A lista das substâncias que deveriam vencer as depressões, mas sempre ajudavam apenas alguns afetados, é muito longa. No decorrer dos séculos, os médicos testaram quase tudo o que influenciava o cérebro de alguma forma. O ópio já era considerado na antiga China um meio eficaz contra doenças do ânimo. Nos tempos modernos, os médicos europeus sistematizaram o tratamento: o britânico Thomas Sydenham (1624-1689) o misturou com álcool, produzindo láudano (do latim laudare = louvar). O “tratamento com ópio” devia curar a angústia e a melancolia. Mais tarde, as pessoas desistiram da droga devido ao grande risco de vício.
Com o álcool ocorreu algo semelhante. Em 1802, um médico londrino recomendava um pesado Borgonha, um bom vinho branco ou mesmo brandy contra a melancolia. A Cannabis e a cocaína também eram comumente utilizadas no século 19 como medicamento. A melancólica escritora britânica Virginia Woolf (1882-1941) usava o sonífero e calmante Veronal, um barbitúrico. Nos anos 50, entraram em voga as anfetaminas estimulantes. Em todas essas substâncias, o potencial viciante é extremamente alto.
Em 1953, causou sensação uma notícia que dizia que o medicamento utilizado para tuberculose, a iproniazida, também tinha efeito antidepressivo. Alguns anos mais tarde, porém, ele foi tirado do mercado, pois pode causar icterícia. Substâncias bastante semelhantes, denominadas inibidores MAO, até hoje fazem parte do arsenal terapêutico contra a depressão. Eles inibem uma oxidase (daí vem o “O”) – uma enzima que decompõe diversos mensageiros do cérebro do grupo da monoamina (daí o “MA”). Entre eles, encontram-se os transmissores serotonina, dopamina e noradrenalina.
Inibidores MAO fazem com que os neurotransmissores fiquem disponíveis por mais tempo nas sinapses das células nervosas. Infelizmente, eles também cruzam o caminho de outras oxidases, que, por exemplo, decompõem componentes nutricionais. As consequências podem ser dores de cabeça ou pressão sanguínea extremamente alta. Por isso, o consumo de queijo é tabu para pacientes tratados com inibidores MAO.
Ainda nos anos 50, a indústria farmacêutica suíça Geigy sintetizou uma série de substâncias semelhantes à clorpromazina, o primeiro medicamento contra esquizofrenia, e pediu a clínicos que as testassem. O médico Roland Kuhn experimentou a variante G22355 em 150 pacientes com diferentes doenças mentais. Por fim, ele obteve sucesso com depressivos em 1957.
A Geigy denominou a substância de imipramina e a ofereceu ainda no mesmo ano sob o nome comercial de trofanil. Esse foi o nascimento dos tricíclicos, que têm esse nome porque possuem três anéis de carbono. Eles representam, ao lado dos SSRIs, até hoje os antidepressivos mais importantes. Tricíclicos são eficazes, mas têm efeitos colaterais relevantes como obstipação e ressecamento das mucosas.
A mais nova geração de antidepressivos, os SSRIs, prometem principalmente menos efeitos colaterais. No entanto, segundo o farmacêutico Gerd Glaeske, ele apenas tem outros efeitos – por exemplo, problemas estomacais, falta de apetite ou perda da libido. Em 2008, um anúncio de que os SSRIs poderiam estimular o suicídio em crianças e jovens causou grande comoção. Desde então, há avisos a esse respeito nas embalagens dos remédios.
Fonte: Revista Mente e Cérebro
Disponível em: <http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/historia_dos_antidepressivos.html>. Acesso em: 22 nov. 2011
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