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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Dinheiro, Comida e Aversão ao Sexo: Novos tipos de dependência devem aparecer na próxima versão do DSM-5


Em fevereiro de 1969 David L. Rosenhan apareceu na recepção de um hospital psiquiátrico na Pensilvânia. Ele se queixava de vozes desconhecidas dentro de sua cabeça que repetiam as palavras “vazio”, “baque” e “oco”. Além disso, não tinha mais nenhum sintoma incomum. Foi imediatamente internado no hospital com diagnóstico de esquizofrenia. 

Entre 1969 e 1972, sete universitários amigos de Rosenhan, então professor de psicologia da Swarthmore College, acabaram em algum hospital dos Estados Unidos depois de afirmar que também ouviam vozes – a única queixa deles. Os estudantes foram diagnosticados com esquizofrenia ou transtorno bipolar pelos psiquiatras e internados em hospitais por períodos que variaram entre 8 e 52 dias. Os médicos forçaram os internos a aceitar medicamentos antipsicóticos  – 2.100 comprimidos ao todo. A maioria, no entanto, era guardada pelos pacientes no bolso ou na bochecha até que pudessem cuspir a medicação. O que ninguém percebeu foi que todos eram saudáveis – aliás, desde antes da internação. Alegar que ouviam vozes era apenas um ardil para a realização de uma pesquisa. 

O caso dos oito pseudopacientes se tornou tema de artigo na Science em 1973, “On being sane in insane places” (Sobre ser são em lugares insanos). Conclusão do trabalho: os psiquiatras não têm uma forma válida para diagnosticar doença mental. 

O experimento de Rosenhan motivou uma transformação radical no essencial guia de referência para psiquiatras, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA, na sigla em inglês). O DSM-III, publicado em 1980, inseria cada patologia em uma lista de sintomas “necessários” para formar um diagnóstico. 

Agora, a APA trabalha na quinta versão da “bíblia psiquiátrica”, prevista para publicação em maio. O DSM-IV foi em grande parte semelhante ao seu antecessor, por isso, o DSM-5 incorpora a primeira mudança substancial para diagnóstico psiquiátrico dos últimos 30 anos. Afinado com interesses da indústria farmacêutica o manual apresenta diretrizes para a classificação da gravidade dos sintomas esperados para possibilitar diagnósticos mais precisos e fornece uma nova maneira de rastrear a melhora. Os autores do DSM também fragmentam inteiramente alguns transtornos, como a síndrome de Asperger, e adicionam outros novos, como compulsão alimentar e dependência em jogos de azar.

Na última década, vários estudos mostraram que pessoas se tornam dependentes de jogos da mesma forma que se tornam adictas de drogas e álcool. Além disso, se beneficiam do mesmo tipo de tratamento: terapia em grupo e retirada gradual do objeto de desejo. Estudos com neuroimagem revelam que dependentes químicos e jogadores compulsivos respondem à lembrança da droga e às recompensas monetárias de formas semelhantes: nesses pacientes, áreas cerebrais do circuito de recompensa são muito mais intensamente ativadas do que em jogadores eventuais ou em quem experimenta drogas pela primeira vez. O DSM-5 também pode incluir obsessões relacionadas à comida e ao sexo:

Transtorno de compulsão alimentar periódica

Consumir “quantidade de comida definitivamente maior do que a maioria das pessoas ingere em um período similar em circunstâncias semelhantes”; falta de controle sobre o que, quanto e quão rápido se come.

Transtorno hiperssexual

Necessidade sexual excessiva por pelo menos seis meses; uso frequente do sexo em resposta ao estresse ou ao tédio, sem levar em conta danos físicos ou emocionais para si e para outros, com interferência negativa na vida social e no trabalho.

Transtorno absexual

Excitação ao deixar de lado a prática sexual, comportando-se como se, moralmente, se opusesse ao sexo, com excessiva rejeição a tudo que faça alusão à sexualidade.
 
Fonte: Revista Mente e Cérebro
 

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