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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Depressão e suicídio estão entre as principais causas de morte entre adolescentes

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A depressão é a principal causa mundial de doenças e invalidez para adolescentes, com o suicídio sendo a terceira maior causa de morte nessa faixa etária, segundo a Organização Mundial de Saúde.

A constatação está em um novo relatório que reuniu uma grande quantidade de evidências publicadas com consultas diretas de jovens entre 10 e 19 anos em todo o mundo para avaliar os problemas de saúde que os afetam.
“O mundo não tem dado atenção suficiente para a saúde dos adolescentes”, diz Flavia Bustreo, chefe da divisão de saúde da família, mulheres e crianças da OMS. Alguns estudos mostram que metade de todas as pessoas que desenvolvem transtornos mentais têm seus primeiros sintomas antes dos 14 anos, de acordo com o relatório.

“Se os adolescentes com problemas de saúde mental recebem os cuidados de que necessitam, mortes e sofrimentos ao longo da vida podem ser evitados”, diz o texto. O estudo analisou uma ampla gama de questões, incluindo o tabaco, o álcool e o uso de drogas, HIV, lesões corporais, saúde mental, nutrição, saúde sexual e reprodutiva e violência.
Perigo no trânsito
Acidentes de trânsito foram a segunda causa de doença e invalidez, atrás somente da depressão. Nesse caso, os meninos possuem três vezes mais chances de morrer do que as meninas.

A OMS afirma que é crucial que, para reduzir este risco, os países aumentem o acesso a um transporte público confiável e seguro, melhorem as leis de segurança rodoviária, como os limites de álcool e de velocidade, estabeleçam áreas seguras para pedestres ao redor de escolas e formem regimes de licenciamento em que os privilégios dos motoristas são integrados progressivamente ao longo tempo.
Causas de morte
No mundo todo, cerca de 1,3 milhões de adolescentes morreram em 2012, afirma o relatório. As três principais causas de morte a nível mundial foram acidentes de trânsito, AIDS e suicídio.

Estimativas sugerem que as mortes por HIV em adolescentes aumentaram. Isso ocorreu predominantemente na África, num momento em que as mortes relacionadas com o HIV diminuíam em todos os outros grupos populacionais.

“Nós não devemos deixar de lado os esforços para promover e salvaguardar a saúde sexual e reprodutiva de adolescentes, incluindo o HIV”, pondera a cientista da OMS Jane Ferguson, principal autora do relatório.
Considerando somente as meninas, a segunda maior causa de morte após o suicídio são as complicações durante o parto.

Isso ocorreu apesar de grandes progressos nessa frente, afirma a OMS, com a taxa de mortalidade em queda livre desde 2000, em 57% na Ásia, 50% no Oriente Médio e 37% na África.
Outras doenças infecciosas também mantêm-se como grandes assassinas, apesar de sucessos como o declínio de 90% na morte e invalidez por sarampo na África na última década, graças à vacinação infantil.

Doenças infecciosas mais comuns, com foco de ação em crianças pequenas, estão entre as mais difíceis de serem superadas.
Por exemplo, diarreia e infecções do trato respiratório inferior ficaram em segundo e quarto lugar, respectivamente, entre as causas de morte em jovens de 10 a 14 anos. Combinadas com a meningite, foram responsáveis ​​por 18% de todas as mortes nessa faixa etária, com quase nenhuma mudança neste quadro desde 2000, afirma a OMS. [Medical Xpress]

Autor: Jéssica Maes

Fonte: Hypescience

Disponível em:<http://hypescience.com/depressao-e-suicidio-estao-entre-as-principais-causas-de-morte-entre-adolescentes/>. Acesso em: 19 maio 2014

sexta-feira, 16 de maio de 2014

BRUTA - I ENCONTRO DE ARTE E SAÚDE

                                      
Fonte: FACEBOOK/CAPS ÁGUAS CLARAS

Agora é oficial: Anvisa vai liberar a prescrição de CBD

 15 de maio de 2014
                 marijuana
Luiz Klassmann,  representante da Anvisa no 4º Simpósio Internacional da Cannabis Medicinal anunciou hoje, na abertura do evento, que a área técnica da agência aprovou a reclassificação do canabidiol no Brasil. O estudo propõe a retirada da substância da lista F1, de drogas proscritas, para a lista C1, que permite a prescrição por médicos com receita normal, em duas vias. Para a medida entrar em vigor, ela ainda depende da aprovação da diretoria colegiada da Anvisa. Klassmann estima que isso aconteça até o final de junho. Se isso realmente acontecer, o canabidiol será o primeiro derivado da Cannabis sativa a ter seu potencial terapêutico reconhecido no país.
Fonte: Super Interessante

O anonimato nas Redes Sociais

Como os aplicativos sociais, com base no anonimato, estão definindo a subjetividade, a identidade e as relações na atualidade. Se anteriormente as pessoas utilizavam o anonimato para conversas, hoje elas utilizam também para emitir opiniões sobre outras pessoas
Por Gisele Meter

              
Engana-se quem acredita que as redes sociais só existem por causa da tecnologia. O termo rede social está relacionado a interação social e é exatamente por meio dessa troca que se constituiu o que hoje chamamos de sociedade.
Participar de uma rede social é sentir-se pertencente e atuante em seu meio, seja pela expressão de ideias, exposição de pensamentos e ou até mesmo pela avaliação de determinado comportamento de alguém do grupo.
Interagir socialmente é necessário na medida em que estamos em constante evolução. Grande parte dessa transformação pessoal também é “injetada” em nossa subjetividade por meio da socialização com outras pessoas.
Com o advento tecnológico nos foi permitida uma interação social que independe de fronteiras, pois o acesso à Internet possibilitou a derrubada de barreiras espaciais e temporais em prol desta interação, formando uma linha tênue que hoje separa a vida real da virtual.
A popularização da Internet ocorreu na década de 1990, quando os e-mails faziam a função de conectar pessoas. A partir de então, houve uma dinâmica no sentido de estarmos cada vez mais em contato com outros indivíduos de maneira abrangente. Surgiram, assim, os chats – ferramentas para conversa em tempo real através de dois computadores. Desde aquela época o anonimato já era comum em salas de bate-papo de grandes sites. Pessoas se identificavam com um nickname sem a necessidade de revelar suas identidades verdadeiras.
Os chats passaram a conectar pessoas. No entanto, começaram a perder força para seus sucessores: Mirc, ICQ, que posteriormente foram substituídos pelo MSN Messenger e outros do gênero. A utilização destes programas permitia não somente que fizéssemos interação social, mas que também constituíssemos nossa própria rede de contatos, utilizando nomes verdadeiros e identidades reais.
A evolução da comunicação virtual, a cada nova atualização, provocou migrações em massa. O fato foi constatado expressivamente em 2003, com o surgimento da primeira rede social denominada MySpace que no ano seguinte, foi praticamente engolida pelo Orkut (2004) e que, consequentemente, também foi quase extinta com o surgimento do Facebook (2004), Twitt er (2006) e Instagram (2010). No entanto, o que todas tinham em comum, além de serem redes sociais, era a necessidade de utilizar a identidade real para assim constituir também a sua identidade virtual interativa.
Em 2007, com a popularização dos smartphones no Brasil, as redes sociais ganharam mais força, sendo utilizadas amplamente via dispositivos móveis para a conexão social virtual, não sendo mais necessário estar diante de um computador para interagir com outras pessoas.
Desde o surgimento de chats anônimos no início da Internet até hoje, com a conexão via celular a qualquer hora e em qualquer lugar, podemos perceber como a questão da identidade é relevante no mundo virtual.
          
Os chats passaram a conectar pessoas e seus sucessores, como o Mirc e o ICQ, que posteriormente foram substituídos pelo MSN Messenger e outros do gênero, que permitem a interação social e a constituição de uma rede de contatos própria

Em 2013, ocorreu novamente outra dinâmica de configuração que veio para intrigar até mesmo grandes especialistas da área tecnológica. Houve, assim, um boom de programas que têm sua interação exclusivamente permeada pelo anonimato.
Atualmente, parece que esse tema retornou com força total, desafiando não somente a lógica evolutiva das redes sociais, mas também da própria interação humana, pois a identidade se resigna a um segundo plano, priorizando novamente a não-identidade para o estabelecimento tanto de relações como de interações sociais.
                  
O Lulu tem por objetivo o compartilhamento anônimo de informações e percepções acerca de outro indivíduo, no caso, do sexo masculino, sem o seu conhecimento ou consentimento.

Avaliação virtual 
A diferença do anonimato do início da Internet para o que estamos presenciando hoje se baseia, principalmente, na forma de interação.

Se anteriormente as pessoas utilizavam o anonimato para conversas, hoje elas utilizam também para emitir opiniões sobre outras pessoas, avaliando, expondo e deixando registrado o que pensam para quem quiser ver. Logo, conversas que ficariam restritas a um pequeno grupo passam a ter abrangência assustadoramente incalculável.
Com a popularização dos smartphones no Brasil, as redes sociais ganharam mais força, sendo utilizadas amplamente para a conexão social virtual
Essa prática ficou ainda mais evidente com o surgimento de aplicativos sociais para dispositivos móveis. Prova disso foi o frisson causado no final de 2013 pelo aplicativo feminino denominado Lulu, que até a data do fechamento deste artigo encontrava- se indisponível para download nas lojas AppStore e Google Play. No Brasil, tal aplicativo teve por objetivo o compartilhamento anônimo de informações e percepções acerca de outro indivíduo, no caso, do sexo masculino. Sem o seu conhecimento ou tampouco o seu consentimento, o que causou grande insatisfação de muitos homens no país, cuja exposição em tal programa “puxava” informações de outra rede social (Facebook), exportando-as para a sua plataforma, e era feita por meio avaliações com notas ou hashtags. Caso volte ao ar, algumas mudanças deverão ser feitas, como manter no sistema somente usuários que autorizem fornecer suas informações.
Pensadora contemporânea 
Filósofa política alemã de origem judaica, Hannah Arendt é uma das mulheres mais influentes do século XX. Seu trabalho abarca temas como a política, a autoridade, o totalitarismo, a educação, a condição laboral, a violência e a condição feminina. Seu primeiro livro leva o título O Conceito do Amor em Santo Agostinho: Ensaio de uma interpretação filosófica. Trata-se de sua tese, editada em 1929 em Berlim, na qual ela enlaça elementos da Filosofia de Martin Heidegger com os de Karl Jaspers e já enfatiza a importância do nascimento, tanto para o indivíduo como para seu próximo. Em As Origens do Totalitarismo (1951) consolida o seu prestígio como uma das maiores figuras do pensamento político ocidental. Hannah assemelha de forma polêmica, como ideologias totalitárias, o nazismo e o stalinismo. Faz isso com uma explicação compreensiva da sociedade, mas também da vida individual, e mostra como a via totalitária depende da banalização do terror, da manipulação das massas, do acriticismo face à mensagem do poder.
O que chama a atenção, no entanto, é a dinâmica assumida por essas novas plataformas sociais que têm por objetivo não mais somente a interação voltada para o encontro social, mas também a intenção de impactar diretamente a construção da identidade virtual de um indivíduo.
Dessa forma, aplicativos de avaliação virtual favorecem a dinâmica de um comportamento que em uma situação não-virtual da vida cotidiana poderia não ser observado. Isso ocorre porque muitos desses aplicativos usam, justamente, o subterfúgio do anonimato para estimular a avaliação indiscriminada de outros indivíduos, estando quem avalia protegido por uma espécie de máscara, permitindo que possa exercer seu próprio crivo virtual sem nenhum tipo de receio ou culpa. Afinal, a consequência de suas atitudes não voltará para essa pessoa. Ao privilegiar o anonimato em aplicativos sociais, há uma estimulação do comportamento impulsivo sem a devida reflexão de suas consequências.
A conduta fica a critério do bom senso dos usuários que fazem suas próprias regras virtuais, independente dos danos que poderão causar
Além disso, quando avaliamos virtualmente outras pessoas sob uma única perspectiva, tendemos a acreditar que nossas avaliações são apenas virtuais e que, de certa forma, não prejudicaria o outro de forma real e efetiva. É como se, além do anonimato, colocássemos também um véu de deturpação da realidade sobre as consequências de nossos comportamentos, acreditando não estar fazendo mal a ninguém e, assim, enganando a nós mesmos.
É preciso refletir sobre essas ferramentas com um olhar mais crítico para entender o que elas podem impactar em nosso meio. Quando não pensamos nas consequências de nossos julgamentos, tendemos a dissipar a culpa, pois existe a ilusão de que as avaliações proferidas não passam de uma mera brincadeira.
PARA SABER MAIS
Brasileiros e smartphones
Segundo uma pesquisa realizada pela Nielsen provedora global de informações e insights sobre consumidores no ano de 2013, smartphones para os brasileiros servem mesmo é para navegar por redes sociais. O estudo indicou que 75% dos usuários desses dispositivos digitais usam o aparelho primariamente para acesso a redes sociais. O uso ultrapassa a Rússia (59%), Índia (26%), China (62%) e até mesmo os Estados Unidos (63%).
O Brasil, hoje, já é destaque pela expressiva participação nas redes sociais, e isso foi replicado no mundo móvel, pois algumas pessoas veem smartphones como uma extensão da conexão à Internet, e outras, ainda, têm os dispositivos móveis como seu único ponto de contato com o mundo digital.
Quando avaliamos virtualmente outra pessoa, estamos não somente julgando seu comportamento ou a sua forma de ser, mas também acabamos por deixar registrada a realidade a partir de experiências pontuais que acreditamos ser uma verdade absoluta, e isso é feito a partir de uma única perspectiva – a do avaliador anônimo. Impulsionadas pela euforia e pelo falso poder de fazer o que desejarem sem serem descobertas, essas pessoas raramente param para pensar sobre o uso da rede em si e quais as consequências que isso pode causar. É como se fosse um movimento egoísta, com o intuito de afetar o outro de forma intencional, e, ao mesmo tempo, um passatempo sem grandes implicações.
É ilusório acreditar que aplicativos de avaliação social não impactam a subjetividade ou a construção da identidade de um sujeito. A partir do momento em que tecemos considerações sobre uma pessoa, baseados naquilo em que percebemos, vivemos ou observamos, estamos deixando de pensar no impacto social de nossas ações, e exercendo o que a teórica política alemã Hannah Arendt chama de mal banal. Ou seja, tomando atitudes que possam prejudicar outras pessoas, sem efetivamente refletir sobre as consequências do ato praticado.
Quem avalia normalmente acaba manifestando comportamentos que, se revelados no mundo real, poderiam não ser aceitos como adequados, logo a importância do anonimato.
É ilusório acreditar que aplicativos de avaliação social não impactam a subjetividade 
ou a construção da identidade de um sujeito

Dessa forma, quando uma pessoa avalia outro sujeito sem refletir sobre o mal que pode causar à sua subjetividade ou a seu processo de socialização, acaba por tolher, tanto de forma virtual como real, a potencialidade de ser da pessoa que é avaliada. Isso porque, quando colocamos uma informação na Internet, independente de qual seja, não temos como mensurar suas consequências.                             
                  
A Psicologia Social entende que a construção da identidade de uma pessoa se dá por meio da interação pela qual o indivíduo exerce um papel atuante e dinâmico, afetando o seu meio e, consequentemente, também sendo afetado por ele

O que ocorre, no entanto é que, hoje, não existe praticamente nenhuma regulação ou norma de conduta efetiva em relação a redes sociais que permita que um usuário interaja anonimamente. É o caso de aplicativos como o “Secret” e o “Whisper” – em que as pessoas utilizam o subterfúgio do anonimato para expor o que pensam sem que os outros fiquem sabendo de onde ou de quem partiu tal informação.
A conduta, por sua vez, fica a critério do bom senso dos usuários que fazem suas próprias regras virtuais, independente dos danos que poderão causar. Afinal, para todas as vantagens individuais que tais programas trazem, sempre existirá um impacto social potencialmente prejudicial para um grande número de pessoas, tanto subjetivamente quando do ponto de vista interacional.
Comportamentos
A comunicação indiscriminada e anônima através de programas ou aplicativos na Internet tende a fomentar comportamentos compulsivos, imediatistas, ansiosos e narcisistas, enfraquecendo consideravelmente os grupos sociais nos quais se está interagindo.

A Psicologia Social entende que a construção da identidade de uma pessoa se dá por meio da interação pela qual o indivíduo exerce um papel atuante e dinâmico, afetando o seu meio e, consequentemente, também sendo afetado por ele.
A comunicação indiscriminada e anônima por meio de programas ou aplicativos na Internet tende a fomentar comportamentos compulsivos
Essa dinâmica ocorre sob diversos fatores, tais como a percepção social que dá significado ao que vemos e sentimos, a comunicação que envolve a codificação e a decodificação para a interpretação das mensagens que emitimos ou recebemos, independente de ser constituída apenas pelo verbal, mas passando por aspectos gestuais, posturais e comportamentais.
Para a interação social também devemos considerar as atitudes que são baseadas em comportamentos como resposta a percepção e comunicação do meio em que se está inserido. Sendo assim, a interação via redes sociais pode ser considerada um fenômeno atual e potencialmente transformador, tanto das relações estabelecidas, como da construção da identidade do indivíduo. Isso porque, apesar das relações sociais serem mediadas por um processo não presencial, a profundidade das relações provoca em cada indivíduo uma sensação real de afetação mediad a virtualmente. O que pode ser comprometedor, pois nem todas as ferramentas de interação estão ao alcance do usuário virtual, e interferir consideravelmente em uma relação baseada na realidade.
Esse novo fenômeno desperta interesse da Psicologia Social devido a forma como estas ferramentas digitais estabeleceram um novo padrão não somente de interação, mas também de percepção entre as pessoas cujo contato físico deixa de ser o principal fator de mediação relacional, e o crivo social passa a ser considerado através de uma perspectiva virtual.
Esta dinâmica de conexão interativa pode impactar diretamente no processo de socialização de cada indivíduo que utiliza a Internet como uma forma de se conectar a um grupo ou até mesmo para se sentir atuante ao meio em que pertence. Se considerarmos a máxima de que o sujeito transforma e é transformado pelo meio em que vive, podemos compreender melhor este paradigma.
Realidade inventada 
Quando nos referimos a aplicativos sociais que se baseiam no anonimato como forma de interação, devemos levar em consideração que a ideia de percepção social acaba por ser anulada. Isso ocorre uma vez que a compreensão e a percepção do outro, além de suas características, não nos possibilitam ter uma impressão real permeada por dados observáveis, mas apenas naquilo que acreditamos, baseado em nossas próprias percepções. Ou seja, através de tais ferramentas, podemos afetar também nossa forma de interação.

Diferente da relação social permeada pela identidade do sujeito que em contato com outras pessoas organiza informações e categoriza atos, aplicativos sociais podem distorcer a percepção que temos, sendo esta consideravelmente prejudicada. Além de não sabermos quem são as pessoas que interagem em tal programa, ainda existe uma precariedade na recepção das mensagens. Isso ocorre porque nos utilizamos apenas do sentido da visão para constituirmos a percepção que acreditamos ser realidade.
Aplicativos que utilizam subterfúgios do anonimato potencializam a superficialidade analítica que fazemos de outras pessoas, deixando de considerar nossa capacidade de construção do outro e, consequentemente, de nós mesmos. Fazemos assim uma relação social rasa, superficial e não verdadeira.
Aplicativo Lulu no Brasil 
O aplicativo Lulu, que permite que mulheres avaliem anonimamente seus amigos do Facebook e causou polêmica no seu lançamento no Brasil, anunciou duas mudanças na ferramenta, exclusivas para o país. Desde dezembro, somente homens que optarem por participar do Lulu serão avaliados no aplicativo. Além disso, o Lulu permite que os homens tenham acesso à sua nota na brincadeira, informação que até agora estava disponível apenas para mulheres. O Lulu chegou ao Brasil em novembro de 2013 e permite apenas que mulheres deem notas e opiniões anônimas sobre homens. O serviço fez sucesso, mas gerou discussões a respeito da privacidade na Internet e enfrentou ações na Justiça. Todo o barulho, porém, alavancou o Brasil como o país com mais usuários no serviço.
Especula-se que o anonimato nas redes sociais seja uma forma de estimular a interação entre as pessoas alegando ser uma relação “anônima mais humana”. No entanto, se considerarmos os aspectos determinados pela Psicologia Social para o processo de interação percebemos que sua essência pode ser totalmente descaracterizada. Afinal, percepção, comunicação como troca de informações, atitudes que podem ser modificadas com novas informações, afetos ou comportamentos, além do processo de socialização e construção da subjetividade são comprometidos pela superficialidade relacional que acaba por não concluir o ciclo completo de recolhimento de dados, baseando-se somente na “verdade única” exposta em tal programa ou na própria percepção sobre um aspecto de outra pessoa.
Aplicativos que utilizam subterfúgios do anonimato potencializam a superficialidade
analítica que fazemos de outras pessoas

Com a virtualização da linguagem, se observarmos por outras perspectivas, o “aqui e o agora” se perdem, possibilitando “flutuar” entre o tempo e o espaço, e assim uma situação mal-resolvida, por exemplo, um amor não correspondido no passado, pode se transformar em uma “nota” ou comentário baseado apenas naquilo que foi vivido e percebido por uma das pessoas envolvidas. É como se pudéssemos ficar vulneráveis ao que os outros pensam, não tendo assim a chance de nos defendermos ou, ao menos, tentarmos reparar aquilo que foi dito ou vivido.
Pegada Digital 
Grande parte das pessoas hoje tem algum tipo de informação na Internet. Para comprovar isso, basta digitar um nome qualquer em um site de busca para que as informações apareçam rapidamente na tela. Isto é o que chamamos de Pegada Digital, ou seja, informações registradas na Web sobre uma pessoa. 
                                 
A conexão interativa pode impactar diretamente no processo de socialização de cada indivíduo que utiliza a Internet como um meio para estar conectado 
a um grupo ou até mesmo para se sentir atuante ao meio em que pertence

Ter informações negativas registradas no mundo virtual (independente se são verdadeira) pode afetar diretamente os papéis sociais que um indivíduo exerce, isso porque não há controle sobre elas. Pedro Burgos, em seu livro Conecte-se ao que importa (Ed. Leya, 2014) reforça a ideia de pegada digital, afirmando que as fronteiras entre o online e o offline desapareceram e, hoje, ter um perfil “sujo” na Internet é como andar com uma letra escarlate. É importante que em alguns casos a ideia de esquecimento coletivo exista, defende o autor. Por causa da tecnologia digital, a habilidade da sociedade de esquecer foi suspensa, substituída pela memória perfeita, que pode ser acessada a qualquer momento.
Quando pensamos em contextos históricos, a possibilidade de explorar o passado do homem como uma busca pela resolução de problemas presente é totalmente válida, mas quando falamos de construção de uma subjetividade, a questão pode ser analisada sob outro ponto de vista. É preciso que deixemos que cada sujeito constitua sua própria identidade virtual. Não temos o direito de exercer tamanha influência.
Devemos basear nossa relação social na construção de crescimento e possibilidades e não por meio de julgamentos e percepções individuais que influenciem o meio em que o indivíduo está inserido. Ao analisarmos, julgarmos e tecermos opiniões virtuais, devemos nos conscientizar e assumir a responsabilidade de que estaremos minimizando justamente a potencialidade do ser e a transformação permanente das pessoas.
REFERÊNCIAS
BOCK, A. M. B.. Psicologia: uma introdução ao estudo de psicologia, 13. Ed reform e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. 
BURGOS, P.. Conecte-se ao que Importa: um manual para a vida digital saudável. São Paulo: Leya, 2014. 
75% dos Brasileiros usam Smartphones para acessar Redes Sociais, disponível em: http://idgnow.com. br/mobilidade/2013/07/02/75-dosbrasileiros- usa-smartphones-paraacessar- redes-sociais/#sthash. PrcOXhCh.dpuf. (acessos em 25/02/2014)

Gisele Meter é psicóloga (CRP 08/18389), empresária e diretora executiva de Recursos Humanos. Pós-graduanda em Gestão Estratégica de Pessoas pela U niversidade Tuiuti, Paraná. Palestrante, pesquisadora, escritora e consultora estratégica em gestão de pessoas e gestão da mudança organizacional. Coautora do livro Consultoria Empresarial – Métodos e Cases dos Campeões. I dealizadora da metodologia LIFE – Liderança Feminina Estratégica, para atuação e desenvolvimento de lideranças no contexto organizacional. Site:www.giselemeter.com.br. E-mail: contato@giselemeter.com.br

Fonte: Revista Psique

Acesso em: 16 maio 2014

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Por que os tratamentos contra o Alzheimer falham?

Medicamentos para combater substancialmente a doença ainda não existem no mercado; conheça as drogas que vem sendo estudadas

                 
Placas de beta-amiloide em um cérebro com demência

Qualquer droga que retarde substancialmente ou faça cessar a doença de Alzheimer terá sucesso estrondoso de imediato. Talvez ultrapasse as vendas de Prozac ou Lipitor. No entanto, não há droga alguma assim no mercado, porque pesquisadores ainda tentam entender como alterar mecanismos subjacentes por meio dos quais a doença causa demência.
Drogas que impedem o acúmulo de amiloides ilustram bem esse caso: várias drogas possíveis, em diversos estágios de teste, supostamente inibem acumulação de amiloides ou estimulam sua eliminação.

No entanto, várias drogas antiamiloides testadas em experimentos clínicos falharam. (A tabela abaixo elenca as principais classes de drogas anti-Alzheimer em desenvolvimento.) Alguns pesquisadores questionam se não foi posta muito pouca ênfase na interferência com outros processos que contribuem para a moléstia. Entre os 100 ou mais agentes em desenvolvimento estão drogas com algumas perspectivas que têm como alvo a proteína tau que danifica células. 

Algumas têm o objetivo de conter inflamações, alavancar o funcionamento das mitocôndrias, elevar os níveis cerebrais de insulina ou proporcionar outras formas de proteção para os neurônios. Um dos fracassos mais notórios no gênero foi o do Dimebon, droga que não tinha amiloide como alvo. Da mesma forma que com o câncer e o HIV, provavelmente será necessário combinar vários desses agentes para retardar ou conter a doença de Alzheimer

              
Fonte: Scientific American Mente Cérebro

Para que, de fato, serve o sonho?

Para entender para que serve o sonho, necessitamos compreender algo básico: o homem contemporâneo tende a esquivar-­se de todo risco. Em vez de caçadas perigosas e coletas incertas, fazemos visitas regulares ao supermercado. No lugar de turnos de guarda noturna alternados para evitar um ataque traiçoeiro na madrugada, temos a segurança dos muros, portas trancadas e alarmes. Em lugar de pedras e peles, dormimos sobre colchões anatômicos. Em vez da dificuldade de encontrar parceiros sexuais férteis que não sejam parentes próximos, apenas o risco de levar um não de uma pessoa desconhecida numa festa ou bar.

Se os sonhos alguma vez foram es­senciais para nossa sobrevivência, já não o são. Isso não quer dizer, entretanto, que os sonhos não mais desempenhem um papel cognitivo. Para esclarecer que papel é esse, é preciso em primeiro lugar desconstruir a noção de que os sonhos refletem algum tipo de processamento neuronal aleatório. Embora regiões profundas do cérebro de fato promovam durante o sono REM um bombardeio elétrico aparentemente desorganizado do córtex cerebral, há bastante evidência de que os padrões de ativação cortical resultantes desse processo reverberam memórias adquiridas durante a vigília.

Mesmo que não soubéssemos disso, bastaria um pouco de reflexão e introspecção para refutar a teoria aleatória dos sonhos. A ocorrência múltipla de um mesmo sonho é um fenômeno detectável, ainda que ocasional, na experiência da maior parte das pessoas. Pesadelos repetitivos são sintomas bem estabelecidos do transtorno de estresse pós-traumático, que acomete indivíduos submetidos a eventos excessivamente violentos. Dada a imensa quantidade de conexões neuronais existentes no cérebro, seria impossível ter sonhos repetitivos se eles fossem o produto de ativação ao acaso dessas conexões.

Além disso, sonho e sono REM não são o mesmo fenômeno e sequer têm bases neurais idênticas. Temos certeza disso porque existem pacientes neurológicos que perdem a capacidade de sonhar mas não deixam de apresentar o sono REM. Nesse caso, as regiões lesionadas, descritas por Mark Solms, são circuitos relacionados com a motivação para receber recompensas e evitar punições. Essas estruturas utilizam o neurotransmissor dopamina para modular a atividade de regiões relacionadas à memória, emoção e percepção. Sonhar com algo na vigília é o mesmo que desejar – e é exatamente de desejo que são feitos os sonhos. Curiosamente, são os níveis de dopamina que, em experimentos com camundongos transgênicos, regulam a semelhança entre os padrões de atividade neural observados durante o sono REM e a vigília. Portanto, a ideia de que psicose é sonho, ridicularizada por décadas, também encontra apoio na neuroquímica moderna.

E ainda, ao contrário da teoria de que os sonhos são subproduto do sono sem função própria, prevalece cada vez mais a noção de que o sono e o sonho são cruciais para a consolidação e a reestruturação de memórias. Ambos os processos parecem ser dependentes da reverberação elétrica de padrões de atividade neural que ocorrem enquanto dormimos e representam memórias recém-adquiridas. Essa reverberação se beneficia da ausência de interferência sensorial durante o sono e resguarda o processamento mnemônico de perturbações ambientais. A reverberação é favorecida também pela ocorrência de oscilações neurais durante o sono sem sonhos, chamadas de ondas lentas. Os pesquisadores Lisa Marshall, Jan Born e colaboradores da Universidade de Lübeck, na Alemanha, demonstraram que é possível aumentar a taxa de aprendizado realizando estimulação elétrica de baixa frequên­cia durante o sono de ondas lentas.

Em contrapartida, como venho demonstrando junto com outros grupos de pesquisa desde 1999, o sono REM parece ser fundamental para a fixação de longo prazo das memórias em circuitos neuronais específicos. Esse processo depende da ativação de genes capazes de promover modificações morfológicas e funcionais das células neurais. Tais genes são ativados durante a vigília quando algum aprendizado acontece e voltam a ser acionados durante os episódios de sono REM subsequentes. Como resultado, memórias evocadas por reverberação elétrica durante o sono de ondas lentas são consolidadas por reativação gênica durante o sono REM. Essa reativação cíclica das memórias em diferentes fases do sono e da vigília vai paulatinamente fortalecendo os caminhos neurais mais importantes para a sobrevivência do indivíduo, enquanto as memórias inúteis são gradativamente esquecidas.

Experimentos eletrofisiológicos e moleculares mostram ainda que as memórias migram de um lugar para outro do cérebro, sofrendo importantes transformações com o passar do tempo. Meu laboratório tem mostrado que áreas do cérebro envolvidas na estocagem temporária de informações, como o hipocampo, apresentam reverberação elétrica e reativação gênica apenas durante os primeiros episódios de sono após o aprendizado. Em contraste, áreas do córtex envolvidas na armazenagem duradoura das memórias apresentam persistência desses fenômenos por muitos episódios de sono após a aquisição de uma nova memória.

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

Por que a esclerose múltipla afeta quatro vezes mais as mulheres?

            Proteína pode explicar porque esclerose múltipla afeta mais as mulheres
Tecido de um cérebro feminino (esquerda) afetado pela esclerose múltipla, mostrando níveis muito mais altos de um receptor de vaso sanguíneo (vermelho) do que um cérebro masculino igualmente afetado pela doença (direita). A diferença poderia ajudar a explicar por que a esclerose múltipla afeta muito mais as mulheres do que os homens.
Esclerose múltipla
Acaba de ser identificada uma diferença entre os cérebros de homens e mulheres que pode ajudar a explicar porque as mulheres são mais afetadas do que os homens pela esclerose múltipla.
Na esclerose múltipla, uma inflamação causada por células do sistema imunológico da própria pessoa danifica uma camada protetora que envolve as ramificações dos neurônios no cérebro e na coluna vertebral - é por isto que ela é considerada uma doença autoimune.
Esses danos atrapalham o funcionamento das células nervosas e, por vezes, fazem com que elas definhem, interrompendo a comunicação entre os neurônios que é necessária para as funções normais do cérebro, como o movimento e a coordenação.
A doença é quatro vezes mais comum entre as mulheres do que entre os homens.
Gene S1PR2
Agora, estudando camundongos e pessoas, pesquisadores descobriram que as mulheres produzem níveis mais altos do que os homens de uma proteína receptora presente nos vasos sanguíneos, chamada S1PR2.
Além disso, eles verificaram que a proteína - essencialmente um gene - está presente em níveis ainda mais elevados nas áreas do cérebro que normalmente sofrem danos pela esclerose múltipla.
"Foi um momento 'eureca' - os nossos estudos genéticos nos levaram diretamente a este receptor," conta a Dra. Robyn Klein, da Universidade de Washington (EUA). "Quando estudamos sua função nos camundongos, descobrimos que ela pode determinar se as células imunes atravessam os vasos sanguíneos dentro do cérebro. Estas células causam a inflamação que leva à esclerose múltipla."
Rastreador
Há um novo medicamento em teste atualmente que bloqueia outros receptores da mesma família proteica, mas não afeta o gene S1PR2.
Os pesquisadores recomendaram que as equipes envolvidas no desenvolvimento do medicamento desenvolvam uma droga que desabilite a S1PR2.
Mas o processo pode não ser tão simples: o estudo identificou 20 genes que são ativos em diferentes níveis nas regiões mais vulneráveis dos cérebros femininos à doença autoimune - mas eles ainda não sabem o que 16 desses genes fazem.
A equipe da Dra. Klein está agora trabalhando com químicos para projetar um rastreador que permita monitorar os níveis de S1PR2 no cérebro, o que ajudará a compreender exatamente seu papel no desenvolvimento da doença.
Fonte: Diário da Saúde

Sessão CineLoucura na Semana da Luta Antimanicomial


No quadro da programação cultural da Semana da Luta Antimanicomial 2014, as Residências Multiprofissionais em Saúde Coletiva do ISC-UFBA organizam uma sessão CineLoucura, projetando o filme "O Solista" na Saladearte da UFBA, na quinta-feira 15 de maio, às 09:00 horas. Como de costume, a projeção será seguida de um debate entre os membros da plateia. Todos são convidados e a entrada é franca.
 
Onde: Cinema da UFBA, PAC (Pavilhão de Aulas do Canela),Av. Reitor Miguel Calmon, s/n. Vale do Canela. Ao lado das Faculdades de Educação e Administração.
Quando: Quinta 15/05/2014, 09:00 h
Filme: O Solista (The Soloist, 2009); dir.: Joe Wright;Elenco:  Jamie Foxx e Robert Downey, Jr

Steve Lopez é um jornalista do L.A. Times, que após um acidente de bicicleta é levado para o hospital e, um dia, percebe um belíssimo som de violoncelo. Após investigação, Lopez descobre Nathaniel Ayers, um mendigo diagnosticado com esquizofrenia que vê na música clássica a única alegria de sua vida. Lopez e Ayers se tornam grandes amigos e passam a compartilhar ideias sobre o violinohttp://pt.wikipedia.org/wiki/O_Solista
Entrada franca

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O estresse que você vê é o estresse que você sente


                         Estresse empático: o estresse que você vê é o estresse que você sente
Você pode reduzir o estresse intenso em 12 minutos com meditação - ou talvez desligando a TV na hora dos "noticiários sanguinários".
Depois de um dia estressante, você gosta de chegar em casa e ligar a TV para ver noticiários estressantes?
Cuidado, porque estresse é contagioso, conforme acaba de mostrar um estudo em larga escala realizado na Alemanha.
O mero fato de observar uma outra pessoa em uma situação estressante - como é comum nos noticiários - é suficiente para fazer nossos próprios corpos liberarem cortisol, o hormônio do estresse.
Em nossa sociedade dominada pelo estresse, esse "estresse empático" é um fenômeno que não deve ser ignorado pelo sistema de saúde, dizem os pesquisadores.
Seja no trabalho, no trânsito ou na televisão, alguém está sempre experimentando estresse, e esse estresse pode afetar o ambiente em geral de uma forma fisiologicamente quantificável através do aumento das concentrações de cortisol.
"O fato de que podemos realmente medir esse estresse empático na forma de uma liberação significativa de hormônio foi surpreendente," disse Veronika Engert, que fez o estudo juntamente com seus colegas do Instituto Max Planck para Cognição e Ciências do Cérebro e da Universidade Técnica de Dresden.
Estresse crônico
O estresse provoca uma série de problemas psicológicos, como a Síndrome do Esgotamento Profissional (burnout), depressão e ansiedade.
Mesmo pessoas que levam uma vida relativamente relaxada estão em contato constante com indivíduos estressados.
E o estresse se torna um problema realmente grave quando ele é crônico.
"Níveis de cortisol permanentemente altos não são bons. Eles têm um impacto negativo sobre o sistema imunológico e propriedades neurotóxicas a longo prazo," explica Veronika.
Ou seja, ao acompanhar noticiários estressantes, você pode estar inserindo voluntariamente um fator estressante crônico em sua vida.
O estudo também mostrou que homens e mulheres experimentam reações de estresse empático com igual frequência e intensidade.
"Em entrevistas, as mulheres tendem a avaliar-se como sendo mais empáticas em relação às autoavaliações dos homens. Esta autopercepção, contudo, não se sustenta quando são feitas medições objetivas [pelos níveis hormonais]," disse Veronika.
Fonte: Diário da Saúde

Por que boas lembranças não são facilmente esquecidas?

Por que temos facilidade para lembrar boas recordações enquanto outras simplesmente desaparecem da nossa mente?
A chave para entender essa intricada lógica pode estar na psicologia: memórias positivas permanecem por mais tempo guardadas no cérebro do que as negativas, ajudando-nos a lidar com frustrações e outros eventos ruins.
Por exemplo, é conhecido o ditado de que as mulheres se esquecem da dor do parto, mas não dos bons momentos com seus bebês.
Memórias positivas
A primeira teoria sobre a suposta "perenidade" das memórias positivas foi proposta há 80 anos.
Na década de 1930, psicólogos coletaram lembranças sobre diferentes episódios da vida das pessoas - férias, por exemplo - classificando-os como "agradáveis" ou "desagradáveis".
Semanas depois, veio um outro pedido para que os entrevistados tentassem se lembrar de suas memórias.
Das experiências consideradas desagradáveis, quase 60% foram esquecidas - comparado com 42% das lembranças agradáveis.
Um exemplo emblemático desse fenômeno acontece quando somos capazes de discorrer sobre os dias prazerosos de nossas férias, mas esquecemos eventuais atrasos dos voos ou outros eventos ruins.
Bem que fica
Para descobrir se havia um comportamento universal em torno da recordação das memórias boas, o professor Timothy Ritchie, da Universidade de Limerick (Irlanda) decidiu analisar detalhadamente pesquisas conduzidas em seis universidades de todo o mundo.
Ao todo, foram incluídas 2,4 mil "memórias autobiográficas", de 562 indivíduos de 10 países.
Diferentemente do que já havia sido feito, os pesquisadores reuniram informações relativas a acontecimentos positivos e negativos, incluindo detalhes como hora e local, bem como reações sensoriais.
Aqueles que conseguiram se lembrar de como reagiram às memórias foram convidados a recordar-se delas novamente mais tarde depois de vários lapsos de tempo. Eles também tiveram de avaliar como se sentiam sobre essas recordações.
Os resultados mostraram que, independentemente do contexto cultural dos participantes, todos se mostraram mais propensos a guardar mais recordações boas do que ruins.
Reavivar lembranças boas
Segundo a equipe, pessoas com dificuldade de recordar memórias positivas são mais propensas a apresentar quadros de depressão.
Nesses casos, a técnica mais usada pelos psicólogos para tentar reavivar as boas lembranças é fazer com que a pessoa percorra mentalmente suas memórias, recapturando os bons momentos.
Fonte: Diário da Saúde

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Estudo com imagens 3D do cérebro busca marcadores biológicos do TDAH

    Ana Carolina Leonardi

              
transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) está entre as disfunções cerebrais infantis mais comuns, podendo persistir na fase adulta. Desde os anos 70, porém, tanto o diagnóstico quanto o tratamento do distúrbio são alvo de questionamentos. Uma das principais controvérsias é o diagnóstico ser apenas clínico, feito com base na observação dos sintomas pelo médico ou psicólogo, que considera principalmente informações dadas por pais e educadores.

O pesquisador André Fujita, doutor em bioinformática, professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP) busca marcadores biológicos do TDAH. Com estudos publicados nos periódicos NeuroImage e Systems Neuroscience, Fujita usa a tecnologia de ressonância magnética funcional (fMRI) para comparar imagens tridimensionais (3D) do cérebro de crianças com e sem déficit de atenção, buscando identificar alterações associadas ao sintomas de TDAH. Em dois anos de estudo, ele registrou imagens do cérebro de 200 crianças com o diagnóstico clínico de TDAH e 450 sem o transtorno.

Através da neuroimagem, é possível mapear a atividade cerebral e identificar quais áreas estão mais ou menos ativas quando o cérebro realiza uma tarefa ou em pessoas diagnosticadas com algum distúrbio mental. Atualmente, o transtorno de déficit de atenção é considerado um problema neurológico, relacionado a uma “desorganização” do funcionamento integrado de alguns circuitos neuronais. O desafio da equipe de Fujita é calcular qual nível de desorganização, chamado deentropia da rede, pode ser considerado normal, definindo-o por meio da análise dos pontos mapeados do cérebro das pessoas sem TDAH. Comparando a esse número os dados da imagem de um indivíduo com déficit de atenção, seria possível confirmar o diagnóstico.

Processar tamanha quantidade de dados exigiu que do grupo de pesquisadores, vinculados à USP, à Universidade Federal do ABC e à Universidade de Princeton, a criação de algoritmos e programas capazes de avaliar a aleatoriedade de um sistema. Por isso, o estudo não envolve apenas neurociência, mas matemática, estatística e computação.

No entanto, ainda é difícil considerar a aplicação clínica das descobertas do estudo, uma vez que ainda não foram encontrados marcadores biológicos claros de quais as áreas cerebrais que de fato se relacionam ao TDAH. O próximo passo do grupo é, portanto, precisar as relações entre as regiões do cérebro e o transtorno. (Com informações da Agência Universitária de Notícias)

Fonte: Scientific American Mente Cérebro

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Muitas vezes somos traídos pelo cérebro

Por: Luiz Fernando Garcia

O psicólogo e psicanalista Luiz Fernando Garcia atua com a Psicodinâmica aplicada aos negócios, visando propiciar um efeito terapêutico, a partir do trabalho em grupo, para auxiliar a performance de empresários e líderes corporativos

Órfão de pai e mãe e o filho mais velho de três irmãos, Luiz Fernand Garcia começou a trabalhar muito cedo. Sua trajetória inclui passagem por 16 empresas. A partir dos conhecimentos adquiridos com essas experiências, começou a se desenvolver na área de treinamentos em um programa no Brasil chamado Empretec, uma metodologia da Organização das Nações Unidas (ONU), voltada para o desenvolvimento do comportamento empreendedor.
A partir daí, não parou mais. Garcia acaba de lançar mais um livro. A proposta de O Cérebro de Alta Performance “é compreender que temos em nossa cabeça um equipamento poderosíssimo, que orquestra nossas escolhas e nossas reações e faz com que exista um modo de agir, a partir de sistemas que se interligam, como uma rede, e que determinam padrões de comportamento de natureza inconsciente. E entender que há um sistema que estabelece, por meio das estruturas que criamos, redes neurais que determinam nosso futuro e nossas decisões”, define.
É pioneiro, no País, na abordagem de Orientação para Resultados, em equipes e empresas, e coordenou o grupo responsável pelo desenvolvimento do T.O.T. (Training of trainers) do Empretec da América Latina e África, tendo treinado mais de 240 instrutores neste método e outras centenas na metodologia Saber Desenvolver, desenvolvida por ele próprio.
Com formação em Psicologia, Psicanálise e Administração de Empresas, Garcia aplica o processo de desenvolvimento Grupo Dirigido de Psicodinâmica em Negócios, baseado na integração de conteúdos das escolas de Psicologia, Administração, Economia e Psicanálise, com utilização direta no universo empresarial.

Você pode definir como funciona a Psicodinâmica aplicada aos negócios? 

Luiz Fernando Garcia – A Psicodinâmica aplicada aos negócios visa à proporcionar um efeito terapêutico, a partir do trabalho de grupo e da abordagem do comportamento empreendedor com base nas escolas da Psicologia: Humanismo, Existencialismo, Comportamentalismo e Psicanálise. O objetivo é melhorar a qualidade das relações interpessoais e da condução dos negócios, por meio do desenvolvimento do participante, visando melhores resultados para a empresa e para a vida do empresário ou líder.


Em um de seus currículos, aparece que você reúne conhecimentos de psicanálise, psicologia, com portamentalismo, qualidade administrativa e consultoria empresarial. como consegue unir todos esses aspectos? 

Garcia – Comecei a trabalhar muito cedo, sou órfão de pai e mãe e o filho mais velho de três irmãos. Passei por 16 empresas até hoje. Fui responsável pelo lançamento dos chocolates Smash, da Nestlé, no Brasil, e o “homem de vendas” do Grupo Akzo, multinacional da divisão de tintas Wanda. A partir dos conhecimentos adquiridos com essas experiências, comecei a me desenvolver na área de treinamentos em um programa no Brasil chamado Empretec, que é uma metodologia da Organização das Nações Unidas (ONU), voltada para o desenvolvimento do comportamento empreendedor. Por meio desse programa, vivenciei uma imersão, na qual tive mais de 102 aplicações desta metodologia, totalizando mais de 10 mil horas de trabalho. Fui convidado para instalar a transversalidade do empreendedorismo no Brasil no ano de 2000, junto com a equipe do então ministro Paulo Renato, responsável pela coordenação de 12.700 agentes de ensino na formação da Psicologia do Empreendedorismo. Tenho formação em Administração de empresas e especialização em Mercadologia, assino mais de 52 metodologias de desenvolvimento para adultos entre Fiesp, Fiesc, Sebrae, Senac, Ministério da Educação e Cultura e outras. Sou psicólogo e psicanalista em formação. A minha vida inteira me envolvi com empresários e suas dificuldades psicológicas, o que me levou a construir métodos de treinamentos voltados ao desenvolvimento da mente de líderes e empresários.


A minha vida inteira me envolvi com empresários e suas dificuldades psicológicas, o que me levou a construir métodos de treinamentos voltados ao desenvolvimento da mente de líderes e empresários

Segundo você, seu mais recente livro, o cérebro de alta performance, tem como proposta fazer o leitor compreender que todos temos na mente um equipamento poderoso, que orquestra escolhas e reações, além de mostrar que existe um modo de agir a partir de sistemas que se interligam com uma rede e que determinam Padrões de comportamento de natureza inconsciente. Pode detalhar mais esse conceito? 

Garcia – Devemos considerar que existem três tipos de inconsciente: um inconsciente desconhecido, quando uma pessoa descobre o seu tipo psicológico e é, por exemplo, um introvertido e não um tímido, pois são duas coisas diferentes. Essa pessoa passa a tornar algo que era inconsciente para um nível consciente. Chamamos esse inconsciente de um inconsciente que não é consciente. A partir deste momento, o indivíduo se apropria do seu funcionamento com mais capacidade. O segundo inconsciente é o próprio inconsciente freudiano psicanalítico, no qual, de 0 a 7 anos de idade, fazemos nossas marcas na estrutura de personalidade e isso rege a forma como pensamos, sentimos e agimos diante de alguns estímulos. O terceiro inconsciente é o neurofisiológico, o nosso sistema de percepção, que vem nos últimos dez anos crescendo muito com a nomenclatura da Neurociência, ou seja, o cérebro tem esquemas próprios de funcionamento. Quando você decide uma coisa, na verdade, já decidiu há mais de sete segundos. Essas pesquisas constituem ambientes de conhecimento, que não são conhecidos por nós. É um cérebro que toma decisões que não passam pelo nosso processo consciente. Poderíamos chamar isso de um inconsciente automático de natureza neurofisiológica e que faz com que o consciente apenas responda a esses estímulos, de forma já coordenada pelo aparelho cerebral. O que procuro fazer no livro O Cérebro de Alta Performance (Editora Gente) é clarificar como podemos lidar com esse inconsciente neurofisiológico, por intermédio de exercícios práticos, estabelecer o domínio de algumas percepções.

Esses sistemas que se estabelecem, por meio de estruturas que criamos, seriam redes neurais, que determinam nosso futuro e nossas decisões?

Garcia – Exatamente. Com a diferença de que, no instante em que você compreende essa rede, conquista autonomia para a tomada de decisões, melhorando sua atuação sobre elas de forma mais consciente.


Como essas relações psicológicas e cerebrais podem influenciar no desempenho dos executivos à frente das empresas?

Garcia – A partir do momento em que os executivos conseguirem, por meio dos exercícios propostos, controlar o impulso e tomar decisões que vão ao encontro dos anseios e vontades legítimos, certamente conquistarão melhores resultados com eles e suas equipes

A partir do momento em que os executivos conseguirem, por meio dos exercícios propostos, controlar o impulso e tomar decisões que vão ao encontro dos anseios e vontades legítimos próprios, certamente conquistarão melhores resultados com eles e suas equipes

Por que, às vezes, agimos por impulso, o que pode causar, frequentemente, problemas futuros de ordem pessoal e profissional?

Garcia – Porque o nosso cérebro tem uma tendência natural a percorrer caminhos para chegar a decisões condicionadas pelas experiências anteriores e funções biológicas de natureza neurossimpática.


As decisões que tomamos diariamente, sejam as mais importantes ou simples, são todas conscientes ou racionais? 

Garcia – Nem sempre. Muitas vezes somos traídos pelo nosso cérebro, achando que estamos tomando uma decisão consciente, quando, na verdade, ela está baseada em experiências passadas e funções biológicas.

Qual o segredo de um cérebro de alta performance? 

Garcia – Treinamento e controle orientados para a obtenção de resultados, reduzindo sinapses novas, que mudem a forma de sentirmos a situação.


Seu trabalho é dirigido, especificamente, aos empresários. Os conflitos psicológicos que você encontra nesses profissionais são os mesmos problemas pelos quais passam os trabalhadores comuns (sem cargos de chefia), logicamente adaptados ao universo deles? 

Garcia – Sem dúvida. E, naturalmente, os conflitos aparecem em diferentes graus, dependendo do nível de responsabilidade dentro da hierarquia, vínculos afetivos, saúde mental e prosperidade. Na essência, todos os colaboradores têm o potencial de ter uma conduta empreendedora mais desenvolvida Éuma questão de desenvolver e aperfeiçoar determinadas habilidades, que, muitas vezes, estão escondidas ou reprimidas em nosso modelo mental. No Grupo Dirigido, não participam só empresários. Há, também, diretores, presidentes e doutorados em áreas específicas, que se beneficiam desse processo há mais de 12 anos, em grupos que variam de 16 a 22 meses, com dois encontros mensais de seis horas, e regime de Grupo Terapia.


Você não tem receio que seus livros sejam confundidos com os chamados de autoajuda, muito em evidência de alguns anos para cá? 

Garcia – Não vejo problema nisso. No final do ano passado lancei dois livros: O Cérebro de Alta Performance e Mente, Gestão e Resultados. O primeiro foi enquadrado na categoria autoajuda e o segundo, em Recursos Humanos. Essencialmente, ambos contribuem para a melhora da performance profissional das pessoas. Mas o primeiro pode ser adotado para questões pessoais.


Outro fenômeno atual é a atividade de coaching. você acha que o termo e, até mesmo, a própria atividade, está sendo banalizada?

Garcia – Acho que não. É natural que essa atividade se desenvolva com a maturidade do mercado profissional. O nosso trabalho é mais abrangente e, ao mesmo tempo, mais efetivo e especifico, pois possui elementos terapêuticos, inclusive, algumas técnicas do coaching, técnicas de grupo terapia e exercícios dirigidos de cunho comportamental em empresas e negócios.


O nosso trabalho é mais abrangente e, ao mesmo tempo, mais efetivo e especifico, pois possui elementos terapêuticos, inclusive, algumas técnicas do coaching, técnicas de grupo terapia e exercícios dirigidos de cunho comportamental em empresas e negócios

Procede a afirmação de que a falta de visão empresarial e/ou falta de tomada de decisão dos chefes de equipes têm relação direta com o ambiente familiar em que a pessoa foi criada? caso seja verdade, por que isso acontece?

Garcia – Em alguns casos, procede, pois nossas ações levam em consideração a percepção que os outros têm de nós e o caminho naturalmente utilizado pela mente humana para a tomada de decisões, que são condicionadas pelas experiências anteriores. Se essas experiências foram traumáticas, podem causar falta de confiança ou bloqueios mentais, que afetam o comportamento do empresário ou líder. Por exemplo, quem determina a autoconfiança é a função materna na primeira e na segunda infâncias.


Em sua análise da infância, freud disse que o comportamento das pessoas, ou seja, a sua personalidade, depende de estímulos do meio ambiente, como situações ocorridas enquanto criança. isso pode ser transferido para o mundo dos negócios?

Garcia – Sim. A nossa vida profissional não pode ser separada das experiências pessoais. Acontece que algumas pessoas superam dificuldades com mais facilidade do que outras, e isso acaba se refletindo no desenvolvimento profissional. Por isso é tão importante relacionar a personalidade pessoal e profissional para atingir um desenvolvimento humanista no mundo dos negócios. Descobrir quem fui para entender como poderei construir melhor meus resultados futuros.


Esses fatores que interferem no desempenho profissional são inconscientes. Você procura fazer com que o inconsciente se torne consciente?

Garcia – Sim, por meio de técnicas e exercícios, orientados às pessoas, para que elas tomem consciência dos mecanismos cerebrais que nos levam a tomar decisões condicionadas por experiências anteriores e funções biológicas e, a partir desse mapeamento, consigam construir estruturas e redes neurais, que as levem a tomar decisões de forma mais racional.

Você disse uma vez que apenas 3,5 a 5% da população mundial é dotada de personalidade empreendedora. o que é essa personalidade empreendedora e como distinguir um profissional com esse perfil?

Garcia – Uma personalidade que reúne as seguintes características: aceita correr riscos; é impulsivo; ansioso; tem qualidade de visão; compromisso com o trabalho; alto grau de iniciativa; controle interno alto. É possível distingui-lo por meio de testes e observando o comportamento dentro das organizações. O individuo é constituído por uma variância biopsicossocial. Biologicamente, carregamos o que é chamado de herdabilidade. Esta é constituída por herdabilidade fenotípica, fisiológica e do temperamento, constituída, assim, por uma poligenia, genes trabalhando juntos. Existem genes que, sabemos hoje, são responsáveis pela tolerância ao estresse, pela capacidade de correr riscos, pela capacidade de associar estímulos para encontrar saídas diferentes, genes que pré-dispõem a ansiedade por coisas novas e diferentes, o que inibe a capacidade de manter rotinas. A diferença entre personalidades empreendedoras e condutas empreendedoras, com as quais todos podem desenvolver uma melhor performance, é que a personalidade empreendedora se faz, justamente, por uma herança genética do temperamento, que traduz os traços colocados acima, e isso vai ser modelado de 0 a 7 anos, por meio de aceitação demasiada por parte de mãe, rejeição demasiada por parte de pai, muito controle por parte de mãe e pouco controle por parte de pai ou substitutos. Essa variância pode ser identificada a partir de uma conscientização de traços de comportamentos referentes à personalidade empreendedora.


A nossa vida profissional não pode ser separada das experiências pessoais. Acontece que algumas pessoas superam dificuldades com mais facilidade do que outras, e isso acaba se refletindo no desenvolvimento profissional. Por isso é tão importante relacionar a personalidade pessoal e profissional para atingir um desenvolvimento humanista no mundo dos negócios

 Outro de seus livros que fez sucesso foi empresários no divã: como Freud, Jung e Lacan podem ajudar sua empresa a deslanchar. Transfiro a pergunta: Como Freud, Jung e Lacan podem ajudar os empresários? 

Garcia – Com Freud, os empresários aprendem os mecanismos de defesa, o processo transferencial e contra-transferencial em relações com sócios, empresa familiar, colaboradores, líderes e liderados. São os mecanismos mais presentes em negociações, em momentos de ansiedade e como desarmar isso, estrategicamente, para que se reduza a tensão em uma situação de mudança, como uma fusão de empresa ou inclusão de um novo procedimento ou novidade que interfira no “corpo” dos colaboradores. Com Jung, é importante ressaltarmos que a teoria dos tipos psicológicos, quando presente para os empresários, facilita muito a mudança de equipes, processo seletivo, triagem, realocação de cargos e reavaliação da própria função que o empresário desenvolve dentro da empresa. Já Lacan, um dos pontos importantes que trabalhamos com os empresários é a importância de entender o processo de castração, algo inerente a um processo de mudança e desenvolvimento, que são traduções teóricas sobre estruturas de personalidade e a castração entre primeira e segunda infâncias.

Adotando a lógica dessas importantes figuras, quais são os principais aspectos psicológicos que afetam a vida do empresário?

Garcia – Os principais aspectos que afetam a vida do empresário são conseguir dividir o desejo de empreender com a entrega afetiva em suas relações pessoais e familiares, não misturar finanças da vida pessoal com finanças da empresa e, mais do que isso, não ter o afeto para formar o capital de giro necessário para momentos de sazonalidade.

As relações afetivas e outras questões do psiquismo podem influenciar o desempenho profissional do empresário? De que maneira? 

Garcia – Sim. Por exemplo, por meio de um dos mecanismos de defesa postulados por Ana Freud, algo que se chama deslocamento, que é quando uma libido é reprimida a partir da direção de um objeto e é deslocada para outro objeto. Aí, ocorre a seguinte situação: “Brigo com meu sócio, mas não posso esmurrá-lo. Então, volto para casa e bato no meu filho ou arrumo uma confusão com a família, por que o queijo ficou azedo dentro da geladeira”. O processo, embora os mecanismos de defesa sejam adaptativos e necessários, alguns deles se tornam disfuncionais, levando problemas da empresa para as relações afetivas e das relações afetivas para a empresa, notoriamente, chamados de deslocamentos nas empresas familiares.


A posição de executivo, às vezes, não leva o profissional a uma situação de isolamento, que pode, inclusive, prejudicar seu relacionamento pessoal? como evitar o problema?

Garcia – Grande parte da mudança de um indivíduo adulto se faz pelo processo de conscientização. Estimamos que 50 % de uma mudança já acontecem quando ocorre uma conscientização. É importante que os executivos entendam um pouco sobre seu psiquismo de forma teórica e técnica, para que eles possam, naturalmente, se avaliar e possibilitar uma mudança na forma de como ele reage a alguns estímulos. A partir da conscientização, são apresentadas técnicas ou formas para que o executivo possa minimizar problemas relacionados, inclusive, à sensação de ser sozinho ou a grande dificuldade que é a solidão, frente à tomada de decisão de um líder.


Uma personalidade empreendedora reúne as seguintes características: aceita correr riscos; impulsivo; ansioso; tem qualidade de visão; compromisso com o trabalho; alto grau de iniciativa; controle interno alto. É possível distinguilo por meio de testes e observando o comportamento dentro das organizações
A pressão que o cargo de chefia exerce pode provocar autocobrança exagerada, o que pode levar à frustração e a problemas em sua sanidade psíquica? 

Garcia – Sim. Um superego adequado é necessário à socialização e ao cumprimento de procedimentos, objetivos e planejamentos dentro da empresa. Quando isso se torna muito radical, como qualquer coisa que excede, pode desenvolver uma disfunção, tanto no líder maior quanto no menor, e essa disfunção começa a ser repassada a sua equipe, tornando-a mais personificada, tensa e inibindo a capacidade das informações chegarem até ele. Entre outros problemas, leva o próprio líder a comprometer aspectos da sua relação afetiva e sua prosperidade, nos quais o individuo passa a se autoboicotar, exigindo demasiadamente, diminuindo o poder da resiliência e da saúde mental, aumentando o seu nível de conflito interno e abrindo, por vezes, alguns traços compulsivos ou rituais para lidar com o alivio da tensão psíquica.


Essas seriam as causas de problemas de ansiedade, síndrome do pânico, relações extraconjugais e, até mesmo, alcoolismo, relatados por empresários na literatura médica? 

Garcia – Sim, essa, certamente, é uma das causas que compõe a incapacidade do indivíduo em lidar com a mudança: a “castração”, a sua rigidez e a sua capacidade de se manter saudável. Com isso, abre-se a predisposição a uma patologia e o ego pode não suportar e começar a apresentar os traços patológicos, que podem, inclusive, já estarem predeterminados na primeira e na segunda infâncias.


Como trazer o mundo da psicologia e da psicanálise para o dia a dia do empresário? Ainda há preconceito em relação a isso? 

Garcia – A primeira estratégia com os chefes de corporações nesses 12 anos, com mais de 1.300 empresários, presidentes e diretores que já passaram por nós, é sempre sugerir que comecemos a “comer pelas beiradas”. Primeiro, eles precisam conhecer um pouco sobre o que é Psicodinâmica, Fisiologia do comportamento, antropologia, sociologia, administração, economia, psicologia, psicanálise, comportamentalismo, existencialismo, humanismo e escolas que possam fazer sentido, por meio de uma interface mais amigável e prática, que traduza uma identificação para os donos de negócio e não uma teoria abstrata e subjetiva, que não tem aplicabilidade. Essa é a primeira estratégia em grupos com os empresários, presidentes e diretores. Após isso, eles passam a se aprofundar em cada tema, se autoavaliando e, posteriormente, eles experimentam ferramentas de trabalho, aplicando essas técnicas no dia a dia da gestão e da liderança. Sempre houve o preconceito, desde o nascimento da Psicanálise ou das escolas da Psicologia. Não é diferente hoje. O fato é que o mundo está pedindo mudanças e abertura, e isso está tornando mais fácil, está criando uma predisposição maior para que o mundo da Psicologia comece a chegar às necessidades dos diretores de RH, dos gestores de pessoas e, em especial, dos líderes maiores: presidentes, diretores e empresários. Isso, naturalmente, vem se constituindo como uma necessidade. Afinal de contas, não são mais apenas ferramentas, processos ou dispositivos de controle que fazem a diferença e, sim, como funciona a mente dos indivíduos para predispor o desenvolvimento de um negócio, departamento ou de um novo empreendimento.


Um superego adequado é necessário à socialização e ao cumprimento de procedimentos, objetivos e planejamentos dentro da empresa. Quando isso se torna muito radical, como qualquer coisa que excede, pode desenvolver uma disfunção, tanto no líder maior quanto no menor.

Em sua experiência, há diferenças de comportamento psicossocial entre empresários brasileiros e estrangeiros, mesmo em um mundo globalizado? Como você analisa isso, uma vez que defende que o meio exerce influência no comportamento? 

Garcia – Sim, não podemos isolar o indivíduo de sua cultura, de seu marco histórico, momento em que nasceu, como nasceu, onde nasceu. Sua posição sociográfica, sua posição econômica e sua posição cultural traduzem diferenças em como lidar com os negócios. Alemães são completamente diferentes em sua rigorosidade do que os brasileiros. Assim, temos experiências de espanhóis, mexicanos, italianos, japoneses, chineses, alemães e coreanos, durante os processos de grupos dirigidos, que traduzem diferenças muito marcantes no seu funcionamento. É preciso que a gente saiba distinguir valores, que são sempre traduzidos a partir da construção dos aspectos citados: o indivíduo possui valores próprios de sua criação, de seu ambiente, do lugar onde vive e convive.


Por que você disse em uma entrevista que o nível de fantasia é maior em empresários bem-sucedidos?

Garcia – Porque eles estão dispostos a arriscar mais, mesmo que isso os leve a errar mais. Duas das principais características do empresário bem-sucedido, além de correr riscos, são a persistência e o seu nível alto de idealização.


Fonte: Revista Psique