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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Cyberpsicologia - Um novo diagnóstico psiquiátrico?

Transtorno do Jogo pela Internet está cada vez mais sendo alvo de investigação científica, por não ser apenas diversão, mas, principalmente, fonte de escapismo do cotidiano

Transtorno do jogo pela internet: um novo diagnóstico psiquiátrico?
Os jogos eletrônicos são considerados uma forma contemporânea de mídia, possuem uma estética própria e demandam o desenvolvimento de estratégias em tempo real. A utilização desse modelo tecnológico suscita a compreensão de regras complexas, consideradas cognitivamente desafiantes. Lemos et al. (2014) afirmam que a disseminação tecnológica repercutiu, intensamente, na dimensão individual e social, emergindo novas formas de pensar, sentir e agir na era da cibercultura.
Inúmeros benefícios são relacionados ao usufruto de jogos eletrônicos, sendo alguns deles: aprendizagem de língua estrangeira (especialmente o inglês), interação em grupo (os jogos on-line instigam este tipo de associação) e perda de peso corporal na prática dos exergames (jogos que permitem ao usuário movimentar todo o seu corpo). Apesar dos diversos pontos positivos, o caráter lúdico ainda é considerado o grande motivador da maioria dos gamers em se deter nesta prática.
Contemporaneamente, é notável relatar que os jogos eletrônicos estejam disseminados em, praticamente, todos os locais do mundo, independentemente de classe social de seus habitantes. Estes modelos podem ser utilizados, por exemplo, em celulares, computadores ou videogames. Além disso, todas as faixas etárias estão circunscritas nesse comportamento, especialmente, os adolescentes e adultos. Dessa forma, é possível afirmar que este assunto é de interesse da população, tanto do público leigo como da comunidade científica. Esse último grupo traz, com frequência cada vez maior, a possibilidade de que uma parte dos usuários esteja acometida por um possível transtorno psiquiátrico: o transtorno do jogo pela internet, escopo deste texto.

Estamos diante de um transtorno psiquiátrico especialmente, pela possibilidade de delinearmos este fenômeno como uma psicopatologia caracterizada por sintomas próprios, ao invés de ser considerada uma consequência de outros transtornos psiquiátricos

A queixa, feita pelos pacientes, de que o jogo eletrônico não é mais, apenas, representado pela diversão, mas, principalmente, como fonte de escapismo, ou seja, estratégia de fuga em relação aos problemas do cotidiano, é cada vez mais recorrente nos consultórios. De acordo com Lemos e Santana (2012), o usufruto de jogos eletrônicos pode ser considerado um comportamento desadaptativo, quando são apresentados sinais de excesso na utilização de tais tecnologias. Essa combinação traz consequências negativas: prejuízos em relacionamentos, em atividades acadêmicas e no mercado de trabalho. Desta forma, o Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais - 5ª edição (DSM -5), lançado em 2013, por meio de uma profunda investigação de estudos epidemiológicos, etiológicos, neuroimagem e comorbidades, inseriu, na sua última edição, o Transtorno do Jogo pela internet (TJI), na sessão III do livro (esta categoria engloba os possíveis transtornos psiquiátricos, que podem ser confirmados em um futuro próximo).
Outros sintomas pertencentes ao TJI são: preocupação com jogos que utilizem a internet; sintomas de recaída quando estes jogos são retirados; a necessidade de gastar cada vez mais tempo com jogos eletrônicos na internet; tentativas sem sucesso de controlar sua participação em jogos eletrônicos na internet; perda de interesses em antigos hobbies e entretenimentos como resultante, e de causa exclusiva, da prática de jogos eletrônicos na internet. Nota-se que a literatura científica reforçou que os jogos que podem ser considerados mais aditivos são aqueles que utilizem a internet, ou seja, os jogos on-line.
Como estudioso da Ciberpsicologia, a minha prática acadêmica e clínica com esta demanda revela que estamos diante de um transtorno psiquiátrico, especialmente, pela possibilidade de delinearmos este fenômeno como uma psicopatologia caracterizada por sintomas próprios, ao invés de ser considerada uma consequência de outros transtornos psiquiátricos, como a depressão e o transtorno de ansiedade social. Lemos et al. (2014) discutem sobre os aspectos neurológicos, o que reforça a possibilidade de estarmos diante de um fenômeno psiquiátrico real: os autores mencionam que, apesar de apenas recentemente pesquisas de neuroimagem em dependentes de jogos eletrônicos terem sido realizadas, contamos, no momento, com achados significativos. As alterações neurais, em linhas gerais, são semelhantes às observadas em pacientes dependentes de substâncias e de internet, especialmente durante o estado de fissura.
Por fim, Lemos, Abreu e Sougey (2014) mencionam que, em relação aos tratamentos psicoterapêuticos disponíveis, um estudo de revisão demonstrou que, apesar da novidade das dependências tecnológicas, a Terapia Cognitivo- -comportamental parece ser aplicável e permite um tratamento eficaz para esta população. E você, o que acha? Trata-se de um fenômeno passageiro? Um equívoco da Psiquiatria? Um diagnóstico real?

Referências:
LEMOS , I.L.; ABREU, C.N.; SOUG EY, E.B. Internet and Video Game Addictions: A Cognitive Behavioral Approach. Revista de Psiquiatria Clínica, v.41, n.3, 2014.
LEMOS , I.L.; DINI Z, P.R.B.; PERES, J.F.P.; SOUG EY, E.B. Neuroimagem na Dependência de Jogos Eletrônicos: Uma revisão sistemática. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v.63, n.1, 2014.
LEMOS , I.L.; SANTANA , S.M. Dependência de Jogos Eletrônicos: A possibilidade de um novo diagnóstico psiquiátrico.Revista de Psiquiatria Clínica, v.39, n.1, 2012.


Igor Lins Lemos é doutorando em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), especialista em Terapia Cognitivo-comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE), docente na Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS). Possui graduação em Psicologia Cognitivo-Comportamental. É palestrante e pesquisador das dependências tecnológicas
 
Fonte: Revista Psique

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