Diversos fenômenos ampliaram suas configurações patológicas com o advento da cibercultura: a compulsão sexual se expandiu ao cibersexo e a dependência midiática, anteriormente circunscrita aos televisores, disseminou para os celulares, os jogos eletrônicos e a internet. Simultaneamente, o bullying ganhou o seu caráter virtual, igualmente doloroso: o cyberbullying.
Bottino et al. (2015) mencionam que o cyberbullying é uma nova forma de violência disseminada na mídia eletrônica e tem causado preocupação em pais, educadores e pesquisadores devido aos efeitos negativos que causam na saúde mental do adolescente. Ainda de acordo com os pesquisadores, o termo é derivado dos tradicionais comportamentos de bullying, que são comumente observados entre estudantes, por meio do abuso verbal e insultos, assim como agressões físicas de diversos tipos. Esse comportamento é repetitivo e sistemático, contra um sujeito que é incapaz ou falha em conseguir se defender. O cyberbullying é a expressão dessas características quando restringido em e-mails, salas de bate-papo, celulares ou qualquer outro recurso eletrônico.
Cantone et al. (2015) discutem a existência de três papéis principais no ciclo do bullying: o bully, a vítima e os espectadores. Usualmente o bully é o mais forte entre os seus semelhantes e, paralelamente, apresenta uma necessidade de obter poder. O propósito principal dos comportamentos de bullying é o de minar o status social da vítima assim como seu senso de segurança pessoal, ao mesmo tempo em que o bully aumenta a sua autoestima e seu status social. Como consequência, as ações de bullying usualmente ocorrem em frente a um público. Os espectadores podem dar suporte ao bully, defender a vítima ou serem passivos.
As consequências desse fenômeno, para a vítima, são diversas: solidão, problemas de conduta, sentimento de medo, maior risco de depressão, ideação suicida e diminuição da autoestima (Parris, Varjas; Meyers, 2014). Dentre elas, o suicídio é a mais grave, um problema de saúde pública de âmbito mundial. A depressão, em alguns casos, torna-se um intermédio para a prática suicida e, associada a um fenômeno virtual, pouco se sabe em relação às estratégias para lidar com essa questão. Além disso, há outros aspectos que podem potencializar as chances do adolescente cometer suicídio: violência familiar, orientação sexual, abuso físico e sexual e perdas interpessoais. Sampasa-Kanyinga, Roumeliotis e Xu (2014) mencionam que os professores e pais devem ser treinados em relação às estratégias de prevenção, auxiliando-os a identificar sintomas ou mudanças comportamentais que possam estar relacionadas à depressão e ao suicídio.
Apesar dos conhecidos danos físicos e psíquicos, o cyberbullying é um tema que ainda necessita ser mais explorado, especialmente quanto às estratégias de enfrentamento em relação a esse fenômeno. Sabe-se que a conduta comumente utilizada pela vítima é a evitação, de diversos tipos: apagar mensagens desrespeitosas, bloquear o bully, ignorar emoções negativas, uso de substâncias, fingir que não se importa com essa problemática e, por fim, desabafar com amigos (quando o indicado é o acompanhamento com um profissional da área de saúde mental). Parris, Varjas e Meyers (2014) mencionam, em seu estudo, que a escuta de estudantes trouxe as seguintes sugestões destes no combate ao cyberbullying: buscar um serviço de prevenção, treinamento de pais e professores em relação à tecnologia e ao cyberbullying e intervenções com maior ênfase no comportamento do estudante ao invés da restrição de tecnologia.
Por fim, Nixon (2014) ressalta que o impacto é signif icativo na saúde do adolescente, sendo uma problemática que pode ser considerada de atenção pública, relacionada a diversos tipos de adoecimentos. “É evidente que essas vítimas necessitam de suporte emocional, porém ainda estamos diante de um fenômeno silencioso e igualmente devastador.”
Referências:
BOTTIN O, S. M. B. et al. Cyberbullying and adolescent mental health: systematic review. Cadernos de Saúde Pública, v. 31, n. 3, 2015.
CANTONE , E. et al. Interventions on bullying and cyberbullying in schools: a systematic review. Clinical Practice and Epidemiology in Mental Health, v. 26, n. 11, 2015.
NI XON, C. L. Current perspectives: the impact of cyberbullying on adolescent health. Adolescent Health, Medicine and Therapeutics Journal, v. 5, 2014.
PARRI S, L. N.; VARJAS, K.; MEYER S, J. “The internet is a mask”: High School students’ suggestions for preventing cyberbullying. Western Journal of Emergency Medicine, v. 15, n. 5, 2014.
SAMPASA-KANYING A, H.; ROUMELI OTIS, P.; XU, H. Associations between cyberbullying and school bullying victimization and suicidal ideation, plans and attempts among Canadian schoolchildren. PLoS One, v. 9, n. 7, 2014.
Igor Lins Lemos é doutorando em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE). É psicoterapeuta cognitivo-comportamental, palestrante e pesquisador das dependências tecnológicas. E-mail:igorlemos87@hotmail.com
Fonte: Revista Psique
Disponível em: <http://portalcienciaevida. uol.com.br/esps/Edicoes/117/ artigo364132-1.asp>. Acesso em:
Fonte: Revista Psique
Disponível em: <http://portalcienciaevida.
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