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terça-feira, 11 de junho de 2013

Psicólogo Joachín Rivière fala sobre a influência do pensamento pichoniano na América Latina

Para o pesquisador, instituições como o Caps surgem para romper com modelo de saúde mental hierarquizado

 
O trabalho em grupo é uma ferramenta valiosa na promoção de saúde. E foi justamente no poder terapêutico das organizações sociais humanas que o psiquiatra e psicanalista suíço radicado na Argentina, Enrique Pichon Rivière (1907-1977), apostou. Pioneiro na introdução da psicanálise no campo da psiquiatria, na década de 40 ele começou a sistematizar a técnica de grupos operativos como alternativa ao tratamento tradicional medicamentoso que era dispensado aos doentes mentais no hospital de Las Mercedes, em Buenos Aires. “O sofrimento do sujeito se articula com sua história pessoal e social”, afirma o psicólogo social Joachín Pichon Rivière, filho de Pichon e maior especialista em sua obra, em mesa redonda no IX Congresso Brasileiro de Psicanálise das Configurações Vinculares, promovido pelo Núcleo de Estudos em Saúde Mental e Psicanálise (Nesme), em maio, no interior de São Paulo. Joachín acredita que, ao enunciar um sofrimento psíquico, a pessoa reatualiza sua própria história e denuncia conflitos sociais.

A experiência clínica com grupos mostra que a assistência mútua entre os próprios pacientes permite a troca de posições, lugares e experiências e favorece maior identificação e criação de vínculos entre eles, o que ajuda a amenizar dificuldades emocionais. A “tarefa”, implícita em qualquer grupo, conceito formulado por Pichon que abrange níveis conscientes e inconscientes, é o ponto em comum a ser resolvido e motivo pelo qual as pessoas se unem. Com a proposta de trabalho interdisciplinar, equipamentos de saúde como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) surgem na América Latina, segundo Joachín, rompendo com o modelo de saúde mental hierarquizado. “Cada pessoa vale sua voz”, afirma.

O psicólogo argumenta que a psicoterapia de grupo aparece no Brasil como alternativa à tradicional análise, não raro restrita a determinados grupos sociais. O objetivo da técnica grupal é abordar, durante a execução da tarefa, tanto problemas pessoais como referentes ao grupo para que, por meio da relação com o outro e da aceitação da diferença, o terapeuta possa ajudar os participantes a elaborar ansiedades e compreender mais profundamente suas questões. Pichon propõe que cada membro deve saber a posição dos outros. Centrado na tarefa, o terapeuta observa o grupo sistematicamente e analisa as operações mentais em sua inter-relação social – as ciências sociais, a psicanálise e a psicologia social constituem as bases principais de seu marco conceitual, a interdisciplinaridade.

Embora tenha desenvolvido conceitos com base na psicanálise, Pichon critica sua prática restrita ao consultório particular. Ele sustenta a ideia de sua “democratização” e sugere um novo enfoque epistemológico, mais ligado à psicologia social – a influência de Karl Marx é evidente em sua teoria. “A realidade se impõe e precisa ser pensada”, acrescenta Joachín. Ele defende que é necessário conhecer os problemas sociais literalmente de perto. “É preciso criar vínculo”, completa.

Pichon costumava dizer que o grupo seria instrumento de transformação da realidade. A influência da família na formação dos sintomas e na evolução de patologias também tem enfoque fundamental em suas teorias – é com base nessa relação que o psicanalista alerta para a importância e o poder da grupalidade. Joachín propõe que a saúde mental está relacionada à possibilidade do sujeito de satisfazer suas necessidades, por meio de vínculos psicossociais, sociodinâmicos e institucionais, em um processo de transformação de si, do outro e do mundo. O resultado dessa complexa interação ajuda a construir sua conduta no mundo, embora seja imprescindível considerar que os vínculos são composições em constante transformação. “O ‘louco’ é símbolo da estrutura social. Permitir que ele circule por outros papéis abre possibilidades de transformar suas experiências”, conclui Joachín.

 
Fonte: Revista Mente e Cérebro
 

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