seja nos espaços de construção de socialização variados, requer o reconhecimento de que as mulheres e os homens não são iguais, as relações que estabelecem são assimétricas, não existe um único modelo de masculinidade ou de feminilidade e as relações de poder perpassam também os relacionamentos entre mulheres e homens.
Gênero remete então à dinâmica da transformação social, aos significados que vão além do corpo e do sexo biológico e que subsidiam noções, idéias e valores nas distintas áreas da organização social: podemos encontrá-los nos símbolos culturalmente disponíveis sobre masculinidade e feminilidade, heterossexualidade e homossexualidade; na elaboração de conceitos normativos referentes aos campos científico, político, jurídico; na formulação de políticas públicas implantadas em creches e escolas; nas identidades subjetivas e coletivas. Ele permite reconhecer a tendência à naturalização das relações sociais baseadas na fisiologia dos corpos e enxergá-los como signos impressos por uma sociedade e por uma cultura.
Fonte: Revista Mente e Cérebro
Disponivel em: <http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/o_conceito_de_genero.html>. Acesso em: 20 out. 2011
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