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sexta-feira, 13 de maio de 2016

Dislexia: um problema da escola?

A dificuldade de apreensão de informações pelos métodos tradicionais não compromete a capacidade intelectual e requer apenas adequações na forma de ensinar e aprender

A dislexia foi registrada pela primeira vez em 1890, quando um paciente foi até o oftalmologista porque não conseguia ler, mas o médico avaliou que sua visão estava perfeitamente normal. Por esse motivo, por algum tempo foi chamada de cegueira verbal. Posteriormente, foram encontradas algumas evidências biológicas para o transtorno. A primeira delas veio a partir de estudos de anatomia que mostram que, nos disléxicos, ocorre frequentemente uma migração diferenciada dos neurônios no desenvolvimento do feto. Isso faz com que os hemisférios tenham um desenvolvimento igual, como acontece nos canhotos, em vez de diferente e com a dominância de um deles, como é o mais comum.

Imagens de ressonância magnética funcional, feitas enquanto o paciente está lendo, mostram que vias diferentes das normais são usadas por essas pessoas. Vários profissionais trabalham com a hipótese de que a dislexia seja determinada pela predisposição genética. “A probabilidade de dislexia se o pai ou a mãe tem a doença é de 50%; se ambos, 75%”, afirma Maria Inez de Luca, neuropsicóloga e membro da equipe de avaliação para diagnóstico da Associação Brasileira de Dislexia (ABD).
Questões sobre o tema, entretanto, não são consensuais entre especialistas. “A dislexia não tem uma causa orgânica, é um problema de aprendizado e, portanto, deve ser tratada dentro da escola”, acredita a pediatra Maria Aparecida Moysés, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “A hipótese mais comum para o aluno com dificuldade é que ele tenha problemas familiares ou alguma deficiência. Geralmente, o universo escolar não é considerado. Em geral, são as precariedades da escola que geram um grande número de alunos com dificuldades no aprendizado”, diz Beatriz de Paula Souza, psicóloga e coordenadora do serviço de orientação à queixa escolar do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Aparentemente, no entanto, a dislexia não é uma exclusividade das escolas fracas. “A dislexia aparece também em famílias instruídas e em escolas de qualidade”, diz o neurologista Abam Topczewski. (Da redação)

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

Vale a pena viver sem estresse?

Todos nascemos com um nível de tensão esperado; sua falta é percebida de forma negativa

Estresse em excesso faz mal, ninguém duvida. Mas seria possível – ou conveniente – viver sem ele? Seria possível considerar, por exemplo, que entre as causas do definhamento das pessoas mais idosas está a falta de novidades e de solicitações externas?


A hipótese foi proposta pelo pesquisador Enrico Alleva, etólogo do Instituto Superior de Saúde, na Itália, onde estuda os mecanismos biológicos que estão na origem dos comportamentos animais.
Ele ressalta que há uma fase ontológica na vida da espécie e uma na do indivíduo em que se estabelece o nível de estresse que dele se espera, certo número de solicitações de que terá necessidade durante toda a vida. O sistema nervoso dos animais superiores é plástico e sujeito a modificações. Em alguns períodos do desenvolvimento há, porém, uma maior ou menor sensibilidade a essas mudanças. É estimulada então a produção de hormônios – por exemplo, a oxitocina ou o hormônio do crescimento – e são esses que marcam o cérebro e dão forma aos circuitos de reações aos estímulos que orientarão o comportamento do adulto.

Um adolescente que cresceu em um ambiente estimulante, rico de acontecimentos e emoções, tenderá a procurar essa mesma vivacidade quando adulto. A vida social, em particular, está associada às relações com a mãe e com o grupo primário; o adulto carregará a marca dessas relações até a velhice.
“Essa é a razão pela qual o estresse é fator importante para a qualidade de vida dos idosos”, explica Alleva. “A pessoa que vive sob certo nível de estresse ligado à presença de outras pessoas na casa, a atividades profissionais ou a uma vida social intensa sofre uma espécie de involução quando fica sozinha e sem obrigações.”
O médico Hans Selye foi o primeiro a usar, em 1936, a palavra “estresse” para indicar a “síndrome produzida por vários fatores nocivos”, em trabalho publicado na revista Nature. Poucos anos antes, entre 1910 e 1920, Walter Cannon havia introduzido o termo em fisiologia, transportando-o do jargão da engenharia. Stress, em inglês, significa “esforço, tensão”, e era usado principalmente por engenheiros para indicar a capacidade de resistência de uma ponte. Essa imagem se adaptava bem ao significado de estresse como resposta a mudanças: passagem de um ponto a outro, como através de um caminho mais ou menos resistente.
Não é de espantar, portanto, que os ingleses já usassem o termo no século 14. Mas a origem da palavra começa muito antes, no latim. No jargão popular, ditrictia significava aperto, angústia ou aflição. Os franceses a transformaram em détresse (também usado como sinônimo de angústia) e os italianos receberam de volta o neologismo que tem suas raízes no verbo strizzare. Na linguagem comum é sinônimo de cansaço, fadiga, ansiedade e preocupação, significados que acabam por trocar a causa pelo efeito. Esse equívoco não é raro em medicina.
O mesmo ocorreu, por exemplo, com o termo colesterol, entendido como algo nocivo e sintoma de doença, antes de ser reconhecido como um dos componentes indispensáveis das células e do metabolismo. O fato é que sem colesterol, assim como sem nenhum tipo de estresse, certamente nenhum de nós estaria aqui. 

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

Veja como a expressão não verbal mostra sinais da depressão

Expressão não verbal ajuda a diagnosticar a depressão
Nem todos os quadros de depressão são tão visíveis. Assim, medições objetivas da linguagem corporal podem ajudar no diagnóstico.
Diagnóstico da depressão
Pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) desenvolveram uma nova técnica para ajudar a diagnosticar a depressão.
"Geralmente, o diagnóstico da depressão e a avaliação dos resultados do tratamento são feitos mediante a aplicação de questionários-padrão. Esse tipo de instrumento tem a vantagem de estabelecer uma linguagem comum, universal.
"Mas depende essencialmente daquilo que a pessoa fala. E negligencia um outro aspecto, o da comunicação não verbal, que é exatamente aquilo que a pessoa não fala. Nossa pesquisa teve por foco esse outro aspecto," explica Clarice Gorenstein, que desenvolveu a nova metodologia com sua colega Juliana Teixeira Fiquer.
Expressão não verbal
A expressão não verbal, que diz "aquilo que a pessoa não fala", é definida por um amplo conjunto de parâmetros corporais, como postura de ombros e cabeça; movimentos de cabeça, gerais ou de concordância/discordância; curvatura da boca; sorriso (simétrico ou assimétrico), movimentações de sobrancelhas (testa franzida; levantar de sobrancelhas); contato ocular; corpo inclinado na direção do entrevistador, silêncio, choro, entre outros.
"Esses parâmetros podem ser observados de maneira genérica ou de modo sistemático. Nossa pesquisa buscou exatamente definir uma metodologia de observação sistemática - algo sobre o qual havia muito pouco estudo, principalmente no Brasil", explicou a pesquisadora.
A diferenciação entre as pessoas com e sem depressão foi claramente percebida quando os parâmetros corporais foram medidos de maneira objetiva.
"Considerando apenas alguns exemplos, em uma escala de pontuação de 0 a 10, foram obtidos os seguintes resultados: sorrisos, 2,3 para o grupo-controle e 1,0 para o grupo-depressão; contato ocular, 8,4 e 6,8. Já os escores do grupo-depressão foram maiores do que os do grupo-controle em relação às variáveis choro (0,8 e 0) e cabeça curvada para baixo (1,8 e 0,7)", contou Clarice.
Comportamentos sugestivos de interesse social e afetos positivos
Comportamentos sugestivos de desinteresse social, isolamento, afetos negativos
Corpo para frente (na direção do entrevistador)
Ombro baixo/encolhido
Cabeça Inclinada para a lateral
Cabeça curvada para baixo
Cabeça inclinada para cima
Braço cruzado
Movimento afirmativo de cabeça (Fazer "sim" com a cabeça)
Movimento negativo de cabeça (Fazer "não" com a cabeça)
Gestos ilustradores - movimentos com as mãos para ilustrar o que é dito
Gestos adaptadores - Movimentos com as mãos de automanipulação ou manipulação de objetos, sem função clara.
Contato ocular com o entrevistador
Boca curvada para baixo
Continuidade da conversação -vocalizações de interesse e concordância mediante a fala do entrevistador (ex."hum – hum")
Boca apertada/achatada
Sorriso simétrico, considerado associado a emoções positivas genuínas
Sorriso com a boca "torta" (assimétrico), considerado ambivalente, associado a emoções também negativas, como "estar sem graça".
Rir/ dar gargalhada
Chorar
Levantar sobrancelhas
Franzir a testa
Falar
Ficar em silêncio
Resposta automática
Além disso, as comparações entre voluntários com e sem depressão permitiu mostrar que a expressão não verbal pode confirmar ou desmentir a expressão verbal, o que reforça o interesse em incorporá-la ao processo de diagnóstico e avaliação.
"A comunicação não verbal é uma resposta reflexa. E, a menos que haja da parte do entrevistado uma determinação e uma capacidade muito fortes de controlar a linguagem do corpo, esta tenderá a expressar aquilo que não é exposto na fala, que não passa pelo crivo da fala.
"Principalmente no contexto clínico, a pessoa pode querer mostrar uma melhora, que efetivamente não teve, ou pode tentar esconder uma melhora, com medo de perder o atendimento. A comunicação não verbal ajudará o avaliador a formar um quadro mais realista", concluiu a pesquisadora.
Fonte: Diário da Saúde