Para o pesquisador, instituições como o Caps surgem para romper com modelo de saúde mental hierarquizado

A experiência clínica com grupos mostra que a assistência mútua entre os próprios pacientes permite a troca de posições, lugares e experiências e favorece maior identificação e criação de vínculos entre eles, o que ajuda a amenizar dificuldades emocionais. A “tarefa”, implícita em qualquer grupo, conceito formulado por Pichon que abrange níveis conscientes e inconscientes, é o ponto em comum a ser resolvido e motivo pelo qual as pessoas se unem. Com a proposta de trabalho interdisciplinar, equipamentos de saúde como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) surgem na América Latina, segundo Joachín, rompendo com o modelo de saúde mental hierarquizado. “Cada pessoa vale sua voz”, afirma.
O psicólogo argumenta que a psicoterapia de grupo aparece no Brasil como alternativa à tradicional análise, não raro restrita a determinados grupos sociais. O objetivo da técnica grupal é abordar, durante a execução da tarefa, tanto problemas pessoais como referentes ao grupo para que, por meio da relação com o outro e da aceitação da diferença, o terapeuta possa ajudar os participantes a elaborar ansiedades e compreender mais profundamente suas questões. Pichon propõe que cada membro deve saber a posição dos outros. Centrado na tarefa, o terapeuta observa o grupo sistematicamente e analisa as operações mentais em sua inter-relação social – as ciências sociais, a psicanálise e a psicologia social constituem as bases principais de seu marco conceitual, a interdisciplinaridade.
Embora tenha desenvolvido conceitos com base na psicanálise, Pichon critica sua prática restrita ao consultório particular. Ele sustenta a ideia de sua “democratização” e sugere um novo enfoque epistemológico, mais ligado à psicologia social – a influência de Karl Marx é evidente em sua teoria. “A realidade se impõe e precisa ser pensada”, acrescenta Joachín. Ele defende que é necessário conhecer os problemas sociais literalmente de perto. “É preciso criar vínculo”, completa.
Pichon costumava dizer que o grupo seria instrumento de transformação da realidade. A influência da família na formação dos sintomas e na evolução de patologias também tem enfoque fundamental em suas teorias – é com base nessa relação que o psicanalista alerta para a importância e o poder da grupalidade. Joachín propõe que a saúde mental está relacionada à possibilidade do sujeito de satisfazer suas necessidades, por meio de vínculos psicossociais, sociodinâmicos e institucionais, em um processo de transformação de si, do outro e do mundo. O resultado dessa complexa interação ajuda a construir sua conduta no mundo, embora seja imprescindível considerar que os vínculos são composições em constante transformação. “O ‘louco’ é símbolo da estrutura social. Permitir que ele circule por outros papéis abre possibilidades de transformar suas experiências”, conclui Joachín.
Fonte: Revista Mente e Cérebro
Disponível em:<http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/psicologo_social_joachin_pichon_riviere_fala_sobre_a_influencia_do_pensamento_pichoniano_na_america_latina.html >. Acesso em: 11 jun. 2013.
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