Powered By Blogger

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Realidade virtual ajuda pessoas aceitarem-se a si mesmas

                            Realidade virtual ajuda pessoas a aceitarem-se a si mesmas
Os resultados foram fortemente positivos, com os voluntários autocríticos sendo receptivos às mensagens de compaixão expressas por eles mesmos por meio de avatares.

Pensamentos autodestrutivos

A autocompaixão pode ser aprendida utilizando avatares em um ambiente de realidade virtual.

Pesquisadores já haviam usado arealidade virtual em psicoterapia e até mesmo para aliviar dores reais.
Agora, uma equipe da Universidade College de Londres usou uma abordagem inovadora com avatares virtuais que se mostrou eficaz para reduzir a autocrítica e aumentar a autocompaixão e os sentimentos de contentamento em indivíduos naturalmente autocríticos.

O professor Mel Slater e seus colegas afirmam que a técnica de realidade virtual poderá ser aplicada para tratar uma variedade de condições clínicas, incluindo a depressão e outras condições nas quais os pacientes apresentam fortes pensamentos autodestrutivos

Recebendo compaixão

Slater projetou um método para melhorar a compaixão das pessoas com relação a si mesmas criando uma situação única em que avatares são usados para prover uma "conversa consigo mesmo".

Os participantes foram todos treinados para expressar compaixão para com uma criança angustiada representada no ambiente virtual por seu avatar. Enquanto cada um conversava com a criança chorando, ela parecia ouvir e responder positivamente à compaixão demonstrada por cada voluntário.

Depois de alguns minutos, 22 dos participantes foram transferidos para o corpo virtual infantil e, a partir dessa perspectiva, viram seu corpo adulto virtual original expressando suas próprias palavras e gestos de compaixão para com os "eles-crianças".

Os restantes 21 participantes observaram o seu corpo adulto virtual original expressar compaixão para a criança a partir de uma perspectiva de terceira pessoa. Os participantes foram entrevistados para mensurar traços de humor e de personalidade antes e após o experimento.

Os resultados foram fortemente positivos, com os voluntários autocríticos sendo receptivos às mensagens de compaixão expressas por eles mesmos por meio de seu avatar adulto original.

"Quando você usa uma tela montada na cabeça e olha para baixo para si mesmo e vê um corpo virtual substituindo e movendo-se como o seu próprio, e também o vê em um espelho, isto dá uma dica poderosa para o cérebro que este é o seu corpo," comenta o professor Mel Slater, descrevendo como as palavras de compaixão têm um efeito real para a pessoa que as recebe mesmo por meio de um avatar.

Autocrítica e autocompaixão

O excesso de autocrítica desempenha um papel proeminente no desenvolvimento e na persistência de muitos problemas de saúde mental, incluindo a depressão.

As pessoas que são autocompassivas, por sua vez, tendem a ter níveis mais baixos de autocrítica e são mais capazes de lidar com eventos negativos da vida.

Nessas ocasiões, a autocompaixão age como um reservatório, ajudando a promover um clima positivo e um bem-estar geral.

Fonte: Diário da Saúde

Disponível em: <http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=realidade-virtual-ajuda-pessoas-aceitarem-se-si-mesmas&id=10205>. Acesso em: 26 nov. 2014

Caminhos para a verdadeira transformação

O objetivo fundamental de quem pretende contribuir com o desenvolvimento e as mudanças de outra pessoa consiste em se valer de todos os recursos conhecidos para ajudá-la

                      Imagem: Shutterstock
Flávio Gikovate é médico-psiquiatra, psicoterapeuta, conferencista e escritor. Atualmente apresenta o programa No Divã do Gikovate, na rádio CBN, e dedica a maior parte do seu tempo à clínica. Trabalha com psicoterapia breve.

Imagem: ShutterstockApesar de atuar como psiquiatra e psicoterapeuta há quase 50 anos, de repente me deparo com uma constatação que já deveria ter me incomodado há muito mais tempo: como é difícil mudar! E por que é tão difícil? Questões como essa, próprias de um espírito mais prático que teórico como o meu, deveriam ter sido objeto de atenção há mais tempo.
Nunca subestimei as dificuldades que todos encontramos ao tentar mudar qualquer comportamento consolidado, tanto os hábitos, compulsões e vícios, como os padrões de conduta ética, os diversos graus de imaturidade emocional, assim como os distúrbios de personalidade de todo o tipo. Ao mesmo tempo, nunca subestimei o "efeito placebo", ou seja, o fato de que o uso de determinados comprimidos inertes, assim como a presença de um terapeuta respeitado, podem interferir positivamente nos resultados. Assim, os textos teóricos que escrevi, extraídos de uma prática bem sucedida, nunca me fizeram perder o senso crítico; nunca achei que eles eram garantia de que eu havia feito descobertas extraordinárias e definitivas.
Penso na Psicologia como uma ciência e, como tal, como um processo em contínua transformação, no qual tudo é datado e não existem verdades absolutas. Tudo o que nos parece inquestionável hoje poderá ser - e será - ultrapassado amanhã. Essa é a riqueza e a beleza de um trabalho inesgotável. A bem da verdade, muitas das minhas ideias de 30 anos atrás já foram abandonadas por mim. Sim, porque penso que, dada a velocidade que o conhecimento adquiriu, 30 anos de hoje equivalem a mais de 100 anos no passado. É conveniente mantermos a mente "porosa", isto é, sempre receptiva a novas informações. Dados novos, especialmente aqueles que estão em contradição com o que acreditávamos até então, gerarão um estado mental inquieto em virtude das dúvidas substituírem antigas certezas. Esse estado pode ser um tanto sofrido, mas é criativo e nos impulsiona na busca de novas hipóteses que serão o fundamento das verdades parciais seguintes.

Freud viveu numa época e em um contexto tão diferente do nosso e isso tem que ser levado em conta
Cem anos atrás
Sendo essa minha forma de pensar, não posso me submeter com docilidade a doutrinas construídas há cerca de 100 anos. Sou profundo admirador do Freud e do seu trabalho pioneiro. Porém, não cabe, hoje, tomá-lo ao pé da letra. Ele viveu numa época e em um contexto tão diferente do nosso e isso tem que ser levado em conta. Penso em nós, os humanos, como seres biopsicossociais. O contexto psicológico e social do início do século 20 é extraordinariamente diferente do atual. Freud achava que as mais importantes influências aconteciam ao longo dos 5 primeiros anos de vida e acho que ele tem razão, pois os estudos de Neurociência confirmam que uma boa parte das conexões neuronais se constroem nessa fase inicial da vida. Assim, cabe comparar o dia a dia das crianças daquele tempo com o que acontece hoje.

Há 30 anos, o convívio familiar era a base das relações e do aprendizado das crianças durante a infância
É fato que o convívio familiar era a base das relações e do aprendizado das crianças durante a infância. Elas iam para a escola pelos 6-7 anos de idade. Brincavam na rua, com amigos ou parentes que se comportavam de um modo muito similar ao que vivenciavam em suas casas. Não sofriam outras influências externas, posto que os meios de comunicação eram escassos. A quantidade de brinquedos era limitada e muitos eram de fabricação caseira. Como comparar esse mundo, que, de certa forma, se estendeu até os anos da minha infância (fim dos anos 1940 e 1950) com o que vivemos na atualidade?
A televisão chegou, ao menos aparentemente, para agregar as famílias em torno de seus programas. Era assim no início; hoje, nas casas de classe média, existe um aparelho por pessoa. Os equipamentos eletrônicos de todo o tipo são de manipulação fácil e as crianças estabelecem enorme ligação com eles desde o segundo ano de vida. Sofrem a influência de tudo o que assistem, afora o fato de que frequentam escolas desde os 18 meses de idade. Brincam com enorme quantidade de produtos. No caso das meninas, que brincavam com bonecas cujo formato era o dos bebês - como que a prepara-las para a maternidade - de uns 30 anos para cá brincam com a Barbie, uma boneca com as formas de uma mulher adulta e linda: sonham em ser como ela! E não é raro que se tornem adolescentes frustradas, portadoras de importantes sentimentos de inferioridade em virtude de suas imperfeições, todas elas comparadas com o protótipo ideal de uma boneca que chegou e fez - e faz - tamanho sucesso porque encontrou o universo feminino em plena revolução.
Como imaginar que as figuras de pai e mãe tenham o peso quase absoluto que tinham? É claro que ainda são parte muito relevante do universo emocional das crianças. É evidente que continuam a existir rivalidades e ciúmes entre pai e filho e entre mãe e filha - afora, é claro, a inevitável rivalidade entre irmãos. Penso até que são mais intensas do que no passado, posto que o fim da hierarquização tradicional da família permite a expressão mais evidente de todas as emoções que povoam o ambiente familiar que, diga-se de passagem, perdeu a solidez e estabilidade dos tempos em que os casamentos eram "para toda a vida".
Não acho que foram apenas as tensões internas no seio das famílias que se tornaram mais explícitas e conscientes. Penso o mesmo das questões eróticas em geral, das fantasias que, na Viena de 100 anos atrás, povoavam o inconsciente daqueles que viviam na época vitoriana, cerceados por preconceitos de todo o tipo. A chegada da pílula anticoncepcional, assim como o avanço profissional das mulheres que se iniciou antes mesmo da libertação sexual dos anos 1960, modificou completamente o contexto ético em que temos vivido. Quase nada é, hoje, proibido. As famílias relutam, mas acabam aceitando a vida homossexual de seus filhos, evento tratado como normal e, até certo ponto, natural - é bom lembrar que no início do século XX a homossexualidade era tratada, inclusive por Freud, como perversão; e não porque ele fosse um conservador, mas sim porque a circunstância era outra; hoje, ele certamente não pensaria dessa forma.

PARA SABER MAIS
Desconstruindo Freud
Uma das ideias que defendo no livro que acabei de lançar é a de que não existe mais o inconsciente freudiano. O conteúdo do material inconsciente tornou-se muito menor tanto por força de vivermos numa sociedade muito menos repressiva quanto por força das próprias descobertas da Psicanálise e que nos desvendaram muitos dos mistérios que nos habitavam. Aliás, penso na Psicanálise como um importante motor das próprias mudanças sociais, tendo influenciado muito o surgimento desse mundo novo, ao menos do ponto de vista dos costumes. Assim, ela cumpriu com louvor seu papel em mais esse aspecto.
É indiscutível que existem tensões e contradições em nossa subjetividade. Isso não significa que um dos seus braços seja consciente e outro inconsciente; e nem mesmo que um seja racional e outro emocional; ou ainda um seja desprovido de valores éticos e o outro funcione como um censor moral. Penso que somos divididos em todos os ingredientes: podemos ter dois modos de pensar sobre o mesmo assunto, emoções contraditórias e juízos de valor que se chocam entre si, assim como emoções em confronto com aspectos mais racionais ou éticos. Ou seja, em nossa subjetividade acontece de tudo. E mais, que muitos desses dilemas são conscientes, sendo que um dos ingredientes se torna inconsciente apenas naqueles casos em que não nos vemos em condições de lidar com ele. Assim, podemos admirar, amar e invejar uma mesma pessoa - e aqui não é raro que a inveja desapareça da consciência. Podemos ansiar e temer a felicidade sentimental; podemos ansiar por uma quase "fusão" romântica e gostar da preservação de nossa individualidade sem que um dos ingredientes tenha que ser inconsciente. Uma criança pode sentir rivalidade sentimental com seu pai ou mãe do mesmo sexo - e isso será ainda mais explícito e claro no caso de "padrastos" e enteados. E assim por diante.

Imagem: ShutterstockNão é bom esquecer das extraordinárias mudanças no modo de viver das famílias, todas elas relacionadas com a independência econômica das mulheres. Os divórcios se tornaram muito mais frequentes, o número de filhos diminuiu muito e não são raros os lares em que a mulher é a mais importante provedora (hoje ocupam 60% das vagas nas universidades do mundo inteiro). O estilo de vida é essencialmente unissex, homens e mulheres compartilham atividades domésticas e a identidade de gênero, tão forte no passado, vem se esvaindo. Um mundo assim novo exige reflexões à altura de tantas transformações, apesar do respeito que acho justo manter pelos personagens extraordinários que consolidaram a ciência da Psicologia.

A chegada da pílula anticoncepcional, assim como o avanço profissional das mulheres, modificou completamente o contexto ético da sociedade

Imagem: ShutterstockPodemos nos ver divididos entre os anseios mais comuns próprios do meio social em que vivemos - e que chamo de "consciência oficial" - tais como a busca de uma condição material privilegiada, uma vontade de sucesso, destaque e ser objeto de admiração por parte das outras pessoas; e outro ponto de vista, mais humanista e igualitário, próprio de nossa subjetividade e em desacordo com o padrão usual, parte do que tenho chamado de "consciência maior". A consciência maior é a que caracteriza nossas verdadeiras convicções, nem sempre passíveis de serem exercidas por falta de corage m, de condições objetivas e até mesmo em função das contradições internas em que nos vemos envolvidos.
Contradições
A pessoa pode, por exemplo, ansiar por uma vida material mais discreta e simples ao mesmo tempo que convive num meio que gera expectativas de manifestação ostensiva de sucesso financeiro; se não se achar com forças para enfrentar eventuais desdobramentos negativos para sua atividade derivados de um posicionamento diferente dos que a cercam, tenderá a aceitar viver de acordo com a consciência oficial mesmo não sendo essa sua real vontade.

A consciência maior é a que caracteriza nossas verdadeiras convicções, nem sempre passíveis de serem exercidas
Por vezes a contradição é mais sutil, envolvendo uma suposta vontade que não pertence efetivamente à pessoa. O melhor exemplo é o de um rapaz de bem, preocupado com os direitos dos outros, e que, observando o comportamento de muitos dos seus colegas, pensa querer agir como os mais cafajestes e, com isso, ter sucesso sexual com muitas moças. Percebe-se como um perdedor nessa área por não ser capaz de chegar nelas e mentir dizendo-se apaixonado apenas com o intuito delas permitirem mais facilmente a abordagem erótica. Uma avaliação mais acurada mostra que esses moços não se sentem e nem se sentirão à vontade agindo dessa forma, ou seja, em oposição aos seus sentimentos éticos que os obrigam a ter preocupação com a dor que iriam causar nas moças. O que acontece, de fato, é um erro em suas ideias acerca do bom paquerador; essa competência é própria dos mais egoístas, dos que se preocupam mais com seu prazer do que com o direito dos outros. No fundo, o moço de bem não quer ser cafajeste - apesar de que gostaria de ter o acesso que eles têm às moças, o que é pouco viável.

Em alguns casos, a mudança acontece graças à coragem para enfrentar, de forma paulatina e gradual, certas situações fóbicas
Os exemplos de contradições internas são indescritíveis, de modo que, para mim, prevalece a ideia de que temos dois níveis de consciência - sendo que em cada um deles existem elementos racionais, emocionais e éticos - em substituição às formulações psicanalíticas tradicionais. Minha forma de pensar privilegia, de modo claro, nossos aspectos racionais. Penso, assim como alguns dos discípulos dissidentes de Freud (em particular O. Rank, ver acima), que é pela via do fortalecimento da razão que obtemos força, vontade e potência para nos encaminharmos no trajeto das mudanças. É por meio dela que podemos nos apropriar de novos dados acerca de nós mesmos, do meio em que vivemos e de nossas ponderações éticas; de posse dessas informações, poderemos definir condutas, ações que poderão ser repetitivas, mas que também poderão ser inovadoras, capazes de alterar o rumo da nossa forma de ser, agir e pensar.

Variáveis terapêuticas
Imagem: ShutterstockQuando penso a respeito das estratégias terapêuticas, aquelas que poderão ser utilizadas por quem deseja mudar - com ou sem a ajuda de um profissional especializado na área -, minha mente é extremamente eclética. Assim, não penso que em ciência se deva defender doutrinas, pontos de vista, teorias. O que interessa é a prática e se existe mais de uma razão que tenha determinado a maneira como nos tornamos "nós mesmos", devem existir mais de uma razão para sermos capazes de nos modificar. Reafirmo meu ponto de vista: somos seres biopsicossociais! Temos que nos habituar a pensar com as três variáveis ao mesmo tempo sem desconsiderar nenhuma delas e sem exagerar na importância de cada uma. Conforme o tipo de problema com o qual nos defrontamos teremos que refletir e considerar modos de trabalhar diferentes.

Para distúrbios em que existam importantes componentes orgânicos (certos quadros depressivos, alguns distúrbios alimentares, tendência ao alcoolismo etc.) cabe nos valermos dos recursos farmacológicos disponíveis. Para o tratamento de quadros fóbicos, para as mudanças de hábitos muito consolidados e que determinaram "rotas pavimentadas" em nosso sistema nervoso, talvez seja melhor utilizarmos técnicas comportamentais. Quando estamos diante de problemas existenciais, dificuldades na área sentimental, problemas de socialização e outros similares, penso que o melhor é nos valermos das técnicas dinâmicas e existenciais. Para o estresse profissional inevitável, quem sabe o melhor seja a utilização das estratégias orientais tradicionais (meditação, exercícios respiratórios, yoga) além da recomendação de exercícios aeróbicos. E assim por diante.
Penso que o objetivo fundamental de quem pretende contribuir com o desenvolvimento e as mudanças de uma outra pessoa - paciente, parceiro sentimental, filho, amigo... - consiste em se valer de todos os recursos conhecidos com o intuito de ajudar aquela criatura a realizar seus projetos evolutivos. Se existem diversos pontos de vista acerca de como fazê-lo é porque todos os meios utilizados têm sua valia. Além disso, temos sempre que nos lembrar do "efeito placebo" e que esse incremento no resultado depende muito da convicção de quem ajuda e também de sua sincera intenção de contribuir positivamente para a consecução do projeto de mudança. Posturas dogmáticas costumam ter mais compromisso com teorias do que com os resultados práticos; e isso, a meu ver, é um grave desvio de rota em uma área tão limitada e ainda incipiente como é o caso da Psicologia.

Imagem: ShutterstockPenso no trabalho psicológico como tendo sempre um caráter de pesquisa, próprio de quem percorre um território ainda pouco conhecido e um tanto inóspito. Assim, é fundamental assumir a postura de quem está diante de uma criatura peculiar, levando a sério a ideia de que cada pessoa é única e, por isso mesmo, não pode ser facilmente encaixada em um rótulo diagnóstico. A postura mais útil, para aquele que pretende ajudar uma pessoa a se conhecer melhor e ajudá-la a evoluir, é a de um ouvinte não excessivamente comprometido com doutrinas e disposto a registrar suas observações como um pesquisador que se vê diante de algo sempre inesperado e desconhecido. O trabalho terapêutico torna-se, assim, fascinante e eternamente renovado. Eventuais conclusões gerais, doutrinas teóricas de todo o tipo, têm que nascer da escuta criteriosa de cada criatura que tenhamos oportunidade de conhecer de forma desarmada e sincera. Só os ouvintes (terapeutas ou não) que não sejam críticos e dogmáticos terão a oportunidade de criar um contexto sereno e livre para que a pessoa se sinta confortável para falar sem censura e, só por isso, já ganhar algum tipo de autoconhecimento.

As pessoas mudam quando compreendem com profundidade e sinceridade as causas e mecanismos de uma determinada conduta
Em certos casos, as pessoas mudam quando compreendem com profundidade e sinceridade as causas e mecanismos perpetuadores de uma determinada conduta; e mais que isso: se dispõem a enfrentar eventuais sofrimentos e dificuldades envolvidas no processo de mudança; não é raro que as perdas aconteçam bem antes do momento em que aconteçam as recompensas derivadas da nova postura. Em outros casos, a mudança acontece graças à coragem para enfrentar, de forma paulatina e gradual, certas situações fóbicas, ou seja, situações nas quais se instalou um medo irracional. Outras vezes as mudanças acontecem em virtude de um acontecimento inesperado, uma experiência que desorganiza a estrutura de pensamento vigente na subjetividade de uma dada pessoa.
Poderia citar vários exemplos disso que Franz Alexander (ver ao lado), o pioneiro no uso das técnicas breves de psicoterapia dinâmica (em seu livro Terapêutica Psicanalítica), chamou de "experiência emocional corretiva". Porém, para honrar sua autoria, cito o exemplo dele e por ele extraído do livro "Os Miseráveis" de Vitor Hugo. Ele fala da experiência do personagem principal, Jean Val Jean, que foi preso por ter roubado castiçais de prata da igreja em que havia sido acolhido. Quando os policiais o conduzem de volta para a igreja, o padre age de um modo inesperado: diz aos policiais que ele, padre, havia doado as peças e que, em absoluto, elas tinham sido roubadas. Jean Val Jean fica tão atordoado e impactado pela atitude do religioso que se transforma; abandona seu estilo de vida, torna-se um cidadão digno e depois um importante revolucionário. Muitos desses "milagres" acontecem durante as consultas terapêuticas de qualidade, assim como nas boas relações entre pessoas em todos os contextos. Nunca se deve subestimar o impacto sofrido por uma pessoa que sempre se sentiu preterida e pouco considerada, quando cruza com alguém - valorizado por ela - que a prestigia e valoriza. E principalmente quando a ama de verdade.

Fonte: Revista Psique

Conhecer a depressão é contribuir para o melhor tratamento da doença

Por Camila Furtado 
Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA

Quando os primeiros sintomas começam a aparecer boa parte das pessoas que passam pela depressão, acreditam que as dificuldades relacionadas ao trabalho, fazem parte da rotina cansativa do dia-a-dia, que as discussões familiares são normais em todo e qualquer ambiente e que os momentos complicados ao lado do parceiro ou parceira, não passam de uma fase difícil que todos os casais vivenciam. A desconfiança de que os problemas podem ser considerados algo mais sério que exija um tratamento profissional, só costuma acontecer depois que a depressão já tomou conta da rotina do paciente.
Infelizmente ainda é grande o número de pessoas que não acreditam que a depressão não apresenta tamanha preocupação para um tratamento, pelo fato de os transtornos serem relacionados ao próprio controle psicológico. A pessoa que sofre de depressão passa por um momento complicado que exige além de tratamento e paciência, compreensão de quem está diretamente ligado ao paciente. Nem sempre esta compreensão acontece, o que dificulta a melhora constante dos sintomas.
Joseane Gomes é auxiliar de serviços gerais e conta que passou por momentos complicados com a depressão, ela sofreu calada por quase um ano e preferiu não expor os sintomas da doença. “A família não entende. Acha que é frescura. Que é falta de vergonha na cara. Que pobre não pode ter depressão. Só que um dia eu fui para o trabalho e lá eu tive a crise que foi muito forte. Eu chorava muito. Eu sentia uma angustia muito grande. Uma coisa muito forte. Que eu não tinha vontade de nada. De fazer nada. Eu só tinha vontade de morrer. Pra mim, se eu morresse acabava os problemas”, revela Joseane.
Ao ser diagnosticada com depressão a pessoa deve antes de qualquer contato, aceitar a doença e se preparar para as dificuldades que devem ser superadas mesmo durante o tratamento. Depois disso, o ideal é que o paciente tenha o acompanhamento adequado de um profissional e um familiar próximo que seja capaz de compreender e contribuir de forma positiva para o tratamento.
O que fazer para ajudar
  • Se mostrar presente
  • Dar apoio através de pequenos gestos
  • Não julgue nem critique
  • Não minimize a dor de quem sofre com a depressão
  • Evite dar conselhos e fazer comparações
  • Seja paciente
  • Faça questão de conhecer a doença
O que não deve ser dito ao deprimido
  • Você só precisa ver as coisas pelo lado positivo
  • Há pessoas que estão bem pior que você
  • Tudo isso é invenção da sua cabeça
  • Se você se levantar e fazer alguma coisa fica mais animado
  • Você é muito sensível
  • Por que tudo te incomoda?
  • Não é só você que tem problemas
Silvia Elena Vieira é psicóloga, especialista em Neuropsicologia e afirma que a depressão pode evoluir até para um “quadro suicida”, porém não somente existem os comportamentos suicidas, antes deles vem a própria ideação suicida, a qual, de acordo com a Psicologia, é caracterizada por vários comportamentos que indicam a possibilidade de que uma ideação suicida possa estar em andamento. “O suicídio é muitas vezes tratado como tabu ou como distante da realidade brasileira, quando o que acontece em nosso país é justamente o contrário”, ressalta Silvia.
A psicóloga destaca ainda que somente entre os brasileiros, nos últimos vinte anos, a taxa de suicídio cresceu 30% na faixa etária entre os 15 e 29 anos, tornando-se a terceira principal causa de morte de pessoas em plena vida produtiva no País.
Entenda a depressão
A depressão é um distúrbio afetivo que acompanha a humanidade ao longo de sua história. No sentido patológico, há presença de tristeza, pessimismo, baixa autoestima, que aparecem com frequência e podem combinar-se entre si. É imprescindível o acompanhamento médico tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento adequado.
Ao contrário do que normalmente se pensa, os fatores psicológicos e sociais, muitas vezes, são consequência e não causa da depressão. Vale ressaltar que o estresse pode precipitar a depressão em pessoas com predisposição, que provavelmente é genética. A prevalência (número de casos numa população) da depressão é estimada em 19%, o que significa que aproximadamente uma em cada cinco pessoas no mundo apresenta o problema em algum momento da vida.
A depressão não tem hora nem lugar para aparecer. Pode surgir em qualquer pessoa independente do sexo, idade, condição social ou econômica. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que até 2030 a depressão será a doença mais comum do mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde, incluindo câncer e doenças cardíacas.
Até o grande humorista Chico Anysio já sofreu de depressão, mesmo com uma rotina aparentemente alegre e rodeada de amigos o humorista falou pouco antes de morrer sobre o assunto. “Eu entendi que era depressão e eu pude pagar os remédios. E eu pude pagar ao psiquiatra, então eu venci. Porque ela é vencível”, conta Anysio.O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva foi quem teve a ideia de entrevistar Anysio. Ele queria que as palavras do humorista fossem usadas em um congresso contra o preconceito a doenças mentais.
O presidente da ABP explica que a doença está cada vez mais presente. “A depressão atinge de 20 a 25% da população. E significa que 20 a 25% da população, tem, teve ou terá um quadro de depressão ao longo da vida. Portanto pode atingir a qualquer pessoa, em qualquer idade”, conclui Silva.
 As principais causas
  • Solidão
  •  Falta de apoio social
  • Recentes experiências de vida estressantes  
  • História familiar de depressão  
  • Problemas de relacionamento ou conjugal
  •  Tensão financeira
  • Trauma ou abuso de infância
  •  Uso de álcool ou drogas
  • Situação de desemprego ou o subemprego
  • Problemas de saúde ou de dor crónica
 Fonte: site Minha Vida, site Escola Psicologia, site A12 e G1.
Fonte: (EN)CENA

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Muito além da depressão

Medicamentos da classe ISRS têm sido prescritos para o tratamento de diferentes transtornos mentais

A maioria das pessoas certamente já ouviu falar desses medicamentos, mas poucas sabem como atuam no cérebro e que seu uso na medicina vai além do controle dos sintomas da depressão. Antidepressivos são fármacos capazes de modificar a transmissão neuroquímica do cérebro, aumentando a concentração de substâncias relacionadas ao humor e à sensação de bem-estar. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) são atualmente a classe mais prescrita. A seguir, os usos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA), o órgão de regulação de drogas e alimentos nos Estados Unidos.
                                       
Prescrições off-labelEstudos mostram que entre 25% e 60% das prescrições são off-label, termo em inglês que se refere a indicações não contidas na bula. Os usos mais comuns de ISRSs incluem: 

-Abuso de drogas e dependência química -Autismo (em crianças) -Fibromialgia -TDAH (em crianças e adolescentes) -Transtorno bipolar 
-Transtornos de ansiedade -Transtornos alimentares -Transtorno obsessivo-compulsivo -Transtorno disfórico pré-menstrual -Dor neuropática
Em investigação

SRSs têm se mostrado promissores em testes clínicos para o tratamento de artrite, problemas decorrentes de AVC, neuropatia diabética, síndrome do intestino irritável, enxaqueca, síncope neurocardiogênica (desmaio) e ejaculação precoce.

Repertório em expansão

Abaixo, os cinco ISRSs que foram aprovados nos Estados Unidos e os anos em que foram liberados para comercialização

                      
Fonte: Scientific American Mente Cérebro

Cyberpsicologia - Um novo diagnóstico psiquiátrico?

Transtorno do Jogo pela Internet está cada vez mais sendo alvo de investigação científica, por não ser apenas diversão, mas, principalmente, fonte de escapismo do cotidiano

Transtorno do jogo pela internet: um novo diagnóstico psiquiátrico?
Os jogos eletrônicos são considerados uma forma contemporânea de mídia, possuem uma estética própria e demandam o desenvolvimento de estratégias em tempo real. A utilização desse modelo tecnológico suscita a compreensão de regras complexas, consideradas cognitivamente desafiantes. Lemos et al. (2014) afirmam que a disseminação tecnológica repercutiu, intensamente, na dimensão individual e social, emergindo novas formas de pensar, sentir e agir na era da cibercultura.
Inúmeros benefícios são relacionados ao usufruto de jogos eletrônicos, sendo alguns deles: aprendizagem de língua estrangeira (especialmente o inglês), interação em grupo (os jogos on-line instigam este tipo de associação) e perda de peso corporal na prática dos exergames (jogos que permitem ao usuário movimentar todo o seu corpo). Apesar dos diversos pontos positivos, o caráter lúdico ainda é considerado o grande motivador da maioria dos gamers em se deter nesta prática.
Contemporaneamente, é notável relatar que os jogos eletrônicos estejam disseminados em, praticamente, todos os locais do mundo, independentemente de classe social de seus habitantes. Estes modelos podem ser utilizados, por exemplo, em celulares, computadores ou videogames. Além disso, todas as faixas etárias estão circunscritas nesse comportamento, especialmente, os adolescentes e adultos. Dessa forma, é possível afirmar que este assunto é de interesse da população, tanto do público leigo como da comunidade científica. Esse último grupo traz, com frequência cada vez maior, a possibilidade de que uma parte dos usuários esteja acometida por um possível transtorno psiquiátrico: o transtorno do jogo pela internet, escopo deste texto.

Estamos diante de um transtorno psiquiátrico especialmente, pela possibilidade de delinearmos este fenômeno como uma psicopatologia caracterizada por sintomas próprios, ao invés de ser considerada uma consequência de outros transtornos psiquiátricos

A queixa, feita pelos pacientes, de que o jogo eletrônico não é mais, apenas, representado pela diversão, mas, principalmente, como fonte de escapismo, ou seja, estratégia de fuga em relação aos problemas do cotidiano, é cada vez mais recorrente nos consultórios. De acordo com Lemos e Santana (2012), o usufruto de jogos eletrônicos pode ser considerado um comportamento desadaptativo, quando são apresentados sinais de excesso na utilização de tais tecnologias. Essa combinação traz consequências negativas: prejuízos em relacionamentos, em atividades acadêmicas e no mercado de trabalho. Desta forma, o Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais - 5ª edição (DSM -5), lançado em 2013, por meio de uma profunda investigação de estudos epidemiológicos, etiológicos, neuroimagem e comorbidades, inseriu, na sua última edição, o Transtorno do Jogo pela internet (TJI), na sessão III do livro (esta categoria engloba os possíveis transtornos psiquiátricos, que podem ser confirmados em um futuro próximo).
Outros sintomas pertencentes ao TJI são: preocupação com jogos que utilizem a internet; sintomas de recaída quando estes jogos são retirados; a necessidade de gastar cada vez mais tempo com jogos eletrônicos na internet; tentativas sem sucesso de controlar sua participação em jogos eletrônicos na internet; perda de interesses em antigos hobbies e entretenimentos como resultante, e de causa exclusiva, da prática de jogos eletrônicos na internet. Nota-se que a literatura científica reforçou que os jogos que podem ser considerados mais aditivos são aqueles que utilizem a internet, ou seja, os jogos on-line.
Como estudioso da Ciberpsicologia, a minha prática acadêmica e clínica com esta demanda revela que estamos diante de um transtorno psiquiátrico, especialmente, pela possibilidade de delinearmos este fenômeno como uma psicopatologia caracterizada por sintomas próprios, ao invés de ser considerada uma consequência de outros transtornos psiquiátricos, como a depressão e o transtorno de ansiedade social. Lemos et al. (2014) discutem sobre os aspectos neurológicos, o que reforça a possibilidade de estarmos diante de um fenômeno psiquiátrico real: os autores mencionam que, apesar de apenas recentemente pesquisas de neuroimagem em dependentes de jogos eletrônicos terem sido realizadas, contamos, no momento, com achados significativos. As alterações neurais, em linhas gerais, são semelhantes às observadas em pacientes dependentes de substâncias e de internet, especialmente durante o estado de fissura.
Por fim, Lemos, Abreu e Sougey (2014) mencionam que, em relação aos tratamentos psicoterapêuticos disponíveis, um estudo de revisão demonstrou que, apesar da novidade das dependências tecnológicas, a Terapia Cognitivo- -comportamental parece ser aplicável e permite um tratamento eficaz para esta população. E você, o que acha? Trata-se de um fenômeno passageiro? Um equívoco da Psiquiatria? Um diagnóstico real?

Referências:
LEMOS , I.L.; ABREU, C.N.; SOUG EY, E.B. Internet and Video Game Addictions: A Cognitive Behavioral Approach. Revista de Psiquiatria Clínica, v.41, n.3, 2014.
LEMOS , I.L.; DINI Z, P.R.B.; PERES, J.F.P.; SOUG EY, E.B. Neuroimagem na Dependência de Jogos Eletrônicos: Uma revisão sistemática. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v.63, n.1, 2014.
LEMOS , I.L.; SANTANA , S.M. Dependência de Jogos Eletrônicos: A possibilidade de um novo diagnóstico psiquiátrico.Revista de Psiquiatria Clínica, v.39, n.1, 2012.


Igor Lins Lemos é doutorando em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), especialista em Terapia Cognitivo-comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE), docente na Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS). Possui graduação em Psicologia Cognitivo-Comportamental. É palestrante e pesquisador das dependências tecnológicas
 
Fonte: Revista Psique

Musicoterapia reduz depressão em crianças e adolescentes

Benefícios da musicoterapia

A musicoterapia reduz a depressão em crianças e adolescentes com problemas de comportamento e emocionais.
A conclusão é da equipe do professor Sam Porter, da Universidade Queens (Reino Unido), que realizou o maior estudo já feito sobre o assunto.
Os pesquisadores descobriram que as crianças que receberam a terapia de música melhoraram significativamente a autoestima e apresentaram uma redução significativa da depressão, em comparação com aquelas que receberam o tratamento normal, sem musicoterapia.
O estudo também revelou que quem passa pela musicoterapia melhora as habilidades comunicativas e interativas, em comparação com quem recebe as opções de cuidados habituais.
Além disso, o acompanhamento dos pacientes mostrou que os benefícios obtidos com a musicoterapia são duradouros, sustentados a longo prazo, ao contrário das terapias habituais.

Musicoterapia como opção de tratamento

"Este estudo é imensamente significativo em termos de determinar tratamentos eficazes para as crianças e jovens com problemas de comportamento e necessidades de saúde mental," disse o professor Porter.

O estudo envolveu 251 crianças e jovens acompanhados entre Março de 2011 e Maio de 2014, divididos em dois grupos - 128 receberam as opções de cuidados habituais contra a depressão infantil, enquanto 123 foram designados para a musicoterapia como terapia complementar, ou seja, receberam também os cuidados habituais. Todos estavam em tratamento para problemas emocionais, de desenvolvimento ou de comportamento.

"A musicoterapia tem sido frequentemente utilizada com crianças e jovens com necessidades específicas de saúde mental, mas esta é a primeira vez que a sua eficácia foi demonstrada definitivamente por um estudo randomizado controlado em um ambiente clínico. Os resultados são dramáticos e ressaltam a necessidade da musicoterapia ser disponibilizada como uma opção de tratamento convencional," acrescentou Ciara Reilly, membro da equipe.

                                                 Musicoterapia reduz depressão em crianças e adolescentes
Outro estudo já havia demonstrado que a musicoterapia ajuda crianças em reabilitação no aprendizado da fala.

Fonte: Diario da Saude

Disponível em: http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=musicoterapia-reduz-depressao-criancas-adolescentes&id=10184. Acesso em: 20 nov. 2014

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Em busca da imagem perfeita

O transtorno dismórfico corporal, que atinge 2% da população, é caracterizado por uma preocupação patológica a aparência física

Em tempos de selfies e outras formas de autoexposição, em especial nas redes sociais, a preocupação exacerbada com a própria imagem parece cada vez mais presente. E o resultado disso se vê nos consultórios médicos. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica revelam que o número de procedimentos estéticos aumentou 10% em 2014, no Brasil, o que significa aproximadamente 1 milhão de cirurgias plásticas realizadas. 

transtorno dismórfico corporal (TDC), também chamado de dismorfia, é um quadro no qual a pessoa se torna patologicamente preocupada com uma característica física imaginada ou pouco perceptível em sua aparência. Ele costuma ser associado ao transtorno obsessivo compulsivo (TOC), à ansiedade e à depressão e, nos casos mais graves, ao risco de suicídio.
 Embora na opinião de alguns profissionais como a dermatologista Luciana Conrado, doutora em ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o termo “dismórfico” não seja necessariamente o mais adequado para descrever o transtorno, ela reconhece que a insatisfação é a “massa de trabalho” dos profissionais que atendem pessoas em busca de correções físicas. “O limite é tênue, mas em certos casos, a diferença entre a maneira que o indivíduo vê o próprio corpo e a maneira como os outros o enxergam é muito distante”, observa a médica, pós-graduada em psicossomática psicanalítica pelo Instituto Sedes Sapientiae.
O interesse por compreender melhor o que estava por trás da preocupação exagerada com um defeito pequeno ou inexistente apresentada por alguns pacientes que chegavam ao seu consultório a motivou a estudar esse “problema secreto”, que muitas vezes os pacientes escondem e, não raro, os próprios profissionais têm dificuldade de identificar e manejar.
Segundo ela, na população em geral, 2% das pessoas apresentam o transtorno; entre pacientes dermatológicos 7% se enquadram no diagnóstico e quando consideramos os que buscam tratamentos cosméticos esse percentual chega a 14%, um índice considerado bastante alto. Para chegar a esses resultados, a dermatologista desenvolveu uma pesquisa, inspirada no estudo da psiquiatra americana Katherine Phillips, para a conclusão de seu doutorado, em 2009, levando em conta o enquadre diagnóstico, a epidemiologia e a avaliação do nível de crítica dos voluntários, usando testes psiquiátricos para fazer a avaliação.
Na ocasião, entrevistou 350 pessoas: 150 pacientes dermatológicos, outros 150 que haviam procurado tratamento cosmético e 50 provenientes da ortopedia, que compuseram o grupo de controle. Luciana Conrado salienta ainda que não apenas dermatologistas e cirurgiões plásticos recebem essas pessoas, mas também otorrinolaringologistas, oftalmologistas, dentistas e mesmo profissionais que trabalham com estética devem ficar atentos aos clientes que nunca parecem satisfeitos e continuam pedindo novas intervenções.

Ela defende o atendimento multiprofissional para esses pacientes. Trabalhando na Universidade Justus Von Liebig, em Giessen, na Alemanha, ela acompanhou o tratamento de pessoas com o transtorno que recebiam atendimento diversificado: acompanhamento dermatológico e psiquiátrico, medicação para conter a obsessão, sessões de terapia de grupo e arteterapia. Ainda que seja difícil falar em cura definitiva, o acompanhamento focado na diminuição da percepção do suposto defeito pode trazer grande alívio ao paciente.

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

Para melhorar o humor, mude seu estilo de andar

Redação do Diário da Saúde

Nosso humor pode afetar nosso modo de andar - os ombros caídos quando estamos tristes, ou oscilando vigorosamente quando estamos felizes.
Agora ficou demonstrado que o contrário também é verdadeiro.
Ou seja, fazer as pessoas imitarem uma maneira de andar feliz ou triste de fato afeta o seu humor.

Estilo de andar e humor

Os voluntários que foram postos para andar em um estilo mais deprimido, com menos movimento dos braços e os ombros inclinados para a frente, experimentaram humores piores do que aqueles que foram induzidos a caminhar em um estilo mais feliz.
Para tirar a prova, os pesquisadores mostraram aos voluntários uma lista de palavras positivas ou negativas, como "bonito", "medo" e "ansioso" e, em seguida, pediram-lhes para andar em uma esteira enquanto mediam a sua marcha e sua postura.
Uma tela mostrava um indicador que se movia para a esquerda ou para a direita, dependendo se o estilo de andar de cada voluntário era mais deprimido ou feliz. Acontece que os voluntários não sabiam o que o indicador estava medindo.
Os pesquisadores então pediram que alguns tentassem mover o indicador para a esquerda, enquanto outros deviam tentar movê-lo para a direita.
"Eles aprenderam muito rapidamente a andar da maneira que queríamos que eles andassem," contam Nikolaus Troje (Universidade de Queen), que fez o estudo com o auxílio de pesquisadores do Instituto Canadense de Pesquisas Avançadas.

Ferramenta terapêutica

Finalmente, os voluntários tinham que escrever tantas palavras quantas pudessem se lembrar da lista anterior de palavras positivas e negativas.
Aqueles que tinham andado em um estilo deprimido lembraram muito mais palavras negativas. A diferença na lembrança sugere que o estilo de andar deprimido realmente cria um humor mais deprimido.
"Se você puder quebrar esse ciclo vicioso, você pode ter uma ferramenta terapêutica forte para trabalhar com pacientes depressivos," concluem os pesquisadores.

Fonte: Diário da Saúde