busca por esse tipo de conteúdo costuma estar associada à violência contra as mulheres, insatisfação com a aparência e dúvidas sobre o valor do relacionamento afetivo estável – o que pode causar prejuízos para as relações da “vida real”
É possível fazer sexo com um computador? Parece que sim. Não no sentido literal, claro, mas é fato que grande número de pessoas tem uma “vida sexual” on-line bastante ativa. E se por um lado a internet se institucionalizou como forma prática de encontrar parceiros – e posteriormente conectar-se a eles “cara a cara”, sem a mediação da rede –, sob muitos aspectos esse meio também oferece respaldo para sintomas psicopatológicos, alguns capazes de prejudicar o próprio internauta e também terceiros. É o que ocorre no caso da pedofilia, que obviamente não está restrita ao mundo virtual, mas é inegável que esse recurso favorece a localização de possíveis vítimas. Pensando em uma situação talvez menos grave, a pessoa pode usar a tecnologia para se esconder, evitando o comprometimento afetivo. Pesquisas recentes sugerem que o excesso de pornografia de forma geral – e pela internet em particular – pode trazer riscos à saúde psíquica. Embora seja hipocrisia atribuir a essa mídia tamanha “responsabilidade”, é indiscutível que a grande quantidade de material disponível e o aparente conforto do anonimato apresentam facilidades.
A pornografia pela rede é acessível a um custo baixo, o que tornou sua prática um “passatempo popular” e uma das mais lucrativas áreas do comércio eletrônico (e-commerce), movimentando bilhões de dólares em todo o mundo. Uma pesquisa com estudantes realizada pela psicóloga Chiara Sabina, da Universidade Harrisburg, do Estado da Pensilvânia, revelou que mais de 90% dos homens e 60% das mulheres assistiam a cenas de sexo pela internet antes dos 18 anos. Outro estudo da mesma pesquisadora mostrou que entre pessoas de 40 a 49 anos a taxa de uso tinha menos da metade da frequência. Isso sugere que o consumo de pornografia na internet pode diminuir com a idade – embora seja válido considerar que essa estatística reflete que talvez os mais velhos passem menos horas diante do computador. Outros estudos já haviam mostrado diferenças das atividades sexuais virtuais em relação ao gênero: os homens parecem ser os mais adeptos da pornografia, enquanto as mulheres preferem participar de salas de bate-papo sobre sexo, sugerindo que procuram contextos de interação.
Preço do consumo
Embora a maioria das pessoas que assistem à pornografia pela internet pareça ser apenas apreciadora ocasional, existe uma porcentagem que faz uso abusivo do conteúdo sexual disponível on-line. Em 2008, o pesquisador Alvin Cooper, na época do Centro Marital e da Sexualidade em San Jose, Califórnia, e seus colaboradores realizaram um estudo com mais de 9 mil voluntários que usavam a internet com fins sexuais. Pouco menos da metade deles – a maioria homens casados ou com uma relação estável – dedicava uma hora ou menos por semana a essa atividade. Entre os ocasionais a sites de pornografia e eventuais experiências sexuais on-line estejam participantes da pesquisa, 45% admitiram reservar uma a dez horas por semana; 8% usavam a internet com essa finalidade durante 11 horas ou mais semanalmente; e uma porcentagem pequena, mas significativa, relatou passar mais de 70 horas por semana envolvida nessa prática.
Essas evidências sugerem que o uso muito frequente pode estar associado a efeitos prejudiciais no psiquismo e nos relacionamentos. Alguns especialistas ainda argumentam que a pornografia pela internet pode causar dependência, mas o uso do termo nesse contexto é controvertido.
Nenhum estudo confirma que visitas ocasionais a sites de pornografia e eventuais experiências sexuais on-line estejam associadas a problemas comportamentais – mas há uma linha tênue entre o que pode e o que não pode ser considerado prejudicial. Alguns pesquisadores já investigam se mesmo o uso esporádico desse recurso pode causar efeitos negativos ao relacionamento, como tensão entre os parceiros e condutas agressivas contra as mulheres. Pesquisas mostraram associações entre quantidade de exposição à pornografia e aprovação de atitudes como dominar a parceira com violência no momento da relação. Essas vinculações são mais fortes em homens que assistem à pornografia violenta e já têm tendência à impulsividade e ao sadismo.
Outras descobertas aproximam o uso frequente da pornografia a atitudes como atribuir culpa às vítimas de abuso sexual, justificando as ações de perpetradores sexuais e reduzindo a violência do estupro. O interesse desmedido por pornografia geralmente é acompanhado de crueldade contra as mulheres, insatisfação com a aparência e o desempenho sexual do parceiro e dúvidas sobre o valor do relacionamento afetivo estável. Essas atitudes costumam levar à desvalorização da figura feminina e, em alguns casos, podem estar associadas à violência doméstica.
Ainda assim, será possível concluir que assistir à pornografia provoca crenças e atitudes misóginas? A maioria dos estudos mostra apenas uma associação estatística entre o uso da pornografia e essas características, e não a relação direta entre interesse por esse tipo de conteúdo e desenvolvimento de comportamentos específicos. Por exemplo, embora o hábito frequente de ver pornografia possa realmente provocar atos violentos contra as mulheres, talvez a violência já praticada contra elas possa, por sua vez, induzir ao interesse por pornografia. Além disso, é preciso levar em conta características de personalidade de determinados homens (entre elas imaturidade psicológica e impulsividade) e fatores culturais que favorecem tanto a busca por material pornográfico quanto a inclinação a praticar maus-tratos contra mulheres.
Os pesquisadores também perguntaram às parceiras de frequentadores assíduos de sites de sexo como elas se sentiam em relação aos hábitos deles. A psicóloga Ana Bridges, da Universidade do Arkansas, e seus colegas descobriram que muitas se sentiam ansiosas e desaprovavam a atitude do companheiro. Do total, 42% afirmaram que os parceiros eram homens bastante inseguros; 39% disseram que o hábito produzia efeito negativo no relacionamento; e 32% admitiram que, em períodos em que os homens se voltavam mais à atividade, o relacionamento sexual era claramente prejudicado.
Forma de dependência
Mesmo que a pornografia seja prejudicial aos usuários e em alguns casos a seus parceiros, não é consenso que ela cause dependência. Cientistas discutem a adequação do termo para comportamentos compulsivos como jogar, fazer compras, usar a internet, fazer sexo e assistir à pornografia pela internet. Os que definem esses comportamentos como dependência argumentam que algumas ações exageradas compartilham características centrais com a adição de drogas e álcool, que incluem extrema tolerância e uso continuado, apesar dos efeitos negativos que provocam.
Já os opositores contra-atacam dizendo que, embora as pessoas possam praticar certas atividades em excesso com consequências danosas à própria vida, elas raramente desenvolvem tolerância ou sintomas claros caso reduzam a prática (como no caso da droga) – duas marcas registradas da dependência.
Fonte: Scientific American Mente e Cérebro
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