Por: Luiz Fernando Garcia
O psicólogo e psicanalista Luiz Fernando Garcia atua com a Psicodinâmica aplicada aos negócios, visando propiciar um efeito terapêutico, a partir do trabalho em grupo, para auxiliar a performance de empresários e líderes corporativos
Órfão de pai e mãe e o filho mais velho de três irmãos, Luiz Fernand Garcia começou a trabalhar muito cedo. Sua trajetória inclui passagem por 16 empresas. A partir dos conhecimentos adquiridos com essas experiências, começou a se desenvolver na área de treinamentos em um programa no Brasil chamado Empretec, uma metodologia da Organização das Nações Unidas (ONU), voltada para o desenvolvimento do comportamento empreendedor.
A partir daí, não parou mais. Garcia acaba de lançar mais um livro. A proposta de O Cérebro de Alta Performance “é compreender que temos em nossa cabeça um equipamento poderosíssimo, que orquestra nossas escolhas e nossas reações e faz com que exista um modo de agir, a partir de sistemas que se interligam, como uma rede, e que determinam padrões de comportamento de natureza inconsciente. E entender que há um sistema que estabelece, por meio das estruturas que criamos, redes neurais que determinam nosso futuro e nossas decisões”, define.
É pioneiro, no País, na abordagem de Orientação para Resultados, em equipes e empresas, e coordenou o grupo responsável pelo desenvolvimento do T.O.T. (Training of trainers) do Empretec da América Latina e África, tendo treinado mais de 240 instrutores neste método e outras centenas na metodologia Saber Desenvolver, desenvolvida por ele próprio.
Com formação em Psicologia, Psicanálise e Administração de Empresas, Garcia aplica o processo de desenvolvimento Grupo Dirigido de Psicodinâmica em Negócios, baseado na integração de conteúdos das escolas de Psicologia, Administração, Economia e Psicanálise, com utilização direta no universo empresarial.
Você pode definir como funciona a Psicodinâmica aplicada aos negócios?
Luiz Fernando Garcia – A Psicodinâmica aplicada aos negócios visa à proporcionar um efeito terapêutico, a partir do trabalho de grupo e da abordagem do comportamento empreendedor com base nas escolas da Psicologia: Humanismo, Existencialismo, Comportamentalismo e Psicanálise. O objetivo é melhorar a qualidade das relações interpessoais e da condução dos negócios, por meio do desenvolvimento do participante, visando melhores resultados para a empresa e para a vida do empresário ou líder.
Em um de seus currículos, aparece que você reúne conhecimentos de psicanálise, psicologia, com portamentalismo, qualidade administrativa e consultoria empresarial. como consegue unir todos esses aspectos?
Garcia – Comecei a trabalhar muito cedo, sou órfão de pai e mãe e o filho mais velho de três irmãos. Passei por 16 empresas até hoje. Fui responsável pelo lançamento dos chocolates Smash, da Nestlé, no Brasil, e o “homem de vendas” do Grupo Akzo, multinacional da divisão de tintas Wanda. A partir dos conhecimentos adquiridos com essas experiências, comecei a me desenvolver na área de treinamentos em um programa no Brasil chamado Empretec, que é uma metodologia da Organização das Nações Unidas (ONU), voltada para o desenvolvimento do comportamento empreendedor. Por meio desse programa, vivenciei uma imersão, na qual tive mais de 102 aplicações desta metodologia, totalizando mais de 10 mil horas de trabalho. Fui convidado para instalar a transversalidade do empreendedorismo no Brasil no ano de 2000, junto com a equipe do então ministro Paulo Renato, responsável pela coordenação de 12.700 agentes de ensino na formação da Psicologia do Empreendedorismo. Tenho formação em Administração de empresas e especialização em Mercadologia, assino mais de 52 metodologias de desenvolvimento para adultos entre Fiesp, Fiesc, Sebrae, Senac, Ministério da Educação e Cultura e outras. Sou psicólogo e psicanalista em formação. A minha vida inteira me envolvi com empresários e suas dificuldades psicológicas, o que me levou a construir métodos de treinamentos voltados ao desenvolvimento da mente de líderes e empresários.
A minha vida inteira me envolvi com empresários e suas dificuldades psicológicas, o que me levou a construir métodos de treinamentos voltados ao desenvolvimento da mente de líderes e empresários
Segundo você, seu mais recente livro, o cérebro de alta performance, tem como proposta fazer o leitor compreender que todos temos na mente um equipamento poderoso, que orquestra escolhas e reações, além de mostrar que existe um modo de agir a partir de sistemas que se interligam com uma rede e que determinam Padrões de comportamento de natureza inconsciente. Pode detalhar mais esse conceito?
Garcia – Devemos considerar que existem três tipos de inconsciente: um inconsciente desconhecido, quando uma pessoa descobre o seu tipo psicológico e é, por exemplo, um introvertido e não um tímido, pois são duas coisas diferentes. Essa pessoa passa a tornar algo que era inconsciente para um nível consciente. Chamamos esse inconsciente de um inconsciente que não é consciente. A partir deste momento, o indivíduo se apropria do seu funcionamento com mais capacidade. O segundo inconsciente é o próprio inconsciente freudiano psicanalítico, no qual, de 0 a 7 anos de idade, fazemos nossas marcas na estrutura de personalidade e isso rege a forma como pensamos, sentimos e agimos diante de alguns estímulos. O terceiro inconsciente é o neurofisiológico, o nosso sistema de percepção, que vem nos últimos dez anos crescendo muito com a nomenclatura da Neurociência, ou seja, o cérebro tem esquemas próprios de funcionamento. Quando você decide uma coisa, na verdade, já decidiu há mais de sete segundos. Essas pesquisas constituem ambientes de conhecimento, que não são conhecidos por nós. É um cérebro que toma decisões que não passam pelo nosso processo consciente. Poderíamos chamar isso de um inconsciente automático de natureza neurofisiológica e que faz com que o consciente apenas responda a esses estímulos, de forma já coordenada pelo aparelho cerebral. O que procuro fazer no livro O Cérebro de Alta Performance (Editora Gente) é clarificar como podemos lidar com esse inconsciente neurofisiológico, por intermédio de exercícios práticos, estabelecer o domínio de algumas percepções.
Esses sistemas que se estabelecem, por meio de estruturas que criamos, seriam redes neurais, que determinam nosso futuro e nossas decisões?
Garcia – Exatamente. Com a diferença de que, no instante em que você compreende essa rede, conquista autonomia para a tomada de decisões, melhorando sua atuação sobre elas de forma mais consciente.
Como essas relações psicológicas e cerebrais podem influenciar no desempenho dos executivos à frente das empresas?
Garcia – A partir do momento em que os executivos conseguirem, por meio dos exercícios propostos, controlar o impulso e tomar decisões que vão ao encontro dos anseios e vontades legítimos, certamente conquistarão melhores resultados com eles e suas equipes
A partir do momento em que os executivos conseguirem, por meio dos exercícios propostos, controlar o impulso e tomar decisões que vão ao encontro dos anseios e vontades legítimos próprios, certamente conquistarão melhores resultados com eles e suas equipes
Por que, às vezes, agimos por impulso, o que pode causar, frequentemente, problemas futuros de ordem pessoal e profissional?
Garcia – Porque o nosso cérebro tem uma tendência natural a percorrer caminhos para chegar a decisões condicionadas pelas experiências anteriores e funções biológicas de natureza neurossimpática.
As decisões que tomamos diariamente, sejam as mais importantes ou simples, são todas conscientes ou racionais?
Garcia – Nem sempre. Muitas vezes somos traídos pelo nosso cérebro, achando que estamos tomando uma decisão consciente, quando, na verdade, ela está baseada em experiências passadas e funções biológicas.
Qual o segredo de um cérebro de alta performance?
Garcia – Treinamento e controle orientados para a obtenção de resultados, reduzindo sinapses novas, que mudem a forma de sentirmos a situação.
Seu trabalho é dirigido, especificamente, aos empresários. Os conflitos psicológicos que você encontra nesses profissionais são os mesmos problemas pelos quais passam os trabalhadores comuns (sem cargos de chefia), logicamente adaptados ao universo deles?
Garcia – Sem dúvida. E, naturalmente, os conflitos aparecem em diferentes graus, dependendo do nível de responsabilidade dentro da hierarquia, vínculos afetivos, saúde mental e prosperidade. Na essência, todos os colaboradores têm o potencial de ter uma conduta empreendedora mais desenvolvida Éuma questão de desenvolver e aperfeiçoar determinadas habilidades, que, muitas vezes, estão escondidas ou reprimidas em nosso modelo mental. No Grupo Dirigido, não participam só empresários. Há, também, diretores, presidentes e doutorados em áreas específicas, que se beneficiam desse processo há mais de 12 anos, em grupos que variam de 16 a 22 meses, com dois encontros mensais de seis horas, e regime de Grupo Terapia.
Você não tem receio que seus livros sejam confundidos com os chamados de autoajuda, muito em evidência de alguns anos para cá?
Garcia – Não vejo problema nisso. No final do ano passado lancei dois livros: O Cérebro de Alta Performance e Mente, Gestão e Resultados. O primeiro foi enquadrado na categoria autoajuda e o segundo, em Recursos Humanos. Essencialmente, ambos contribuem para a melhora da performance profissional das pessoas. Mas o primeiro pode ser adotado para questões pessoais.
Outro fenômeno atual é a atividade de coaching. você acha que o termo e, até mesmo, a própria atividade, está sendo banalizada?
Garcia – Acho que não. É natural que essa atividade se desenvolva com a maturidade do mercado profissional. O nosso trabalho é mais abrangente e, ao mesmo tempo, mais efetivo e especifico, pois possui elementos terapêuticos, inclusive, algumas técnicas do coaching, técnicas de grupo terapia e exercícios dirigidos de cunho comportamental em empresas e negócios.
O nosso trabalho é mais abrangente e, ao mesmo tempo, mais efetivo e especifico, pois possui elementos terapêuticos, inclusive, algumas técnicas do coaching, técnicas de grupo terapia e exercícios dirigidos de cunho comportamental em empresas e negócios
Procede a afirmação de que a falta de visão empresarial e/ou falta de tomada de decisão dos chefes de equipes têm relação direta com o ambiente familiar em que a pessoa foi criada? caso seja verdade, por que isso acontece?
Garcia – Em alguns casos, procede, pois nossas ações levam em consideração a percepção que os outros têm de nós e o caminho naturalmente utilizado pela mente humana para a tomada de decisões, que são condicionadas pelas experiências anteriores. Se essas experiências foram traumáticas, podem causar falta de confiança ou bloqueios mentais, que afetam o comportamento do empresário ou líder. Por exemplo, quem determina a autoconfiança é a função materna na primeira e na segunda infâncias.
Em sua análise da infância, freud disse que o comportamento das pessoas, ou seja, a sua personalidade, depende de estímulos do meio ambiente, como situações ocorridas enquanto criança. isso pode ser transferido para o mundo dos negócios?
Garcia – Sim. A nossa vida profissional não pode ser separada das experiências pessoais. Acontece que algumas pessoas superam dificuldades com mais facilidade do que outras, e isso acaba se refletindo no desenvolvimento profissional. Por isso é tão importante relacionar a personalidade pessoal e profissional para atingir um desenvolvimento humanista no mundo dos negócios. Descobrir quem fui para entender como poderei construir melhor meus resultados futuros.
Esses fatores que interferem no desempenho profissional são inconscientes. Você procura fazer com que o inconsciente se torne consciente?
Garcia – Sim, por meio de técnicas e exercícios, orientados às pessoas, para que elas tomem consciência dos mecanismos cerebrais que nos levam a tomar decisões condicionadas por experiências anteriores e funções biológicas e, a partir desse mapeamento, consigam construir estruturas e redes neurais, que as levem a tomar decisões de forma mais racional.
Você disse uma vez que apenas 3,5 a 5% da população mundial é dotada de personalidade empreendedora. o que é essa personalidade empreendedora e como distinguir um profissional com esse perfil?
Garcia – Uma personalidade que reúne as seguintes características: aceita correr riscos; é impulsivo; ansioso; tem qualidade de visão; compromisso com o trabalho; alto grau de iniciativa; controle interno alto. É possível distingui-lo por meio de testes e observando o comportamento dentro das organizações. O individuo é constituído por uma variância biopsicossocial. Biologicamente, carregamos o que é chamado de herdabilidade. Esta é constituída por herdabilidade fenotípica, fisiológica e do temperamento, constituída, assim, por uma poligenia, genes trabalhando juntos. Existem genes que, sabemos hoje, são responsáveis pela tolerância ao estresse, pela capacidade de correr riscos, pela capacidade de associar estímulos para encontrar saídas diferentes, genes que pré-dispõem a ansiedade por coisas novas e diferentes, o que inibe a capacidade de manter rotinas. A diferença entre personalidades empreendedoras e condutas empreendedoras, com as quais todos podem desenvolver uma melhor performance, é que a personalidade empreendedora se faz, justamente, por uma herança genética do temperamento, que traduz os traços colocados acima, e isso vai ser modelado de 0 a 7 anos, por meio de aceitação demasiada por parte de mãe, rejeição demasiada por parte de pai, muito controle por parte de mãe e pouco controle por parte de pai ou substitutos. Essa variância pode ser identificada a partir de uma conscientização de traços de comportamentos referentes à personalidade empreendedora.
A nossa vida profissional não pode ser separada das experiências pessoais. Acontece que algumas pessoas superam dificuldades com mais facilidade do que outras, e isso acaba se refletindo no desenvolvimento profissional. Por isso é tão importante relacionar a personalidade pessoal e profissional para atingir um desenvolvimento humanista no mundo dos negócios
Outro de seus livros que fez sucesso foi empresários no divã: como Freud, Jung e Lacan podem ajudar sua empresa a deslanchar. Transfiro a pergunta: Como Freud, Jung e Lacan podem ajudar os empresários?
Garcia – Com Freud, os empresários aprendem os mecanismos de defesa, o processo transferencial e contra-transferencial em relações com sócios, empresa familiar, colaboradores, líderes e liderados. São os mecanismos mais presentes em negociações, em momentos de ansiedade e como desarmar isso, estrategicamente, para que se reduza a tensão em uma situação de mudança, como uma fusão de empresa ou inclusão de um novo procedimento ou novidade que interfira no “corpo” dos colaboradores. Com Jung, é importante ressaltarmos que a teoria dos tipos psicológicos, quando presente para os empresários, facilita muito a mudança de equipes, processo seletivo, triagem, realocação de cargos e reavaliação da própria função que o empresário desenvolve dentro da empresa. Já Lacan, um dos pontos importantes que trabalhamos com os empresários é a importância de entender o processo de castração, algo inerente a um processo de mudança e desenvolvimento, que são traduções teóricas sobre estruturas de personalidade e a castração entre primeira e segunda infâncias.
Adotando a lógica dessas importantes figuras, quais são os principais aspectos psicológicos que afetam a vida do empresário?
Garcia – Os principais aspectos que afetam a vida do empresário são conseguir dividir o desejo de empreender com a entrega afetiva em suas relações pessoais e familiares, não misturar finanças da vida pessoal com finanças da empresa e, mais do que isso, não ter o afeto para formar o capital de giro necessário para momentos de sazonalidade.
As relações afetivas e outras questões do psiquismo podem influenciar o desempenho profissional do empresário? De que maneira?
Garcia – Sim. Por exemplo, por meio de um dos mecanismos de defesa postulados por Ana Freud, algo que se chama deslocamento, que é quando uma libido é reprimida a partir da direção de um objeto e é deslocada para outro objeto. Aí, ocorre a seguinte situação: “Brigo com meu sócio, mas não posso esmurrá-lo. Então, volto para casa e bato no meu filho ou arrumo uma confusão com a família, por que o queijo ficou azedo dentro da geladeira”. O processo, embora os mecanismos de defesa sejam adaptativos e necessários, alguns deles se tornam disfuncionais, levando problemas da empresa para as relações afetivas e das relações afetivas para a empresa, notoriamente, chamados de deslocamentos nas empresas familiares.
A posição de executivo, às vezes, não leva o profissional a uma situação de isolamento, que pode, inclusive, prejudicar seu relacionamento pessoal? como evitar o problema?
Garcia – Grande parte da mudança de um indivíduo adulto se faz pelo processo de conscientização. Estimamos que 50 % de uma mudança já acontecem quando ocorre uma conscientização. É importante que os executivos entendam um pouco sobre seu psiquismo de forma teórica e técnica, para que eles possam, naturalmente, se avaliar e possibilitar uma mudança na forma de como ele reage a alguns estímulos. A partir da conscientização, são apresentadas técnicas ou formas para que o executivo possa minimizar problemas relacionados, inclusive, à sensação de ser sozinho ou a grande dificuldade que é a solidão, frente à tomada de decisão de um líder.
Uma personalidade empreendedora reúne as seguintes características: aceita correr riscos; impulsivo; ansioso; tem qualidade de visão; compromisso com o trabalho; alto grau de iniciativa; controle interno alto. É possível distinguilo por meio de testes e observando o comportamento dentro das organizações
A pressão que o cargo de chefia exerce pode provocar autocobrança exagerada, o que pode levar à frustração e a problemas em sua sanidade psíquica?
Garcia – Sim. Um superego adequado é necessário à socialização e ao cumprimento de procedimentos, objetivos e planejamentos dentro da empresa. Quando isso se torna muito radical, como qualquer coisa que excede, pode desenvolver uma disfunção, tanto no líder maior quanto no menor, e essa disfunção começa a ser repassada a sua equipe, tornando-a mais personificada, tensa e inibindo a capacidade das informações chegarem até ele. Entre outros problemas, leva o próprio líder a comprometer aspectos da sua relação afetiva e sua prosperidade, nos quais o individuo passa a se autoboicotar, exigindo demasiadamente, diminuindo o poder da resiliência e da saúde mental, aumentando o seu nível de conflito interno e abrindo, por vezes, alguns traços compulsivos ou rituais para lidar com o alivio da tensão psíquica.
Essas seriam as causas de problemas de ansiedade, síndrome do pânico, relações extraconjugais e, até mesmo, alcoolismo, relatados por empresários na literatura médica?
Garcia – Sim, essa, certamente, é uma das causas que compõe a incapacidade do indivíduo em lidar com a mudança: a “castração”, a sua rigidez e a sua capacidade de se manter saudável. Com isso, abre-se a predisposição a uma patologia e o ego pode não suportar e começar a apresentar os traços patológicos, que podem, inclusive, já estarem predeterminados na primeira e na segunda infâncias.
Como trazer o mundo da psicologia e da psicanálise para o dia a dia do empresário? Ainda há preconceito em relação a isso?
Garcia – A primeira estratégia com os chefes de corporações nesses 12 anos, com mais de 1.300 empresários, presidentes e diretores que já passaram por nós, é sempre sugerir que comecemos a “comer pelas beiradas”. Primeiro, eles precisam conhecer um pouco sobre o que é Psicodinâmica, Fisiologia do comportamento, antropologia, sociologia, administração, economia, psicologia, psicanálise, comportamentalismo, existencialismo, humanismo e escolas que possam fazer sentido, por meio de uma interface mais amigável e prática, que traduza uma identificação para os donos de negócio e não uma teoria abstrata e subjetiva, que não tem aplicabilidade. Essa é a primeira estratégia em grupos com os empresários, presidentes e diretores. Após isso, eles passam a se aprofundar em cada tema, se autoavaliando e, posteriormente, eles experimentam ferramentas de trabalho, aplicando essas técnicas no dia a dia da gestão e da liderança. Sempre houve o preconceito, desde o nascimento da Psicanálise ou das escolas da Psicologia. Não é diferente hoje. O fato é que o mundo está pedindo mudanças e abertura, e isso está tornando mais fácil, está criando uma predisposição maior para que o mundo da Psicologia comece a chegar às necessidades dos diretores de RH, dos gestores de pessoas e, em especial, dos líderes maiores: presidentes, diretores e empresários. Isso, naturalmente, vem se constituindo como uma necessidade. Afinal de contas, não são mais apenas ferramentas, processos ou dispositivos de controle que fazem a diferença e, sim, como funciona a mente dos indivíduos para predispor o desenvolvimento de um negócio, departamento ou de um novo empreendimento.
Um superego adequado é necessário à socialização e ao cumprimento de procedimentos, objetivos e planejamentos dentro da empresa. Quando isso se torna muito radical, como qualquer coisa que excede, pode desenvolver uma disfunção, tanto no líder maior quanto no menor.
Em sua experiência, há diferenças de comportamento psicossocial entre empresários brasileiros e estrangeiros, mesmo em um mundo globalizado? Como você analisa isso, uma vez que defende que o meio exerce influência no comportamento?
Garcia – Sim, não podemos isolar o indivíduo de sua cultura, de seu marco histórico, momento em que nasceu, como nasceu, onde nasceu. Sua posição sociográfica, sua posição econômica e sua posição cultural traduzem diferenças em como lidar com os negócios. Alemães são completamente diferentes em sua rigorosidade do que os brasileiros. Assim, temos experiências de espanhóis, mexicanos, italianos, japoneses, chineses, alemães e coreanos, durante os processos de grupos dirigidos, que traduzem diferenças muito marcantes no seu funcionamento. É preciso que a gente saiba distinguir valores, que são sempre traduzidos a partir da construção dos aspectos citados: o indivíduo possui valores próprios de sua criação, de seu ambiente, do lugar onde vive e convive.
Por que você disse em uma entrevista que o nível de fantasia é maior em empresários bem-sucedidos?
Garcia – Porque eles estão dispostos a arriscar mais, mesmo que isso os leve a errar mais. Duas das principais características do empresário bem-sucedido, além de correr riscos, são a persistência e o seu nível alto de idealização.
Fonte: Revista Psique