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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Cyberbullying: um mal silencioso

O suicídio pode ser uma grave consequência do bullying na versão virtual, igualmente doloroso. Essa questão alcançou status de problema de saúde pública mundial

shutterstock
Diversos fenômenos ampliaram suas configurações patológicas com o advento da cibercultura: a compulsão sexual se expandiu ao cibersexo e a dependência midiática, anteriormente circunscrita aos televisores, disseminou para os celulares, os jogos eletrônicos e a internet. Simultaneamente, o bullying ganhou o seu caráter virtual, igualmente doloroso: o cyberbullying.
Bottino et al. (2015) mencionam que o cyberbullying é uma nova forma de violência disseminada na mídia eletrônica e tem causado preocupação em pais, educadores e pesquisadores devido aos efeitos negativos que causam na saúde mental do adolescente. Ainda de acordo com os pesquisadores, o termo é derivado dos tradicionais comportamentos de bullying, que são comumente observados entre estudantes, por meio do abuso verbal e insultos, assim como agressões físicas de diversos tipos. Esse comportamento é repetitivo e sistemático, contra um sujeito que é incapaz ou falha em conseguir se defender. O cyberbullying é a expressão dessas características quando restringido em e-mails, salas de bate-papo, celulares ou qualquer outro recurso eletrônico.
Cantone et al. (2015) discutem a existência de três papéis principais no ciclo do bullying: o bully, a vítima e os espectadores. Usualmente o bully é o mais forte entre os seus semelhantes e, paralelamente, apresenta uma necessidade de obter poder. O propósito principal dos comportamentos de bullying é o de minar o status social da vítima assim como seu senso de segurança pessoal, ao mesmo tempo em que o bully aumenta a sua autoestima e seu status social. Como consequência, as ações de bullying usualmente ocorrem em frente a um público. Os espectadores podem dar suporte ao bully, defender a vítima ou serem passivos.
As consequências desse fenômeno, para a vítima, são diversas: solidão, problemas de conduta, sentimento de medo, maior risco de depressão, ideação suicida e diminuição da autoestima (Parris, Varjas; Meyers, 2014). Dentre elas, o suicídio é a mais grave, um problema de saúde pública de âmbito mundial. A depressão, em alguns casos, torna-se um intermédio para a prática suicida e, associada a um fenômeno virtual, pouco se sabe em relação às estratégias para lidar com essa questão. Além disso, há outros aspectos que podem potencializar as chances do adolescente cometer suicídio: violência familiar, orientação sexual, abuso físico e sexual e perdas interpessoais. Sampasa-Kanyinga, Roumeliotis e Xu (2014) mencionam que os professores e pais devem ser treinados em relação às estratégias de prevenção, auxiliando-os a identificar sintomas ou mudanças comportamentais que possam estar relacionadas à depressão e ao suicídio.
Apesar dos conhecidos danos físicos e psíquicos, o cyberbullying é um tema que ainda necessita ser mais explorado, especialmente quanto às estratégias de enfrentamento em relação a esse fenômeno. Sabe-se que a conduta comumente utilizada pela vítima é a evitação, de diversos tipos: apagar mensagens desrespeitosas, bloquear o bully, ignorar emoções negativas, uso de substâncias, fingir que não se importa com essa problemática e, por fim, desabafar com amigos (quando o indicado é o acompanhamento com um profissional da área de saúde mental). Parris, Varjas e Meyers (2014) mencionam, em seu estudo, que a escuta de estudantes trouxe as seguintes sugestões destes no combate ao cyberbullying: buscar um serviço de prevenção, treinamento de pais e professores em relação à tecnologia e ao cyberbullying e intervenções com maior ênfase no comportamento do estudante ao invés da restrição de tecnologia.
Por fim, Nixon (2014) ressalta que o impacto é signif icativo na saúde do adolescente, sendo uma problemática que pode ser considerada de atenção pública, relacionada a diversos tipos de adoecimentos. “É evidente que essas vítimas necessitam de suporte emocional, porém ainda estamos diante de um fenômeno silencioso e igualmente devastador.”

Referências:
BOTTIN O, S. M. B. et al. Cyberbullying and adolescent mental health: systematic review. Cadernos de Saúde Pública, v. 31, n. 3, 2015.
CANTONE , E. et al. Interventions on bullying and cyberbullying in schools: a systematic review. Clinical Practice and Epidemiology in Mental Health, v. 26, n. 11, 2015.
NI XON, C. L. Current perspectives: the impact of cyberbullying on adolescent health. Adolescent Health, Medicine and Therapeutics Journal, v. 5, 2014.
PARRI S, L. N.; VARJAS, K.; MEYER S, J. “The internet is a mask”: High School students’ suggestions for preventing cyberbullying. Western Journal of Emergency Medicine, v. 15, n. 5, 2014.
SAMPASA-KANYING A, H.; ROUMELI OTIS, P.; XU, H. Associations between cyberbullying and school bullying victimization and suicidal ideation, plans and attempts among Canadian schoolchildren. PLoS One, v. 9, n. 7, 2014.

Igor Lins Lemos é doutorando em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE). É psicoterapeuta cognitivo-comportamental, palestrante e pesquisador das dependências tecnológicas. E-mail:igorlemos87@hotmail.com

Fonte: Revista Psique
Disponível em: <
http://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/Edicoes/117/artigo364132-1.asp>. Acesso em: 

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