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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Paracetamol inibe a dor, mas também as emoções, diz pesquisa

Segundo o jornal The New York Times, a pesquisa foi feita com 85 pessoas que tomaram 1.100 miligramas do remédio ou de um placebo

                                
Um estudo feito recentemente mostrou que o paracetamol (Tylenol), remédio muito usado contra a dor, também pode deixar as pessoas as pessoas mais insensíveis a emoções, sejam elas positivas ou negativas. O estudo foi publicado no periódico Psychological Science. 
Segundo o jornal The New York Times, a pesquisa foi feita com 85 pessoas que tomaram 1.100 miligramas do remédio ou de um placebo. Horas depois, os pesquisadores apresentaram a eles 40 imagens em ordens aleatórias. As imagens podia ser agradáveis (crianças com gatinhos), neutras (rolo de macarrão sobre uma mesa) ou desagradáveis (vaso sanitário com excrementos).
Os participantes que tomaram Tylenol estavam 20 por cento menos propensos a classificar as imagens como sendo muito desagradáveis e dez por cento menos propensos a classificá-las como bastante agradáveis, comparando com os participantes que tomaram placebo.
Pesquisas anteriores sugeriram que o paracetamol reduz a dor atuando na ínsula, a parte do cérebro que influencia, entre outros, as emoções sociais.
"Não queremos dar conselhos sobre o uso do paracetamol. Essas diferenças são modestas e foram obtidas em um ambiente muito controlado. Recomendamos seguir o conselho de seu médico para o controle da dor com o Tylenol", explica o doutorando de Psicologia da Universidade Estadual de Ohio Geoffrey R.O. Durso.
Fonte: Correio da Bahia
Disponível: http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/paracetamol-inibe-a-dor-mas-tambem-as-emocoes-diz-pesquisa/?cHash=5430a84f35198acf6ac4cba9fe6474be

Trauma pode deixar heranças biológicas

Filhos de sobreviventes do holocausto apresentam alteração nos níveis de hormônios do estresse



É possível que uma grande tragédia cause impactos tão profundos em uma pessoa a ponto de a “memória biológica” do trauma ser transmitida para seus descendentes? Um grupo de pesquisa da Escola Icahn de Medicina Monte Sinai considera que sim. A equipe liderada pela psicóloga Rachel Yehuda estuda epigenética – a influência de fatores ambientais sobre a expressão dos genes –, concentrando-se no efeito intergeracional de experiências traumáticas em famílias de sobreviventes de tragédias em massa, como o Holocausto. Uma das descobertas é que filhos de judeus que escaparam do genocídio têm níveis alterados de hormônios do estresse em seu organismo.

Em um estudo prévio, o grupo de Yehuda mostrou que sobreviventes de campos de concentração apresentam, em comparação a adultos semitas da mesma idade que não tiveram essa vivência, níveis mais baixos de cortisol, um hormônio que ajuda o corpo a voltar ao normal após o trauma. Aqueles que sofreram de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) têm quantidades ainda mais baixas. 

Não está claro por que essas pessoas produzem menos cortisol, mas a equipe descobriu recentemente que os sobreviventes têm também níveis comparativamente mais baixos de uma enzima que decompõe o hormônio. A adaptação faz sentido: a redução da atividade enzimática garante mais cortisol livre no corpo, o que permite a fígado e rins aumentar reservas de glicose e combustíveis metabólicos – uma ótima resposta à fome prolongada e outras ameaças. Quanto mais jovens os sobreviventes eram durante a Segunda Guerra Mundial, menor era a quantidade da enzima apresentada na idade adulta. Os resultados fortalecem outros estudos epigenéticos com seres humanos que mostram que os efeitos de muitos anos e, em alguns casos, por gerações (veja quadro na pág. seguinte).


No estudo mais recente, com descendentes diretos de sobreviventes do Holocausto, o grupo de pesquisa da Monte Sinai observou que, como seus pais, muitos apresentavam baixas quantidades de cortisol, principalmente os que tinham mães com sintomas de TEPT. No entanto, ao contrário dos genitores, mostravam níveis médios mais elevados da substância que decompõe o hormônio. 


A autora e seus colegas acreditam que essa adaptação ocorre no estágio intrauterino, pois, em geral, a enzima está presente na placenta em níveis elevados para proteger o feto da circulação de cortisol na mãe. Se as sobreviventes grávidas tinham baixa quantidade da enzima nesse órgão, mais hormônio poderia chegar ao embrião, que, em seguida, desenvolveria níveis elevados da enzima para se proteger.

A autora do estudo afirma que as alterações epigenéticas podem servir para preparar biologicamente a prole para um ambiente semelhante ao dos pais. Nesse caso, porém, as necessidades do feto parecem ter superado esse objetivo. Com baixos níveis de cortisol e quantidades elevadas da enzima que o decompõe, muitos descendentes de sobreviventes do Holocausto não seriam bem adaptados para a privação de comida. De fato, esse perfil do hormônio do estresse poderia deixá-los mais suscetíveis ao TEPT (destacado em amarelo no quadro). Estudos anteriores sugerem que filhos de vítimas da perseguição aos judeus são mais vulneráveis aos efeitos do estresse e mais propensos a apresentar sintomas de transtorno de ansiedade. Podem apresentar também maior risco de desenvolver síndromes metabólicas relacionadas com a idade, como obesidade, hipertensão e resistência à insulina, particularmente em lugares onde há fartura. 

No entanto, os resultados desse estudo sobre epigenética e sistema de resposta ao estresse são preliminares. Ainda é muito cedo para determinar com certeza se as alterações moleculares de fato indicam riscos ou benefícios. “Os dados ainda não se encaixam completamente, estamos no início da pesquisa”, diz Yehuda.

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

Anvisa simplifica importação de canabidiol

Canabidiol
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) definiu novos critérios para simplificar a importação de produtos à base decanabidiol, um dos derivados da maconha, em casos de tratamentos de saúde.
Com a nova norma, a agência passará a adotar uma lista de produtos para os quais a importação será facilitada. Até agora, cinco deles, que representam cerca de 95% das importações já realizadas, fazem parte da lista.
Para esses produtos, não será mais necessária análise da área técnica da Anvisa. Com a decisão, os pedidos apresentados seguirão direto para autorização de importação da agência, o que deve reduzir os prazos para liberação. Para isso, os pacientes deverão estar cadastrados no órgão e renovar o registro anualmente.
Intermediário de importação
A Anvisa também definiu a possibilidade de indicação do intermediário que efetivamente importará o produto, como hospitais, prefeituras ou planos de saúde. Segundo o órgão, a possibilidade de intermediação poderá reduzir os custos para os pacientes.
A quantidade total de canabidiol prevista na receita médica poderá ser importada em etapas, de acordo com a conveniência dos responsáveis pela importação.
Extraído da cannabis sativa (maconha), o canabidiol, também conhecido como CBD, vem sendo usado no combate de convulsões provocadas por diversas enfermidades, entre elas a epilepsia. Em janeiro, a agência reguladora aprovou a reclassificação do canabidiol como medicamento de uso controlado e não mais como substância proibida.
Apesar da liberação, o processo para importar produtos com a substância ainda exige autorização excepcional. A Anvisa já recebeu 696 pedidos de autorização para importação de produtos à base de canabidiol, dos quais 621 já foram autorizados.
Fonte: Diário da Saúde

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Felicidade pode ser transmitida pelo suor

                                   Felicidade pode ser demonstrada e transmitida pelo suor


Sinais químicos da felicidade

Os seres humanos podem comunicar emoções positivas como a felicidade através do cheiro do suor.
Quem garante é Gün Semin, da Universidade de Utrecht (Holanda).
Segundo ele, quando experimentamos a felicidade nós produzimos compostos químicos - quimiossinais - detectáveis por outras pessoas que sintam o cheiro do nosso suor.
Embora estudos anteriores já tivessem mostrado que as emoções negativas relacionadas ao medo e ao nojo são comunicadas por meio de regularidades detectáveis na composição química do suor, as emoções positivas têm sido menos estudadas nesse aspecto.

Contágio da felicidade

"Nosso estudo mostra que a exposição ao suor produzido sob felicidade induz um simulacro da felicidade em receptores, e induz um contágio do estado emocional," explica Semin.
"Isto sugere que alguém que está feliz irá infundir a felicidade em outros ao seu redor. De certa forma, o suor da felicidade é como sorrir - é contagiante," acrescentou.
Os experimentos analisaram se o suor coletado de pessoas em um estado feliz iria influenciar o comportamento, a percepção e o estado emocional das pessoas expostas a esse suor, sem contato direto com as pessoas de quem o suor foi coletado.
Isto permitiu o benefício adicional de destacar a diferença entre avaliações de emoções que se baseiam nas palavras e na visualização da pessoa que se mostra feliz.

Contágio emocional

Segundo os pesquisadores, o contágio da felicidade por meio de quimiossinais pode explicar porque algumas medições indicam contágio emocional, enquanto outras não.
De acordo com eles, algumas emoções podem ser transmitidas de forma mais intensa por meio dos sinais químicos, enquanto outras requerem outras condições.

Fonte: Diário da Saúde

Disponível em: http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=felicidade-demonstrada-transmitida-pelo-suor&id=10526
. Acesso em: 24 abr. 2015 

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Quando o trabalho faz adoecer

O estresse pode causar desequilíbrio do sistema imunológico e distúrbios psicológicos

             
Dados da International Stress Management Association – Isma-Brasil revelam que mais de metade dos brasileiros economicamente ativos sofre com a sobrecarga profissional e com os excessos que a cercam. No dia a dia é necessário cumprir prazos restritos e demandas cada vez mais complexas, acompanhar mudanças tecnológicas, enfrentar avaliações de rendimento e ainda manter um relacionamento razoável com clientes, chefes e colegas. Isso sem falar da preocupação em se manter empregado. Adoecemos porque o estresse constante é interpretado pelo organismo como uma situação de perigo que pode desencadear desequilíbrios do sistema imunológico e distúrbios psicológicos.

Essa reação orgânica é compreensível se pensarmos que o sistema cerebral de resposta ao estresse é ativado em ocasiões que representem ameaças – e as adversidades muitas vezes são interpretadas como riscos. Se o equilíbrio interno, chamado de homeostase, é ameaçado, várias respostas imunológicas e comportamentais são acionadas para neutralizar forças perturbadoras e restabelecer o bem-estar. As reações adaptativas, porém, podem se transformar em fatores estressantes, causando alterações fisiológicas e psíquicas em situações de ameaça ou que exijam melhor desempenho.

O cérebro e o sistema imunológico enviam sinais um ao outro continuamente, em geral pelos mesmos “caminhos”, o que pode explicar como o estado mental influencia a saúde. Se ao longo da evolução humana o homem primitivo precisava se haver com as feras para sobreviver, hoje grande parte dos embates ocorre mesmo é nos meios profissionais – as “feras” que enfrentamos ou das quais nos escondemos estão em nosso cotidiano. E, nesse sentido, o estresse pode ser benéfico: nos ajuda a ficar em estado de alerta para entrar na “briga”. Ocasionalmente, funciona como energia motivadora, que nos permite lidar com as adversidades. Sem ele, aliás, não haveria possibilidade de reação aos estímulos, ficaríamos apáticos.

Mas se a situação de tensão é constante, o organismo sofre com o excesso – e surgem as doenças. Há casos extremos em que o estresse prolongado é capaz até mesmo de levar à morte. E hoje se sabe que o estresse não influencia apenas os indivíduos – também tem consequências culturais, sociais e econômicas. De forma geral, acredita-se que o prejuízo anual decorrente de faltas ao trabalho, baixa produtividade, acidentes e doenças causados pelo problema ultrapasse US$ 300 bilhões nos Estados Unidos e US$ 265 bilhões na Europa. “No Brasil estimamos que poderia haver uma economia de até 34% se fossem diminuídos os índices de estresse ocupacional”, acredita a psicóloga Ana Maria Rossi, especialista no estudo do estresse e presidente da Isma-Brasil. E ela aconselha: “Tirar férias apenas a cada 11 meses, por exemplo, costuma ser prejudicial; nesse intervalo o nível de estresse acumulado atinge patamares muito altos. Segundo a especialista, períodos menores de descanso, divididos ao longo do ano, podem ser mais benéficos à saúde.

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

Disponível em: http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/quando_o_trabalho_faz_adoecer.html. Acesso em: 22 abr. 2015

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O cérebro solitário

A solidão não é, apenas, a ausência de companhia; é uma percepção de isolamento que tem enormes implicações para a saúde, levando A depressão, dependência química ou transtornos alimentares

             

A percepção de que estamos conectados aos outros é algo vital para um ser humano, uma vez que, em nosso passado evolutivo, estar segregado do grupo significava menos acesso a fontes de alimento e a chances de acasalamento, e ainda levava a uma grande vulnerabilidade aos predadores. Estudos de antropólogos com sociedades caçador- -coletoras de pigmeus na África, por exemplo, demonstraram que os membros que são expulsos da comunidade passam a vagar solitariamente e têm grande probabilidade de morrer. Ou seja, ser solitário, no passado evolutivo de nossa pré-história, era uma condenação à morte e a não deixar descendentes.
Hoje, não temos mais os terríveis predadores do período Paleolítico superior, mas, de qualquer forma, a solidão torna muito improvável que se ache um parceiro. Para nosso cérebro que evoluiu na pré-história, a solidão é algo a ser evitado. A fome indica falta de nutrientes vitais, a dor física sugere alguma lesão nos tecidos, e, por essa razão, sentimos um conjunto de sensações desagradáveis que nos impulsiona a buscar algo para comer ou retirar a parte do corpo da situação que machuca. De modo semelhante, a solidão produz ansiedade e dor emocional que nos pressiona para buscar conexão com o grupo, algo essencial para nós humanos. Não é à toa que os biólogos colocam a espécie humana na categoria de ultrassociais, pois temos sociedades complexas onde dezenas de indivíduos cooperam em empreendimentos coletivos, assim como abelhas, formigas e cupins.
Mas o que acontece no cérebro solitário? Em nosso cérebro, existe uma região chamada Área Tegmentar Ventral, ou VT A, como é denominada em inglês, que está conectada com o núcleo accumbens, uma espécie de centro de prazer. Quando a VT A libera dopamina no núcleo accumbens, temos a sensação de prazer. Estudos recentes mostram que a VT A monitora a satisfação de necessidades vitais, como alimentação, acasalamento e laços sociais. Esse monitoramento é baseado em pistas fisiológicas do corpo e do cérebro. Por exemplo, liberamos bastante dopamina com sexo e orgasmo, mesmo usando camisinha. Isso acontece porque os sinais hormonais que são acionados fazem o cérebro interpretar que estamos aumentando a chance de deixar descendentes. Nesse caso, é uma sorte que nosso cérebro possa se enganar, mas, no caso da solidão, o engano do cérebro pode levar a inúmeras consequências negativas. A percepção de solidão aciona a ancestral reação de lutar ou fugir, pois é interpretada pelo cérebro como uma forte ameaça à sobrevivência e à reprodução.

Algumas pessoas são mais resistentes e não percebem o isolamento de forma estressante, possivelmente porque são descendentes de linhagens humanas de exploradores

Existe uma ampla gama de diversidade de reações individualizadas na percepção de solidão. Algumas pessoas são mais resistentes e não percebem o isolamento de forma estressante, possivelmente porque são descendentes de linhagens humanas de exploradores. Os exploradores, personalidades com intensa busca de novidades e pouco medo do desconhecido, foram figuras importantes nos grupos sociais do passado.
Numerosos estudos têm mostrado que a solidão é responsável por um leque de problemas de saúde, contribuindo para a doença de Alzheimer, transtornos do sono, aumenta o risco de demência e morte prematura, e é uma das principais causas de depressão. Um estudo revelou que a solidão causa uma expressão exagerada nos genes em células cardíacas, e estas produzem uma reação inflamatória que lesiona o tecido do coração. Quando falamos que a solidão pode partir o coração, não é apenas uma metáfora.
Neurocientistas descobriram que a percepção de exclusão usa a mesma rede da dor física no cérebro. Ou seja, a solidão dói, literalmente. O importante neurotransmissor serotonina é reduzido quando a pessoa sente solidão, dificultando o controle de pensamentos, emoções e impulsos. Isso diminui as funções executivas e aumenta a dificuldade de inibir impulsos de prazer imediato, como comer em excesso, beber ou usar drogas. Segundo John Cacioppo, neurocientista da Universidade de Chicago, a solidão encoraja o consumo de mais gordura e açúcar na dieta, alcoolismo, sedentarismo e uso de drogas. Isso faz sentido se pensarmos que a solidão dói e que as pessoas tendem a fazer coisas que aliviam essa dor, como lançar mão de estratégias mais imediatistas para se sentir melhor. Para um cérebro imediatista que precisa desesperadamente de dopamina, a decisão de comer mais uma fatia de torta pode acabar se tornando a mais atrativa naquele momento. Portanto, a solidão pode impulsionar uma espiral descendente de comportamentos que aliviam a dor do isolamento no primeiro momento, mas que, em um segundo estágio, aumentam, mais ainda, a solidão.
É comum que as pessoas que sentem solidão não tenham falta de atratividade ou de habilidades sociais, pois é a percepção de isolamento e os pensamentos e crenças, muitas vezes distorcidos, que realmente geram a sensação de estar desconectado. Nosso cérebro social faz comparações e pode interpretar que se está isolado e em uma posição inferior na hierarquia social, mesmo que, de fato, a pessoa esteja muito bem posicionada. Uma olhada no Facebook e alguns pensamentos distorcidos e chega-se à conclusão de que se está de fora, enquanto as pessoas estão integradas, postando fotos perfeitas, com vidas sociais intensas. O cérebro emocional e social não faz distinções finas e incorpora a percepção de isolamento, sem considerar que estamos vendo uma montagem de melhores momentos. Paradoxalmente, uma rede social pode contribuir para a solidão, ao induzir uma percepção exagerada da socialização dos outros e um sentimento de estar à parte da festa da vida.

Para saber mais:
Cacioppo, J. T.; S. Cacioppo. Social Relationships and Health: the Toxic Effects of Perceived Social Isolation. Soc Personal Psychol Compass, v. 8, n. 2, p. 58-72, 2014.

                         
Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências revolucionaram o modelo do processamento mental (Artmed, 2011)

Fonte: Revista Psique

terça-feira, 14 de abril de 2015

A neurose do homem

O falo será o representante masculino por excelência na concepção psicanalítica. É ele que regulará e ordenará a estrutura neurótica como um todo

                 

Com a pressão do Iluminismo no final do século XIX, diversos estudiosos e artistas começaram a questionar sob outro ângulo o "que é o ser humano?" Durante centenas de anos, a Igreja judaica cristã ditava o saber sobre o que é o "ser" em todas as esferas da vida. Não só o ser humano, mas todos os seres do universo. Com esse saber em mãos, eles procuravam regular a vida de acordo com a ideologia vigente da época, que variava bastante quanto aos meios para garantir que os fiéis seguissem fielmente seus preceitos, reforçando a crença supersticiosa de que há um Deus que criou tudo.

Insatisfeitos com essa resposta religiosa sobre a vida dos seres, os pensadores daquela época imprimiram um ritmo cada vez mais forte de sustentação das explicações sobre a origem do "ser", o que causou uma relativa ruptura com a primazia do saber religioso. Entre esses pensadores existiram várias correntes, dentre as quais a Psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud, que a inventou como um método de investigação e cura.

Ao iniciar suas investigações sobre a causa e formação dos sintomas histéricos, Freud logo se dá conta de que a histeria é uma forma de se posicionar frente à linguagem, e não é exclusiva das mulheres. Escandaliza e causa grande repúdio por descobrir que também os homens podem ser histéricos. Mas o escândalo, quanto a esse assunto, ainda não tinha chegado ao seu ápice. Freud afirma que as mulheres histéricas desejam inconscientemente ser providas do atributo masculino, o falo. Com isso, arranca a histeria das mulheres e a posiciona como uma estrutura que demanda o ser masculino. Tal ponto de vista jamais foi abandonado por Freud, apesar de ter sofrido grandes pressões por parte de outros campos, a Medicina, a Filosofia, e também dos próprios psicanalistas que o acompanharam, sobretudo das psicanalistas mulheres.
Paul Kardous é psicanalista, psicólogo, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Cursou Psicologia Clínica e Psicopatologia na Paris V Sorbonne. Atuou como professor de Psicologia do Usuário e de Comunicação e Semiótica na FAAP. Professor convidado da PUC no Cogeae. É membro da Internacional dos Fóruns do Campo Lacaniano. Autor do livroImpotência Sexual: o Real, o Simbólico e o Imaginário (Casa do Psicólogo). Coautor do livro Semiótica Psicanalítica: Clínica da Cultura, organizado por Lucia Santaella e Fani Hisgail (Editora Iluminuras).
                   
Freud afirma que as mulheres histéricas desejam inconscientemente ser providas do atributo masculino, o falo, posicionando a histeria como uma estrutura masculina

A partir desta concepção, o falo será o representante masculino para a Psicanálise, é ele que regulará a estrutura neurótica como um todo. As variações no entendimento a respeito do falo foram sempre alvo de debates entre os psicanalistas. Mas há um consenso quanto à afirmação de Freud, de que o pênis não é o falo, apesar de que, quando ereto, seja o melhor representante no corpo humano. Para ele, o falo não é o órgão, é a ausência operante, é ter ou não ter o falo. A perda fálica se recupera no esvanecimento do furo do ser, isso é necessário na vivência do masculino e é o que o faz cotejar o gozo da volta da pequena morte, o orgasmo. Essa função de perda fálica, própria do masculino, lhe dá a prerrogativa, de onde vem a ilusão da pura subjetividade, de que seu corpo está marcado pelo significante. É neste momento evanescente, quando se perde a ereção, ou seja, quando o instrumento cai, que o homem e a mulher vivenciam a castração e a assunção do falo, como elemento terceiro da relação do casal.

As concepções de Freud e de Lacan a respeito do masculino são todas centradas no falocentrismo, no complexo de Édipo e no complexo de castração

Pai real e pai simbólico
Freud destaca a diferença entre o menino e a menina e suas relações com a mãe, e conclui que o verdadeiro incesto é entre o menino e a mãe. Também enfatiza que há diferenças entre os sexos no tocante ao complexo de Édipo, pois o varão não necessita trocar de objeto para elaborá-lo, uma vez que coincide o objeto que erotizou seu corpo através dos cuidados maternos com o objeto do seu desejo. Ao mesmo tempo em que irá eleger a escolha de objeto, faz a escolha identificatória com o seu próprio sexo. Escolha de objeto apoiado na mãe e escolha identificatória apoiada no pai decorrente do complexo de castração, eis a fórmula do desejo heterossexual masculino. Conquistar a ascensão da posição viril masculina implica necessariamente assumir a castração. Isso se dá por uma relação do real no simbólico, que vem do outro, aquele que é verdadeiramente o pai.

O Édipo enoda a função viril e, para tanto, é necessário haver um mais além do pai simbólico, a presença do pai real, aquele que trepa com a mãe, esse é imprescindível. O pai real que permite o complexo de castração simbólico, que cumpre a função de ameaçar, ao mesmo tempo em que dá amor e permite a aproximação do filho para com ele.
O macho tem o órgão natural e por isso o detém como sua propriedade. Porém sua virilidade virá do outro, nesta relação entre o pai real e o pai simbólico. Portanto, o homem não poderá dizer nada do que significa na verdade ser pai, porque parte desse é da ordem do real, e o único saber que ele tem é que fez parte desse jogo entre a mãe e o filho varão. Somente o jogo de perdas e ganhos entre os três permitirá à criança conquistar a via pela qual se registra a inscrição da lei, dizia Lacan parafraseando Freud.

Isso permite dar um passo a mais no alcance do pai simbólico e dizer que o pai simbólico é o Nome do pai. É ele que mediará o desmame primário e que separará o bebê do incesto com a mãe, consequentemente intervirá sobre sua onipotência. O Nome do pai aqui é o elemento mediador dessa estrutura simbólica.
Destarte o pai simbólico e o pai real serão essenciais na assunção da função sexual viril. Para que o sujeito viva verdadeiramente o complexo de castração, é preciso que o pai real jogue o jogo. O pai deve ocupar sua função de pai castrador, em sua forma concreta, empírica, tirânica, quase degenerada, do pai primevo, assim como no mito freudiano. O pai também tem que cumprir sua função imaginária intolerável, quando se apresenta como castrador, só assim se vive o complexo de castração para o bebê e para a mãe. Portanto, essa ação sobre a relação mãe-bebê tem uma ligação direta com o Ideal do Eu. O Édipo não tem outro sentido. Não há Édipo se não há pai simbólico, real e imaginário!

                      
A Psicanálise freudiana destaca a diferença entre o menino e a menina e suas relações com a mãe, já que conclui que o verdadeiro incesto é entre o menino e a mãe

Do desejo à identificação
Estas duas escolhas, de objeto de desejo e de identificação, se dão num golpe só e merecem esclarecimentos, já que não se dão de forma natural, nem tampouco são decorrentes da demanda da cultura, através da classificação dos gêneros, e muito menos são subordinadas à anatomia sexual.

Freud encontra os elementos para discutir a prevalência de um movimento gerado por uma posição singular de cada um na conquista de sua posição sexual, muitas vezes contrariando a influência exercida pela cultura e pela anatomia. A eleição sexual, segundo Freud, não se dá no nível consciente e sim inconsciente, ele acrescenta que é uma eleição forçada e determinada pelo inconsciente. Com esse esclarecimento, Freud retirou completamente a possibilidade de ações pedagógicas e preventivas para desenvolver uma coerência entre o sexo anatômico, o gênero e a posição sexual inconsciente. Ele afirma que não há harmonia natural entre essas três faces da sexualidade humana. Mas isso não o faz descartar a influência da anatomia e do gênero, até mesmo como fatores que podem causar certo desconforto com a posição sexual inconsciente, por testemunharem uma desarmonia entre as três.
A eleição sexual, segundo Freud, não se dá no nível consciente e sim inconsciente. É uma eleição forçada edeterminada pelo inconsciente
Sempre temos que considerar a questão do gênero, uma vez que esse significa os ideais da cultura que se transformam para o sujeito que está constituindo o seu Eu nas demandas do Outro, ou seja, o que o Outro deseja dele para que ele continue a ser amado e não odiado por este Outro? Nessa medida, levar em conta as questões que envolvem a identidade de gênero é sempre importante, não para adequar o sujeito ao que a cultura espera dele, mas para que o sujeito possa saber minimamente o que esperam dele e com isso poder se posicionar no sentido de separar a singularidade dele da universalidade do gênero.

Variações no entendimento a respeito do falo foram sempre alvo de debates entre os psicanalistas

Desconsiderar os fatores anatômicos não é um bom caminho para pensarmos na constituição da sexualidade. Existem fatores milenares que estão em ação e em mutação permanente, que não podem ser colocados de lado. Por exemplo, a pesquisadora de cromossomos sexuais Jennifer Graves, da Universidade Nacional da Austrália, disse que o cromossomo Y - responsável pela determinação do sexo no homem - está morrendo e deve desaparecer nos próximos cinco milhões de anos. E o que acontecerá depois? A cientista disse que a boa notícia é que algumas espécies de roedores - como algumas ratazanas da Europa do leste e ratos do Japão - não possuem nem cromossomo Y nem o gene SRY. O que isso nos mostra? Será que os fatores fenótipos estão modificando os homens ao longo dos anos? Sabemos que alterações afetivas e emocionais podem mudar sensivelmente, por exemplo, os níveis de hormônio masculino, a testosterona. Sabemos também que não somos uma máquina que quando fica velha joga-se fora e coloca-se outra no lugar.

PARA SABER MAIS
DESEJO SIGNIFICANTE
O macho tem o órgão natural e por isso o detém como de sua propriedade. Porém sua virilidade virá do outro nesta relação entre o pai real e o pai simbólico
A questão do masculino não se esgotará no desejo como efeito maior do significante. Lacan procurou respostas sobre o gozo fálico masculino e feminino nos quantificadores lógicos de Aristóteles, e nos desdobramentos de Frege e Pierce, já que entende que a lógica é a ciência do real.
A inscrição da castração será determinante no campo do ser para determinar a noção de gozo. Até então, estávamos tratando do campo do sujeito nos desfiladeiros dos significantes e a incidência da castração simbólica sobre o desejo e não sobre o ser. Agora iremos mergulhar no que a Psicanálise pôde até então elaborar do masculino no campo do ser. Ou seja, o que é o ser masculino? Para se afirmar que há um ser masculino, Lacan propõe que há de haver uma negação forclusiva, e não uma negação discordancial. A negação forclusiva segue o princípio da contradição, e corresponde a ou é masculino, ou é feminino. A negação discordancial aceita a contradição, portanto abre um campo de indeterminação, pode ser homem e ser mulher numa mesma proposição. No campo do masculino, sabe-se que ser homem é não ser mulher e o inverso não é verdadeiro. Ser mulher não quer dizer que não seja homem, é isso que nos ensina a negação discordancial. A lógica do homem funciona desde a negação forclusiva, e daí é que se pode extrair o verdadeiro sentido do conhecimento, que quando um homem trepa com uma mulher, ele pode dizer que a conhece, ou seja, a cama é a hora da verdade para um homem, é na cama que ele conhece uma mulher ou na psicose encontra A mulher.
O ser masculino, o gozo fálico masculino, dependerá de que ao menos Um não tenha satisfeito a função fálica, ou seja, não ser castrado, há uma negação a se submeter à castração, isso quer dizer que uma porção do gozo não sofrerá a castração. Isso feito, num mesmo golpe escreve-se o Um fálico, Um do gozo fálico. Assim, essa inscrição da negação forclusiva se deu acidentalmente, possibilitando escrever o Um do gozo fálico como necessário, tomando a forma masculina, e assim podemos dizer que o gozo fálico no masculino é diferente do gozo fálico no feminino.
Tendo esses elementos em vista, podemos acompanhar Lacan na sua tentativa de encontrar uma resposta de como se dá o encontro na cama. Daí suas ironias a respeito do que é ser um homem, ao afirmar que esse só encontra a mulher na psicose, na melhor das hipóteses na loucura, e o cômico do amor entre os dois é que para amá-la ele precisa se fazer mulher naquele encontro, ao mesmo tempo, para desejá-la, ele não pode prescindir de seu instrumento ereto, na posição de homem. Assim, na cama, a fenomenologia nos ensina como o significante é o efeito maior do desejo e causa do gozo. No caso do gozo fálico no masculino, temos que a castração irá incidir na detumescência, fazendo surgir, no momento máximo do gozo do macho, sua própria queda; isso nos explica a relação no macho da angústia com o orgasmo. A perda da ereção como perda fálica se reativa sempre como desvanecimento do furo do Ser, essa experiência masculina possibilita comparar o gozo fálico à pequena morte. Essa função de desaparecimento efêmero, diretamente saboreada no gozo fálico do masculino, dá ao macho o benefício da ilusão de pura subjetividade, já que a sua ereção é causada pelo que a mulher representa para ele. É no instante mesmo do desaparecimento da tumescência que o homem pode perder de vista a presença deste terceiro, o objeto, o falo, e é porque o seu instrumento desaparece é que passa a ser, enquanto marca de uma ausência, o terceiro da relação com a parceira.

Conquistar o signo da posição viril masculina implica necessariamente a castração
O pai simbólico é que mediará o desmame primário que separará o bebê do incesto com a mãe e consequentemente intervirá sobre sua onipotência

Ter ou não ter...
Com a pressão em responder o que "as mulheres querem", Lacan reduz sua questão a "o que uma mulher quer" - isso lhe permitiu deslocar o ter ou não ter o falo para tê-lo e ser o falo. Daí que dirá que o desejo masculino dependerá de renunciar ser o falo para poder tê-lo. Ter ou não ter, ou ter ou ser o falo são maneiras de conceber essa questão a partir da linguagem. 
Logo, o desconforto revela-se pelas exigências que o ser humano sofrerá por parte dos ideais dos pais que representarão, as demandas e os ideais sociais, e, por outro lado, a limitação que os desejos sexuais sofrerão por não estarem em conformidade à sua anatomia. Por exemplo: como integrar simbolicamente a identidade sexual em mulheres que se submeteram a transformação de sexo? É que do ponto de vista orgânico, ela se tornou ele, mas ainda tem orgasmos em platô de acordo com a anatomia da mulher e não em ápice como no caso do homem?
Assim, para Freud, o homem se constituirá se o complexo de castração incidir de tal maneira que o faça abandonar o prazer incestuoso com a mãe, causa do seu desejo, promovendo uma substituição por outra mulher, e ao mesmo tempo o faça se identificar com o pai. Portanto, o complexo de Édipo, na cultura ocidental, tem a função de ser o portador do complexo de castração, que introduzirá a lei universal da proibição do incesto, declinando do complexo de Édipo no menino.
Para Freud e Lacan, o complexo de Édipo permite que o desejo tome a forma de desejo masculino na heterossexualidade. Lacan diz que para existir um homem é preciso que este tenha uma mãe, e o seu desejo seja orientado a partir da castração.
Portanto, as evidências clínicas mostram que no inconsciente não há homem e mulher, só existe o fálico e o castrado. Homem e mulher já são representantes que fazem parte do discurso. Lacanianamente falando são significantes. Significantes que intentam representar uma posição de gozo fálico para o masculino ou para o feminino.

                     

Sempre temos que considerar a questão do gênero, uma vez que esse significa os ideais da cultura que se transformam para o sujeito que está constituindo o seu Eu nas demandas do Outro 

Separação ou união 
Lacan lança-se a encontrar respostas para tal questão na topologia dos nós borromeanos.
A pergunta de Lacan já é um nó! Qual será o bom nó entre os corpos? Qual será o nó que permite engatar os Uns de cada Um e fazer Nós? Como, na experiência masculina, o gozo fálico pode não ser um inibidor, um obstáculo para o homem poder gozar do corpo da mulher? A experiência dos relatos de analisantes nos ensina que, numa certa dimensão humana, há possibilidade de bons encontros e esses são marcados por uma separação dos Uns de cada Um, que ninguém é de ninguém, teoricamente: não há Outro do Outro, e que, sobretudo, numa experiência satisfatória dessa magnitude, o falo, como significado do desejo que tem o gozo como sua causa, não é de nenhum dos Uns, muito menos dos dois, mas é instrumento de engate dos corpos de cada Um, fazendo que Um corpo penetre o outro e ambos tenham uma experiência de encontro dos Uns de cada Um. Assim, o falo como significado do desejo, encarnado no pênis ereto, não é dele, uma vez que o que o produziu foi a mulher como causa de seu desejo, ou seja, como sintoma do homem, como condensadora de seu gozo. O pênis ereto elevado ao significante fálico representa o terceiro que está mediando a relação. É isso que proporciona a separação e união ao mesmo tempo do Um, do objeto causa do desejo e do Outro.

As evidências clínicas mostram que no inconsciente não há homem e mulher, só existe o fálico e o castrado

É claro que para ser homem tem que ter o registro do simbólico operando, e é por esse fato que é possível construir um significante novo com o qual o Eu se identificará como homem, já que a designação de homem é um significante que não é da ordem do natural, do gênero e sim da linguagem. Essa será a condição do desejo e do gozo para ele, uma vez que a estrutura da linguagem permitirá enquadrar o seu desejo, enquanto sujeito dividido pelo significante, e o seu gozo, enquanto objeto da pulsão na fantasia, dando um colorido de objeto causa do desejo à mulher.
Mas o fato de o homem ter um simbólico não o faz deixar de girar em círculos, pois sua estrutura é tórica. Para ele nada é impossível, o que ele não consegue fazer, ele larga. No que tange ao amor, o homem, todo-homem, se agarra no imaginário, sem um dizer sobre a verdade, já que seu gozo lhe é suficiente, esse gozo recobre tudo que ele precisa para amar, por isso não entende nada sobre o amor, diferentemente do feminino que não vai sem um dizer da verdade. Portanto, no amor o homem se apoia no imaginário enquanto a mulher no simbólico, daí que Freud diz que o homem precisa amar e a mulher precisa ser amada.
Desse modo, podemos avançar no que é possível que um homem saiba. Espera-se que ele, o todo-homem, desde que assumida a castração, saiba fazer de uma mulher o seu sintoma, saiba se virar com ela e manusear sua relação.

REFERÊNCIAS
FERENCZI, S. A pipa, símbolo de ereção. In: Obras completas II
____________. Parestesias da região genital em certos casos de impotência.
FREUD, S. Sobre a tendência universal à depreciação na esfera amorosa. Obras Completas. Imago Editora.
KARDOUS, P. A Impotência Sexual: o Real, o Simbólico e o Imaginário. Editora Casa do Psicólogo.
STECKEL, W. La Impotencia en el Hombre. Ediciones Imán.

Fonte:Revista  Psique

Nomofobia, a fobia de ficar sem celular



                           
Quanto mais usam o celular, mais ansiosos e menos felizes os estudantes se sentem:Uso frequente do celular aumenta ansiedade e diminui felicidade de estudantes.
Nomofobia é um termo originário do inglês, que significa "no-mobile-phobia", ou seja, a fobia de ficar sem celular.
Estar on-line 24 horas por dia parece um caminho sem volta, mas nem todas as pessoas lidam bem com o acesso contínuo à internet.
Como inúmeros psicólogos ao redor do mundo já constataram, o uso constante da tecnologia traz seus próprios riscos - riscos emocionais, psicológicos e até físicos.
Os sintomas dos pacientes vão desde a compulsão a olhar o celular o tempo todo, até movimentos involuntários, com os dedos se mexendo como se estivessem manipulando o aparelho.
"O telefone já não cumpre mais a função daqueles telefones antigos, de se comunicar através da voz. Hoje, você tem rede social, máquina fotográfica, filmadora, GPS, música. Por isso que essa sedução se torna muito maior," comenta o psicólogo Cristiano Nabuco.
Ensino e tecnologia
A tecnologia tem influenciado o ensino, embora algumas escolas tradicionais tentem impedir a utilização de dispositivos tecnológicos na sala de aula, embasados em estudos que garantem que internet na sala de aula é uma má ideia.
Em casa, os pais estão em busca de um caminho. Qual o melhor momento para as crianças começarem a usar tablets, smartphones ou qualquer outro dispositivo tecnológico?
A filósofa Viviane Mosé aconselha: "Precisamos entender que a tecnologia é uma tsunami que já vem. Não podemos lutar contra ela. Não é possível. Não precisa encher seu filho de tecnologia. Mas entenda o que ele está usando, e ajude-o a usar melhor."
Fonte: Diário da Saúde

Estudos científicos sobre antidepressivos têm viés e até resultados invertidos

                                Estudos científicos sobre antidepressivos têm viés e até resultados invertidos
Além de medicamentos tão bons quanto um placebo, já se sabe que os antidepressivos sem terapia não têm efeito para a maioria dos pacientes.

Uma nova análise dos estudos científicos da área está levantando sérias questões sobre o uso cada vez mais comum dos medicamentosantidepressivos de segunda geração para o tratamento dos transtornos de ansiedade.

Um grupo de especialistas concluiu que os estudos usados para embasar a aprovação e o uso desses medicamentos foram distorcidos por uma série de mecanismos, que incluem o chamado "viés de publicação" e até a inversão dos resultados.

Em alguns casos, os antidepressivos de segunda geração, que estão entre as drogas mais prescritas no mundo, não são significativamente mais úteis do que um placebo.

As descobertas foram feitas por pesquisadores da Universidade do Estado do Oregon, Universidade de Ciência e Saúde do Oregon, ambas no EUA, e da Universidade de Groningen, na Holanda. Os resultados foram publicados na revista médica JAMA Psychiatry.


Inversão de resultados

O viés de publicação foi um dos problemas mais graves identificados pela equipe de especialistas que analisou os trabalhos dos seus colegas, incluindo pesquisadores de universidades e de empresas farmacêuticas.

A equipe identificou o viés de publicação justamente nos ensaios clínicos controlados com placebo e duplo-cegos que foram revisados pela FDA (Food and Drug Administration), o órgão encarregado de dar um aval a esses estudos e garantir a aprovação dos novos medicamentos.

Foi observado também um viés nos chamados "relatórios de resultados", com os resultados positivos do uso das drogas sendo enfatizados em relação aos resultados considerados negativos.

E até mesmo inversões totais dos resultados foram identificadas: alguns cientistas concluíram que os tratamentos eram benéficos mesmo quando seus próprios resultados publicados eram de fato estatisticamente insignificantes.


Ciência questionável

"Estes resultados espelham o que encontramos anteriormente com os mesmos medicamentos quando utilizados para tratar a depressão severa, e com os antipsicóticos," disse o Dr. Erick Turner, coordenador do estudo.

"Quando esses estudos não dão resultados positivos, você geralmente não ficará sabendo a partir da literatura científica revisada pelos pares," acrescenta Turner.

A "literatura científica revisada pelos pares" é considerada a "palavra oficial" para se saber quando um determinado experimento produziu resultadoscientificamente válidos.
Fonte: Diário da Saúde

segunda-feira, 6 de abril de 2015

34 anos da morte de Jacques Lacan

Não havia nada que escapasse à sua crítica e à lucidez de seu espírito de esclarecimento
                                                                    

ONZE CABEÇAS, ÓLEO SOBRE TELA, 1934-1935, PAVEL FILONOV, 1883-1941, RUSSIAN MUSEUM, SÃO PETERSBURGO

Há 34 anos morria o psicanalista Jacques Lacan (1901-1981). Ele tornou-se conhecido fora dos círculos psicanalíticos só depois de publicar seu primeiro livro aos 65 anos de idade. Ao final de sua vida ele fez algumas poucas viagens ao Japão, Estados Unidos e Venezuela para apresentar suas ideias a um público que distinguia com dificuldade sua posição dentro do pós-estruturalismo francês e menos ainda compreendia sua importância dentro da história do movimento psicanalítico. Em 1989, quando comecei a me interessar por seu pensamento e pela clínica que nele se inspirava, ainda ouvia, com frequência, que o “fenômeno Lacan” seria esquecido em dez anos. Segundo a profecia, as contendas institucionais e a dificuldade de entender seu estilo barroco-matemático não teriam a menor chance de sobreviver em uma época movida pela praticidade e eficiência. Sua forma de tratamento seria refutada pelos fatos. Sua idiossincrasia francesa não resistiria ao mundo globalizado. 

Para surpresa geral hoje a psicanálise lacaniana se expandiu pelo mundo, ainda que pulverizada em uma miríade de grupos, atravessada por querelas teóricas e animada pela cizânia universitária. Olhando para trás parece que o que há de distintivo em Lacan foi a sua capacidade de trazer o que havia de melhor fora da psicanálise, ou seja, seu caráter cultural onívoro, sua maneira não endogâmica de pensar a psicanálise e sua capacidade de inventar novas formas clínicas, “no horizonte da subjetividade de sua época”. Foi assim desde seu contato com os psiquiatras e surrealistas nos anos 1930, com a ciência e a epistemologia dos anos 1940, com a filosofia de Hegel e Heidegger nos anos 1950, com a linguística e a antropologia de Saussure e Lévy-Strauss, nos anos 1960, até a topologia e as novas formas de escrita chinesa e poesia de vanguarda, dos anos 1970. Não havia nada que fosse indiferente ou estranho ao universalismo teórico de Lacan e sua tentativa de reunir a análise erudita de textos freudianos e as últimas descobertas da ciência. Não havia nada que escapasse à sua crítica e à lucidez de seu espírito de esclarecimento, nem mesmo as verdades consagradas pela tradição psicanalítica. 

Se Freud considerava-se um Aníbal, o general cartaginês que vingaria seu pai derrotado pelos romanos vencendo o reino do subterrâneo (Aqueronta Movebo), Lacan estava mais para um laborioso monge copista, siderado pelo uso do telescópio moderno, tentando ser fiel a uma verdade ainda que indeterminada. Sua ligação com Freud não era pessoal, mas textual. No dia em que Freud vem a Paris, rumo a seu refúgio final em Londres, Lacan prefere escutar Joyce ler os originais de Ulisses a encontrar o autor da Interpretação dos Sonhos na casa da Princesa Bonaparte. Talvez tenha sido esta a lição legada por seu ensino, e que o tornou universal.

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

Disponível em: http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/34_anos_da_morte_de_jacques_lacan.html. Acesso: 6 abr. 2015

Ministério da Saúde incorpora tratamento completo para Transtorno Bipolar

Os cinco medicamentos deverão atender já no primeiro ano 270 mil brasileiros que sofrem do transtorno

Por Jéssica Rodrigues Lima - Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA


Os brasileiros que sofrem de Transtorno Bipolar são beneficiados com a linha completa de tratamento para a doença após a inclusão de cinco medicamentos. A decisão publicada no Diário Oficial da União deve representar investimento do Ministério da Saúde da ordem de R$ 755 milhões em cinco anos. A estimativa é que ainda neste ano cerca de 270 mil pessoas sejam atendidas com esse novo tratamento, e a previsão é que esse número chegue a 330 mil em 2019.
Outra novidade importante é a publicação do primeiro Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) que servirá como guia para a orientação do diagnóstico, tratamento e acompanhamento desses doentes. Segundo estimativas de associações de pacientes, o transtorno pode afetar até dois milhões de brasileiros.
Os medicamentos incorporados servem para o tratamento dos sintomas associados à doença, caracterizada por alterações de humor que se manifestam como episódios depressivos alternando-se com episódios de euforia (também denominados de mania), em diversos graus de intensidade. Estima-se que os pacientes diagnosticados com transtorno bipolar podem desenvolver mais de 10 episódios de mania e de depressão durante toda a vida. A duração das crises e dos intervalos entre elas em geral se estabiliza após a quarta ou quinta crises. Frequentemente, o intervalo entre os primeiro e segundo episódios pode durar cinco anos ou mais, embora 50% dos pacientes possam apresentar outra crise maníaca 2 anos após sua crise inicial.
De acordo com a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar, a mortalidade entre os portadores da doença é elevada e o suicídio é a causa mais frequente de morte, principalmente entre os jovens. Estima-se que até 50% dos portadores tentem o suicídio ao menos uma vez em suas vidas e 15% efetivamente o cometem. Além disso, outras doenças clínicas como obesidade, diabetes e problemas cardiovasculares são mais frequentes entre os portadores de Transtorno Bipolar do que na população geral.
Devido a peculiaridades na apresentação clínica da doença, o diagnóstico é difícil. Frequentemente crianças recebem outros diagnósticos, o que retarda o início do tratamento adequado. Isso causa consequências devastadoras, pois o comportamento suicida pode ocorrer em 25% dos adolescentes portadores de Transtorno Bipolar. Sendo assim, O tratamento adequado do Transtorno Bipolar reduz a incapacitação e a mortalidade dos portadores.
O transtorno bipolar pode se apresentar em diferentes graus, do mais leve ao mais grave, por isso é importante promover o diagnóstico correto e o acesso ao melhor tratamento existente. Com essa incorporação a expectativa do Ministério da Saúde é que até o final deste primeiro semestre os medicamentos já estejam à disposição da população” estima o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa.
 MEDICAMENTOS INCORPORADOS
CLOZAPINA: Medicamento indicado para tratamento de esquizofrenia resistente ao tratamento; risco de comportamento suicida recorrente em pacientes com esquizofrenia ou distúrbio esquizoafetivo; e psicose durante a doença de Parkinson.
LAMOTRIGINA: Indicado para prevenir episódios de alteração do humor, especialmente episódios depressivos.
OLANZAPINA: Indicado para o tratamento de episódios de mania aguda ou mistos do TAB (com ou sem sintomas psicóticos e com ou sem ciclagem rápida) e para prolongar o tempo entre os episódios e reduzir as taxas de recorrência dos episódios de mania, mistos ou depressivos no TAB.
QUETIAPINA: Indicado como adjuvante no tratamento dos episódios de mania, depressão, manutenção do transtorno afetivo bipolar I (episódio maníaco, misto ou depressivo) em combinação com os estabilizadores de humor lítio ou valproato, e como monoterapia no tratamento de manutenção do transtorno afetivo bipolar (episódios de mania, mistos e depressivos).
RISPERIDONA: Indicado para o tratamento de curto prazo para a mania aguda ou episódios mistos associados com transtorno bipolar I.

Fonte: (EN)Cena

2º Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental

O evento tem como tema "Direito às Diversidades: Cidades, Territórios e Cidadania”.

Por Jéssica Rodrigues Lima - Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA

Com o objetivo de problematizar as violações de Direitos Humanos das diferentes formas de viver nas cidades, a Associação Brasileira de Saúde Mental realiza o 2ª Fórum Brasileiro de Direitos Humanos e Saúde Mental, com o tema “Direito às Diversidades: Cidades, Territórios e Cidadania”. O evento acontece entre os dias 4 e 6 de junho de 2015, na cidade de João Pessoa – Paraíba, com foco em movimentos sociais, pesquisadores, estudantes, ativistas e militantes que desejam construir uma ampla Mobilização Social e Popular em favor de Cidades Inclusivas, Justas e Solidárias.
Atualmente, diante da multiplicidade cultural, vivenciamos o crescimento de violência e crimes contra segmentos considerados diferentes do que a sociedade contemporânea tem como padrão. As principais formas são preconceito racial, social e sexual. Cabe então as poderes públicos e à própria sociedade zelar pelo direito à expressão destas diferenças.
Nesse contexto, as cidades se tornam palcos onde esses discursos e práticas discriminatórias se materializam, seja pela ação dos sujeitos políticos, seja pela ação das instituições na consecução das políticas públicas. Vale destacar que durante parte da história social brasileira ações e políticas baseadas no higienismo, na medicalização social e na segregação dos considerados como diferentes ou anormais geraram graves violações aos Direitos Humanos.
Por isso o 2º Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental será um importante espaço de reflexão sobre ações que visem mobilizar setores sociais para questionar e lutar contra os discursos de ódio e de intolerância e a crescente monopolização das cidades em favor do lucro e da exclusão social. A programação conta com rodas de conversa, mesa redonda, tenda com Paulo Freire, oficinas, cursos, feira de economia solidária, mostra de cinema e vídeo sobre Direitos Humanos e Saúde Mental e atividades artísticas e culturais.
http://www.direitoshumanos2015.abrasme.org.br/
Fonte: (EN)Cena

Por que as pessoas têm dificuldade em aceitar a assexualidade?

Assexualidade
As diversas formas de manifestação da sexualidade estão encontrando espaço cada vez maior na sociedade, diminuindo ou eliminando discriminações seculares.
Mas Karli Cerankowski e seus colegas da Universidade de Stanford (EUA) decidiram analisar uma faceta menos estudada e, em alguns aspectos, ainda mais incompreendida da sexualidade humana: a assexualidade.
Quando confrontada com a noção de assexualidade, a maioria das pessoas mostra-se perplexa ante a ideia de uma vida desprovida de atração sexual.
Mas uma grande marcha de manifestantes assexuados feita em Toronto (Canadá) em 2014 ajudou a chamar a atenção dos estudiosos para o assunto, que agora tentam transformar a assexualidade em uma disciplina acadêmica.
Cerankowski afirma que "a sociedade normalizou determinados níveis de desejo sexual, enquanto patologizou outros. Em certo sentido, é o modelo social que está falido, não os assexuais."
Diversidade da sexualidade humana
As pesquisas realizadas pela equipe confirmam que as pessoas podem obter todo o contentamento que buscam em outros aspectos da vida, com uma gratificação plena que não inclui a gratificação sexual.
"Nós meio que priorizamos o prazer sexual e a satisfação sexual em nossas vidas, mas podemos pensar em outras maneiras pelas quais as pessoas experimentam prazer intenso, como quando ouvem música", exemplifica Cerankowski.
Embora o sexo e a sexualidade sejam aspectos centrais e valorizados da cultura ocidental, Cerankowski afirma que "se reconhecermos a diversidade da sexualidade humana, então podemos entender que existem algumas pessoas que simplesmente não sentem atração sexual, ou têm um menor impulso sexual, ou querem menos fazer sexo, e isso não significa que haja algo de errado com elas."
Sexualidades fluidas e múltiplas
A pesquisadora ressalta que as pessoas podem ver a assexualidade de forma extremada, uma vez que o prefixo "a-" significa "não", e que, portanto, uma pessoa que se diz assexuada estaria dizendo ser totalmente desinteressada em sexo e amor, o que não é verdade.
Segundo a pesquisadora, a pluralização do termo, indo além dos extremos para englobar as complexidades envolvidas no vasto espectro de assexualidade, mostra que o fenômeno é compatível com o "modelo mais comumente entendido das sexualidades fluidas e múltiplas."
Fonte: Diário da Saúde