Maus-tratos na infância e na adolescência levam a alteração em sistema psiconeuroendócrino.
O estresse precoce é um termo que engloba tanto traumas e maus-tratos físicos como abusos sexuais e emocionais sofridos por crianças e adolescentes.
O que pesquisadores brasileiros verificaram é que situações como essas podem agravar quadros de depressão mais tarde, na vida adulta.
A equipe do Dr. Mário Juruena, Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto detectou registros permanentes no cérebro de quem passou por esse tipo de estresse e estabeleceu um meio de identificar a relação entre causa e efeito em diferentes tipos de depressão.
Em parceria com pesquisadores britânicos, o estudou identificou alterações no eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA) - parte do sistema neuroendócrino que percebe as situações causadoras de estresse - como resultado de estresse precoce em pacientes com psicopatologias depressivas na vida adulta.
"Buscamos avaliar quadros de depressão atípica e melancólica em adultos com dificuldade de resposta a tratamentos, o que tende a ocorrer com mais frequência quando há histórico de estresse precoce", disse Juruena.
Segundo ele, estudos anteriores e a experiência em atendimento clínico indicam que, em geral, 50% dos casos de depressão não respondem ao tratamento.
Oitenta por cento dos pacientes com estresse precoce receberam o diagnóstico de depressão atípica. Entre os sintomas desse tipo de depressão estão a hiperfagia - tendência a comer em demasia, sobretudo doces e carboidratos - e a hipersonia - propensão para dormir muito. Eles são resultado de uma liberação muito baixa de cortisol pelo eixo HPA.
Por outro lado, a maioria dos pacientes sem estresse precoce foi diagnosticada com depressão melancólica. Nesse caso, o desequilíbrio no eixo HPA provoca a liberação de altos índices de cortisol, levando a quadros de insônia e perda de apetite.
Genética e epigenética
De acordo com o professor da FMRP, a pesquisa indicou que o estresse precoce exerce influência sobre as pessoas consideradas suscetíveis a apresentar um dos subtipos de depressão na vida adulta.
Mesmo passando por eventos traumáticos na infância e adolescência, há pessoas que não desenvolvem quadros depressivos, pois não apresentam predisposição genética à depressão, "tendo algum tipo de resiliência", disse Juruena.
"Os quadros de depressão apresentam uma interação entre a vulnerabilidade do indivíduo e o ambiente adverso em que ele viveu ou vive. Se um indivíduo com predisposição genética à depressão sofrer maus-tratos, os riscos de que desenvolva a doença aumentam muito. Isso ocorre por causa de fatores epigenéticos, ou seja, pela influência de fatores externos [ambientais, sociais, econômicos] na constituição física e psíquica dos indivíduos", disse.
Segundo Juruena, embora a síntese de proteínas esteja relacionada à herança genética de cada pessoa, crianças que passam por estresse precoce têm modificadas suas características de liberação de proteínas. Fatores ambientais exerceriam o dobro de influência nos quadros depressivos, em comparação com fatores genéticos.
Fonte: Diário da Saúde
Disponível em: <http://www.diariodasaude.com. br/news.php?article=estresse- precoce-agravar-depressao- vida-adulta&id=10000>. Acesso em: 1 set. 2014
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